Tópicos | Salvador Ramos

Uma semana depois do tiroteio em uma escola de Uvalde que provocou grande comoção nos Estados Unidos, a pequena cidade do Texas enterra nesta terça-feira (31) as primeiras vítimas do massacre, um dos mais violentos dos últimos anos.

Os funerais das 19 crianças e duas professoras mortas em 24 de maio pelos tiros de Salvador Ramos, de 18 anos, prosseguirão até meados de junho.

Uma das primeiras cerimônias, às 14h locais (16h de Brasília), será a de Amerie Jo Garza, uma menina que acabara de completar 10 anos quando foi assassinada.

Esta "pequena diva curiosa que 'odiava vestidos' e tinha um grande coração" sonhava em virar professora de arte, escreveu a família no obituário.

Na segunda-feira, parentes e anônimos prestaram uma homenagem diante de seu caixão, em uma funerária que fica diante da escola onde aconteceu o massacre.

O funeral de outra vítima, Maite Rodriguez, de 10 anos, acontecerá às 19h locais (21h de Brasília). A menina, que sonhava em ser bióloga marinha, era "carinhosa, carismática, amorosa", escreveu sua mãe, Ana Rodriguez, no Facebook. "E, acima de tudo, era minha melhor amiga".

"Este pesadelo horrível e sem sentido, do qual não consigo acordar, destruiu absolutamente minha vida e meu coração", acrescentou.

Além do luto, os habitantes de Uvalde, assim como muitos americanos, expressaram nos últimos dias raiva e incompreensão com a demora da intervenção da polícia, o que levou as autoridades a pedir desculpas.

Dezenove policiais permaneceram no corredor da escola do ensino fundamental Robb sem intervir por quase 45 minutos, enquanto Salvador Ramos estava trancado em uma sala de aula com alunos.

Quando entrou no local, a polícia matou o jovem armado.

A tragédia, como as anteriores, provocou uma onda de pedidos por regras mais severas para o acesso a armamento, em um país com mais armas que habitantes e que registra regularmente tiroteios fatais.

O presidente Joe Biden visitou a escola de Uvalde no domingo e ouviu os apelos de vários moradores: "Faça algo!"

O presidente "deve aprovar leis para que possamos proteger as crianças das AR-15", afirmou Robert Robles, de 73 anos, ao mencionar a arma semiautomática usada na escola Robb.

Ricardo García, de 47 anos e que trabalhava no hospital de Uvalde no dia do massacre, contou que "não consegue tirar da cabeça o choro das mães quando recebiam a notícia fatal".

"É necessário de parar de vender armas, ponto", completou.

- "Seguir pressionando" -

Na segunda-feira, Biden prometeu "seguir pressionando" por uma regulamentação mais severa das armas de fogo.

"Não faz sentido poder comprar algo que dispara até 300 tiros", disse.

"Acredito que as coisas ficaram tão graves que deixa todo mundo mais racional sobre o tema", disse o presidente democrata, após um fim de semana marcado por uma série de tiroteios que deixaram vários mortos e dezenas de feridos, tragédias que se tornaram recorrentes nos Estados Unidos.

Mas passar das palavras aos atos será difícil. A pequena maioria dos democratas no Congresso não permite aprovar de modo solitário este tipo de legislação.

Qualquer projeto de lei sobre o assunto precisa de maioria qualificada no Senado, e para isso é necessária a aprovação dos republicanos, ou pelo menos de uma parte deles, tradicionalmente menos inclinados a legislar sobre o tema.

Um dia depois de completar 18 anos, Salvador Ramos, da pequena localidade de Uvalde, no Texas, comprou seu primeiro rifle de assalto. Uma semana depois, ele entrou em uma escola local de ensino fundamental, onde atirou e matou 19 crianças e duas professoras.

As autoridades ainda estão tentando determinar o que levou Ramos a cometer o pior massacre escolar dos Estados Unidos em uma década. Isto é o que se sabe até agora sobre o caso:

- Como foi o ataque? -

Descrito como um jovem que havia sofrido 'bullying' durante muito tempo e com um histórico de lesões autoprovocadas, Ramos completou 18 anos em 16 de maio e comprou seu primeiro rifle no dia seguinte. Três dias depois, comprou o segundo, e 375 cartuchos de munição.

O jovem, um desertor da escola secundária sem antecedentes criminais, publicou na terça-feira pela manhã três mensagens no Facebook anunciando seus planos, contou o governador do Texas, Greg Abbott, em coletiva de imprensa.

Na primeira, advertiu que iria atirar em sua avó, com quem vivia.

Abbott disse que Ramos feriu a mulher de 66 anos no rosto, mas ela conseguiu telefonar para a polícia e foi transferida de avião, em estado crítico, para um hospital nas proximidades de San Antonio, cerca de 130 km a oeste de Uvalde.

Após confirmar em uma segunda mensagem no Facebook que havia atacado sua avó, Ramos publicou uma terceira, dizendo que seu próximo alvo era uma escola de ensino fundamental.

Ele dirigiu então um pouco mais de 3 km e terminou colidindo perto da Robb Elementary School, onde os mais de 500 estudantes da segunda à quarta série, com idades entre sete e dez anos, estavam há apenas três dias das férias de verão.

Vestido de preto e com um colete à prova de balas, Ramos foi confrontado por um funcionário escolar, mas conseguiu entrar no edifício por uma porta traseira.

Depois, se dirigiu a duas salas contíguas.

"Ali foi onde começou a carnificina", disse Steve McCraw, diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas.

As identidades das vítimas foram sendo reveladas na medida em que seus familiares compartilham suas dores na internet: Xavier López, um menino de 10 anos que adorava dançar; Ellie García, a menina "mais feliz do mundo", nas palavras de seu pai, e Amerie Jo Garza, uma garota com um sorriso radiante que acabava de comemorar seu décimo aniversário.

- Como o atirador foi parado? -

A polícia chegou ao local do massacre em resposta a um relato de um veículo acidentado.

Ao ouvir os disparos provenientes da escola, correram para dentro do recinto e foram atacados por disparos. Alguns policiais começaram a quebrar as janelas e a retirar crianças e funcionários.

A polícia ajudou a parar o atirador com uma equipe tática que incluía agentes da Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos, que tem uma unidade nesta cidade situada a apenas 100 km da fronteira com o México.

"Ao entrar no edifício, os policiais e outros agentes trocaram tiros com o agressor, que estava entrincheirado", disse Marsha Espinosa, porta-voz do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

As forças de segurança "se interpuseram entre o atirador e as crianças para desviar a atenção dele das possíveis vítimas", explicou.

Foram mais de 30 minutos desde que Ramos entrou na escola até que um dos agentes da Patrulha de Fronteira finalmente atirou contra ele e o matou.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando