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Os palestinos de Gaza continuaram encontrando corpos, nesta quarta-feira (18), um dia após o bombardeio a um hospital na região que deixou centenas de vítimas. "Nunca vi nada parecido na minha vida", disse Ahmed Tafesh, depois de horas recolhendo restos humanos.

Entre os veículos queimados, voluntários retiram corpos e restos mortais e os colocam em sacos mortuários, enquanto outros são cobertos por mantas e invólucros brancos.

"Isso é um massacre. Nunca vi nada parecido na minha vida", contou à AFP Tafesh, que participou nestes esforços e relatou ter recolhido olhos, braços, pernas e cabeças das vítimas.

Autoridades de saúde do enclave, governado pelo grupo islamita palestino Hamas, afirmaram nesta quarta-feira que pelo menos 471 pessoas morreram no bombardeio do hospital Ahli Arab, localizado no centro da Faixa de Gaza.

Lideranças desta região atribuem o bombardeio de terça-feira à noite a um ataque aéreo de Israel, em resposta à ofensiva do Hamas em território israelense em 7 de outubro, que deixou mais de 1.400 mortos e quase 200 reféns sequestrados.

O Exército israelense afirmou, por sua vez, nesta quarta-feira que tem "evidências" de que "a explosão em um hospital de Gaza foi provocada pelo lançamento de um foguete da Jihad Islâmica que falhou".

- "Nem sei como saímos" -

Perto da então unidade de saúde, moradores compareceram ao local nesta quarta-feira para identificar os mortos e levá-los para serem sepultados.

Yahya Karim, de 70 anos, busca notícias de seus familiares. "Não sei quantos deles morreram nem quantos ainda estão vivos", contou ele, que considerou ficar no hospital antes da tragédia de terça-feira.

Outros, que sobreviveram ao bombardeio, relatam o terror que sentiram.

"Havia fogo e coisas caíam em cima de nós. Começamos a procurar uns aos outros. A eletricidade caiu de repente e não conseguíamos ver nada. Nem sei como saímos", disse aos prantos Fatima Saed.

Adnan al-Naqa, outro residente de Gaza, relatou que cerca de 2.000 pessoas estavam refugiadas no hospital na noite do ataque.

"Quando entrei no hospital ouvi a explosão e vi um incêndio imenso. Todo o lugar estava em chamas, havia corpos por toda parte, de crianças, mulheres e idosos", relembrou.

Segundo o o porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, "não houve nenhum fogo das FDI (o Exército israelense) por terra, mar ou ar que atingiu o hospital", declarou em uma entrevista coletiva nesta quarta-feira.

O Hamas afirmou, por sua vez, que a tese israelense é "uma mentira que não engana ninguém".

Desde 7 de outubro, horas após a ofensiva inédita do grupo islamita, Israel atacou centenas de alvos na Faixa de Gaza, onde mais de 3.400 pessoas morreram, segundo as autoridades de saúde da região. Um milhão de moradores foram deslocados dentro do enclave, onde 2,4 milhões de palestinos vivem em condições precárias.

Na sexta-feira, Israel solicitou que os residentes do norte de Gaza se refugiassem no sul da Faixa mediante a possibilidade de uma incursão terrestre. Esta ordem de retirada foi rejeitada pelo Hamas e fortemente criticada pela ONU e vários países da região.

O odor é insuportável no Centro Nacional de Medicina Forense de Tel Aviv, que está lotado de corpos carbonizados, mutilados, em decomposição. O local recebe os restos mortais dos israelenses massacrados pelo Hamas que passam pelo processo de identificação.

Os corpos estão em todos os lados, em muitos casos apenas pedaços. Os legistas tentam montar as peças do quebra-cabeça macabro.

Antes dos exames, os cadáveres são colocadas em macas, dentro de sacos plásticos grossos. Alguns são pequenos, do tamanho de uma criança.

Cada resto mortal recebe um número, e os corpos chegam de todos os lados, em macas empurradas por homens, a maioria voluntários, e muitos deles judeus ortodoxos.

Na religião judaica, um corpo só pode ser enterrado quando está inteiro.

"Decidimos expor este horror, porque há pessoas que nos acusam de mentir, de inventar histórias e de mostrar ossos de cães", afirmou o diretor do centro, o médico Hen Kugel, que não consegue conter as lágrimas.

Ele mostra um emaranhado de ossos e carne unidos por um cabo elétrico. Com o exame de imagem, explica, "vemos claramente que há duas colunas vertebrais. De um homem ou uma mulher, não sabemos, e a de uma criança. A postura dos dois corpos mostra que o adulto tentou proteger a criança. Foram amarrados e queimados vivos".

O doutor Kugel volta a chorar. "Nunca vi tanta barbárie, tanta crueldade, algo tão implacável. É simplesmente atroz".

- Corpos sem cabeça -

As autoridades israelenses informaram que mais de 1.400 pessoas morreram no ataque executado em 7 de outubro por centenas de islamitas do Hamas, que partiram da Faixa de Gaza e entraram nas localidades israelenses próximas do enclave palestino.

Desde então, Israel bombardeia sem trégua a Faixa de Gaza, onde mais de 2.750 pessoas morreram, segundo as autoridades.

Além dos sete legistas do centro de Tel Aviv, um antropólogo, um radiologista e sete geneticistas participam do processo de identificação, auxiliados por quase 30 voluntários.

Todos afirmam que é surpreendente que os pulmões das vítimas estivessem repletos de fumaça. Outros corpos estavam com marcas de tiros nas costas. Alguns tinham as mãos perfuradas por lâminas, ou projéteis, o que mostra que lutaram corpo a corpo contra os agressores.

"Não sabemos quantos bebês morreram, nem quantos idosos. Também há muitos corpos sem cabeça. Ainda levará algum tempo para identificar todas as pessoas", admite o doutor Kugel.

Todos os integrantes de uma família ucraniana - que fugiram da guerra em seu país - morreram no ataque.

Também há cidadãos americanos e "talvez de outras nacionalidades", afirmou o legista Hagar Mizrahi.

Atrás dele, uma porta é aberta: em uma longa mesa de metal está um corpo de tom acinzentado. É impossível dizer se a vítima é homem ou mulher, mas é possível observar tatuagens nas costas e membros inchados. A vítima não foi queimada viva, mas os impactos dos tiros são visíveis.

- "Odor" -

Nurit Boublil, diretor da unidade de identificação genética, explica que centenas de corpos foram enviados ao centro, e muitos foram identificados.

"Tudo fica mais difícil, porque muitas vezes os torturados foram amarrados juntos. É possível que em um único saco tenhamos dois corpos, talvez três", disse.

Antes da transferência para o centro médico, alguns corpos passaram pela base militar de Shura, perto de Ramla (centro), onde estavam em contêineres refrigerados para aguardar o processo de identificação.

Entre os médicos e legistas, o ex-grande rabino do Exército Israel Weiss comparece ao local para prestar ajuda.

"Abro as portas dos contêineres, vejo os corpos, sinto o odor, deixo que encha meus pulmões e o meu coração, mas o que sinto é sua dor e desaparecimento", disse Weiss.

O rabino e outros integrantes da equipe que examinaram os corpos afirmam que muitas vítimas foram torturadas, estupradas, ou sofreram outros tipos de maus-tratos.

"Nunca em minha vida observei tais horrores", declarou o rabino diante dos contêineres, que recebem até 50 corpos.

Os irmãos Osher e Michael Waknin queriam celebrar "a amizade, o amor e a liberdade infinita", mas a última festa que organizaram se transformou em pesadelo. Confira a seguir, o relato de um massacre que passou a ser símbolo do ataque sem precedentes contra Israel lançado pelo movimento palestino Hamas.

Sua ideia de organizar a primeira edição em Israel do Tribe of Nova, um festival de música surgido no Brasil duas décadas atrás, se anunciava como um sucesso. Cerca de 3.500 pessoas, entre israelenses e estrangeiros, participavam do evento que teve início na sexta-feira no sul do país.

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Três palcos, vários DJs de todo o mundo, uma área de camping, bares para abastecer os frequentadores... Nada foi deixado ao acaso neste local ao ar livre, situado no deserto de Negev, a cinco quilômetros da fronteira com a Faixa de Gaza.

Ao amanhecer de sábado, 7 de outubro, os jovens continuavam dançando quando, de repente, a música eletrônica parou. Era por volta de 6h30. E, à distância, ouviam-se ruídos abafados. "Gente, alerta vermelho, reagrupem-se", advertiu o sistema de som.

Faíscas seguidas de explosões salpicam o céu alaranjado. O Domo de Ferro, o sistema de defesa antiaérea de Israel, interceptava os primeiros foguetes lançados pelo Hamas a partir de Gaza.

Nesse momento, "ainda estávamos rindo, sem levar a sério a situação", explica à AFP Efraim Mordejayev, um soldado de 23 anos que estava de folga no fim de semana, coincidindo com o final da festa judaica de Sucot.

"Estamos acostumados com os foguetes" lançados de Gaza, diz. A Faixa, um território empobrecido onde vivem confinadas 2,3 milhões de pessoas, está submetida a um bloqueio israelense desde que o Hamas assumiu seu controle total em 2007.

O jovem e seus amigos começaram a se dispersar com tranquilidade, mas, logo percebem que há algo diferente. O perigo não vinha apenas do céu, mas também de homens armados, alguns em paramotores, outros em motocicletas ou caminhonetes.

"Quando vimos os terroristas, o pânico tomou conta", lembra.

- Caçada -

Foi então que começou uma caçada. Os agressores começaram a matar metodicamente quem cruzava seu caminho, indiscriminadamente.Os agentes de segurança e policiais presentes viram-se rapidamente sobrecarregados e também passaram a ser alvo dos ataques.

Todo o mundo corria para salvar sua vida: alguns para os campos no entorno do local do festival, outros tentando chegar a seus veículos nos dois estacionamentos do festival. Mas, rapidamente, se formou um engarrafamento.

"Olhei para trás e vi que, no carro logo atrás de mim, havia três cadáveres e todos os vidros estavam estilhaçados", explica o soldado.

Restavam apenas duas opções: esconder-se ou fugir a pé pela planície. Mordejayev escolheu a segunda e correu, de arbusto em arbusto, aterrorizado, até que um veículo abarrotado o recolheu em campo aberto.

A rodovia 232, a única rota de saída deste inferno, tampouco é muito segura. Situada em paralelo ao muro fronteiriço que separa Israel da Faixa de Gaza, a estrada liga o kibutz vizinho de Reim à cidade de Sederot, cerca de 30 quilômetros mais ao norte.

- 'Vi gente morrendo à minha volta' -

07h39: Uma câmara em um carro que conseguiu escapar revela a armadilha em que caíram seus ocupantes. As rajadas disparadas por combatentes palestinos emboscados arrebentam o para-brisa e obrigam o motorista a parar, sem que se saiba se ele foi atingido.

A jovem Gili Yoskovich decidiu abandonar seu carro para correr pelos campos. No entanto, neste paisagem desértica, quase não há lugar para se esconder. A mulher avistou um pomar e correu para se proteger, com os agressores logo atrás.

"Foram de árvore em árvore e atiraram. Vi gente morrendo à minha volta. Fiquei calada. Não chorei, não fiz nada", declarou à BBC após conseguir escapar com seu namorado. Mas nem todos tiveram a mesma sorte.

Durante horas, enquanto o ruído das armas automáticas se aproximava cada vez mais, alguns se jogaram atrás de um carro, dispersando-se desordenadamente. Tomados pelo pânico, alguns, inclusive, se fingiram de mortos entre os cadáveres com a esperança de sobreviver.

- À queima-roupa -

Três horas depois do início do ataque, os milicianos de Hamas continuavam com o massacre, sem encontrar resistência.

Imagens de câmeras de vigilância mostram um homem encapuzado e com colete à prova de balas levando, às 09h23 locais, um refém com uma camiseta ensanguentada.

Ao fundo, um jovem que se fingia de morto acabou se mexendo, pensando que poderia fugir, mas outro agressor se aproximou por trás dele e o executou à queima-roupa.

Diversos sobreviventes explicaram aos meios de comunicação que esperaram por até sete horas para serem regatados pelo Exército israelense. Os primeiros socorristas que chegaram se depararam com o horror e a proporção do massacre: 270 mortos.

Dezenas de veículos incendiados se amontoavam no acesso ao local. Ao longo de centenas de metros, sacos de dormir, colchões, calçados e coolers jaziam abandonados.

"Em cada carro havia um, dois ou três corpos", explica Moti Bukjin, porta-voz da ONG israelense Zaka, à AFP. "Alguns tinham uma bala na cabeça ou no queixo", e outros "foram atingidos quando tentavam fugir e caíram nas canaletas junto da estrada".

Quatro dias depois da tragédia, além de chorar os mortos, a angústia corrói as famílias que estão em busca dos desaparecidos. Acredita-se que dezenas foram sequestrados e são mantidos como reféns na Faixa de Gaza, bombardeada dia e noite pelo Exército de Israel.

Michael Waknin, um dos gêmeos organizadores, seria um deles? Está vivo e escondido em algum lugar? Isso é o que sua irmã, Ausa, quer acreditar, já que não tem notícias dele.

Quanto a seu irmão, Osher, testemunhas o viram sair de seu carro para socorrer pessoas no meio do caos. Sua viúva, Sunny Waknin, garante que ele morreu como um "herói". Seus restos mortais foram enterrados na terça-feira em Jerusalém.

Familiares desolados reuniram-se neste domingo (18) em um necrotério de Uganda à procura de notícias dos seus entes queridos, após o ataque de um grupo rebelde que deixou 41 mortos em uma escola, a grande maioria estudantes.

O papa Francisco condenou o "ataque brutal" e disse que estava orando pelos jovens neste domingo, quando se encontrou com os fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Pelo menos 41 pessoas morreram na noite de sexta-feira (16) em uma escola de ensino médio do oeste do país, localizada muito perto da República Democrática do Congo (RDC), o reduto da milícia jihadista a quem as autoridades atribuíram o ataque.

As vítimas foram mortas a facadas, baleadas ou queimadas na escola Lhubiriha, na cidade de Mpondwe.

O exército e a polícia acusaram as Forças Democráticas Aliadas (ADF), um grupo rebelde ligado ao grupo jihadista Estado Islâmico. A milícia levou seis pessoas sequestradas para a RDC.

Muitas das vítimas morreram queimadas quando os agressores incendiaram um dormitório coletivo, o que complica a identificação e contagem dos desaparecidos.

No necrotério de Bwera, perto de onde ocorreu o ataque, as famílias choravam quando os corpos de seus parentes foram colocados em caixões e levados para o enterro.

Outras continuam sem notícias de seus entes queridos. Muitas das vítimas que morreram queimadas foram levadas para a cidade de Fort Portal, onde passarão por exames de DNA para serem identificadas.

No ataque, 17 estudantes do sexo masculino morreram queimados em seu dormitório. Vinte alunas foram mortas a facadas, de acordo com a primeira-dama e ministra da Educação de Uganda, Janet Museveni. Um segurança também foi morto, segundo as autoridades.

O ataque de sexta-feira foi o mais sangrento em Uganda desde 2010, quando 76 pessoas foram mortas em um duplo ataque em Kampala realizado pelo grupo jihadista somali Al Shabab.

- Um ato "terrível" -

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, denunciou o ato "terrível", e tanto os Estados Unidos quanto a União Africana também condenaram o massacre e enviaram suas condolências.

Ao mesmo tempo, foram levantadas questões sobre como os milicianos evitaram ser detectados em uma área de fronteira sujeita a uma forte presença militar.

O general Dick Olum disse à AFP que os elementos de inteligência coletados apontam para a presença de milicianos da ADF na área pelo menos dois dias antes do ataque, e especificou que será necessária uma investigação para esclarecer os erros.

A milícia ADF começou como um grupo insurgente em Uganda, de maioria muçulmana, e se estabeleceu no leste da RDC em meados da década de 1990. Desde então, foi acusada de matar milhares de civis.

Em 2019, eles juraram lealdade ao grupo Estado Islâmico, que apresenta os combatentes da ADF como um ramo local na África Central. São acusados de ataques jihadistas na RDC e em solo ugandense.

Uganda e a República Democrática do Congo lançaram uma ofensiva conjunta em 2021 para expulsar a ADF de seus redutos congoleses, mas essas operações não conseguiram conter os ataques do grupo.

O massacre na escola Raul Brasil, em Suzano, em São Paulo, completa esta semana quatro anos. O crime resultou na morte de sete pessoas. Os autores, que eram ex-alunos da instituição de ensino, se suicidaram após a tragédia. As pessoas que forneceram as armas de fogo aos criminosos chegaram a ser presas, condenadas e cumpriram penas de quatro anos, convertidas em prestação de serviços à comunidade.

O que se sabe através das investigações é que os autores do crime eram ativos em fóruns da internet, onde predominam os discursos de ódio misóginos, supremacismo branco, bullying e nazismo. Esses discursos continuam reverberando entre a juventude. Muitos jovens, principalmente os homens, frustrados por diversas razões, são cooptados para esses grupos violentos em fóruns da web.

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De acordo com o psicanalista Christian Dunker, muitos deles veem na violência um meio de ligação com a ideia do homem viril e másculo.

“Isso vai aparecer infiltrado em muitas narrativas literárias, musicais e ritualísticas. Muitas têm a ver com ritos de passagem que definem o que é um homem. Muitas delas vão explorar essa ligação. ‘O que se espera de um homem mais masculino. É o seu potencial de violência.’ Seu potencial de exercer sua força e poder sobre um outro”, disse.

Redes sociais

A professora da Universidade Federal do Ceará e ativista feminista, Lola Aronovich, é uma das vítimas de ameaças e difamação desses grupos e estuda profundamente o assunto há mais de 12 anos. Ela detalhou como funciona a cooptação desses jovens para os atos mais violentos em grupos das redes sociais.

Um relatório com diagnóstico desse tipo de violência nas escolas e possíveis soluções foi elaborado na transição do governo Lula em dezembro de 2022, intitulado “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental.”

De acordo com o documento, no Brasil - desde a primeira década dos anos 2000 - houve 16 ataques em escolas, dos quais quatro aconteceram no segundo semestre do ano passado, com 35 vítimas fatais e 72 feridos.

Esses números demonstram que é um problema que deve ser reconhecido pelo poder público, como destacou um dos coordenadores do relatório, o professor da Faculdade de Educação da USP, Daniel Cara.

Ele acentuou que “o Brasil não assume que está sob estratégia organizada de grupos fascistas e neonazistas internacionais. O Brasil é alvo dessas organizações desde o início dos anos 2.000. O primeiro passo é reconhecer o problema”.

Daniel disse, ainda, que o relatório propõe a adoção de algumas medidas urgentes e que, inclusive, deram resultados em países escandinavos, como por exemplo, a identificação e o isolamento dos estudantes que foram cooptados por grupos neonazistas.

Debate nas escolas

Outra ideia compartilhada entre Daniel Cara e Lola Aronovich é a de levar a debate sobre o discurso do ódio para dentro do espaço escolar.

Lola explicou a importância disso: “a gente tem que falar sobre isso dentro das escolas porque senão fica muito fácil para esses recrutadores do ódio eles pegarem menores de idade numa plataforma de games sem discurso de ódio e, pouco a pouco, eles vão sendo fisgados pelo [discurso] do ódio”.

Em fevereiro deste ano, o governo federal criou um Grupo de Trabalho (GT) para discutir justamente formas de combater os discursos de ódio com representantes da sociedade civil. O psicanalista Christian Dunker e a professora Lola Aronovich fazem parte desse grupo, que terá 180 dias, com possibilidade de prorrogação, para produzir um relatório com diagnóstico e propostas.

O suspeito de assassinar sete de seus colegas trabalhadores rurais em duas fazendas da Califórnia se declarou culpado e acredita ter problemas mentais, disse ele à rede de televisão NBC.

"Ele admitiu que o fez", afirmou a jornalista Janelle Wang, que nesta quinta-feira (26) disse ter conversado com o suspeito, Zhao Chunli, na penitenciária onde o homem está detido pelos ataques em Half Moon Bay, uma comunidade rural ao sul de San Francisco.

Wang explicou que foi à penitenciária durante o horário de visita. Depois de se identificar como jornalista e receber a autorização de Zhao, ela falou com o suspeito por quinze minutos em mandarim.

"Ele se arrepende e diz que não estava com suas plenas capacidades mentais quando atirou em oito pessoas", relatou Wang.

Zhao Chunli foi detido pela polícia de Half Moon Bay na segunda-feira, poucas horas após os ataques. Cinco chineses (três homens e duas mulheres) e dois mexicanos morreram. Outro homem, de nacionalidade mexicana, ficou ferido, mas sobreviveu e está hospitalizado na cidade de Palo Alto.

"Perguntei a ele o motivo, e ele disse que sofreu anos de bullying, que tinha muitas preocupações. Disse que tinha longas jornadas de trabalho excessivo sobre as quais apresentou reclamações, mas não foi atendido", completou Wang.

- Saúde mental -

Zhao compareceu ao tribunal na quarta-feira, mas não se pronunciou sobre as acusações.

A pedido da defesa, a justiça anunciou uma nova audiência em 16 de fevereiro para a leitura das acusações.

Zhao "acredita sofrer de algum tipo de doença mental contra a qual luta há algum tempo".

Wang acrescentou que Zhao confirmou que mora com a esposa em Half Moon Bay e tem uma filha de 40 anos na China.

A jornalista afirmou que o homem parecia "confuso" e "ansioso" com o processo legal.

Zhao terá que responder por homicídio múltiplo com agravantes. Se condenado, ele pode pegar prisão perpétua ou até a pena de morte.

"Não sei se ele realmente entendeu o que está por vir e que enfrenta sete acusações de homicídio", disse Wang.

O jornalista comentou que Zhao parecia animado para conversar e deu detalhes sobre como se entregou à polícia na segunda-feira.

As autoridades disseram na quarta-feira que estão trabalhando para proteger a esposa de Zhao, temendo represálias, pois o casal vivia na fazenda de cogumelos onde ocorreu o primeiro ataque.

Enquanto isso, parentes e amigos de algumas das vítimas expressaram sua perplexidade.

"Marciano era um homem bom, sempre defendeu os trabalhadores (...) Isso foi uma tragédia e uma grande perda para a comunidade de Half Moon Bay", escreveu em uma página de doação um colega de Marciano Martínez Jiménez, falecido no ataques.

- Sequência trágica -

O massacre em Half Moon Bay ocorreram menos de dois dias depois de outro ataque com arma na Califórnia.

Na noite de sábado, um homem, identificado pela polícia como o imigrante vietnamita Huu Can Tran, abriu fogo dentro de um salão de dança em Monterey Park, cidade com grande população asiática a poucos quilômetros de Los Angeles. Onze pessoas foram mortas.

O suspeito se suicidou ao ser cercado pela polícia. As autoridades informaram na quarta-feira que não têm indícios sobre a motivação do crime, que chocou a comunidade.

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, visitou Monterey Park na quarta-feira e se reuniu com as famílias das vítimas.

"Devemos pedir aos líderes de nossa nação que têm a capacidade, o poder e a responsabilidade de fazer algo para agir", disse Harris.

A ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu trecho do decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que concedeu, no final do ano passado, indulto natalino a policiais condenados pelo massacre do Carandiru, ocorrido em 1992.

A decisão atende a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que argumentou que o indulto é inconstitucional porque é proibida sua concessão a presos que cometeram crimes hediondos. O argumento do decreto é que, na época em que os crimes foram cometidos, eles não se encaixavam nessa categoria. Para a PGR, cuja sustentação foi acolhida pela Corte, a aferição sobre a definição do crime como hediondo deve ser feita no momento da edição do decreto.

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A medida é liminar e foi tomada por Rosa porque ela está no regime de plantão da Corte. A decisão ainda será analisada pelo relator do caso Luiz Fux.

O último indulto natalino do presidente Jair Bolsonaro pode beneficiar os policiais militares condenados pelo massacre do Carandiru - quando 111 presos do Pavilhão 9 da Casa de Detenção, em São Paulo, foram mortos após uma rebelião no dia 2 de outubro de 1992. Para o advogado dos PMs, Eliezer Pereira Martins, os condenados se enquadram 'perfeitamente' em um dos artigos do texto publicado no Diário Oficial da União nesta sexta-feira, 23.

A defesa diz que deve entrar ainda hoje, no plantão judiciário do Tribunal de Justiça de São Paulo, com um pedido de declaração de extinção de punibilidade dos réus - ou seja, para que os PMs não possam ser punidos pelas condutas ligadas ao massacre.

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No Ministério Público de São Paulo a avaliação também é a de que o indulto de Bolsonaro, nos termos em que foi publicado, beneficia os 74 PMs condenados pelo Tribunal do Júri a penas que vão de 48 anos a 624 anos de prisão pelo assassinato dos presos. Nos bastidores da Promotoria, comenta-se que um dos artigos do decreto de Bolsonaro parece ter sido feito para o caso dos policiais condenados pelo Carandiru.

Por outro lado, também entre os promotores, discute-se que o texto assinado por Bolsonaro pode ser questionado do ponto de vista constitucional. O Supremo Tribunal Federal já discutiu validade de indulto natalino presidencial - o editado pelo ex-presidente Michel Temer em 2017.

O trecho do decreto de Bolsonaro que, segundo a defesa dos PMs, se enquadra perfeitamente às condenações pelo massacre do Carandiru registra: "Será concedido indulto natalino também aos agentes públicos que integram os órgãos de segurança pública e que, no exercício da sua função ou em decorrência dela, tenham sido condenados, ainda que provisoriamente, por fato praticado há mais de trinta anos, contados da data de publicação deste Decreto, e não considerado hediondo no momento de sua prática".

Ainda de acordo com o decreto, o indulto se aplica 'às pessoas que, no momento do fato, integravam os órgãos de segurança pública, na qualidade de agentes públicos'.

O Massacre do Candiru completou 30 anos no dia 2 de outubro deste ano, sendo abarcado pelo decreto. Além disso, o crime de homicídio, pelo qual os policiais militares foram condenados, só entrou no rol de crimes hediondos em 1994 - ou seja, também dentro dos parâmetros do documento assinado por Bolsonaro.

A possibilidade de Bolsonaro indultar os PMs envolvidos no massacre do Carandiru já era um ponto de atenção dentro da Promotoria desde o dia 17 de novembro, quando o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, reconheceu o trânsito em julgado de decisões que mantiveram a sentença do Superior Tribunal de Justiça que restabeleceu as condenações dos PMs.

O certificado expedido por Barroso significa que as condenações dos PMs são definitivas, ou seja, eles não podem ser mais absolvidos. Ainda está pendente de discussão do Tribunal de Justiça de São Paulo pedido para reduzir as penas dos réus. O julgamento sobre a dosimetria das penas foi suspenso no final de novembro, após pedido de vista do desembargador Edson Aparecido Brandão, da 4.ª Câmara Criminal da Corte paulista.

O ex-ditador da Guiné, Moussa Dadis Camara, negou, em um aguardado julgamento nesta terça-feira (13), ter dado a ordem para um massacre em 2009 que deixou centenas de vítimas.

Camara está sendo julgado junto com outros dez oficiais que fizeram parte de seu governo por um massacre no qual 156 pessoas morreram e um total de 109 mulheres foram estupradas, durante a repressão de um comício da oposição.

O militar voltou a depor na terça-feira pelo segundo dia consecutivo no processo iniciado em 28 de setembro, 13 anos após o massacre perpetrado por agentes do regime.

"Eu não dei nenhuma ordem a ninguém, senhor imperador da Promotoria", respondeu Camara com sarcasmo.

Camara afirmou no entanto que membros dos Boinas Vermelhas, uma unidade de elite das forças armadas, participaram do massacre.

O ex-ditador negou na segunda-feira qualquer responsabilidade pelos eventos e disse ser vítima de uma conspiração, em um longo monólogo que incluiu referências a filósofos como Heráclito e Immanuel Kant e aos faraós egípcios.

Camara, que era um capitão desconhecido, chegou ao poder em dezembro de 2008, logo após a morte de Lansana Conte, o segundo líder do país desde a independência, que governou durante 24 anos.

Um júri americano se negou, nesta quinta-feira (13), a pedir a pena de morte para Nikolas Cruz, que matou 17 pessoas em sua ex-escola de ensino médio na Flórida, e optou pela prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

Depois de deliberar durante todo quarta-feira e, brevemente, nesta quinta, os jurados decidiram que Cruz, de 24 anos, deveria receber prisão perpétua pelos assassinatos de 14 estudantes e três funcionários da escola Marjory Stoneman Douglas de Parkland, na Flórida, em fevereiro de 2018.

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A solicitação de pena de morte precisa ser unânime e pelo menos um ou mais dos 12 jurados considerou que não se justificava devido a circunstâncias atenuantes.

Durante a leitura do veredicto, Cruz olhou fixamente para a mesa de defesa enquanto vários parentes das vítimas no setor público balançavam a cabeça incrédulos.

Cruz se declarou culpado em 2021 pelos assassinatos ocorridos no Dia de São Valentim há quatro anos e os promotores argumentaram durante um julgamento de três meses que a sentença adequada era a pena de morte.

Melisa McNeill, advogada de Cruz, pediu compaixão ao júri. Segundo ela, Cruz era um jovem problemático nascido com transtorno de estresse alcoólico fetal de uma mãe que lutava contra a falta de moradia, o alcoolismo e o vício em drogas, antes de colocá-lo para adoção.

Famílias com os corações partidos se reuniram nesta sexta-feira (7) ao redor de uma creche no nordeste da Tailândia, principal cenário do ataque em que um ex-policial matou 37 pessoas, a maioria crianças pequenas, na quinta-feira.

O rei Maha Vajiralongkorn e o primeiro-ministro Prayut Chan-O-Cha visitarão os sobreviventes de um dos piores assassinatos em massa da história do país.

Ao redor do pequeno prédio, funcionários em uniformes brancos e braçadeiras pretas estenderam um tapete vermelho cedo para cumprimentar o monarca, depois retirado em meio a críticas ao gesto cerimonial.

Perto da entrada, uma fila de pais destruídos depositava rosas brancas. Uma mãe de coração partido agarrou-se ao cobertor de seu filho morto, uma segurava uma mamadeira de leita ainda meio cheia.

"É incompreensível", disse Panita Prawanna, 19 anos, que perdeu seu filho Kamram, de dois anos.

Os dois netos de três anos de Buarai Tanontong também morreram. "Eu não conseguia dormir. Não achava que seriam meus netos", diz a mulher, que tenta confortar a filha.

- 24 crianças e uma professora grávida -

Durante a noite, os caixões com os corpos das vítimas chegaram à funerária de Udon Thani, a cidade mais próxima desta zona rural.

Armado com uma pistola 9mm e uma faca, o atirador de 34 anos, Panya Khamrab, abriu fogo neste jardim de infância na província de Nong Bua Lam Phu, no nordeste, por volta das 12h30, horário local (02h30 no horário de Brasília).

Ele então fugiu de carro, atropelou vários pedestres e acabou matando sua esposa e filho em casa antes de cometer suicídio por volta das 15h, disse a polícia. No total, o ex-policial matou 21 meninos, 3 meninas e 13 adultos.

Entre os adultos estava uma professora grávida, Supaporn Pramongmuk, cujo marido Seksan Srirach postou uma homenagem dolorosa no Facebook.

"Quero agradecer a todos por apoiarem a mim e à minha família. Minha esposa cumpriu todos os seus deveres como professora", escreveu ele. "Por favor, seja uma professora no céu. E para meu filho, por favor, cuide de sua mãe no céu", acrescentou.

- Vício em drogas -

As bandeiras dos prédios oficiais foram hasteadas a meio mastro nesta sexta-feira em sinal de luto.

Nanthicha Punchum, diretora interina da creche, descreveu as cenas horríveis depois que o agressor invadiu o local no distrito rural de Na Klang.

"Havia alguns trabalhadores comendo do lado de fora da creche e o agressor estacionou seu carro e matou quatro pessoas a tiros", disse ela à AFP.

"Ele chutou a porta da frente com o pé, entrou e começou a cortar as cabeças das crianças com uma faca", continuou.

O chefe da Polícia Nacional, Damrongsak Kittiprapat, disse à imprensa que o ex-sargento foi suspenso em janeiro e expulso da força em junho por uso de drogas.

O agressor, que usava uma arma comprada legalmente e morava perto da creche, tinha uma audiência no tribunal nesta sexta-feira por seu "problema com drogas", explicou.

Ele também acrescentou que Panya estava "em estado de loucura", mas que um exame de sangue era necessário para descobrir se ele agia sob a influência de narcóticos.

Paweena Purichan, uma testemunha de 31 anos, contou à AFP que o homem era conhecido na área como viciado em drogas. De acordo com o relato, Panya foi encontrado dirigindo de forma irregular enquanto fugia do local.

"Ele tentou atropelar outras pessoas no caminho. Bateu em uma moto e duas pessoas ficaram feridas. Eu saí correndo", disse a mulher que estava a caminho do trabalho. "Havia sangue por toda parte", acrescentou.

O primeiro-ministro Prayut ordenou uma investigação rápida sobre o ataque.

A Tailândia é um dos países do mundo com maior número de armas em circulação, mas massacres desse tipo são raros.

O último caso ocorreu há três anos, quando um oficial do exército matou 29 pessoas a tiros em um shopping no interior do país durante 17 horas de chacina até que a polícia o derrubou.

O massacre do Carandiru completa hoje 30 anos sem que os 74 policiais militares denunciados pelo assassinato de 111 presos após uma rebelião no pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo, na zona norte da capital, tenham começado a cumprir sentenças. Eles foram condenados a penas que chegam a 624 anos de prisão, mas o desfecho do processo tem sido atrasado por sucessivos recursos.

A condenação pelo Tribunal do Júri em 2013 e 2014 não significou a prisão dos PMs. Eles receberam autorização para aguardar a conclusão do processo em liberdade. Depois, o caso tem sido marcado por reviravoltas judiciais. O Tribunal de Justiça de São Paulo chegou a anular as condenações, o que acabou revertido em instâncias superiores. A discussão agora é sobre a dosimetria das penas, que a defesa considera excessivas. As sentenças só devem começar a ser cumpridas quando o caso transitar em julgado (quando não há mais margem para recurso).

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"A condenação não se discute mais: eles estão condenados pelo júri", afirma o promotor de Justiça Márcio Friggi, que assumiu o caso em 2013. "Agora o caso volta para o Tribunal de São Paulo, que vai apreciar os pedidos relacionados à pena. Infelizmente, isso vai gerar uma nova decisão e deste acórdão podem ser interpostos novos recursos, tanto especial para o STJ quanto extraordinário para o Supremo. Para transitar em julgado mesmo, vai levar um tempo."

Há ainda a chance de o caso prescrever, o que significa que o Estado perde o direito de punir os responsáveis pelo massacre. A condenação reinicia a contagem da prescrição, mas o risco é maior para réus com mais de 70 anos. Isso porque o prazo prescricional, que para os crimes de homicídio é de 20 anos, cai pela metade.

LABIRINTO

Na avaliação do sociólogo e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP Gustavo Higa, o massacre do Carandiru "é um labirinto jurídico". "Nunca foi esclarecido publicamente quem deu a ordem para a invasão que resultou no massacre", afirma. Ele reforça que os avanços também foram lentos em relação às indenizações.

Em paralelo, a Câmara dos Deputados recebeu um projeto de lei para anistiar os policiais envolvidos no massacre. O texto de autoria do deputado bolsonarista Capitão Augusto (PL-SP), líder da bancada da bala, foi aprovado no mês passado pela Comissão de Segurança Pública e deve passar agora pela Comissão de Constituição e Justiça, última etapa antes do plenário.

O projeto diz que "não é justo" condenar policiais que "tiveram a dura missão de arriscar as próprias vidas em defesa da sociedade ao agirem com os meios necessários para a contenção de uma violenta rebelião". O Estadão buscou contato com a advogada dos policiais que respondem ao processo, Ieda Ribeiro de Souza, sem retorno. Ela informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) no mês passado que estava deixando o caso por "motivos de foro íntimo". O ministro Luís Roberto Barroso, relator, mandou a advogada comprovar que os PMs foram comunicados da renúncia. A reportagem não localizou a nova defesa. Ao Tribunal do Júri, os agentes sustentaram inocência.

DESESPERO

"É aquele desespero que é difícil de esquecer, muito difícil de esquecer", diz o educador cultural Claudio Cruz, de 65 anos, sobre o massacre. Conhecido como Kric, ele chegou à Casa de Detenção no fim dos anos 1970 e cumpriu pena de 28 anos por roubo e homicídio. "Muito tiro e grito, tiro e grito…", relembra.

"A gente ficou naquela: 'Iisso é barulho mesmo ou é morte?' Até que alguém subiu na janela para dizer que estavam matando pessoas. Aí o desespero foi total", relembra ele. "São 30 anos falando disso, mas a gente não deve, de forma nenhuma, deixar de falar", acrescentou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A polícia do Canadá procura dois suspeitos de uma série de ataques a faca que está entre os maiores atos de violência em massa na história do país.

Segue abaixo um resumo do que se sabe sobre o massacre de ontem:

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- O que aconteceu? -

Uma série de ataques com faca em 13 lugares diferentes na remota comunidade indígena de James Smith Cree Nation e na cidade vizinha de Weldon, na província de Saskatchewan, deixou ao menos 10 pessoas mortas e 15 feridas.

- Quem são os responsáveis? -

A polícia identificou os suspeitos como Myles Sanderson, de 30 anos, e Damien Sanderson, de 31. Não informou qual era a relação entre os homens.

Acredita-se que os dois viajavam em um SUV Nissan Rogue preto. Uma mulher que vive perto da cena do ataque disse que os suspeitos roubaram seu irmão.

O site da província Crime Stoppers publicou que Myles Sanderson era procurado por ter violado a liberdade condicional. Segundo a emissora pública CBC, ele havia desaparecido em maio, após cumprir parte de uma sentença de cinco anos por assalto e roubo.

- Qual foi o motivo? -

A polícia disse que é muito cedo para dizer, mas acrescentou que "algumas das vítimas foram atacadas aleatoriamente".

Lideranças indígenas apontaram uma possível ligação com drogas. O chefe da Federação das Nações Soberanas Indígenas, Bobby Cameron, lamentou "a violência indescritível que tirou a vida de pessoas inocentes".

- Quem eram as vítimas? -

A polícia ainda não as identificou, mas um morador local disse a um jornal de Saskatoon que mataram seu vizinho, que vivia com seu neto adulto. Segundo os relatos, o neto se escondeu no porão e chamou a polícia. Outro morador disse que uma mãe de dois filhos morreu.

- O que tem feito a polícia? -

A polícia emitiu ordens de prisão contra os dois suspeitos, acusando-os de assassinato em primeiro grau, tentativa de assassinato e invasão de domicílio. Novas acusações são esperadas.

O chefe de polícia de Regina, Evan Bray, disse hoje que sua força e a Polícia Montada Real do Canadá trabalhavam em uma busca "implacável" pelos suspeitos, depois que os dois aparentemente foram vistos na capital de Regina. Mais cedo, as autoridades avisaram a população de uma vasta região, incluindo províncias vizinhas, para ficarem alertas.

Bray pediu a qualquer pessoa com informações que entre em contato com as autoridades.

- Quais reações gerou? -

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse no Twitter que os ataques foram "horríveis e comoventes" e se declarou "chocado e devastado". Ele também ofereceu suas condolências a todos os afetados.

Os líderes da União Europeia (UE), entre eles o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, denunciaram o ataque e ofereceram condolências.

Na área afetada, as pessoas disseram que estavam profundamente traumatizadas. "Isso é terrível, terrível", disse uma moradora de Weldon, disse Diane Shier, ao jornal Saskatoon Star Phoenix. "Ainda estamos com as portas fechadas, ficamos dentro, não saímos."

- Quais outros ataques atingiram o Canadá? -

Nos últimos anos, um homem armado disfarçado de policial matou 22 pessoas na Nova Escócia; seis pessoas foram mortas em um tiroteio em uma mesquita de Quebec; e um homem dirigindo uma caminhonete por calçadas lotadas em Toronto matou 10 pessoas.

A Ucrânia denunciou nesta quinta-feira (25) o bombardeio russo da véspera contra uma estação ferroviária na região central do país, no qual faleceram pelo menos 25 civis, mas o governo de Moscou afirmou que o trem atacado era parte de um comboio militar.

Executado no Dia da Independência da Ucrânia, data que este ano coincidiu com os seis meses do início da ofensiva russa contra Kiev, o bombardeio contra a estação de Chaplyne, na região de Dnipropetrovsk (centro), foi condenado com veemência pela União Europeia (UE).

"Vamos fazer todo o possível para que os agressores paguem por tudo que têm feito. Vamos expulsá-los de nossa terra", declarou na quarta-feira à noite o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ao denunciar ao Conselho de Segurança da ONU o "lançamento russo de mísseis".

O míssil atingiu "um dos vagões (...) Quatro vagões de passageiros estão em chamas", disse.

O balanço exato do bombardeio não foi confirmado oficialmente. Oleg Nikolenko, porta-voz do ministério das Relações Exteriores, informou no Twitter "25 civis mortos após o disparo de um míssil" contra a estação e denunciou o "terrorismo de Moscou".

A Procuradoria-Geral da Ucrânia informou em um primeiro momento "10 civis mortos, incluindo duas crianças de 6 e 11 anos, e 10 feridos, incluindo duas crianças", na estação e nos arredores, dando a entender a possibilidade de outras vítimas que não seriam civis.

A Rússia afirmou que atacou um "trem militar" que seguia para "zonas de combate" do leste da Ucrânia, principal alvo de Moscou.

Um míssil Iskander "atingiu diretamente um trem militar na estação de Chaplyne, na região de Dnipropetrovsk, eliminando mais de 200 militares da reserva das Forças Armadas ucranianas", afirmou o ministério russo da Defesa em um comunicado.

- "Uma noite muito difícil" -

As operações de resgate para encontrar sobreviventes prosseguiam nesta quinta-feira, segundo o governador da região, Valentin Reznichenko.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, condenou o ataque a advertiu que "os responsáveis terão que prestar contas".

As autoridades ucranianas afirmaram que os russos intensificaram os ataques contra várias regiões na quarta-feira.

"O número de bombardeios contra cidades e vilarejos aumentou. Nas últimas 24 horas, a polícia registrou 58, muito mais do que tínhamos normalmente", afirmou Evhen Enin, vice-ministro ucraniano do Interior.

De acordo com a imprensa local, nove regiões ucranianas foram bombardadas na quarta-feira e 189 sirenes antiéreas foram acionadas em todo o país, um recorde desde o início da guerra em 24 de fevereiro.

Os ataques se concentraram em vários distritos da região de Dnipropetrovsk, afirmou o governador Reznichenko, que citou "uma noite muito difícil, com bombardeios e vítimas constantes".

Os bombardeios russos também atingiram Jmelnitski, no oeste do país, distante do front, a cidade de Mykolaiv (sul), uma das mais atacadas desde o início da guerra, e as regiões de Kharkiv (nordeste) e Donetsk (leste).

- Bombas de fragmentação -

Desde o recuo das forças russas dos arredores de Kiev no fim de março, a maior parte dos combates se concentra no leste, onde Moscou avançou, e no sul, onde as tropas ucranianas afirmam que executam várias contraofensivas.

A Rússia, no entanto, prossegue com os ataques contra outras regiões com mísseis de longo alcance, embora Kiev e as áreas próximas geralmente não sejam atingidas.

A Coalizão Contra as Munições de Fragmentação (CMC) denunciou nesta quinta-feira em seu relatório anual que a Rússia utilizou bombas de fragmentação em larga escala na Ucrânia, o que provocou centenas de vítimas civis e danos a residências, escolas e hospitais.

Na quarta-feira, quando a invasão russa completou seis meses, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, lembrou que este aniversário é "um marco triste e trágico" e denunciou as consequências desta "guerra absurda, que vão "muito além da Ucrânia".

Ele também expressou preocupação com atividades militares ao redor da central nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, ocupada pelas forças russas desde março.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, fez um apelo para que o presidente russo, Vladimir Putin, acabe com o ataque armado contra a Ucrânia e pediu a desmilitarização da central de Zaporizhzhia.

A Ucrânia reconheceu na segunda-feira a morte de quase 9.000 soldados desde o início do conflito, um balanço que, segundo observadores, pode ser muito maior na realidade. Do lado russo, quase 80.000 soldados morreram ou foram feridos desde a invasão, afirmou no início de agosto uma fonte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

burx-emd/thm/es/mb/fp

O julgamento de Nikolas Cruz, jovem que matou 17 pessoas em 2018 em um dos piores massacres escolares dos Estados Unidos, começa nesta segunda-feira (18) na Flórida para definir sua sentença: pena de morte ou prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

O tiroteio chocou todo o país e, especialmente, o sul da Flórida, onde foram necessários quase três meses para selecionar 12 jurados - sete homens e cinco mulheres - considerados imparciais o suficiente para decidir o destino do autor confesso do massacre.

Em 14 de fevereiro de 2018, Cruz semeou pânico em Parkland, uma pequena cidade ao norte de Miami, ao entrar na escola Marjory Stoneman, de onde havia sido expulso um ano antes, com um fuzil semiautomático AR-15.

Em poucos minutos, matou 14 estudantes e três adultos e causou 17 feridos.

Em outubro, ele se declarou culpado de todos os 17 assassinatos cometidos naquele dia, bem como de 17 tentativas, uma para cada ferido.

O julgamento vai determinar se Cruz merece ser condenado à morte, uma decisão que o júri deve alcançar por unanimidade. De acordo com a lei da Flórida, se um único jurado rejeitar a pena capital, a sentença do jovem será de prisão perpétua sem liberdade condicional.

O processo, que pode levar vários meses, é incomum para os Estados Unidos, onde é raro que os autores de tal massacre sobrevivam ao ataque.

E certamente chamará a atenção em um país abalado por uma série de tiroteios sangrentos como o de uma escola em Uvalde, Texas, onde 19 crianças e dois adultos morreram em maio deste ano; o de um supermercado em Buffalo (Nova York), em que morreram 10 pessoas; ou o que deixou sete mortos durante um desfile de 4 de julho em Highland Park (Illinois).

Como em Parkland, todos esses massacres foram cometidos por homens muito jovens armados com fuzis de assalto.

As audiências deverão ser comoventes, com depoimentos de familiares e sobreviventes, bem como a divulgação de vídeos gravados por testemunhas da tragédia.

"Sinto muito pelo que fiz e tenho que viver com isso todos os dias", disse Cruz em outubro depois de se declarar culpado.

A acusação, por sua vez, certamente se concentrará na natureza premeditada dos assassinatos, com base em um vídeo que Cruz gravou antes do massacre.

"Vou ser o próximo atirador em uma escola de 2018", disse na gravação. "Não sou ninguém, minha vida não é nada e não tem sentido", acrescentou.

Apesar de seu histórico psiquiátrico e avisos de várias pessoas próximas sobre sua periculosidade, Cruz conseguiu comprar legalmente um fuzil semiautomático.

Após a tragédia, suas vítimas registraram queixa contra a Polícia Federal (FBI) por ignorar essas informações. O Departamento de Justiça concordou em março em pagar US$ 127,5 milhões para resolver o processo.

Quando aconteceu, o massacre de Parkland foi o pior em uma escola dos EUA desde o tiroteio de Sandy Hook em 2012, no qual 26 pessoas foram mortas.

E provocou uma mobilização inédita liderada por vários jovens sobreviventes e pais de vítimas. Em 24 de março de 2018, a "Marcha por Nossas Vidas" reuniu 1,5 milhão de pessoas em todo o país, a maior manifestação já realizada nos Estados Unidos em favor de um maior controle das armas.

Porém, desde então, nenhuma reforma legislativa foi aprovada no Congresso, e as vendas de armas continuaram aumentando.

Após os últimos incidentes com armas de fogo, foi aprovada uma modesta lei federal que prevê o aumento do financiamento para a segurança escolar e a saúde mental.

Os extremistas na Internet aplaudiram o tiroteio na escola do Texas, na qual morreram 19 crianças e duas professoras, e fizeram um apelo para cometer ataques semelhantes, alertou nesta terça-feira (7) o governo americano em seu último relatório de alerta terrorista.

O massacre de 24 de maio em Uvalde "foi elogiado em fóruns da Internet conhecidos por promover o extremismo nacional violento e as teorias da conspiração por parte de indivíduos que incentivaram a replicá-la", alertou o Departamento de Segurança Nacional.

Outros "afirmaram que se tratava de uma farsa organizada pelo governo para aprovar medidas de controle de armas", acrescentou o governo americano.

Os tiroteios em massa que têm grande repercussão midiática nos Estados Unidos costumam inspirar outros indivíduos, uma tendência que os investigadores apelidaram de "efeito imitação".

De acordo com o Departamento de Segurança Interna, foi assim que foi concebido o ataque racista de 14 de maio em Buffalo, Nova York, no qual dez afro-americanos foram mortos a tiros em um supermercado.

O autor, um jovem supremacista branco, disse que foi "inspirado" pelo ataque a duas mesquitas na Nova Zelândia em 2019, escreveu o Departamento.

A recente onda de ataques mortais mostrou que os Estados Unidos enfrentam uma ameaça interna "complexa e dinâmica" e que pode ser "ainda mais dinâmica", disse ele.

A decisão da Suprema Corte sobre o aborto prevista para o final de junho, uma mudança regulatória na fronteira sul que deve ser seguida por um aumento nas chegadas de migrantes e as eleições de meio de mandato em novembro podem "ser usados para justificar atos de violência", segundo o boletim.

O Departamento de Segurança Interna, criado após os ataques de 11 de setembro, emite regularmente esses avisos, mas historicamente eles se concentram em ameaças externas, especialmente nos jihadistas.

O primeiro boletim informativo focado em ameaças domésticas foi publicado em janeiro de 2021, depois que apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio.

Os moradores de Hong Kong que desejavam marcar, neste sábado (4), o 33º aniversário da sangrenta repressão da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em Pequim tiveram que fazê-lo com discrição ou em particular, depois que as autoridades alertaram que não tolerariam nenhuma reunião pública.

Há 33 anos, as autoridades chinesas fazem o possível para apagar esses eventos da memória coletiva: os livros de história nem os mencionam e os comentários nas redes são sistematicamente censurados.

Em 4 de junho de 1989, o regime enviou tanques e tropas para reprimir manifestantes pacíficos que ocupavam há semanas a icônica Praça da Paz Celestial para exigir mudanças políticas e o fim da corrupção sistêmica.

A repressão causou centenas de mortes (que podem ser mais de mil segundo algumas estimativas).

Neste sábado, em Pequim, Tiananmen acordou sob fortes medidas de segurança, com dispositivos de reconhecimento facial nas ruas ao redor e controles aleatórios de transeuntes que eram solicitados a se identificar.

Falar sobre os acontecimentos de 1989 é um tabu na China. E agora também o é em Hong Kong, a ex-colônia britânica que desfrutava de certas liberdades e autonomia desde sua devolução a Pequim em 1997.

Em Hong Kong, o massacre era recordado anualmente até Pequim impor uma lei de segurança nacional em 2020 para silenciar a dissidência.

Desde os enormes protestos pró-democracia de 2019, as autoridades de Hong Kong tentam apagar a memória do massacre, proibindo vigílias em 2020 e 2021 sob o pretexto da pandemia e removendo as estátuas de suas universidades.

No ano passado, a Aliança de Hong Kong, a associação que organiza as vigílias, foi dissolvida, seu museu fechado e seus organizadores presos.

Este ano, a polícia alertou que qualquer "assembleia não autorizada" seria considerada ilegal e fechou o parque Victoria, onde dezenas de milhares de pessoas se reuniam para uma vigília todo dia 4 de junho.

- Jejum na prisão -

Para este ano, não há evento previsto, nem mesmo as tradicionais missas católicas que costumavam ser organizadas nas igrejas - igualmente canceladas por medo de possíveis represálias.

Apenas um trio de artistas de rua se atreveu a encenar pequenas performances com referências sutis a Tiananmen perto do parque Victoria na noite de sexta-feira.

Uma mulher foi levada pela polícia depois de esculpir uma batata em forma de vela e tentar acendê-la, segundo um jornalista da AFP.

Um jornalista da AFP viu um homem de camiseta preta sendo detido e levado para uma van da polícia.

Além disso, um ex-líder da Aliança de Hong Kong foi cercado e revistado por policiais enquanto caminhava pelo bairro ao redor do parque Victoria com um buquê de rosas vermelhas e brancas na mão.

Uma moradora de Hong Kong disse à AFP que acendeu uma vela em sua casa e colocou uma réplica da "Deusa da Democracia", símbolo do movimento Tiananmen, perto de uma janela.

O ex-líder da Aliança Lee Cheuk-yan anunciou que jejuaria, acenderia um fósforo e cantaria canções de sua cela na prisão.

"Acredito que os habitantes de Hong Kong se juntarão a mim para lembrar o dia 4 de junho com toda a sinceridade, usando seus próprios meios para expressar seu compromisso com a democracia", escreveu ele em uma carta postada online.

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, declarou que "a memória de 4 de junho em Hong Kong é sistematicamente apagada", mas "medidas tão grosseiras não poderão apagar a memória do povo", acrescentou.

Em um comunicado, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, prestou homenagem aos "corajosos" manifestantes de 1989 que "pediram pacificamente por democracia" na China.

Vários consulados ocidentais em Hong Kong postaram mensagens relacionadas a Tiananmen nas mídias sociais.

Os Estados Unidos colocaram o "Pilar da Vergonha" como foto de capa de sua página no Facebook.

Por sua vez, o escritório da União Europeia confirmou à AFP a informação avançada pela mídia local em Hong Kong segundo a qual as autoridades chinesas exigiram que os consulados se abstivessem de mencionar o evento histórico.

Uma coletiva de imprensa das autoridade do Texas, nesta sexta-feira (27), permitiu estabelecer como se desenrolou o massacre na escola de Uvalde que custou a vida de 19 crianças e 2 professoras.

- Na manhã de terça-feira, Salvador Ramos, de 18 anos, que tinha acabado de comprar dois rifles, conta a uma pessoa pelo aplicativo Messenger que atirou na avó, com quem morava, e estava a caminho de abrir fogo em uma escola.

- 11H28 (12H28 no horário de Brasília): O carro de Ramos sofre um acidente, com causa indeterminada, não muito longe da escola Robb. Ele sai do veículo com um dos fuzis semiautomáticos AR-15 e uma mochila cheia de munição, mas deixa a segunda arma no carro.

Dois funcionários de uma funerária próxima vão ajudá-lo, mas quando veem sua arma começam a correr na direção oposta. Ramos dispara contra eles, mas erra o alvo.

- 11H30: Um professor liga para o 911, número de telefone de emergência da polícia, para alertar sobre o acidente e a presença de um homem armado.

- 11H31: Ramos chega ao estacionamento da escola e começa a atirar contra o prédio.

- 11H33: Ele entra na escola e dispara pelo menos uma centena de cartuchos.

- 11H35: Três policiais entram na escola e logo mais quatro agentes chegam para dar reforço. Dois são feridos superficialmente por balas, aparentemente disparadas de trás de uma porta.

- 11H37: São ouvidos cerca de 15 disparos mas a policia não sabe de quem.

- 12H03: Os policiais continuam chegando e já são 19 no corredor. Ao mesmo tempo, de dentro de uma sala de aula, uma aluna disca para o 911.

- 12H10: A aluna volta a ligar e diz que há "vários mortos" na sala que está.

- 12H13 e 12H16: Volta a ligar para informar que há "8 ou 9 alunos vivos".

- 12H19: Uma pessoa em outra sala de aula liga para a emergência, mas desliga assim que outro aluno pede.

- 12H36: A primeira aluna volta a ligar para a emergência. Pedem que ela fique em silêncio, mas na linha.

- 12H43 e 12H47: A menina implora: "Por favor, mandem a polícia agora!"

- 12H50: A polícia abre as portas da sala de aula com as chaves de um zelador. Encontram Ramos entrincheirado e o matam a tiros.

Centenas de pessoas se reuniram para chorar a morte de 19 crianças e duas professoras assassinadas na terça-feira (24) em uma escola do Texas, em um massacre cometido por um adolescente de 18 anos que comprou um fuzil legalmente.

A tragédia, a pior em uma escola do país em uma década, multiplica a indignação e os questionamentos sobre como limitar a venda de armas no país, um controle que poderia ter evitado esse massacre.

"Estou com o coração partido", lamentava Ryan Ramirez, que perdeu sua filha de 10 anos, Alithia. Ao seu lado, sua esposa Jessica chorava silenciosamente com a outra filha nos braços.

O massacre mudou para sempre a história de Uvalde, uma pequena cidade de 16.000 pessoas localizada perto da fronteira com o México e com população majoritariamente hispânica.

"Não há explicação para isso, minha neta não merecia isso. Era uma boa menina, muito tímida e muito bonita", dizia à imprensa Esmeralda Bravo, avó de Nevaeh, que também morreu no massacre.

- De criança assediada a agressor -

"Meu amor agora voa alto com os anjos lá em cima", escreveu no Facebook Ángel Garza, cuja filha Amerie Jo Garza acabara de comemorar seu 10º aniversário. "Eu te amo, Amerie Jo".

Os detalhes do massacre chocaram o país e o mundo.

Em entrevista coletiva, o governador Greg Abbott revelou que o agressor, Salvador Ramos, que foi morto pela polícia, atirou no rosto de sua avó de 66 anos antes de seguir para a escola Robb.

Ramos, de nacionalidade americana, compartilhou nas redes sociais o seu plano de atacar a avó, que, apesar de gravemente ferida, conseguiu alertar a polícia.

O jovem voltou a enviar uma mensagem no Facebook para dizer que seu próximo alvo era uma escola, para onde dirigiu vestido com colete à prova de balas e carregando um fuzil AR-15, arma projetada para causar o maior número de vítimas possível em tempo recorde.

Um funcionário da escola tentou barrar seu acesso ao centro educacional, onde ele conseguiu se barricar em uma sala de aula e começou a matar crianças.

Ramos foi uma criança com sérios problemas familiares, que gaguejava. Ele sofreu 'bullying' na escola por seus problemas de fala e, uma vez, cortou o rosto "só por diversão", segundo Santos Valdez, amigo do atacante no passado, ao The Washington Post.

- "Culpa sua" -

O governador do Texas rejeitou as sugestões de que uma legislação mais rígida sobre armas era necessária no estado, onde o apego ao direito de portá-las é profundo.

"Acredito que essa pessoa incorporava o mal puro", disse Abbott, repetindo um argumento comum entre os republicanos: que o acesso irrestrito a armas não é o culpado pela epidemia de violência armada no país.

"Isso é sua culpa (...) a partir do momento em que decidiu não fazer nada", repreendeu o democrata Beto O'Rourke, um fervoroso defensor do controle de armas que aspira a concorrer contra Abbott em novembro para o cargo de governador.

A posição de Abbott foi ecoada pelo NRA, o poderoso lobby pró-armas dos EUA, que emitiu uma declaração atribuindo o que aconteceu a "um criminoso solitário e perturbado".

O presidente Joe Biden, que visitará Uvalde, pediu ao Congresso que enfrente o lobby pró-armas e aprove leis mais rígidas.

Nos Estados Unidos, houve mais tiroteios em massa (nos quais quatro ou mais pessoas ficaram feridas ou mortas) em 2022 do que dias até agora neste ano, de acordo com a ONG Gun Violence Archive, que registrou 213 incidentes.

Apesar disso, as várias tentativas de reforma fracassaram no Congresso.

A indignação também era sentida em Uvalde. "Estou triste e com raiva de nosso governo por não fazer mais pelo controle de armas", comentou Rosie Buantel, uma moradora, à AFP.

"Já passamos por isso muitas vezes. E nada foi feito ainda".

O avô de Ramos, Rolando Reyes, de 73 anos, expressou seu pesar pelas famílias enlutadas.

"Sinto muito e estou com muita dor porque muitas dessas crianças são netos de amigos meus", disse à CBS News.

O tiroteio em Uvalde foi o incidente mais mortal desde o tiroteio na escola Sandy Hook em 2012 em Connecticut, no qual 20 crianças e seis adultos foram mortos.

Um dia depois de completar 18 anos, Salvador Ramos, da pequena localidade de Uvalde, no Texas, comprou seu primeiro rifle de assalto. Uma semana depois, ele entrou em uma escola local de ensino fundamental, onde atirou e matou 19 crianças e duas professoras.

As autoridades ainda estão tentando determinar o que levou Ramos a cometer o pior massacre escolar dos Estados Unidos em uma década. Isto é o que se sabe até agora sobre o caso:

- Como foi o ataque? -

Descrito como um jovem que havia sofrido 'bullying' durante muito tempo e com um histórico de lesões autoprovocadas, Ramos completou 18 anos em 16 de maio e comprou seu primeiro rifle no dia seguinte. Três dias depois, comprou o segundo, e 375 cartuchos de munição.

O jovem, um desertor da escola secundária sem antecedentes criminais, publicou na terça-feira pela manhã três mensagens no Facebook anunciando seus planos, contou o governador do Texas, Greg Abbott, em coletiva de imprensa.

Na primeira, advertiu que iria atirar em sua avó, com quem vivia.

Abbott disse que Ramos feriu a mulher de 66 anos no rosto, mas ela conseguiu telefonar para a polícia e foi transferida de avião, em estado crítico, para um hospital nas proximidades de San Antonio, cerca de 130 km a oeste de Uvalde.

Após confirmar em uma segunda mensagem no Facebook que havia atacado sua avó, Ramos publicou uma terceira, dizendo que seu próximo alvo era uma escola de ensino fundamental.

Ele dirigiu então um pouco mais de 3 km e terminou colidindo perto da Robb Elementary School, onde os mais de 500 estudantes da segunda à quarta série, com idades entre sete e dez anos, estavam há apenas três dias das férias de verão.

Vestido de preto e com um colete à prova de balas, Ramos foi confrontado por um funcionário escolar, mas conseguiu entrar no edifício por uma porta traseira.

Depois, se dirigiu a duas salas contíguas.

"Ali foi onde começou a carnificina", disse Steve McCraw, diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas.

As identidades das vítimas foram sendo reveladas na medida em que seus familiares compartilham suas dores na internet: Xavier López, um menino de 10 anos que adorava dançar; Ellie García, a menina "mais feliz do mundo", nas palavras de seu pai, e Amerie Jo Garza, uma garota com um sorriso radiante que acabava de comemorar seu décimo aniversário.

- Como o atirador foi parado? -

A polícia chegou ao local do massacre em resposta a um relato de um veículo acidentado.

Ao ouvir os disparos provenientes da escola, correram para dentro do recinto e foram atacados por disparos. Alguns policiais começaram a quebrar as janelas e a retirar crianças e funcionários.

A polícia ajudou a parar o atirador com uma equipe tática que incluía agentes da Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos, que tem uma unidade nesta cidade situada a apenas 100 km da fronteira com o México.

"Ao entrar no edifício, os policiais e outros agentes trocaram tiros com o agressor, que estava entrincheirado", disse Marsha Espinosa, porta-voz do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

As forças de segurança "se interpuseram entre o atirador e as crianças para desviar a atenção dele das possíveis vítimas", explicou.

Foram mais de 30 minutos desde que Ramos entrou na escola até que um dos agentes da Patrulha de Fronteira finalmente atirou contra ele e o matou.

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