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Referência histórica do PT, amigo pessoal do ex-presidente Lula há três décadas e ex-vizinho da presidenta Dilma em Belo Horizonte, Frei Betto disse, ontem, que não avalia mais a hipótese de um processo de impeachment. Está convencido de que a presidente Dilma tende a renunciar.

"A minha pergunta íntima hoje não é o impeachment. É se a Dilma, pessoalmente, aguenta três anos pela frente", afirma ele. "Ou ela dá uma mudança de rota ou a pega a caneta e fala 'vou pra casa, não dou conta'. Eu tenho esse temor", afirmou em entrevista, ontem, ao jornal Folha de São Paulo. 

Embora avalie o período petista como "o melhor da história republicana", o frei dominicano faz severas críticas ao partido –"trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder"– e uma distinção especial ao atual mandato de Dilma: "Eu não sei o que de positivo a Dilma fez de janeiro para cá".

Frei Betto diz que está esperando até hoje o PT se manifestar sobre a existência ou inexistência do mensalão. Com reparos, elogia a Operação Lava Jato, "extremamente positiva", e diz que se sentiu "indignado" com a notícia de que o ex-ministro José Dirceu faturou R$ 39 milhões ao mesmo tempo em que promovia uma vaquinha para pagar a multa da condenação do mensalão. 

As críticas do frei a Dilma, Lula e ao PT não são recentes nem oportunistas. Ele chegou a divulgar um manifesto, durante a campanha eleitoral, com 13 motivos para votar na reeleição da petista. Três meses após a posse da presidenta reeleita, o religioso demonstrou profunda decepção com Dilma e o PT. Afirmou que as 13 razões não foram abraçadas pela presidenta, a quem acusou de ter montado um “ministério esdrúxulo”.

Para ele, o País assiste ao começo do fim do Partido dos Trabalhadores, que tende a virar um “arremedo” do PMDB. Frei Betto disse que o PT só teria uma saída: ser fiel às suas origens e buscar a governabilidade pelo estreitamento de seus vínculos com os movimentos sociais. “Fora disso, tenho a impressão de que estamos começando a assistir ao começo do fim. Pode até perdurar, mas o PT tende a virar um arremedo do PMDB”, criticou.

Ex-coordenador do Fome Zero no início do primeiro governo Lula, o religioso diz que, em 12 anos de governo, o PT não conseguiu tirar do papel nenhuma reforma de estrutura prometida em seus documentos originais, trocou um “projeto de Brasil” por um “projeto de poder”, jogou os movimentos sociais para escanteio e ficou refém e dependente de “alianças espúrias” com o Congresso.

Na avaliação dele, o atual governo subverte a história do PT e se aproxima do receituário tucano: “Quem assistiu ao filme Adeus, Lenin! pode fazer o seguinte paralelo: se um cidadão brasileiro, disposto a votar na reeleição da Dilma, tivesse entrado em agonia no início de agosto de 2014 e despertasse agora, neste mês de março, no hospital e visse o noticiário, certamente estaria convencido de que o Aécio havia vencido a eleição”.

BOLSA-FAMÍLIA COMPENSATÓRIO– A pauleira de Frei Betto em cima de Lula no desvirtuamento dos programas sociais: “O erro do Lula foi ter facilitado o acesso do povo a bens pessoais, e não a bens sociais”. Fiquei dois anos e, de repente, o governo matou o Fome Zero para substituí-lo pelo Bolsa Família. Tive então a certeza de que essa opção contrariava a tudo aquilo que o PT vinha pregando desde a fundação. O Fome Zero era um programa emancipador, o Bolsa Família é compensatório”. 

A moda parece que pegou! – Não é só o prefeito de Carpina, Carlinhos do Moinho (PSB), que recolhe o percentual abatido dos empréstimos consignados dos servidores e não repassa ao banco. Em Paudalho, o prefeito José Pereira (PSB) tem vários processos, como o de número 0000786-35.2015.8.17.1080, por não recolher a parte abatida do consignado ao Banco Gerador. A prática configura crime e o Ministério Público sabe disso. 

Sem chances– Na sexta-feira passada, assim que terminou a cerimônia em homenagem às escolas públicas que foram destaque no Exame de Ensino Médio, o governador Paulo Câmara (PSB-PE) disse, em entrevista, que Jarbas Vasconcelos seria um excelente nome para presidente da Câmara numa eventual cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Jarbas, é verdade, é talhado para qualquer cargo público, mas para substituir Cunha ele teria que pertencer à corrente majoritária e governista do PMDB. Histórico pemedebista, Jarbas engrossa a oposição. 

RISCO DE DEGOLA– Essa semana, no Palácio do Planalto, foi feita uma contabilidade pragmática por petistas e auxiliares diretos da presidente Dilma Rousseff: é preciso ter 200 votos garantidos na Câmara dos Deputados. Essa é a margem de confiança para o número mínimo de 172 votos para barrar a abertura de um processo de impeachment. Para o início do processo de impedimento, são necessários 342 votos, relata o blogueiro Gerson Camarotti.  Num gabinete palaciano, a contabilidade acendeu a luz vermelha entre os ministros: hoje, o governo só tem 130 votos seguros. “É preciso aumentar essa margem”, observou um dos participantes da reunião.

Armando quer Jarbas– Ao afirmar em entrevista a uma emissora de rádio, sexta-feira passada, que o PTB terá candidato próprio a prefeito do Recife, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto, escondeu, na verdade, a estratégia que tem na cabeça: apoiar a candidatura do deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB), com quem já trombou no passado, caso este se dispunha verdadeiramente a entrar no páreo. 

CURTAS  

OLHO EM PAULISTA – Filho do ex-prefeito de Paulista, Geraldo Pinho Alves, o médico Geraldo Souza Pinho Alves, 33 anos, atualmente concluindo sua especialização em Radiologia em São Paulo, tem pretensão política na volta à terra natal. Filiado ao PMDB, já recebeu convites de vários partidos para disputar a Prefeitura, entre os quais o DEM. 

VOLUME MORTO– O prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio (PMDB), busca junto à Codevasf a instalação urgente de um flutuante, equipamento destinado à captação de água do volume morto da barragem de Sobradinho para reforçar o abastecimento de água nos perímetros irrigados da fruticultura no São Francisco. Ele recebeu a sugestão da Câmara de Fruticultura e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. 

Perguntar não ofende: Um presidente pode governar sem apoio do Congresso e das ruas?

Depois da bombástica entrevista de Marta Suplicy ao Estadão, na qual previu que o PT vai se acabar se não mudar, o frade dominicano Frei Beto, amigo pessoal do ex-presidente Lula, bateu duro no Governo Dilma e no PT numa reveladora entrevista à revista IstoÉ. Afirmou que o Ministério montado é um “coral desafinado”.

Desligado do PT, partido que ajudou a fundar, Frei Beto disse que a legenda tinha um projeto que se baseava em três pilares: ser o partido dos mais pobres, o partido da ética na política e o partido das reformas estruturais que conduziriam o Brasil a uma sociedade socialista.

“Os três pilares foram abandonados”, lamentou, para acrescentar: “Está havendo uma descamarotização do acesso ao consumo. E talvez um dos equívocos que o PT tenha cometido seja justamente esse. Ele permitiu – e isso foi bom – um acesso ao consumo de bens pessoais. Agora, cadê os bens sociais? A saúde, a educação, a segurança, o transporte público?”

Para Beto, o Governo está devendo esses bens sociais e daí as manifestações de rua em 2013 e 2014. O frei disse, ainda, que a história do PT é resultado dos movimentos sociais, que foram escanteados no Governo Dilma. “O PT vai pagar um preço muito alto por essa ambiguidade que carrega”, diz.

Para acrescentar: “A ambiguidade de ser expressão dos movimentos populares, mas querer assegurar a governabilidade exclusivamente pelas alianças partidárias. Nós sabemos que essas alianças têm um preço. Muitas delas são espúrias e daí a maculação do partido na questão ética”.

Sobre o que chama coral desafinado do Governo Dilma, explica: “Os desafinamentos partem da Kátia Abreu (Agricultura), e do Patrus Ananias (Desenvolvimento). Em seguida, vem o ministro do Esporte, George Hilton, que diz que pode não entender profundamente de esporte, mas entende de gente”.

E complementa: “Então, ele está no lugar errado, deveria estar no setor de psicologia do Ministério da Saúde ou no cerimonial do Itamaraty, que sempre exige pessoas que entendam de gente para poder, mais ou menos, agradar a todos”.

Frei Beto disse, por fim, que outra dissonância seria o fato de o Governo receber oficialmente o relatório da Comissão de Verdade e o ministro Jacques Wagner, da Defesa, declarar que não assume o governo com lanterna voltada para o passado. “Ora, se há uma coisa que o Brasil precisa, e urgentemente, é jogar muita luz sobre o seu passado”, afirmou.

VOTO DUVIDOSO– Na mesma entrevista, Frei Beto disse que Lula só não será candidato a presidente em 2018 se morrer antes, mas não garantiu o seu voto: “Ele só terá o meu voto se estiver a favor dos mais pobres. Se amanhã ele falar que volta para atender exclusivamente ao mercado, não terá o meu voto”, disse, com muita clareza, convicção e sinceridade.

Lado a lado com FBC – Se o ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT), for confirmado esta semana na presidência da Codevasf, tende a ser uma aliança com o senador eleito Fernando Bezerra Coelho, em rota de colisão com PSB, que administra um grande naco da instituição no Vale do São Francisco.

Olho em PE – Depois do ministro da Educação, Cid Gomes, a próxima autoridade a pousar em Pernambuco para conhecer os avanços do Estado no ensino médio será o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB). Se conseguir equilibrar as contas do rombo que herdou, acima de R$ 4 bilhões, com duas folhas de pessoal penduradas.

Sem candidato– O presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, gerou uma expectativa muito grande em cima do posicionamento do partido que será revelado, hoje, quanto à eleição para renovação da mesa diretora da Assembleia Legislativa. Mas os próprios socialistas não acreditam que o partido lance candidato a presidente. O caminho natural é se compor com a reeleição de Guilherme Uchoa.

Tá fora! – O ex-governador Joaquim Francisco (PSB) não deve aceitar o convite do governador Paulo Câmara para presidir o tal do Conselho de Notáveis, até porque a Assessoria Especial já exerce este papel. Se Câmara de fato quisesse a colaboração efetiva de Joaquim o teria convocado para outra missão.

CURTAS

IDOSOSO prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio (PMDB), priorizou em 2015 a ampliação do programa Nova Semente, o maior espaço de creches públicas do País, e anunciou que lançará algo semelhante para idosos, o programa Raízes, voltado para comunidade carente.

RESOLUÇÃO Governadores de todos os partidos estão em campo para derrubar resolução do TCU. Ela proibiu a assinatura de “aditivos de compensação”, levando à rescisão de contratos e à realização de nova licitação. As obras param, mesmo 80% prontas

Perguntar não ofende: Depois de recepcionar os três candidatos a presidente da Câmara, com quem, afinal, o deputado Gonzaga Patriota (PSB) vota? 

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