Se você já tentou ingressar em uma universidade pública, sabe que a tarefa não é nada fácil. Quem deseja se tornar universitário, reconhece que a concorrência é enorme e por isso o estudante precisa abrir mão de alguns prazeres em sua vida, como momentos de descanso, lazer e da companhia de amigos e familiares. Agora, imagine se depois de todo este sacrifício, o aluno olha a lista de aprovados e não encontra seu nome. Só quem passou por isso é que sabe a sensação. O sentimento é uma mistura de medo, tristeza, frustração, dúvida e em alguns casos, raiva.
Mas, para alguns alunos, nem tudo está perdido, pois ainda é possível ver aquela luz no fim do túnel. É o caso dos feras que entram para a lista de remanejamento. Esse grupo tem o “privilégio” de mesclar sentimentos de reprovados, aprovados e um pouco de frustração devido ao tempo de espera. O LeiaJá separou histórias surpreendentes de alunos que viveram o drama - seguido do alívio - do remanejamento.
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A estudante Katarina Vieira foi uma das que passou por isso. Conseguiu o primeiro lugar na segunda lista de remanejamento para o curso de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A frustração veio logo em seguida. A instituição informou que nem um aluno do segundo remanejamento seria chamado, pois, as vagas já teriam sido preenchidas. Parecia que o sonho da moça, de ingressar a universidade, tinha chegado ao fim naquele momento. Após Katarina contar a história para alguns amigos de um cursinho, descobriu, através de uma colega de classe, que existia uma vaga disponível. A jovem era prima da pessoa que desistiu da vaga. Foi tudo o que Karina precisou saber para buscar sua oportunidade no curso. “Eu estava na lista e seria a primeira a ser chamada no segundo remanejamento. Mas a universidade não chamou ninguém. Descobri que uma pessoa estava desistindo do curso e entrei com um pedido na Justiça. Só então, consegui me matricular”, diz Katarina. “Tive que entrar em contato com o desistente e pedi uma cópia dos comprovantes de abandono para poder garantir a vaga”, completa.
A situação do estudante Arthur Rodrigues foi um pouco diferente. O jovem prestou vestibular para Rádio, Tv e Internet, pela Universidade de Pernambuco (UPE). Ele conta que, pelo desempenho, já sabia que iria para o remanejamento. Afirma que chegou até a sonhar com o resultado das provas. “Fiz as provas e pouco antes de sair o resultado, cheguei a sonhar com a minha nota e posição no remanejamento. Coisa de estudante. Fiquei com media 5,666 e em terceiro lugar na lista do remanejamento. Foi um momento marcante na minha vida”. O resultado foi o suficiente para levar Arthur a desacreditar na possibilidade de entrar na universidade naquele momento, fazendo com que o jovem voltasse a frequentar o cursinho preparatório. A crença do ingresso se foi, mas como a esperança é última que morre, o jovem não entregou os pontos.
O sentimento de ansiedade fez com que Arthur partisse em busca de pessoas que estavam a sua frente na lista e acabou tendo boas notícias. A intuição do estudante estava certa. Na busca, acabou descobrindo candidatos que desistiram da vaga e outros que não chegaram a fazer a matricula, e isso só reforçava sua expectativa. Após alguns meses, Arthur recebeu a ligação de uma amiga, informando que ele teria sido remanejado. “Foi um momento muito esperado. Prestei vestibular em janeiro, o resultado só saiu em fevereiro e o remanejamento em março. A espera foi dobrada”, conta o rapaz.
Mas nem todos os casos tem o mesmo desfecho. Alguns levam mais tempo ainda para conseguir o lugar ao sol. É o caso da estudante de publicidade e propaganda, Priscila Hollanda, 19 anos, que enfrentou o remanejamento por duas vezes. A jovem se preparou durante todo o ano de 2013, chegando a dedicar mais de 12 horas do seu dia se preparando para as provas. No processo, Priscila abdicou de amigos, festas e chegou a engordar mais de 20 kg. O resultado de todo esforço foi à sétima colocação na primeira lista de remanejamento. Esse que não aconteceu e foi motivo de muita frustração na vida da moça. Ela explica que ficou arrasada pelo investimento que não teve retorno. Mesmo assim, a jovem não desistiu e tentou ingressar novamente na universidade, no ano seguinte. E mais uma vez, outra dose da mesma frustração. Em 2014, a estudante ocupou a 17ª posição na relação de remanejamento. A estudante conta que o baque foi menor, mas a esperança de estudar em uma universidade federal tinha 'descido pelo ralo'. No vídeo a seguir, a estudante detalha sua história:
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“Foi frustrante ficar em outra lista de remanejamento, eu só conseguia pensar em todo o investimento que meu pai fez durante esses dois anos. Me senti uma decepção”, revelou Priscila. Com as expectativas zeradas, a discente já estava seguir outros caminhos acadêmicos. Mas aos 45 minutos do segundo tempo, ela recebeu uma ligação de uma amiga, também na mesma lista de espera, explicando que conseguiu o remanejamento e que, provavelmente, Priscila também seria remanejada. A jovem correu para saber o resultado e viu que a o sonho de ingressar em universidade acabara de ser conquistado. “Foi um momento único. Como se eu tivesse tirado o peso de dois anos das minhas costas", desabafa.
Dicas importantes
A professora e historiadora Tatiana Tavares orienta o aluno, que se encontra aguardando o resultado, a ter calma. Diz que a paciência é fundamental desde a realização das provas, até o momento de conferir os resultados e, sugere que o candidato, em lista de espera, controle a ansiedade e não entre em desespero, pois o momento não é o fim da linha. “Muitas vezes é o primeiro contato que o jovem tem com o 'fracasso' em sua vida. Então, nós, professores, sempre estamos dando uma mensagem de apoio, onde o episódio não seja visualizado como derrota, que ainda existe a possibilidade de entrar na universidade e no curso que deseja. Para controlar a ansiedade, é preciso pensar em um plano B, como por exemplo, matricular-se em cursinho, ou em uma faculdade particular”, orienta Tatiana. A educadora reforça, também, a importância da participação da família nesta fase e como as redes sociais podem ajudar na ocasião “O papel da família é essencial neste momento, pois o estudante já encerrou suas atividades didáticas nas instituições de ensino, seja ano letivo ou cursinhos pré-vestibulares. Na atualidade, aas redes sociais nos ajudam a mantermos contato com os nossos discentes, então sempre divulgamos as chamadas de remanejamento, bem como motivação para os alunos acompanharem”, completa a professora.
O coordenador da comissão de vestibulares da Universidade de Pernambuco (UPE), Hernanes Martins, informou que, para evitar que o aluno se prejudique, a instituição permite que o candidato em lista de espera possa frequentar as aulas como ouvinte. Só neste ano, 925 alunos foram remanejados na primeira lista de espera. A segunda relação conta com 592 feras e a terceira já possui 575 estudantes que aguardam uma oportunidade. Os cursos que mais remanejam variam de ano a ano. Em 2015, direito e administração foram os campeões de remanejamento. Este ano, engenharia segue liderando a lista.