Tópicos | vai ter carnaval em 2022

Uma das poucas certezas que o brasileiro tem na vida é a de que todo ano tem Carnaval. Em 2021, no entanto, essa máxima caiu por terra em virtude da gravidade da pandemia do novo coronavírus. Os protocolos de segurança sanitária obrigaram foliões a manterem as fantasias guardadas, bem como a vontade de extravasar toda a alegria possível nas ladeiras e avenidas, pois foi impossível realizar a festa. Algo parecido só havia ocorrido outras duas vezes no país, em 1892 e 1912, quando o ciclo carnavalesco foi adiado. 

Com o avanço da vacinação em solo nacional -  segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, divulgados na última terça (24), mais de 56 milhões de pessoas  já tomaram as doses necessárias de vacinas e estão imunizadas -, e diminuição nas taxas de ocupação de leitos nos hospitais, gestores municipais e estaduais foram tomados por uma onda de otimismo e os planos para o próximo Carnaval 2022 começaram a ser desenhados, pelo menos em algumas capitais famosas pela folia, como Salvador, Recife e Rio de Janeiro.

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No entanto, a possibilidade de realizar um evento de tal porte ainda é vista com contrariedade por especialistas da área de saúde em virtude das novas variantes que não param de surgir, a exemplo da Delta. A entrada de turistas de todo o mundo no país, inclusive, poderia favorecer a circulação dessas variantes, provocando um novo surto da Covid-19. 

Para a infectologista, Marcela Vieira Freire - atualmente no fellowship de neuroinfecção no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o momento não é nem um pouco favorável para grandes festividades desse tipo. “Como as variantes possuem um alto potencial de transmissão, as aglomerações podem gerar novos picos e ainda novas variantes. É uma situação preocupante principalmente porque a população mais vulnerável (com comorbidades, idosos) podem sofrer essas consequências”, disse em entrevista exclusiva ao LeiaJá.

Marcela frisou ainda, a condução da pandemia por parte do governo federal e foi taxativa quanto ao risco de se promover um Carnaval dentro desse contexto. “Tivemos a pior gestão possível na coordenação de ações de controle da pandemia pela Covid 19 e estamos sofrendo as consequências disso: o governo federal subestimou o impacto da covid 19, insistiu em medicamentos ineficazes e retardou a compra das imunizações para firmar contratos superfaturados. Acho precipitada a realização de uma festa do porte do Carnaval. Infelizmente estamos diante de um cenário ainda preocupante e as variantes nos colocam numa situação de risco de novos pico”.

Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Entre índices de controle epidemiológico e a corrida pela vacinação, alguns dos principais polos carnavalescos do país já estudam alternativas para festejar no próximo ano. Confira o que estão planejando algumas das principais capitais do país em relação ao Carnaval 2022. 

SÃO PAULO

A queda dos percentuais de internação nos leitos de UTI instalados na cidade de São Paulo no mês de julho deste ano, além do avanço na imunização contra a Covid-19 na capital paulista - que contava, então, com mais de sete milhões de doses já aplicadas, animou a gestão municipal quanto a uma possível realização do Carnaval em 2022.

No dia 1º de julho, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) chegou a dizer, durante coletiva de imprensa, que a festa não só seria realizada como também seria “o maior carnaval da história”. “O Carnaval a gente vai tratar de duas formas: o de rua e o do sambódromo. O de rua, pelo tamanho que a gente espera que seja, deve ser o maior carnaval da história”, afirmou o prefeito”.

Porém, o Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo considera poucas as chances de se fazer uma festa de tal porte. É possível que sejam realizados os desfiles das escolas de samba paulistas, mas sem a presença do público nas arquibancadas do sambódromo. Além disso, a cidade estuda realizar eventos testes, até o final deste ano, entre eles um show da dupla Fernando e Sorocaba. Segundo boletim emitido pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) paulista, na última segunda (23), o Estado tinha mais de quatro mil casos de Covid confirmados e 144.243 óbitos decorrentes da doença. 

Foto: Pixabay

RIO DE JANEIRO

O Rio tem se mobilizado para realizar um Carnaval grandioso em 2022. Na última sexta (20),  a Riotur — empresa de turismo do município –, lançou o Caderno de Encargos dos Desfiles dos Blocos de Rua, um documento com orientações para empresas que pretendem apresentar propostas de produção e implementação de infraestrutura de suporte aos blocos. Além disso, a Prefeitura e a Liga das Escolas de Samba (Liesa) já fecharam contrato de uso do sambódromo pelas agremiações para os próximos quatro carnavais, de 2022 até 2025.  

A previsão é de que o ciclo carnavalesco carioca ocorra entre os dias 27 de janeiro e 6 de março. Se assim ocorrer, serão 40 dias de festa entre pré e pós Carnaval. Em entrevista à CNN, a presidente da Riotur, Daniela Maia, garantiu que a capital fluminense está preparada para os festejos momescos do próximo ano. “Nós vamos ter Carnaval em 2022. Óbvio, é o que sempre falo, balizado sempre pela saúde. A saúde é o mais importante. Nós estaremos preparados para o Carnaval de 2022, já estamos nos preparando. O Carnaval está sendo pensado ele inteiro, como sempre foi feito. Acho que esse meio do caminho não vai existir. Ou vai ter ou não vai ter, mas nós estamos muito otimistas”. 

Porém, na contramão do otimismo da presidente da Riotur, está o aumento do número de casos de Covid no estado do Rio. Durante a divulgação do 33º Boletim Epidemiológico do Rio, na última sexta (20), o prefeito carioca Eduardo Paes (PSD) afirmou que a cidade vive o pico da doença este ano e que os dados são “preocupantes”. Paes disse que apesar da vacinação avançada no município, não está descartada a possibilidade de retornar às medidas mais restritivas em caso de agravamento dos númeors. “Nunca antes, no ano de 2021, nós tivemos tantas pessoas com Covid na cidade do Rio de Janeiro como agora. Este é um dado relevante e todos nós que vivemos aqui percebemos isso. Pessoas próximas, familiares, amigos. Eu, pessoalmente, nunca vi tanta gente com Covid no meu entorno como eu estou vendo neste momento", disse o prefeito.

FORTALEZA

Na capital cearense, o clima também é de muito otimismo para a realização de um grande Carnaval para “celebrar a vida e prestar homenagem aos mortos”, como disse o secretário executivo de cultura de Fortaleza, Evaldo Lima, durante cerimônia de premiação dos grupos e escolas de samba vencedores do Ciclo Carnavalesco de 2020, ocorrida na última sexta (20).

O secretário festejou a vacinação avançada na cidade, porém, ressaltou que é preciso observar os índices epidemiológicos durante os próximos meses, sobretudo em função da nova variante Delta. “A gente tem que saber o que significam essas novas variações do coronavírus. Mas, no geral, há muita esperança de que o Carnaval de 2022 seja um grande Carnaval. O que a gente quer mesmo é que esses blocos e agremiações consigam despejar muita alegria na (avenida) Domingos Olímpio, mas claro, isso depende do avanço da vacinação e da queda progressiva dos indicadores da pandemia”. 

Nesta última terça (23), o Ceará registrou mais de 900 mil casos de Covid com quase 24 mil óbitos. Fortaleza já vacinou mais de duas milhões de pessoas. Na segunda (22), a prefeitura da cidade iniciou o planejamento da vacinação contra o coronavírus para o público de 12 a 17 anos.

SALVADOR

Foto: Reprodução/Facebook

Em Salvador, cidade que tem um dos carnavais mais procurados do país, o otimismo para a realização da festa também é grande. A capital soteropolitana vive um momento de relaxamento de protocolos de segurança, com retomada de alguns eventos com música ao vivo, por exemplo, e já foi anunciada uma programação para o Réveillon 2021, com cinco dias de festa, em formato ‘indoor’, no Centro de Convenções. 

Tal modelo de evento pode ser usado também para o Carnaval. O presidente da Empresa de Turismo de Salvador (Saltur), Isaac Edington, disse durante entrevista à imprensa local, que a possível folia em ambiente fechado é um projeto da iniciativa privada, no entanto, não descartou a possibilidade de incluir o modelo nas festividades da cidade.  “Se tudo for mantido como está, teremos um Carnaval extraordinário e queremos ampliar a festa, nada contra ter festas em espaços privados. Temos um grupo de gestores do Carnaval se reunindo quinzenalmente para preparar a festa, trocando ideias. Tudo leva a crer que Salvador será um dos principais destinos do Carnaval no próximo ano”.

De acordo com a prefeitura de Salvador, 92% dos moradores do município já receberam a primeira dose da vacina contra a Covid  e outros 40% estão totalmente imunizados. A gestão luta, agora, para convencer cerca de 125 mil pessoas, especialmente jovens a partir dos 18 anos, que ainda nem pisaram em um posto de vacinação, a irem receber suas doses. “A cidade não pode ficar refém dessas pessoas. Eu refleti muito, até conversei sobre isso no fim de semana, se a gente poderia adotar algumas medidas para forçar as pessoas a se vacinarem. Mas eu prefiro ainda apostar no diálogo, no processo em que as pessoas tenham compromisso”,  disse o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), durante a entrega do novo Centro Municipal de Educação, no Imbuí.

RECIFE

Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

No Recife, a vacinação também segue em ritmo avançado e já chegou na faixa etária de adolescentes. Por meio de nota oficial enviada pela assessoria de imprensa, a prefeitura da cidade informou que “estuda cenários possíveis para realizar o maior e melhor Carnaval de rua do país, mas este desejo está condicionado às condições do cenário pandêmico e que, em respeito à saúde e à vida, o mais esperado evento da Capital do Frevo irá depender da autorização das autoridades sanitárias”. Sendo assim, ainda não foram abertos editais para contratação de serviços ou apresentações artísticas. 

A capital pernambucana, dona de um dos maiores carnavais do Brasil, já tem mais de um milhão de pessoas vacinadas e a previsão é a de que até o mês de setembro, toda a população maior de 18 anos já tenha garantido a primeira dose. Em entrevista à CNN, o prefeito João Campos (PSB) celebrou o ritmo da campanha e falou sobre a expectativa para a realização do Carnaval 2022. “Vamos deixar tudo feito como se pudesse ter e, as autoridades sanitárias autorizando, faremos o maior Carnaval da história. Não vai depender apenas de um desejo nosso”. Até a última terça (24), o estado de Pernambuco tinha confirmados 604.331 casos de Covid-19 além de 19.314 óbitos decorrentes da doença. 

OLINDA

Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Vizinha ao Recife, Olinda figura como sendo a proprietária de um dos maiores carnavais de rua do Brasil. Em 2020, a cidade Patrimônio Histórico da Humanidade recebeu mais de três milhões de foliões que movimentaram cerca de R$ 295 milhões na economia da cidade. Para 2022, ainda não há confirmação quanto à realização da festa, porém, as previsões são favoráveis.

Através de nota oficial enviada ao LeiaJá, a Prefeitura de Olinda afirmou que acompanha de perto a vacinação no país e que continuará seguindo as recomendações do Ministério da Saúde e Secretaria de Saúde do Governo do Estado. “A vontade da Prefeitura é realizar o maior e melhor Carnaval do mundo na cidade de Olinda, como vinha acontecendo nos últimos anos. Mas, é preciso fazer isso com segurança; acompanhando desafios como, por exemplo, a vacinação das crianças e o comportamento de novas variantes do Sars-CoV-2”.

A prefeitura também não confirmou sobre a possibilidade de um eventual adiamento da festa ou ainda a realização de eventos em ambientes fechados, a exemplo do que tem sido pensado em Salvador e afirmou estar analisando as possibilidades em função da segurança do folião. “O carnaval de Olinda é uma festa democrática, feita para o povo. Nossa avaliação vai permear e sempre considerar esse aspecto. Só realizaremos com segurança para todos.Se a orientação das Instituições sanitárias for favorável a realização em um momento posterior, vamos avaliar internamente com atenção e abrir essa possibilidade. Nosso Carnaval é feito para o povo, feito de multidões. Vamos sempre prezar por uma política inclusiva, respeitando todas as possibilidades do momento”.





 

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