Não se sabe quem é o autor de uma fotografia que viralizou nas redes sociais no início desta semana. A imagem chamou atenção por conter, dentre outros elementos, uma espécie de varanda com direito a piscina, churrasqueira e tapete dentro das acomodações de uma simples palafita, localizada no bairro da Torre, Zona Norte do Recife.
Além dos atributos de lazer, a vista especial e panorâmica para o Rio Capibaribe também gerou comentários dos internautas, que elogiaram a criatividade do responsável pelo imóvel e apontaram que é possível ser feliz com pouco.
##RECOMENDA##Para entender e descobrir a história por trás da fotografia, a reportagem do LeiaJá descobriu onde estava localizada a casa em questão e foi ao local. É na comunidade Vila Santa Luzia, na Torre, na beira da ponte que liga o bairro ao Parque Santana, na Zona Norte da capital, onde foi construída a varanda na palafita.
Chegando ao local, a supresa negativa é que o espaço de lazer não era mais o mesmo. De cima da ponte, era possível avistar que no lugar da piscina restou entulho com garrafas quebradas e pedras. O tapete estava completamente coberto de poeira e o que o registro inicial ilustrava já não era mais a realidade da casa.
Ao buscar pela comunidade quem seria o dono do barraco com piscina, todos sorriam e já apontavam. "Ah, é o Jairo". "Ele não mora mais lá, mas vai na casa dele, é perto", diziam os moradores. A poucos metros da ponte, o responsável pela engenharia diferenciada e criatividade, conversava com amigos na frente da casa de sua família.
Jairo Lourenço, 39, é pedreiro e não teve oportunidade de estudar. Ele conta que algumas pessoas já tinham comentando com ele sobre uma fotografia de sua palafita que havia circulado por muitos celulares na internet. Mas não imaginava que muitas pessoas teriam achado a ideia boa e comentado milhares de vezes de como se divertir com pouco dinheiro.
Natural de Recife, ele mora há cerca de 30 anos na Vila Santa Luzia, mas só conseguiu construir o seu barraco há seis anos. Madeira, prego, martelo e muito esforço. Foi assim que o pedreiro conseguiu levantar sua palafita na beira do rio e ainda construiur uma varanda com "vista privilegiada", como ele costuma falar.
A diversão, não só para ele como para toda a comunidade, durou poucos meses. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
A ideia da piscina é antiga. Ele sempre quis ter uma casa com piscina, churrasqueira e espaço de lazer para se divertir com a família e com amigos. Mas, diante da crise financeira e a falta de emprego, o sonho precisou ser improvisado a sua realidade atual.
"Tem uns dois anos que tive essa ideia, eu acho, não sou bom com datas. Comprei a piscina, organizei o tapete, coloquei churrasqueira, cadeiras arrumadas e tudo devidamente no lugar. Meus amigos vinham muito, até mesmo pelo rio para a gente comer e beber", conta Jairo.
Ele não sabe quem fez a fotografia e também só guarda ela de lembrança do tempo em que a varanda estava organizada. A diversão, não só para ele como para toda a comunidade, durou poucos meses. Jairo não sabe ao certo quem destruiu o seu lazer, mas relembra que era madrugada e pessoas jogaram tinta preta de cima da ponte.
Ele sempre quis ter uma casa com piscina, churrasqueira e espaço de lazer para se divertir com a família e com amigos. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
"Aquela sujeita atingiu toda a piscina, o tapete e tudo que tinha lá. Manchou tudo e fiquei desanimado, desmontei", lamenta. Pouco tempo depois, a palafita entortou e atualmente ele não mora mais lá. "Muitas pessoas passando por aqui e aí as madeiras ficaram tortas, preciso ajeitar tudo, mas por enquanto não dá para montar de novo", diz.
Além do sonho de criança, Jairo detalha que um outro motivo para emplacar a ideia de "varanda com piscina" foi a falta de lazer e diversão nas comunidades mais pobres. "Muitas vezes não temos nada para fazer, não tem um parque, uma quadra por perto. Decidi que podia resolver a situação e com a ajuda dos bicos que faço, aos poucos montei, pena que não durou muito", conta.
Jairo está desempregado há quatro anos e trabalha como pedreiro ou qualquer serviço que surgir porque precisa alimentar a família e sobreviver. Ele diz que é feliz com a casa da família e com o seu barraco, mas sabe que preferia estar morando em um local mais digno.
Em dezembro de 2016, um incêndio de grande porte atingiu a comunidade Vila Santa Luzia. Um curto-circuito teria sido a razão para o fogo se alastrar rapidamente. Naquele dia, Jairo achou que perderia a sua palafita. Mas, quando as chamas chegaram nas proximidades dela, ele e outros moradores encherem baldes de água da maré e conseguiram apagar parte do fogo. "Aqui só pegou em uma parte, graças a Deus".
O pedreiro espera até o fim deste ano conseguir dinheiro para reinaugurar o espaço. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens
Jairo se divide entre dois sonhos. Um deles é ter uma moradia melhor e com mais estrutura para não ter que passar por situações como essa. Enquanto esse desejo não se realiza, um outro sonho mais próximo dele é de reconstruir sua área de lazer. Colocar novamente a piscina, desentortar o barraco, e dessa vez a novidade é que ele vai cobrira varanda.
"Quero colocar uma coberta para evitar que destruam de novo. Mas de jeito nenhum vou perder a minha vista, o teto não vai e não pode interferir na paisagem pro rio", concluiu Jairo, que até o fim deste ano espera conseguir dinheiro para reinaugurar o espaço.
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