A presidente do júri da seção oficial do Festival de Cinema de Veneza, a cineasta argentina Lucrecia Martel, reconheceu nesta quarta-feira (28) que está incomodada com a participação do cineasta Roman Polanski, acusado de estupro nos Estados Unidos.
"A presença de Polanski com notícias do passado me incomoda muito", disse a diretora argentina em coletiva de imprensa.
##RECOMENDA##"Não assistirei à gala Polanski, porque represento muitas mulheres que lutam na Argentina por questões como essa. Não quero me levantar e aplaudir", afirmou Lucrecia, autora de quatro longas-metragens, incluindo "La Ciénaga" (2001) e "Zama" (2017), e considerada uma das melhores cineastas ativas do mundo.
O convite ao lendário Lido veneziano feito ao franco-polonês Roman Polanski gerou controvérsias sobre a condenação do diretor por estupro nos Estados Unidos na década de 1970.
Ele está na competição do festival, com "J'accuse", que trata do caso Dreyfus, o escândalo antissemita na França entre 1894 e 1906.
A assessoria de imprensa de Polanski confirmou à AFP que o cineasta não vai comparecer à estreia de seu filme em Veneza e tampouco dará coletiva de imprensa por telefone.
"Eu vi que a vítima considera o caso encerrado, não nega os fatos, mas acredita que Polanski já cumpriu o que ela e sua família pediram", explicou Martel.
"Se a vítima se sente compensada, o que vamos fazer? Executá-lo, negá-lo estar no festival, colocá-lo fora de competição para proteger o festival? Estas são conversas pendentes do nosso tempo. Tirar, ou incluir, Polanski nos obriga a conversar. Não é algo simples de resolver", reconheceu, quando abriu um debate sobre uma das questões que afetam o mundo do cinema.
Vários movimentos feministas protestaram contra a participação de Polanski e a baixa seleção de filmes dirigidos por mulheres, com apenas duas obras em competição.
"Eu não separo a obra do homem, mas acho que sua obra merece uma oportunidade por causa das reflexões que levanta", reconheceu a cineasta.
Já o diretor do festival, Alberto Barbera, defendeu a inclusão do último trabalho do cineasta como uma "obra-prima", uma reconstrução "extraordinária" de um evento histórico.
"Eu não sou um juiz que deve se expressar com base em critérios e princípios da justiça, se ele deve ir, ou não, para a prisão. Sou um crítico de cinema que deve decidir se um filme merece, ou não, participar de uma competição. Foi isso que eu fiz. Meu trabalho termina aí", afirmou.