Já se passaram oito anos desde que a banda gaúcha Fresno subiu aos palcos pela primeira vez. Desde então, a mudança é perceptível, tanto no som dos caras, quanto na postura diante das câmeras. Em entrevista exclusiva ao portal Leia Já, o guitarrista da banda, Gustavo Mantovani, o “Vavo”, falou sobre o deslumbre em premiações, a troca de nome sofrida pela banda, a relação com os fãs do Recife, onde fazem show neste sábado (20) e, sobretudo, sobre a forma como a Fresno conduz sua carreira ao passar dos anos. “Se eu pudesse voltar no tempo, tocar no Faustão e ficar milionário em 2003, não faria isso. Tudo tem o seu tempo e creio que trilhamos um caminho quase utópico”, afirma o músico, que avisa: “Nos identificamos com a música emo, mas jamais com esse comportamento pós-estabelecido”. Confira a entrevista na íntegra:
Vocês se incomodam, ainda hoje, com o rótulo de banda “emo”?
Não. Na verdade, o que de certa forma já incomodou a gente foi o uso errado do termo. O emo (Referindo-se ao termo emocore, gênero musical pertencente ao rock, tipicamente caracterizado pela musicalidade melódica e expressiva, e por vezes, letras confessionais) é um estilo musical que surgiu nos anos 80. Na percepção errônea da grande mídia, o termo "emo" virou um modo de agir e de se vestir. Nos identificamos, sim, com a música emo, mas jamais com esse comportamento pós-estabelecido.
Existem fãs que reclamam da mudança ocorrida no estilo da banda desde “Quarto dos livros" (primeiro disco, lançado em 2003) e "Revanche" (o mais recente, lançado em 2010)? O que vocês acham dessa atitude?
É inevitável que a banda busque outras influências, escute outras bandas e passe por diversas experiências na vida que refletem na música. Se o quinto disco fosse igual ao primeiro, ninguém mais iria escutar as músicas novas. O que eu admito é que alguém ache o primeiro disco melhor do que o último, por exemplo. Cada um tem o seu gosto. Mas reclamar da mudança não tem cabimento. É a evolução e o amadurecimento.
Diversas bandas, como a Los Hermanos, ficaram marcadas por causa de hits, como foi o caso de "Anna Julia". Como vocês descrevem a sensação de tocar algum hit do passado, como "Stonehenge" (2003) hoje em dia? Há menos verdade na execução da música?
Felizmente, a gente não se encaixa nesse grupo de bandas. Jamais dependemos de uma música para as pessoas gostarem do nosso show. Por exemplo: "Uma Música" e "Alguém Que Te Faz Sorrir", dois sucessos recentes, não são mais tocados no show. E nunca vimos os fãs contestarem isso. Ainda assim, vira e mexe, tocamos músicas antigas, como "Cada Poça..." ou a própria "Stonehenge". É muito legal ver um trabalho antigo consolidado e as pessoas cantando essas músicas do início ao fim.
Perceberam alguma mudança no tratamento dos fãs quando vocês ganharam os prêmios do Multishow e da MTV? E do mercado fonográfico?
Os fãs estão mais preocupados com as músicas do que com os eventuais prêmios. É lógico que é muito legal ganhar o "Artista do Ano" do VMB ou a "Banda do Ano", do Multishow. Não só para nós, como também para todos os fãs, que são os que realmente votam e nos dão esses prêmios. Mas existe vida sem os troféus, com certeza. Quanto ao mercado fonográfico... Ele até pode ter uma reação no momento da premiação, mas em longo prazo, essas vitórias se diluem em meio às dezenas de premiações que existem anualmente.
Acredito que o início de vocês na internet, diferente da banda Restart, soe como algo mais cru, algo que “galgou” um espaço de maneira underground, e não pré-fabricada. Como vocês avaliam essa questão?
Gosto de dizer que a Fresno é a banda que mais teve um caminho crescente, contínuo e gradual. Não tivemos um pico, nem um momento de queda, nem uma interrupção. Tudo que sabemos hoje foi aprendido na estrada, nos shows, na vivência das turnês. Não troco isso por nada. Se eu pudesse voltar no tempo, tocar no Faustão e ficar milionário em 2003, não faria isso. Tudo tem o seu tempo e creio que trilhamos um caminho quase utópico.
Engraçado pensar que a banda recifense Democratas, da qual presenciei diversos shows, foi responsável pela mudança do nome da banda de vocês. Vocês chegaram a conhecer os caras, a brigar pelo nome?
Trocamos alguns e-mails na época. Respeitamos o fato de eles terem escolhido o nome antes e trocamos o nosso. Não houve brigas.
Vocês começaram a banda ainda no colégio. Como enxergam o processo de profissionalização e a relação entre o crescimento da carreira X vaidade na vida pessoal?
A música é uma forma de arte e, sendo assim, o músico vira um artista. Torna-se conhecido pelas pessoas, tira fotos, dá autógrafos e tudo mais. Às vezes, nem percebe que as pessoas que tanto o bajulam fariam o mesmo se tivesse qualquer outra pessoa no seu lugar. Penso na minha carreira não individualmente, mas como a carreira de um conjunto. Sem os outros três, eu não seria nada. E sem mim, talvez a banda nem existisse. Devemos relevar essa vaidade da vida pessoal em prol do coletivo.
Porque vale a pena continuar uma banda, depois de 11 anos de estrada? Vocês pensaram em desistir?
(Ter uma banda) é um sonho que tínhamos, ainda temos e sempre teremos. Queremos mais. A lista de objetivos a se alcançar é infinita. Nunca pensamos em desistir.
O que o público recifense pode esperar para o show deste sábado?
É o primeiro show da turnê “Revanche” em Recife. O público pernambucano sempre foi ímpar, lotando todas as casas de show em que tocamos, desde o Dokas (Antiga casa de shows localizada na Rua do Brum, no Recife Antigo), em 2004. Temos certeza que dessa vez não será diferente. O show é baseado no CD Revanche, mas também tem várias músicas dos álbuns anteriores. Vai ser ótimo, não tenho dúvidas. Nossa conexão com o povo de Recife é sensacional, e contamos com todos lá no sábado!
SERVIÇO
Show da Fresno – Lançamento do CD “Revanche” no Recife
Bandas de abertura: Bon Vivant, Write love e Amusia
Onde: Clube Internacional do Recife
Quando: Sábado, 20 de agosto, às 17h
Ingressos Pista: R$30 (2º lote)
Ingressos Front Stage: R$60 (2º lote)
Informações: www.twitter.com/sonorarecife