Tópicos | João Lin

Tatuar o corpo pode parecer uma atitude bastante moderna, no entanto, essa forma de expressão já contabiliza mais de cinco mil anos de história. Um dos registros mais antigos foi descoberto nos restos mortais de um homem que teria vivido 3.300 anos antes de Cristo. Os pesquisadores que encontraram o fóssil, em 1991, chegaram à conclusão de que Ötzi - como foi batizado -, teria tatuado diversas linhas em seus punhos e tornozelos a partir da fricção de carvão em cortes verticais feitos na pele. 

Os desenhos gravados na pele já vistos com preconceito, no entanto, com sua popularização e a profissionalização de tatuadores, hoje é cada vez maior o número de adeptos. Mais que isso, à tatuagem foi conferido o status de arte e, assim sendo, está conseguindo conquistar cada vez mais o respeito das pessoas na sociedade.

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O caráter artístico vem chamando a atenção não só do público que decide se tatuar, mas também de artistas que antes se dedicavam a outras formas de expressão até se encontrarem com as tintas que, ao invés de pincel, pedem agulhas para se expressar. 

João Lin (@joaolin) é um deles. O artista tem em seu currículo trabalhos com ilustração, quadrinhos, teatro, vídeo arte, intervenção, design, literatura e música experimental. Há dois anos, após desenvolver um projeto pontual em que a tatuagem estava presente, ele descobriu um mundo de possibilidades que lhe arrebatou. "A minha intenção no início não era me tornar tatuador de fato, era fazer uma experiência como artista visual com um novo suporte e novas ferramentas que seriam desse universo. Mas o que aconteceu é que como eu não tinha essa clareza da dimensão dele e como isso também ia dialogar com o que eu já fazia, eu me surpreendi com as possibilidades e também com as descobertas que eu fui fazendo à medida que comecei a tatuar". 

Ele conta que começou a aprender a nova técnica com o amigo e tatuador Nando Zevê, proprietário do ZV Tatuagem e Galeria, onde hoje Lin atende seus clientes. O aprendizado o impactou não só tecnicamente mas, também, criativamente: "na verdade, ampliou muito a minha visão de desenho, a minha surpresa inicial grande foi quando eu percebi que meu desenho foi mudando quando eu comecei a tatuar por questões muito diversas". 

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João conta que encontrou nessa área uma complexidade e uma forma de expressão mais poderosas do que ele podia imaginar e que a relação de troca que há na tatuagem se manifestou de forma intensa em seu trabalho. "Eu sempre achei uma coisa muito desafiadora você trabalhar, construir uma marca com o outro. Isso eu acho super complexo. O desenho é um elemento só, a tatuagem de fato ela é muito mais ampla. Isso eu sempre achei algo quase inatingível. Ter essa abertura de construir dessa forma um trabalho de desenho, normalmente os desenhistas trabalham muito individualmente, eu achava muito difícil que eu pudesse na tatuagem ter de fato esse trânsito e essa condição de fazer algo que depende do outro de uma maneira essencial". 

Raoni Assis (@assisraoni) e Nando Portela (@nandocportela), que atuam no Nyx Stúdio, também são tatuadores com experiências prévias nas artes visuais. O primeiro - que, inclusive afirma não se achar um tatuador mas sim "um ilustrador que tatua" -, partiu para as agulhas após alguns amigos pedirem desenhos seus para tatuarem. Trabalhando com a arte na pele há cerca de quatro anos, ele fala sobre as particularidades do ofício: "É uma superfície diferente. É específico, o próprio ritmo da mão, você não tem a mesma velocidade (como quando faz uma ilustração). É uma técnica específica, assim como quando você faz na parede com spray, com tinta acrílica, com aquarela, cada coisa tem o seu jeito. Eu faço só desenhos meus, ainda me quebro muito de fazer, gosto muito de melar de tinta os meus trabalhos e na tatuagem não dá, aí pra chegar no que eu gosto eu ainda me quebro muito". 

O "ilustrador que tatua" trabalha no estilo free hand, que consiste em criar desenhos na hora diretamente na pele do cliente. Ele comenta que a relação de confiança e responsabilidade de estar marcando sua arte em outra pessoa é algo que faz diferença na hora de criar: "Eu acho que a parte mais difícil pra mim é essa, é em uma pessoa. As primeiras que eu fiz foram em amigos, e eu sei o que eles estavam esperando, mas você fazer uma tatuagem num cliente aleatório, um negócio que vai ficar marcado, a pessoa tem que gostar muito do que você tá fazendo, ela já tem que gostar da sua linha de trabalho pra te chamar". 

Para Nando Portela, pintar em telas que saem caminhando por aí levando sua obra é algo tão significativo que já causou embates consigo mesmo: "Isso é uma coisa que já me gerou um conflito por conta da exposição em si, mas é massa. A questão de ver na pele, quando já está cicatrizada, já dá aquela felicidade". O tatuador começou a trabalhar com artes visuais em 2016, fazendo pintura em acrílica e murais, no ano seguinte já estava tatuando. "Em algum momento eu tive um insight e lembrei que na minha infância eu comentava que seria tatuador, e isso foi reprimido logo, mas depois eu me lembrei desse desejo", rememora o artista.

Portela acredita que a tatuagem, atualmente, tem um potencial de atração do público até maior do que outras expressões artísticas. Ele trabalha com desenhos próprios, inspirados na cultura popular pernambucana, com pitadas de movimento armorial e literatura de cordel, e sua produção na tatuagem já está lhe levando para outras expressões: "O meu trabalho individual me fez estudar o artesanato em si e de algum modo a tattoo me trouxe para a produção de artesão. Consegui ver que o traço que construí para a tattoo eu consigo levar agora para cerâmica e para madeira". 

Arte autoral

Poder tatuar a obra de um artista autoral é algo que vem ganhando cada vez mais espaço entre os adeptos da tattoo. Desenhos com traços característicos, que carregam com si uma assinatura, têm além de um estilo próprio um valor subjetivo maior. "Vai além não só de você ter uma exclusividade mas é esse tatuador que agora é reconhecido no lugar do artista plástico também, esse tatuador que vai trazer uma poesia, uma poética com ele. É o interesse da pessoa (cliente) de querer saber como essa pessoa construiu isso, o que faz a pessoa investir nesse tipo de trabalho, ser um artista que você se importa com a narrativa que ele traz, acho que isso é uma coisa bacana", diz Nando Portela. 

Para Raoni Assis, a construção da obra durante a tatuagem é mais complexa do que quando assina um contrato para criar uma ilustração. Esse já vem com cláusulas que garantem certa interferência do contratante, mas na tatuagem, isso não acontece e a construção do trabalho acaba sendo conjunta. "Eu acho que não tem muito limite (de interferência), é dentro do que você está disposto a fazer", sintetiza o artista. 

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Já João Lin afirma que se expressar através da tatuagem envolve uma mágica especial que o faz querer cada vez mais enveredar por esse caminho. Para ele, a intensidade da troca desde o contato inicial com seu cliente até o produto final confere à sua obra valor único que pode levar seu fazer artístico muito além: "É você perceber o seu desenho de uma forma dinâmica e viva. Ele ganhou vida porque ganhou a personalidade da pessoa, então já não é mais o desenho que tá no papel, o desenho do papel é só meu mas quando ele tá com você, você faz o seu discurso com aquele desenho. Então, não é mais o meu discurso apenas. O discurso daquele desenho é alterado pelo discurso de quem o carrega. Quem já vem da tatuagem acho que não percebe tanto isso, porque isso já é o que a pessoa faz, isso já é natural. Mas, pra mim, não era natural. Ver o desenho vivo foi uma experiência muito impressionante e foi o que me deixou com tesão de tatuar".

Imagens: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

O tatuador pernambucano Nando Zevê promove uma série de debates, workshops e oficinas coletivas gratuitas para os interessados na arte da tatuagem. As ações acontecem a partir deste sábado (28) até o dia 19 de novembro e integram o Salão Contemporâneo de Tattoo, parte da programação do Festival Coquetel Molotov. 

Abrindo as atividades, João Lin ministra a Oficina de Desenho Non Sense, na ZV Tatuagem e Galeria. O curso tem a proposta de apresentar técnicas e processos criativos envolvendo o desenho além de investigação de estilo autoral. Já na segunda (30), a artista Ianah ministra a oficina Free Hand. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo nandozeve@gmail.com.

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O cronograma segue no mês de outubro, com oficinas de Tattoo Handpoke, com Hannah Storm, no Museu de Arte Aloísio Magalhães (MAMAM), Oficina de Desenho com Lucas Fausino, na ZV Tatuagem e Galeria, nos dias cinco e 13, respectivamente. No dia 16 de outubro, os artistas selecionados promovem uma grande 'desenhada' no MAMAM e no dia 23, no mesmo local, acontece um bate papo sobre representatividade na tatuagem. O encerramento das ações acontece no dia 19 de novembro com a exposição da Magda Santana, três dias após o 3º Salão Contemporâneo de Tattoo no Caxangá Golf Clube que acontece durante o Festival No Ar Coquetel Molotov.  

Programação

Oficina de Desenho Non Sense, com  João Lin - Local: ZV Tatuagem e Galeria  - 28/09

Oficina Free Hand, com Ianah - Local: MAMAM - 30/09 

Oficina de Tattoo Handpoke, com Hannah Storm - Local: Mamam - 05/10

Oficina de Desenho, com Lucas Faustinho - Local: ZV Tatuagem e Galeria - 13/10

Desenhada dos artistas selecionados - Local MAMAM - 16/10

Bate Papo sobre Representatividade na Tattoo - Local: MAMAM 23/10

Abertura da exposição da Magda Santana - Local: Zv Tatuagem e Galeria. - 19/11

Locais:

Estúdio ZV Tatuagem e Galeria - Localizado na Galeria Joana D'Arc – Pina

MAMAM - Rua da Aurora, 265 - Boa Vista

Caxangá Golf Club - Av. Caxangá, 5362 - Iputinga

Inaugura nesta terça (4), às 19h, a exposição Seres Imaginários e Outros Encantados. Assinada pelos artistas Mozart Santos, Nando Zevê e João Lin, a mostra fica em cartaz no Estúdio ZV Tattoo Galeria até o dia 13 de junho.

A mostra reúne mais de 50 obras e objetos que exploram a tradição dos famosos gabinetes de curiosidades, com suas coleções raras de seres encantados. Além disso, uma série de obras tatuáveis estará exposta junto a um bestiário criado em conjunto pelos três artistas que também atuam como tatuadores.

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O público poderá visitar a exposição até o dia 13 de junho, no horário das 14h às 21h. Interessados em fazer agendamentos de grupos podem fazê-lo pelo telefone (81) 988051402.

Serviço

Seres Imaginários e Outros Encantados

Abertura

Terça (4) - 19h

Visitação

Até 13 de junho - 14h às 21h

Estúdio ZV Tattoo Galeria (Galeria Joana D'Arc - Pina)

 

Estão abertas as inscrições para as oficinas gratuitas que integram a programação da 16ª edição do Festival Recifense de Literatura - A Letra e a Voz, que acontece entre os dias 24 e 26 de agosto, na avenida Rio Branco, Recife Antigo. Em 2018, o festival literário celebra a poesia urbana de Miró.

As inscrições são gratuitas e os interessados podem fazê-las pela internet ou presencialmente. Para fazer a inscrição online, através do e-mail aletraeavoz2018@gmail.com, informando o nome do participante e a oficina de seu interesse. A presencial deve ser feita na Secretaria de Cultura, no 15º andar do prédio sede da Prefeitura do Recife, na avenida Cais do Apolo, nº 925, em horário comercial, das 9h às 12h e das 14h às 17h. No ato da inscrição ou no dia da oficina, os inscritos devem entregar um livro de literatura pernambucana para ser doado.

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As oficinas serão realizadas no sábado (25), segundo dia de programação do Festival, entre 14h e 17h. Serão quatro opções, todas gratuitas:

Para diminuir a gravidade das coisas Poesia visual, com a publicitária, poetisa e escritora Clarice Freire, que mantém no Facebook e no Instagram o perfil Pó de Lua, de poesia desenhada;

Agulhas, dobras & cavalos: noções de diagramação e artesania editorial, com o historiador e poeta Fred Caju, da editora de livros artesanais Castanha Mecânica;

Vento nonsense na cidade Narrativas em quadrinhos, com o cartunista e ilustrador João Lins;

Narrativas breves (e outras nem tanto), com o contista, romancista, editor e produtor cultural pernambucano Marcelino Freire, nascido em Sertânia e ganhador do Prêmio Jabuti e do Prêmio Machado de Assis

As oficinas de João Lin e Fred Caju terão capacidade para 20 e 15 pessoas, respectivamente. As de Marcelino e Clarice inscreverão 30 participantes, cada. Estas últimas serão realizadas no Paço do Frevo e as demais na própria estrutura do Festival, na Rio Branco. Informações: 3355-8034. Confira a programação completa do Festival:

Sexta (24)

 17h - Abertura oficial

18h - A Letra e a Voz de Miró. Bate papo com Sidney Rocha e o homenageado do Festival

19h - APL apresenta: Projeto Roda de Conversas Conhecendo mais e melhor o Recife. Bate papo com os autores da coletânea Denis Bernardes de Ensaios. Apresentação por Cícero Belmar e Jorge Siqueira

20h - Lançamento e sessão de autógrafos com os participantes da coletânea

Sábado (25)

14h às 17h - Oficinas

Para diminuir a gravidade das coisas Poesia visual com Clarice Freire

Agulhas, dobras & cavalos: noções de diagramação e artesania editorial com Fred Caju

Vento nonsense na cidade Narrativas em quadrinhos com João Lin

Narrativas breves (e outras bem tanto) com Marcelino Freire

18h - É do sonho dos homens que uma cidade se inventa

A Cidade do Poeta por Antônio Paulo Rezende

O Recife de Carlos Pena Filho por Robson Teles

A São José do Egito de Lourival Batista por Antônio Marinho

Mediação de Cícero Belmar

20h - O Cão sem Plumas numa Mesa de Glosas com Clécio Rimas, Dayane Rocha, Edmilson Ferreira, Elenilda Amaral ePaulo Matricó. Coordenação de Jorge Filó

Domingo (26)

 A partir das 10h - Festa do Livro, com editoras, sebos, mediadores de leitura, recitais, atividades lúdico-literárias, lançamentos de livros e bibliotecas comunitárias

17h - Reboo Jam poético-musical

Clécio Rimas recebe Amaro Freitas, Bell Puã e Miró

Recife acaba de ganhar um novo espaço para as artes visuais. O ZV Studio e Galeria se configura como um ambiente híbrido de estúdio de tatuagem e local de experimentação com exposições, debates, cursos e residências. Para marcar a inauguração, a mostra Combustão, do artista plástico João Lin, fica em cartaz até 17 de dezembro. A entrada é gratuita.

João Lin reúne 12 trabalhos, entre pinturas, desenhos e quadrinhos, alternando e misturando tinta acrílica e posca, sobre papel canson e tela. As obras trazem referências simbólicas do fogo em diferentes cenários com objetivo de incitar ressignificações acerca de temas atuais, inclusive, o cenário político e social observado no Brasil e no mundo atualmente. A visitação poderá ser feita de quarta a sábado, das 14h às 21h.

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Serviço

Combustão

Até 17 de dezembro

Quarta a sábado | 14h às 21h

ZV Studio e Galeria (Av. Herculano Bandeira - Galeria Joana D'Arc - Pina)

Gratuito

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Está previsto para este domingo (8) o lançamento do catálogo da exposição À sombra leve dos anjos, do artista João Lin. A exposição, que ocorreu de agosto a novembro de 2013, na Torre Malakoff, Bairro do Recife, é composta de ambientes com pinturas, xilogravuras, serigrafias, desenhos, instalações e obras interativas em arte e tecnologia. O lançamento será realizado na Casa do Cachorro Preto, em Olinda, às 17h. A entrada é gratuita.

Fabio Zimbres assinou o texto de apresentação da exposição e do catálogo, que também contou com colaboração de Ricardo Brazileiro, de Ricardo Ruiz, da origamista Katia Fujita e dos impressores Marcelo Soares e Franklin Costa. As obras estão registradas em um catálogo de 52 páginas coloridas, capa dura, no formato 21 x 21 cm.

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O catálogo, que está disponível online e contou com incentivo do Funcultura, será distribuído gratuitamente no lançamento e traz ainda um texto do artista, com fotografias de Thiago França, e fragmentos de textos de autores que serviram de inspiração para a pesquisa sobre o tema, a exemplo de Zigmunt Baumann, Mestre Didi, Deleuze e Guattari e Walter Franco, entre outros.

Serviço

Lançamento do catálogo da exposição À sombra leve dos anjos

Domingo (8) | 17h

Casa do Cachorro Preto Olinda (Rua 13 de maio, 99 – Olinda)

Gratuito

Com o intuito de comparar a relativização do espaço na vida moderna, João Lin apresenta sua exposição À Sombra Leve dos Anjos até o dia 13 de outubro na Torre Malakoff, bairro do Recife. Com inspiração em diversas teorias, a obra tenta fazer referências a modernidade e cria uma metáfora através da figura de um anjo para estabelecer um diálogo com as contradições do mundo contemporâneo segundo a visão do artista.

Segundo a assessoria de imprensa, "Lin compara a relativização do espaço na vida moderna, com a ideia mítica dos anjos, seres em trânsito, entre mundos, entre sexos, ambíguos. Para isso, criou ambientes que abrigam pinturas, gravuras, instalação e brinca com a interatividade e arte e tecnologia". A visitação é gratuita.

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Serviço

À Sombra Leve dos Anjos

Torre Malakoff (Praça do Arsenal da Marinha, s/n – Recife Antigo, Recife)

Ter à Sex | 10h às 18h

Sáb | 15h às 18h

Dom | 15h às 19h

81 3184 3180/3182

Gratuito

Inaugura nesta quinta-feira (24) o projeto anual Coisas que aprendi nos discos, que homenageia o mestre Luiz Gonzaga. Doze artistas são convidados para, através de suas formas de expressão, fazer uma leitura do universo poético das músicas do Rei do Baião. A mostra ocupa todo o prédio da Torre Malakoff, no bairro do Recife, e oferece oito ambientes com as obras, que variam entre xilogravura, animação em 3D, grafite, pintura, escultura e outras manifestações.

Os 12 convidados da primeira edição do projeto são: Abelardo da Hora, Alcir Lacerda, André Soares, Coletivo Caldo de Cana 1 Real, Derlon, Elizângela das Palafitas, João Lin, Jota Borges, Leopoldo Nóbrega, Marcelo Mário de Melo, Ricardo Brasileiro e Ricardo Ruiz. Luiz Gonzaga foi escolhido como homenageado desta edição em função do centenário de seu nascimento, comemorado em 2012. O artista tem uma bagagem de mais de 300 músicas e projetos. Coisas que aprendi nos discos é fruto de uma parceria entre a Secretaria de Cultura do Estado e Fundarpe.

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Serviço
Coisas que aprendi nos discos
Abertura quinta (24), às 19h
Torre Malakoff (Praça do Arsenal da Marinha, Recife Antigo)
Visitação: 24 de maio a 5 de agosto
De terça a sexta, das 9h às 17h, aos domingos, das 15h às 21h

Uma dupla que se completa. Um encontro entre diferentes estilos e visões do mundo gráfico que produziu a mais significativa revista de quadrinho autoral de Pernambuco. João Lin e Mascaro publicaram a primeira Ragu em 2000, trazendo vários artistas para expressar de forma livre sua arte e construindo um espaço único para a experimentação gráfica no Estado.

Eles estão lançando, neste domingo, a segunda edição de uma iniciativa especial da revista, a Ragu Cordel, caixa com 12 livretos em formato de cordel com a participação de poetas e artistas gráficos diversos.  Veja matéria que o LeiaJá publicou. João Lin e Mascaro conversaram com o LeiaJá sobre esta nova edição e o atual ambiente de criação em quadrinhos no Brasil.

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Como funciona o processo de encontrar os parceiros para compor a Ragu? Como foi escolher os poetas e ilustradores para esta Ragu Cordel?

João Lin – A gente tem alguns quadrinistas e desenhistas que estão na Ragu há muito tempo. Tem um círculo de pessoas que a gente sabe que têm um trabalho legal, de qualidade, e quando vamos fazer algo como a Ragu Cordel já pensamos nelas. Mas a gente também está muito ligado na rapazeada nova que está rolando, que vem surgindo. Gente que tem um trabalho legal e também disposição pra fazer, se compromete e consegue cumprir os prazos, que segura a onda mesmo de fazer uma história toda.

Esta última década – tempo em que vocês publicaram a Ragu - foi boa para a produção e permitiu o surgimento de mais pessoas e de uma produção autoral de quadrinhos?

Mascaro – A gente vive um momento incomparavelmente melhor do que o que a gente vivia quando lançou a primeira Ragu. Hoje tem uma rapazeada como o próprio Raoni (dono d’A Casa do Cachorro Preto, onde acontece o lançamento da Ragu Cordel) que já desponta junto com uma moçada com um volume muito maior do que quando eu e João atuávamos. Era assim uma coisa de “meia dúzia de três ou quarto”. A (editora de Livrinhos de) Papel Finíssimo tem um trabalho muito legal, essa coisa de preocupar em produzir em quantidade também, além da qualidade e do despojamento que eles têm. É um espírito muito mais empreendedor do que o nosso. A gente faz uma edição esporádica, tem toda uma tramitação formal de viabilidade do projeto. 

João Lin – E hoje, não só falando de Pernambuco, de fato o campo da ilustração é muito mais possível pra quem pretende se dedicar a essa profissão. Pra quem fazia quadrinho era inconcebível, em 2000, pensar nesse volume de publicações de quadrinhos de autores brasileiros nas livrarias. Hoje você tem as grandes editoras com selos de quadrinhos. Isso realmente é uma coisa muito nova e um ambiente muito favorável pra quem tá querendo produzir hoje.

Mascaro – Agora existe um mercado, mesmo que engatinhando. Um nicho de interesse que as grandes editoras estão querendo ocupar.

Como é a relação entre a experimentação e a liberdade estética com esse mercado na Ragu e no Brasil? Como o mercado assimila essa inovação?

Mascaro – A Ragu ainda não se viabiliza economicamente. Falando muito francamente, ela não seria possível sem o apoio de incentivo público, como a gente tem hoje. E a gente não conseguiu fechar parcerias com editoras justamente por ela não ter essa adequação ao mercado como se exige. Ela é basicamente um fórum para que os artistas que colaboram exerçam sua autoralidade. Um filão que se descobriu no mercado foi a adaptação de obras literárias para os quadrinhos, mas ainda se faz apostas dentro de uma formatação muito careta, convencional. Você vê muita coisa que dá aquele deja vu monstro ou não acrescenta absolutamente nada. 

João Lin – Não só para a Ragu, mas para os autores que têm essa instiga e essa curtição de experimentar e ir além do lugar seguro, continua sendo um desafio a publicação. São realmente poucas editoras em que existe abertura para isso. Mas, de fato, pra vender mesmo, continua se investindo em um quadrinho que é, entre aspas, de fácil leitura, de uma leitura mias palatável, que não exija que você se depare com uma coisa muito diferente do que você vê pra que você não tenha resistência aquilo. E muitas vezes experimentar pode levar por esse caminho, de ser uma coisa estranha, diferente.

Existe mercado para a experimentação?

Mascaro – Existe. Há uma demanda reprimida de se ver coisas diferentes, que surpreendam. O que precisa é um pouco mais de visão, ou de vontade, das editoras mais estabelecidas de fazerem essas apostas fazendo uso dos instrumentos que elas têm.

João Lin – Talvez uma coisa que colabore para se ter um público mais aberto à experimentação é a própria arte contemporânea. Você tem hoje mais possibilidades de ver uma coisa diferente, de formatos e caminhos novos. Eu acho que esse público, que tem tido contato come esse tipo de experimentação na arte é um público que pode curtir isso, que vai ter abertura para ler e se interessar por quadrinho que também experimente. Nos quadrinho e no campo da ilustração, eu acho que isso é uma marca dessa geração nova. É uma geração muito mais experimental do que a gente podia ver dez, quinze anos atrás. 

A Ragu Cordel é uma edição especial, complementar à Ragu original, que teve a última edição lançada em 2009. Vocês já estão pensando na próxima edição da Ragu?

Mascaro – Não. Na verdade a gente tem um desejo de partir para os livros fechados, fazer novelas gráficas, livros de longas histórias. Essa é a nossa vontade, fazer agora livros autorais e dar um tempo nessa coisa mais coletiva quando tiver a possibilidade de executar um projeto mais encorpado pela Ragu. 

João Lin – A gente tá querendo agora investir nesse outro formato.

Os dois trabalham com várias vertentes diferentes da imagem, como ilustração, quadrinhos, pintura. Como cada um sente a imagem na própria vida. Tudo é imagem para vocês?

Mascaro – Pra mim imagem é tudo, é como eu penso. Eu, por trabalhar com desenho, busco referências em absolutamente tudo, sou um verdadeiro “aspirador de pó” de imagens. Desde vinhetas de televisão a jornais de qualquer parte do mundo, passando por fanzines e livros bem elaborados graficamente, exposições, cinema, animação, tudo serve para criar a cultura gráfica que preciso para depois processar todas essas informações e ressignificar, produzir as minhas interpretações. O texto também desperta, o próprio quadrinho é a junção do texto com a imagem, é uma linguagem que faz uma junção preservando o que cada um tem de melhor para dar. E a música é importantíssima, não consigo trabalhar sem música.

João Lin – Eu sou muito disperso, talvez pouco observador. Diferente de Mascaro, eu não intenciono as coisas às produções. Sou muito pelo acaso de encontrar as coisas e deixar aquilo fazer parte do que estou pensando. Essa dispersão me faz ver coisas muito diferentes. É imagem, é poesia, é a ação política. É uma viagem minha de ficar elaborando e pensando o mundo a partir de reflexões que não são necessariamente ligadas à arte ou à imagem. Eu realmente tenho uma relação com a imagem muito dispersa, que não é de prestar muita atenção ou procurar muito. A gente vive num mundo muito saturado desse elemento visual, talvez fosse bom fugir um pouco disso e experimentar outras formas de entender e sentir o mundo, além da imagem. Mas realmente o meu trabalho, o que eu curto fazer de verdade, é no campo da imagem.

Mascaro – Imagina se você prestasse atenção, hein?  (risos)

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