Tópicos | Jogos do Rio-2016

Um delegado investiga o Comitê Olímpico Internacional (COI) e Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Chega perto de peixes graúdos. E subitamente vai parar na geladeira. Você já viu esse filme? Ele está em cartaz.

Acompanhe o roteiro. Contém “spoiler”, ou seja, revela o fim da história: a ida para a geladeira de quem investigava.

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1 - Em agosto de 2016, a Delegacia de Defraudações (DDEF), da Polícia Civil do Rio de Janeiro, inicia investigação de repercussão mundial sobre a “Máfia dos Ingressos” que atua como cambista em Olimpíadas.

2 - Com o decorrer das apurações, figurões do mundo olímpico vão surgindo como participantes. Patrick Joseph Hickey, presidente do Comitê Olímpico Irlandês e ex-executivo do COI, e outros integrantes do grupo são presos.

3 - O caso se aproxima cada vez do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), após mensagens entre Thomaz Bach e envolvidos serem apreendidas.

4 - Convidado a depor, Thomaz Bach surpreende a todos e não volta ao Rio para os Jogos Paraolímpicos, rompendo tradição olímpica.

5 - Depois de o Comitê Olímpico Irlandês se recusar a pagar fiança, a Associação de Comitês Olímpicos Nacionais (ACNO) paga R$ 1,5 milhão e Hickey é solto. A ACNO, que tem forte influência de Bach, alega “razões humanitárias” para justificar pagamento.

6 - Em outro caso, o titular da DDEF, Ricardo Barboza, abre investigações no dia 31 de outubro para investigar o Departamento de Registros e Transferências da CBF por suspeitas de fraude.

7 - No dia 22 de novembro, com pendências ainda na investigação da “Máfia dos Ingressos” e com o caso da CBF aberto, o delegado Ricardo Barboza é transferido da DDEF para o Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE).

Observação: no caso em questão, a ida para o Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE) foi considerada por diferentes fontes ouvidas como uma geladeira. Expressão para designar quem é tirado de ação e posto em lugar onde não será efetivo.

O caso une o Rio olímpico com o berço dos jogos, a Grécia. Lá também existia a prática do “ostracismo”, que significava o total afastamento de um cidadão do cenário. A essência, no entanto, era distinta: na antiguidade, se fazia por plebiscito e por outras razões.

Por aqui, o que se sabe é que a investigação que resultou em nove indiciados e significativas prisões como a de Patrick Hickey, andava cada vez mais na direção de figuras maiores ainda do mundo olímpico. Com a prisão do presidente do Comitê Olímpico da Irlanda, Patrick Hickey, foram interceptadas mensagens trocadas por e-mail com o presidente do COI, Thomas Bach, com as solicitações do primeiro por mais ingressos.

Pedido feito, pedido atendido: mais 296 ingressos foram destinados para Hickey. O irlandês citava por exemplo que na cerimônia de abertura, recebera apenas 38 ingressos, e quatro anos antes, em Londres, recebera 84. E seguia em suas queixas. Sobre o encerramento, a queixa era da ordem de 60 ingressos. Em Londres recebera 88 e no Rio apenas 28. E assim seguia detalhando na mensagem o seu desejo por mais ingressos. Os que iria vender.

No total, foram interceptados 65 e-mails entre os dois, desde 2014 até os jogos de 2016.

Ao chegar a tal resultado que mostrava um crescimento atípico no volume de convites do COI para o irlandês, logo após o fim dos jogos, o delegado Ricardo Barboza, que além de titular da DDEF era diretor do Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos (NAGE), manifestou que iria intimar o presidente do COI como testemunha do caso. Esperado para as Paraolimpíadas, Thomas Bach não compareceu na edição, um caso absolutamente fora do comum.

O escândalo da “Máfia dos Ingressos” ganhou repercussão mundial. Outro inquérito potencialmente explosivo e envolvendo outra grande e poderosa instituição do esporte brasileiro também foi instaurado na mesma DDEF, pelo mesmo delegado. No dia 31 de outubro, Ricardo Barboza abriu investigação contra a CBF com a suspeita de que o Boletim Informativo Diário (BID) era fraudado para favorecer clubes de dirigentes ligados a CBF.

Reynaldo Buzzoni, responsável pelo setor na CBF chegou a estar na delegacia, sem conseguir esclarecer as dúvidas do delegado e por isso o inquérito foi aberto. Outros dirigentes seriam intimados a depor, inclusive o presidente da CBF, Marco Polo del Nero.

Antes disso, e em meio ao aprofundamento das investigações da “Máfia do Ingresso” das Olimpíadas e o inquérito da CBF instaurado, o delegado Ricardo Barboza é transferido. Mais exatamente no dia 22 de novembro. A mudança se dá um mês após a troca de Secretário de Segurança, com a saída de José Mariano Beltrame e entrada de Roberto Sá. O delegado José Luiz Silva Duarte assume a DDEF.

A Polícia Civil é órgão do governo do estado. Nos últimos anos, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão foram muito próximos aos eventos e dirigentes olímpicos. A reportagem procurou ouvir a Secretaria de Segurança (SESEG) do estado sobre o andamento dos inquéritos e ainda sobre a transferência de um delegado em meio a casos tão rumorosos. A questão foi reencaminhada pela SESEG para a Polícia Civil, que através da assessoria de imprensa respondeu em nota:

“A Polícia Civil informa que foram concluídas em setembro de 2016 as investigações sobre o esquema internacional de venda ilegal de ingressos para as Olimpíadas Rio 2016. A investigação terminou com nove indiciados, entre eles cinco diretores da empresa irlandesa THG, que vendia ingressos para os jogos por preço muito superior ao oficial. Patrick Joseph Hickey, presidente do Comitê Olímpico Irlandês e ex-executivo do Comitê Olímpico Internacional, é apontado nas investigações como um dos principais envolvidos no crime. Patrick chegou a ser preso durante os jogos, mas conseguiu habeas corpus. Os policiais civis do Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos (NAGE) apreenderam, durante as diligências realizadas, HDs externos, celulares e tablets. Neles havia uma série de planilhas que indicavam o repasse de ingressos de comitês olímpicos para as empresas envolvidas no esquema de cambismo. No tocante às mudanças de titularidades nas Delegacias de Polícia, a Instituição esclarece que trata-se de praxe na administração e tem como objetivo a difusão de novas práticas frente aos trabalhos de polícia judiciária”.

De acordo com as apurações da reportagem com diferentes fontes, a investigação sobre a “Máfia dos Ingressos”, cujo Registro de Ocorrência é o 00032/2016, teve um inquérito inicial, e este gerou desdobramentos em outras investigações sobre o tema, que deveriam gerar novos inquéritos e tratar, entre outras coisas, da participação do presidente do COI. O inquérito sobre a fraude na CBF segue aberto.

A reportagem tentou ouvir o delegado Ricardo Barboza, que não irá se pronunciar sobre o caso dos inquéritos. A reportagem voltou a tentar contato para saber sobre as razões da transferência, sem sucesso.

A venda de ingressos nos Jogos Olímpicos no mercado paralelo é uma questão antiga e presente em todas as edições dos Jogos Olímpicos, assim como as relações de dirigentes de comitês com tais esquemas. Um dos grandes nomes desse universo e sempre apontado como um dos grandes operadores de todo o esquema de ingressos vips vendidos no paralelo é o croata naturalizado americano Sead Dizdarevic. Conhecido por ser peça decisiva no colégio eleitoral que define as sedes olímpicas e posteriormente por deter boa parte desses ingressos vips e revender em pacotes de hospitalidade.

No Brasil, a presença de Dizdarevic, ainda que sempre agindo nos bastidores, se fez de forma muito próxima aos organizadores: esteve no país pela primeira vez em 2009, cinco meses antes da escolha da sede. Depois voltou mais 13 vezes antes dos Jogos. E comprou a agência de viagens Tamoyo, detentora do monopólio da venda dos milionários pacotes de hospitalidade que negociaram os combos de ingresso/hospedagem da Olimpíada no Brasil, e que foi a agência oficial do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde a ascensão de Carlos Arthur Nuzman à presidência até 2012, além de parceira em contrato de passagens do CoRio, que tem o mesmo Nuzman na presidência.

É a agência responsável pelas milionárias transações das vendas de passagens aéreas para boa parte das confederações esportivas nacionais, turbinadas por verba pública vinda das leis de incentivo e convênios com o Ministério do Esporte.

Tal histórico de atuação a cada quatro anos dos detentores destes ingressos e as estritas relações com altos membros da corte olímpica, pavimentando a estrada para este cambismo vip, indica que Patrick Hickey e os demais devem ser apenas o meio da viagem. Mas, ao que tudo indica, a outra parte deste caminho repousará na geladeira de uma delegacia carioca.

Por Lúcio de Castro, da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo

Os Jogos chegaram ao fim nesse domingo (21). Além dos históricos resultados esportivos, algumas situações também marcaram a Olimpíada. Segue abaixo a relação dos 10 maiores constrangimentos dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro:

. Ryan Lochte

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"Ryan Lochte encarna tudo o que o mundo odeia nos americanos". A declaração do New York Post sobre um de seus compatriotas é dura e direta. O crime do nadador: invertar um falso assalto após ser repreendido por vandalizar um posto de gasolina quando estava bêbado. Apesar de suas medalhas olímpicas, o bad boy da natação americana pagou um dos maiores micos destes Jogos.

. Yuri van Gelder

O ginasta holandês Yuri van Gelder também abusou da bebida e após abandonar a Vila Olímpica para comemorar sua classificação para a final das argolas no torneio de ginástica artística foi excluído da delegação, sem poder disputar uma medalha.

. Justin Gatlin

Com os atletas russos considerados coletivamente persona non grata no Rio devido ao escândalo de doping de Estado, a presença na pista do Engenhão de Justin Gatlin, suspenso duas vezes por doping, não foi algo natural. Vaiado pelo público antes de conquistar a prata nos 100 m, foi eliminado nas semifinais dos 200 m e desclassificado na final do 4x100 m.

. Sonny Bill Williams e o Seven neozelandês

Sonny Bill Williams tinha tudo para ser a estrela do primeiro torneio olímpico de Rugby Seven, mas abandonou a primeira partida da Nova Zelândia, contra o Japão, vítima de uma ruptura parcial do tendão de Aquiles. Os "All Blacks" também tiveram um caminho escuro e acabaram caindo nas quartas de final contra os campeões olímpicos de Fiji.

. Hope Solo

A melhor goleira do mundo não sabe perder. Após a eliminação dos Estados Unidos nas quartas de final do futebol feminino, Hope Solo chamou as suecas, que venceram na decisão por pênaltis, de "bando de covardes", em alusão ao esquema defensivo das adversárias. A goleira já era alvo da torcida brasileira por postar uma foto com medidas preventivas contra o mosquito transmissor da zika.

. Ginástica chinesa

A ginástica chinesa não obteve uma medalha de ouro sequer nos Jogos do Rio. Há quatro anos, em Londres, os ginastas chineses conquistaram quatro títulos, entre eles o concurso geral por equipes. No Rio, como no Mundial de 2015, foram destronados pelo Japão, do "rei Kohei Uchimura".

. Patrick Hickey

De um hotel de luxo na Barra da Tijuca para uma penitenciária em Bangu. O irlandês Patrick Hickey, presidente dos Comitês Olímpicos Europeus e membro do Comitê Olímpico Internacional foi detido na madrugada do dia 17 de agosto sob suspeita de integrar uma rede de venda ilegal de ingressos para os Jogos do Rio. Outros três irlandeses - Kevin Kilty, Dermot Henihen e Stephen Martin - foram proibidos de sair do país e deverão depor sobre o caso nesta terça-feira.

. Yelena Isinbayeva

"Não aceitarei jamais minha suspensão. Não vou esquecer isto. Só posso dizer que quem vencer (...) será por minha ausência", declarou a bicampeã olímpica do salto com vara após sua exclusão dos Jogos do Rio. A russa foi uma das principais vítimas da exclusão de seu país dos Jogos pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF), na sequência das revelações da Agência Mundial Anti-Doping (WADA) sobre o doping generalizado no atletismo russo.

. Benoît Paire

O francês Benoît Paire ficou com o prêmio de ingrato após ser eliminado na segunda rodada do torneio de simples do tênis nos Jogos do Rio. Excluído da equipe francesa por ignorar o regulamento, abriu o verbo: "agora já sei como são as Olimpíadas e fico contente em partir".

. Doping de Peso

Vários atletas foram pegos no controle antidoping dos Jogos, a metade levantadores de peso: o cipriota Antonis Martasides, os poloneses Tomasz e Adrian Zielinski, a taiwanesa Lin Tzu-chi, o quirguiz Izzat Artykov e o mongol Chagnaadorj Usukhbayar. Some-se a isto o fato de que a Bulgária, potência na disciplina, foi excluída dos Jogos do Rio, assim como oito russos envolvidos no escândalo de doping generalizado na Rússia.

O brasileiro Juan Nogueira deu adeus ao sonho da medalha olímpica nos Jogos do Rio-2016 ao ser derrotado, nesta segunda-feira (8), pelo atual campeão mundial dos pesos pesados (91 kg), o russo Evgeny Tishchenko, em decisão unânime dos juízes (3 a 0). O combate, válido pelas oitavas de final, foi realizado no Pavilhão 6 do Riocentro. Apenas metade das arquibancadas estava ocupada, mas o público apoiou o atleta paulista de 28 anos desde o anúncio dos combatentes.

Em uma mistura de clima de partida de futebol com um combate de UFC, os torcedores receberam o russo aos gritos de 'uh, vai morrer'. O nome de Juan Nogueira foi muito aplaudido, antes e depois da luta.

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Nogueira, o primeiro brasileiro a disputar uma Olimpíada na categoria dos pesos pesados, havia estreado com vitória sobre o australiano Jason Whateley, mas no combate desta segunda-feira foi superado em todos os rounds pelo russo de 25 anos. Na pontuação dos três juízes, Tishchenko venceu por 29-28, 29-28 e 30-27.

Nogueira chegou a empolgar o público em um momento no segundo round em que obrigou o russo a se defender no canto do ringue, mas o campeão mundial conseguiu retomar o controle da luta. Após as já esperadas vaias para o anúncio do resultado, o público reconheceu o esforço do brasileiro, que depois da luta admitiu que o russo lutou melhor.

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