"A parte elétrica da pensão não tinha boas condições. Era tudo gambiarra e feito de forma improvisada". É assim que o morador Josué Lins, de 45 anos, descreve a pensão da Rua da Glória, no bairro da Boa Vista, atingida por um incêndio na madrugada do último domingo (30). O imóvel teve a estrutura avariada e foi interditado pela Defesa Civil do Recife. Mais outras três casas vizinhas também foram interditadas por risco de desabamento.
A tragédia piorou na manhã desta segunda-feira (31), quando os corpos de um casal que estava desaparecido foram encontrados dentro do imóvel atingido pelas chamas. No domingo, o incêndio foi apagado sem que os bombeiros entrassem no casarão por causa da "segurança da estrutura e da equipe de profissionais", afirmou o secretário de Defesa Civil do Recife, Cássio Sinomar.
##RECOMENDA##As vítimas José de Arimatéia Bezerra Luiz, 43 anos, e Verônica Marta Lídio da Silva, 51, estavam juntos há dez anos e familiares acreditam que eles estavam dormindo no momento em que o casarão pegou fogo. José e Verônica eram pacientes psiquiátricos, tomavam remédios controlados e estavam desaparecidos desde a notícia do incêndio. De acordo com o Corpo de Bombeiros, ainda não se sabe o que teria causada as chamas.
Famílias foram realocadas para abrigo
Com as quatro residências interditadas, os moradores que viviam de aluguel tiveram que deixar seus lares. Alguns optaram por se mudar para casa de familiares e, sem escolhas, outros foram encaminhados para o abrigo provisório da prefeitura, na Travessa do Gusmão, no bairro de São José. De acordo com números da Defesa Civil, um total de 15 famílias, totalizando 32 pessoas, foram realocadas para o albergue.
Morando há um dia no abrigo provisório da Prefeitura do Recife, o vigilante Josué Lins, que era morador da pensão, diz que foi salvo de ser morto por causa do emprego. "No sábado era a minha folga, mas eu pedi ao meu patrão para trabalhar nesse fim de semana e só soube da tragédia às cinco da manhã. Quando cheguei à rua de casa, ainda tinham chamas, muita gente na frente e percebi que havia perdido tudo", lamentou Josué, que diz só ter ficado com as roupas do corpo e a carteira, de bem material.
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Sem ter para onde ir após a tragédia, um morador que preferiu não se identificar conta sua versão de como o resgate dos Bombeiros atuou na madrugada do domingo. "Eu estava em casa e por volta das 23h30 comecei a sufocar ainda deitado na cama. De repente, percebi que tinha uma fumaça preta em cima de mim", relembra.
O morador da residência vizinha de onde o fogo se alastrou conta que só deu tempo de correr e chorar. "Eu morava no segundo andar e as brasas também se espalharam por lá. Queimou tudo que era meu. Quando consegui sair, muita gente já estava do lado de fora das casas", diz.
Para ele, se os profissionais tivessem entrado no imóvel pelas laterais, o dano seria menor e o casal que faleceu poderia estar vivo. "O resgate só apagou o fogo, mas não procurou saber se tinham pessoas no local só porque ninguém sentiu falta deles", lamentou.
Para a mãe de uma das vítimas, o resgate falhou
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Enquanto acompanhava o trabalho da Defesa Civil e dos Bombeiros, na manhã desta segunda-feira (31), a mãe de José de Arimatéia estava muito abalada com a notícia de que seu filho tinha falecido. Em poucas palavras, ela responsabilizou pelo incêndio o dono do imóvel, pelo estado da parte elétrica, e a forma como foi feita o resgate. "Desde a madrugada do domingo que eu sabia que meu filho estava aí. Coração de mãe não se engana. Eles demoraram muito a entrar", contou Márcia Bezerra.
De acordo com Moacir Coelho, dono do imóvel, o fogo foi uma fatalidade porque a prefeitura vistoriou a pensão antes do incêndio e não encontrou problemas. Ele diz que a instalação elétrica era boa e não acredita que as chamas tenham começado por causa de um curto circuito na instalação elétrica.
Após a retirada do corpo das vítimas e finalização do rescaldo da pensão, a Defesa Civil do Recife finalizou o trabalho no local e interditou as quatro residências, na Rua da Glória. A estrutura da pensão foi completamente danificado e o imóvel deve ser demolido. O destino das outras três residências vizinhas depende do resultado do laudo técnico do órgão, que deve sair dentro de 30 dias. Até lá, as residências permanecem fechadas.
Já que muitas famílias que foram realocadas para o abrigo e perderam tudo no incêndio, a direção da casa de apoio temporário pede doações da sociedade para os moradores. Os interessados podem doar vestimentas básicas, roupas de frio, lençóis e toalhas, além de materiais de higiene. Os materiais podem ser entregues no abrigo, localizado na Travessa do Gusmão, no bairro de São José, área central da capital pernambucana.