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O ministro do Supremo Tribunal Federal André Mendonça deu dez dias para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o deputado Sérgio Souza (MDB-PR) prestarem informações sobre a Medida Provisória (MP) que altera lei de 2006 sobre a proteção da Mata Atlântica. O texto foi aprovado na Câmara na semana passada, sob relatoria de Souza, com anulação de mudanças feitas pelo Senado. A liderança do governo orientou de forma favorável ao afrouxamento das regras de combate ao desmatamento no bioma.

A decisão foi tomada no âmbito de mandado de segurança protocolado na última sexta-feira, 26, pelos senadores Alessandro Vieira (PSDB-SE), Otto Alencar (PSD-BA), Eliziane Gama (PSD-MA) e Jorge Kajuru (PSB-GO). Os congressistas pedem que a MP seja suspensa liminarmente. Mendonça, que é relator da ação, irá decidir sobre o pedido após receber as informações de Lira.

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Os senadores argumentam que a Câmara, "em absoluto menoscabo do devido processo legislativo, retomou, indevidamente, dispositivos impugnados e reputados não escritos pelo Presidente do Congresso Nacional, por versarem sobre matéria destoante do escopo da medida provisória sob exame, com a consequente remessa do texto à Presidência da República para eventual sanção". Originalmente, a medida apenas ampliava prazos para proprietários de imóveis rurais aderirem ao Programa de Regularização Ambiental (PRA).

No documento enviado à Corte, eles dizem ainda que apresentação de jabutis - propostas que fogem da temática do texto original - promovem "um contexto de absoluta insegurança jurídica, já que se vale de um rito abreviado e com normas sujeitas à caducidade, sem discussão mais aprofundada em comissões de ambas as Casas".

Após a MP ter sido aprovada na Câmara, os senadores retiraram trechos que flexibilizaram a proteção da Mata Atlântica, com o argumento de que as mudanças poderiam trazer riscos ao bioma e desviavam do escopo principal do texto. A medida, no entanto, voltou para análise dos deputados e eles anularam as alterações feitas pelo Senado.

Ao Papo com Editor do Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que não existe compromisso por parte do governo em manter trecho da MP que flexibiliza a proteção à Mata Atlântica. "Vou defender o veto desse trecho que gera agressão à Mata Atlântica", disse Padilha durante a entrevista.

O texto aprovado pelos deputados voltou a permitir a instalação de linhas de transmissão de energia, gasodutos e sistema de abastecimento público de água na Mata Atlântica sem estudo prévio de impacto ambiental ou compensações.

A matéria aprovada também prevê que em casos de implementação de empreendimentos localizados na faixa de domínio e servidão de ferrovias, estranhas, linhas de transmissão, minerodutos e outros empreendimentos, a supressão da vegetação "é limitada a faixa de domínio do empreendimento, não cabendo medidas compensatórias de qualquer natureza".

A medida estabelece ainda que há exceção no caso das áreas de preservação permanente. Neste caso, é exigido área equivalente a que foi desmatada, aprovada pelo órgão licenciador competente. O texto ainda determina que "não se aplica às atividades de implantação e ampliação de empreendimentos lineares, a realização de estudo prévio de impacto ambiental (EIA) para emissão da licença de supressão da vegetação".

A MP, apoiada pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), também dispensa, em casos de empreendimentos lineares, a captura, coleta e transporte de animais silvestres, garantida apenas sua afugentação.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrentará resistência de ruralistas abrigados em partidos que devem compor o novo governo, como o MDB. Embora a equipe do PT avalie que o pragmatismo pautará esse relacionamento, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Sérgio Souza (MDB-PR), disse não acreditar na disposição de Lula de atender às demandas do setor.

"Ele vai ter de demonstrar que é verdade o que falou na campanha, que vai cuidar do agro. Não acreditamos", afirmou Souza. "Temos um Parlamento muito focado. Ele vai ter de sentar com a bancada para ajustar. Não vamos permitir abusos por parte de nenhum governo", completou o presidente da FPA.

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Souza não é uma voz isolada. As bancadas do MDB no Rio Grande do Sul, no Paraná e no Centro-Oeste podem ser as mais refratárias ao diálogo com Lula num primeiro momento. Os ruralistas ainda lamentam a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato de quase todo o segmento. Observam, porém, que as urnas consolidaram um "bolsão eleitoral" conservador, justamente numa ampla faixa da economia dos grãos e da pecuária, que chega ao interior de São Paulo e Minas Gerais.

O setor conseguiu reeleger 66,3% dos 241 deputados que compõem a atual bancada do agronegócio na Câmara, índice superior ao total geral de renovação dos mandatos, que ficou em 44,2%. Nas estimativas da FPA, os representantes do agronegócio não terão menos do que 158 deputados na próxima legislatura.

Aliados de Lula na área consideram que os primeiros passos em direção à reconciliação foram dados pelo então candidato do PT ainda na reta final da campanha. Às vésperas do segundo turno, o petista dedicou um capítulo ao agronegócio na "Carta para o Brasil do Amanhã". Prometeu forte investimento na Embrapa, financiamento e juro baixo a pequenos e médios produtores.

Mal-estar

A equipe de Lula causou mal-estar entre ruralistas, porém, ao prever uma "regulação" da produção agrícola no texto das diretrizes de governo. Ainda antes do primeiro turno, uma nova versão do documento foi apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sem o termo. Para conseguir retomar pontes, Lula foi aconselhado a reduzir acenos ao Movimento dos Sem Terra (MST), a promover a segurança no campo e a pacificar a interlocução com a China e a União Europeia, grandes mercados de grãos e carne.

As exportações do agronegócio brasileiro alcançaram cerca de US$ 14 bilhões em setembro, o maior valor para esse mês. Na comparação com setembro do ano passado, por exemplo, o crescimento foi de 38,4%. Na produção de grãos, um novo recorde é esperado para a safra 2022/23.

"O Brasil é um dos mais importantes produtores e exportadores de alimentos do mundo. Para garantir e ampliar essa vantagem competitiva do País, vamos compatibilizar a produção com a preservação de recursos naturais, porque isso é necessário num mundo que enfrenta a crise climática e exige cada vez mais o consumo de alimentos saudáveis", diz um trecho da carta divulgada pela campanha de Lula a dois dias do segundo turno.

Além desse documento, o petista escalou ruralistas próximos para tentar reduzir a rejeição no segmento após dizer, em entrevista ao Jornal Nacional, no dia 25 de agosto, que o agronegócio é "fascista e direitista". Em outras entrevistas, procurou consertar a declaração ao dizer que "jamais" se referiu a todo setor. "Tem gente que tem discurso fascista e tem gente que tem discurso altamente democrático. Tem empresário que quer desmatar de qualquer jeito, tem empresário que sabe a responsabilidade", afirmou Lula ao Canal Rural, em setembro.

Na equipe do petista, a avaliação foi a de que a conversa no canal especializado anulou a narrativa de que ele seria contrário aos agropecuaristas. "Tem uma maioria do agro pró-Bolsonaro, mas não é unanimidade. É uma maioria barulhenta e baseada na retórica dos anos 1980, quando Lula tinha um discurso mais à esquerda. Lula virou presidente em 2002 e se mostrou um gestor comprometido com o agro", afirmou o senador Carlos Fávaro (PSD-MT). "Foi no período dele que tivemos grandes regulamentações, o programa de biodiesel, taxas baixas para comprar equipamentos. Ele fez uma revolução no campo."

Relação

Ministra da Agricultura no governo de Dilma Rousseff (PT), a senadora licenciada Kátia Abreu (PP-TO) elogiou as gestões petistas em relação à oferta de recursos para custeio e investimentos das produções. Kátia destacou ser possível reconstruir a relação com a maior parte do segmento e disse que a preocupação ambiental deve fazer parte da pauta de negociações.

Para a ex-ministra, além do foco na segurança no campo, caberá a Lula "ampliar mercados e manter os espaços no mercado chinês que Bolsonaro estremeceu", bem como "negociar com a União Europeia questões ambientais para que nossos produtos agropecuários não sejam vetados".

O novo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária tomou posse hoje. O deputado Sérgio Souza (MDB-PR) substitui o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) e estará à frente do grupo até o fim de 2022. A vice-presidência do colegiado será exercida pelo senador Zequinha Marinho (PSC-PA).

“A missão da frente é proteger o setor que tanto gera empregos, renda, impostos e responde por 50%, de forma direta e indireta, do PIB desse País”, disse Sérgio Souza.

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Eleito em dezembro do ano passado, o novo presidente também listou pautas prioritárias da frente, entre elas, a regularização fundiária, o licenciamento ambiental e a regulamentação do uso de defensivos agrícolas.

“[A regularização fundiária] vai dar título a quem tem direito, mas trará responsabilidade a quem tiver o título, no que diz respeito à utilização do solo de maneira ilegal”, defendeu o parlamentar. A regularização, segundo Souza, também permitirá identificar quem de fato desmata ilegalmente no Brasil.

O deputado também criticou os custos do licenciamento ambiental no País que, segundo ele, consumiu 25% dos recursos gastos na construção da usina de Belo Monte.

Antes de passar o cargo ao novo presidente, Alceu Moreira agradeceu aos presentes e ressaltou o desempenho do setor agropecuário brasileiro. “[Nós] tocamos essa roda dentada chamada Brasil e é da nossa força que esse povo depende.”

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que também já presidiu a Frente da Agropecuária (2018), destacou a importância do colegiado. “Nós estamos juntos para um novo momento para que as pautas do agro possam caminhar. Acho que é isso que os produtores e brasileiros esperam de nós.”

Grupo suprapartidário

Frente parlamentar é uma associação de deputados de vários partidos para debater um assunto determinado. Para ser criada, a frente deve registrar um requerimento com o apoio de pelo menos 1/3 de membros do Poder Legislativo.

A Frente da Agropecuária é integrada por 241 deputados e 39 senadores.

*Da Agência Câmara de Notícias

 

O senador Sérgio Souza (PMDB-PR), que protocolou uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para saber se as normas da Minirreforma Eleitoral já são válidas nas eleições deste ano. Aprovada pelo Congresso Nacional em novembro passado e sancionada pela presidente Dilma Rousseff em dezembro, a minirreforma (Lei 12.891/2013) contém medidas para reduzir o custo das campanhas. Estão entre as mudanças a limitação do número de cabos eleitorais que podem ser contratados pelos candidatos e a definição de teto de gastos com aluguel de veículos e alimentação de pessoal que trabalha na campanha.

Como a lei foi publicada menos de um ano antes das eleições, marcadas para 5 de outubro de 2014, Sérgio Souza pergunta ao TSE se o texto poderá ser enquadrado no limite determinado pela Constituição Federal. O artigo 16 estabelece prazo mínimo de um ano de vigência para que uma lei que altere o processo eleitoral possa ser aplicada na eleição seguinte.

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"Que tipo de legislação altera o processo eleitoral? É a legislação que altera a propaganda eleitoral? Não foi a decisão do TSE lá em 2006, por exemplo, para o caso de outdoors. Então eu fiz a consulta ao TSE para que o tribunal diga qual parte da minirreforma valerá para as eleições de 2014 e qual ficará só para 2016", afirmou.

*Com informações da Agência Senado

 

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