"É isso aqui que eu quero", afirmou o chefe de design do grupo Volkswagen, o italiano Walter de Silva, um dos mais premiados designers de automóveis da indústria automobilística mundial. Ele apontava para um desenho feito numa folha A3, colada na parede ao lado de mais de 20 figuras, algumas em tamanho bem maior e riscos mais sofisticados.
Era 2007 e Silva participava, na sede da Volkswagen em Wolfsburg, da seleção do desenho de um conceito de carro compacto a ser apresentado no Salão do Automóvel de Frankfurt. O desenho escolhido era do brasileiro Marco Antonio Pavone, que estava na Alemanha há dois anos, depois de trabalhar por seis anos no centro de design da companhia no Brasil.
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O desenho virou um carro-conceito (protótipo) em tamanho real, foi mostrado no salão para verificar a receptividade do público e, no ano seguinte, com aval do presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, foi aprovado para produção em série.
Batizado de up! (que em inglês significa para cima), o compacto criado por Pavone foi lançado na Europa no fim de 2011, onde já vendeu mais de 250 mil unidades. Neste mês, passou a ser feito no Brasil, na fábrica de Taubaté (SP).
"A ideia era de um carro com design simples, puro, atemporal, sólido", diz Pavone. "Por ser um carro urbano, pequeno, tinha de passar uma imagem de carismático, amigável. Por isso os olhos grandes na frente e o sorriso" - os faróis no capô avançam pela lateral do para-lama e a grade de entrada de ar circunda o para-choque, dando a impressão de um sorriso.
Diante do desafio de desenvolver um produto simples, Pavone buscou uma forma geométrica e se inspirou num cubo com cantos arredondados e num paralelogramo.
"O objetivo era buscar algo que no futuro possa ser icônico, como o Fusca. Qualquer criança desenha o Fusca: são três aros, um grande e dois pequenos. E é facilmente reconhecido à distância."
A própria Volkswagen faz um paralelo do up! com o Fusca, por ambos representarem, cada um a seu tempo, o carro mais popular da marca.
O up! custa a partir de R$ 28,9 mil na versão 4 portas e R$ 27 mil na versão 2 portas (ainda a ser lançada). "Obviamente os dois modelos não têm a mesma linguagem em termos de design, mas têm simplicidade, são atemporais e devem permanecer modernos", afirma Pavone.
A versão do up! produzida no Brasil é um pouco diferente da europeia e o designer brasileiro também colaborou com as mudanças. O modelo nacional, por exemplo, é mais longo, para abrigar porta malas e tanque de combustível maiores. "Quando fiz o projeto, não sabia que o up! iria para o Brasil."
MOBILIDADE
O professor da Universidade Mackenzie, Marcos Morita, mestre em Administração de Empresas e especialista em estratégias empresariais lembra que há tempos a Volkswagen não tinha um lançamento "para sacudir o mercado", papel que ele vê no up!. Analistas do mercado avaliam que o up! é o lançamento mais importante para a VW desde a chegada do Gol, nos anos 80.
A propaganda de lançamento traz forte apelo aos jovens, o que Morita acredita ser boa estratégia diante da imagem de "produtos envelhecidos" que a marca tem hoje. "Achei o design do up! moderno, bastante arrojado". Ele também lembra que outras marcas do mercado, como GM e Ford, renovaram suas linhas de produtos e a Volkswagen tinha ficado para trás. Agora, diz, a marca alemã "deu uma boa tacada".
Para Ricardo Pazzianotto, sócio da PricewaterhouseCoopers (PWC), a questão da mobilidade urbana tem levado as empresas a desenvolverem produtos que atendam a nova realidade do mercado, com ruas congestionadas, vagas apertadas nos estacionamentos e necessidade de redução de consumo.
"O segmento de carros subcompactos ainda é modestamente explorado no Brasil, mas certamente teremos outras novidades pela frente."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.