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Menino foi alvejado quando se escondia debaixo de uma cama, ao lado da mãe. (Cortesia/CPT)

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Na noite da última quinta-feira (10), uma criança de apenas nove anos foi assassinada no Engenho Roncadorzinho, no município de Barreiros, Mata Sul de Pernambuco. O menino era filho de Geovane da Silva Santos, uma das principais lideranças da comunidade, composta por agricultores familiares que vivem em situação de conflito fundiário com empresas que exploram a área. Geovane também foi atingido de raspão.

De acordo com relatos da comunidade, por volta das 21h40, sete homens encapuzados invadiram a casa da família derrubando a porta da cozinha. Primeiro, eles atingiram o ombro esquerdo de Geovane, que começou a gritar pelo socorro dos vizinhos. Em seguida, os encapuzados localizaram o pequeno Jonatas de Oliveira dos Santos escondido embaixo da cama dos pais, ao lado de sua mãe, atirando na criança.

Para os moradores o Engenho Roncadorzinho, a brutal morte do pequeno Jonatas era uma tragédia anunciada. No ano passado, a casa da família já havia sido alvo de diversas tentativas de roubo, sempre durante a madrugada.

O Engenho foi propriedade da Usina Central Barreiros, atualmente uma Massa Falida sob administração do Poder Judiciário, que o arrendou. A comunidade existe há 40 anos, desde que faliram as usinas nas quais os agricultores trabalhavam ou eram credores.

No local, vivem 400 trabalhadores rurais posseiros, dentre os quais estão cerca de 150 crianças. Nos últimos anos, a escalada da violência contra a comunidade envolve ameaças e violências que, segundo os agricultores, são promovidas por empresas que exploram economicamente a área. De acordo com a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape), que acompanha a comunidade, há denúncias de intimidações, destruição de lavouras e contaminação de cacimbas e fontes de água com aplicação intencional de agrotóxicos.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) também oferece apoio aos trabalhadores e vem expondo os abusos contra a comunidade de Roncadorzinho. Segundo a instituição, o Estado de Pernambuco não vem tomando qualquer medida efetiva no sentido de solucionar o conflito existente no local.

 Camponeses das comunidades de Barro Branco, no município de Jaqueira, e Batateiras, na cidade de Maraial, se reúnem, às 9h da próxima sexta (19), com o relator especial das Nações Unidas para substâncias tóxicas e perigosas e direitos humanos, Marcos Orellana. O encontro, que ocorrerá de forma virtual, será pautado pelo uso intencional de agrotóxicos promovido por empresas nas terras dos agricultores, destruindo lavouras e contaminando fontes de água.

Os casos chegaram à ONU por meio de um dossiê produzido pela FIAN Internacional e Brasil, instituição voltada para a promoção e garantia do direito humano à alimentação e nutrição adequada, com apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (FETAPE). Na apelação encaminhada ao relator da ONU, a FIAN frisa que os conflitos abordados no relatório atingem  cerca de 1.500 famílias, aproximadamente 7.425 pessoas, que vivem em uma área de 7.000 hectares, nas comunidades de Barro Branco, Batateiras, Caixa D'Água, Canoinha, Fervedouro, Guerra, Laranjeiras, Pau D'Óleo, Roncadorzinho, Várzea Velha, localizadas nos municípios de Jaqueira, Maraial, Catende, Barreiros e Tamandaré, todos em Pernambuco.

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“Suas vidas são marcadas por conflitos de terra entre as famílias de seus camponeses e os engenhos de açúcar falidos e os empresários dos setores do açúcar e da pecuária. As vítimas aqui representadas são homens e mulheres trabalhadores, muitos deles credores dos engenhos de açúcar. Portanto, os autores das violações de direitos humanos apresentadas nesta denúncia são a empresa privada (Empresa Agropecuária Mata Sul S/A) e seus guardas particulares, bem como agentes do Estado, como as Polícias Militar e Civil”, diz trecho do documento. 

Em agosto do ano passado, a reportagem do LeiaJá visitou o Engenho Fevedouro, em Jaqueira, onde circulava uma lista com os nomes de dez camponeses jurados de morte. À época, um deles, Edeilson Alexandre Fernandes da Silva, já havia sobrevivido a uma emboscada no dia 16 de junho de 2020, na qual foi atingido por sete tiros.

 

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