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O PT ironizou hoje a sugestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que o PSDB adote como bandeira o lema "Yes, we care" ("Sim, nós nos preocupamos"), numa adaptação de "Yes, we can" ("Sim, nós podemos"), usado na campanha de Barack Obama à Presidência dos EUA, em 2008. "Enquanto a oposição conservadora macaqueia em seminários um slogan americano, imaginando assim aproximar-se do povo, o governo vem mantendo a iniciativa das ações dando prioridade à garantia de continuidade das conquistas econômicas e sociais do povo brasileiro", diz a resolução da Executiva petista. O texto afirma, ainda, que foi "igualmente frustrada" a tentativa dos adversários de "gerar crises" no âmbito dos ministérios e na base de sustentação do governo no Congresso.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou hoje o excesso de foco na mudança da lei que trata da partilha dos royalties do petróleo entre todos os Estados da Federação, em detrimento da discussão sobre como será conduzida a exploração do pré-sal. "Eu sei que houve uma mudança importante na lei do petróleo. Mas não sei de que forma será explorado o pré-sal. Só se falou dos royalties de algo que não existe. Ninguém discutiu se era necessário ou não fazer a lei dos royalties", disse o ex-presidente.

Fernando Henrique Cardoso reclamou da falta de discussões aprofundadas acerca de projetos do governo. "O que de relevante o congresso discute hoje? Royalty? Palavra inglesa, o povo não entende. E o royalty é para dar um tombo no Rio de Janeiro, no Espírito Santo", declarou.

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Segundo ele, faltou discutir publicamente o projeto do trem-bala, se a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte deveria ter recursos públicos e de que forma os aeroportos deveriam passar para a administração privada. "Voltamos ao período dos projetos de impacto da ditadura militar", afirmou.

Durante o encerramento do seminário "A Nova Agenda - Desafios e oportunidades para o Brasil", promovido pelo Instituto Teotônio Vilela, no Rio, FHC também rejeitou a teoria de que o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu continuidade às políticas de sua administração. "O governo do presidente Lula deformou o que foi feito antes", disparou.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil e deputado federal cassado José Dirceu disse que não se opõe à participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na Comissão da Verdade, mas acredita que o tucano não estaria disposto a abrir mão de sua agenda para atuar no grupo. "Não vejo nenhuma oposição, ele tem todas as condições, mas não é o caso de se colocar um ex-presidente da República numa comissão que vai ter um trabalho que ele não pode fazer porque ele tem outras funções. Não vejo nenhuma razão para vetar nenhum nome, inclusive o dele", disse durante palestra para sindicalistas na Força Sindical, em São Paulo.

Dirceu também se colocou à disposição da presidente Dilma Rousseff para colaborar com os trabalhos da comissão. "Vou estar às ordens, vou sempre colaborar", afirmou.

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Para o ex-ministro, o volume de documentos a serem analisados (cerca de 26 milhões de documentos) pela comissão vai exigir o apoio de centenas de pessoas, principalmente pesquisadores, sindicatos e ONGs. O texto aprovado prevê que a comissão terá sete integrantes, indicados pela presidente, e apenas 14 assessores. Ele defendeu que a comissão também receba recursos fora do orçamento da União. "O orçamento não precisa ser só público, pode ter orçamento de fundações, doações. Pode-se mobilizar milhares de pessoas para trabalhar, como vai acontecer", previu.

Na opinião de Dirceu, a comissão, que investigará as violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, deve se ater apenas ao período do regime militar. "Ninguém vai discutir antes de 64, qual o interesse? O interesse de todos nós é a verdade durante a ditadura militar", reforçou.

Num tom intimista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) reconheceu que há uma certa solidão no poder e revelou, após completar 80 anos, que não está seguro se será lembrado no longo prazo. Em entrevista concedida ao jornalista Eric Nepomuceno, e que será transmitida às 21 horas desta terça-feira, no Canal Brasil, o ex-presidente afirmou que tem pavor de ficar semilúcido ou semiparalítico e que conversa, por meio da memória, "com aqueles que já se foram". "Eu fico imaginando o que fulano, o que beltrano, sobretudo a Ruth Cardoso, o que diriam em certa circunstância", disse. No breve bate-papo, o ex-presidente dimensionou a sua solidão como grande e ressaltou que aquele que tem poder tem de "tomar cuidados que normalmente não precisaria tomar".

"Não é a solidão no sentido de que você não seja cercado por pessoas, mas é que você tem de ser muito reservado em muitas matérias, porque tudo o que você fala circula", ressaltou. "E certas questões no poder são suas, você não pode delegar, não tem nem com quem conversar", acrescentou. O ex-presidente se considera uma pessoa feliz e avalia que a vida não lhe deve nada. "Eu acho que eu devo à vida, eu não tenho do que me queixar", afirmou. "Eu não me sinto credor dos outros, talvez eu deva retribuir por muito o que recebi", emendou.

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O tucano admitiu que não está seguro se, no longo prazo, será lembrado. No curto prazo, ele disse acreditar que será recordado pela estabilização da economia e por ter sido um democrata. "Na história, as pessoas são julgadas, rejulgadas, voltam a ser julgadas e a percepção futura vai variando", disse. "Eu não tenho a pretensão de ter um julgamento estável", afirmou.

Ele disse ainda que poderia ter sido mais audacioso na juventude e foi categórico quando questionado se tinha alguma frustração em sua trajetória política. "Na política, eu não tenho frustrações", respondeu. O tucano considerou ainda que, se não tivesse perdido as eleições para a Prefeitura de São Paulo, em 1985, "não teria sido provavelmente mais nada". "Eu não tinha maturidade", observou. Ele reconheceu ainda que a Revolução Cubana, de 1959, foi uma "marca muito forte" e um fato "muito significativo".

"Eu acho que, para a minha geração, a Revolução Cubana foi uma marca muito forte, não tem uma palavra minha de crítica à Revolução Cubana", lembrou. "Eu sei o que aconteceu depois, mas eu acho que isso não apaga o que significou naquele momento". Ele admitiu ainda que uma de suas angústias é a morte. "Não que eu sofra a angústia da morte, mas a angústia da morte significa: E a vida para quê? O que é a vida?", respondeu. "Não há resposta".

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