Oficializado dois anos após a sua criação, o Grupo de Apoio à Adoção do Recife (Gead-Recife), celebra 25 anos de muitas histórias de amor e acolhimento nesta terça-feira (16). O grupo tem como objetivo a defesa do direito de todas as crianças e adolescentes de terem uma família que os cuidem, amem e protejam.
De um tempo para cá, participar de reuniões de grupos de apoio à adoção passou a ser indicado como requisito para os pretendentes pela Varas da Criança e do Adolescente dos municípios, onde os futuros pais devem participar ao menos de quatro reuniões antes de entrar com os documentos para a habilitação à adoção.
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Além disso, depois que a habilitação estiver concluída no Sistema Nacional de Adoção (SNA), os pretendentes ainda precisam frequentar ao menos quatro reuniões por ano até a chegada do filho ou da filha. O requisito é para que os pretendentes aprimorem o conhecimento acerca da adoção. Com isso, as reuniões que tinham a participação de 30 a 40 pessoas, atualmente conta com cerca de 100.
Dois anos antes de ser oficializado, um grupo de pais adotivos já se reuniam na cidade para trocar experiências sobre adoção, de acordo com co-fundadora da Associação Pró-Adoção e Convivência Familiar Gead Recife e uma das voluntárias executora do Projeto Adoção e Cidadania na Escola, Eneri Albuquerque. “Desde a sua fundação, o Gead Recife vem trabalhando, sem interrupções, pela causa da adoção, orientando famílias pretendentes à adoção e famílias que já adotaram seus filhos e filhas”, salientou.
Segundo Eneri, os pretendentes, que são mulheres e/ou homens que querem adotar um filho, procuram o grupo inicialmente para se informar sobre como lidar com a filiação adotiva.
Também fundador do projeto, o psicólogo, filósofo, teólogo, psicoterapeuta e diretor-técnico do Gead, Luiz Schettini Filho, salientou que o grupo se propõe a ouvir a experiência de pessoas que adotaram e estão na expectativa de receber os filhos adotados. “E as experiências que são trocadas não se somam, elas se tornam experiência maior do que cada uma delas isoladamente é. Nesse sentido, a gente percebe a importância de um grupo como o Gead, que produz reflexos, às vezes, tão grandes e intensos que a gente não tem capacidade de medir”.
“A gente mede o alcance e a resultante que um grupo faz para aqueles que pertencem a um grupo, e para o que ultrapassa a individualidade de cada um, que é o que forma o Gead, que tem feito isso há muitos anos e a gente constata uma forma muito boa. Isso nos dá ânimo para continuar pertencendo ao Gead e multiplicando os grupos de apoio e ajuda de pais adotivos”, confessou.
Já a psicóloga, vice-presidente e diretora de Relações Institucionais, Suzana Moeller Schettini, reforçou que os pretendentes são preparados para adoção com orientações sobre as especificidades da família adotiva. “Adoção é um caminho diferente. Não é a mesma coisa que a filiação biológica. Têm características, especificidades que precisam ser levadas em conta, principalmente o fato de que a criança já vem com uma história. Quanto mais idade ela tiver, mais história ela terá. As pessoas precisam aprender a lidar com as histórias das crianças que não são boas, são sempre traumáticas, de negligência, abandono, abuso. É um caminho diferente”, elucidou.
Sobre a exigência da Vara da Criança e do Adolescente, Suzana explicou que, participando dos encontros do Grupo de Adoção, os pretendentes têm uma possibilidade maior “de amadurecer o seu projeto adotivo”. “Isso é natural. Quando começa o processo eles não sabem nada de adoção, ainda estão muito verdinhos. Nesse projeto, frequentando o grupo, ouvindo os pais adotivos, as palestras, eles vão amadurecendo. Muitas vezes têm condições de reformular o perfil da criança adotada. É muito interessante o papel do Gead na vida dos pretendentes à adoção, além de ser super importante”, contou. “A adoção é um caminho fantástico e muito prazeroso, mas eles [os pretendentes] precisam estar preparados para este caminho, senão as dificuldades podem acontecer”, complementou.
Além de conscientizar sobre a adoção, Suzana ainda foi responsável por criar no Gead o Núcleo de Apoio no Pós-Adoção (Napa), do qual é coordenadora e que atua depois que a adoção é concluída. O Núcleo é um convite para que os pais continuem frequentando o Gead, por conta de todo o misto de emoções e surpresas do processo educativo. “Muitas vezes descobrimos aspectos sobre nós mesmos que não conhecíamos antes do grupo de pós-adoção que temos no Gead, que é o Núcleo de Apoio do Pós-Adoção (Napa), que funciona uma vez ao mês para que os pais compartilhem as dificuldades e desafios com outros para que se sintam mais seguros e confortáveis”, afirmou Suzana, que coordena o Napa.
“Eles precisam da estratégia correta para saber lidar com essas crianças que têm traumas, que nunca foram amadas. Precisam aprender a lidar com crianças que nunca tiveram noção de família e estão nascendo novamente na família adotiva, que é um segundo nascimento. O pós-adoção é um trabalho fundamental para o sucesso da adoção”, lembrou.
A jornalista, mãe de Lucas, Lorena, Sofia e Theo, Thabata Alves, conheceu o Grupo de Adoção em 2013, quando procurou a Vara de Paulista para se habilitar para adoção. Na época ainda não havia a exigência do requisito de participar das reuniões do Gead, mas ela fez questão de conhecer o grupo para se informar mais sobre o universo da adoção e passou a frequentá-lo até hoje onde, desde 2014 começou a atuar na diretoria de Comunicação.
“Além de entender sobre adoção, eu tinha a minha vontade de me tornar mãe por adoção porque não queria mais tentar ter filhos por via biológica, pois já tinha perdido dois bebês. Eu não sabia nada do universo e fui aprendendo com os depoimentos de outros pais, como Suzana e Dr. Luiz, que são psicólogos e, além de atuar na adoção há muitos anos, também são pais por adoção”, expôs.
Para ela, todo o processo maternal biológico é vivido de uma forma diferente no processo de adoção. “Ali [no Gead] é onde a gente faz o nosso pré-natal, que na parte biológica é feita no médico. Ali, as outas pessoas vão fortalecendo o desejo de maternar e paternar através da adoção, que é só uma maneira simbólica de tornar pai e mãe; como o parto também é só uma maneira simbólica de tornar pai e mãe, porque vai além de como isso seja realizado: no parto ou numa assinatura de processo”, exteriorizou.
Thabata reforçou que as crianças adotivas não chegam sem história, sem passado, como se fossem uma folha em branco. “Ela tem uma história e precisa ser respeitada”, cravou. “Hoje eu vejo que precisamos dizer aos outros que não pode ser assim, de vir comentários infelizes seja por pessoas da rua e também por pessoas da família, por isso eu levei a minha família nessas reuniões, porque entendia que as crianças tinham que conviver com eles e eles os familiares precisavam estar preparados para recebê-las”.
A jornalista não vê como opção e nem estratégia esconder da criança que ela é adotada. “Muita gente ainda tem essa mentalidade de a criança chegar e querer esconder que ela veio por meio da adoção. A criança sente por qualquer idade que tenha, que alguma coisa não está totalmente dita, e isso é muito danoso. E eu posso contribuir com isso dividindo a minha história, ajudando as pessoas quando me procuram”, detalhou.
“Crianças pequenas, grandes, bebês, macrocefálicas, autistas, adolescentes, rebeldes, filhos de usuários de crack, todos precisam ter uma família, e a gente luta todos os dias para que eles tenham da maneira adequada, como eles merecem”, finalizou sobre a atuação do Gead Recife.