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O Procon-PE, órgão ligado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH), realizou, entre os dias 12 e 15 de setembro, uma pesquisa de medicamentos genéricos, onde foram pesquisados 26 tipos de medicamentos. Durante a pesquisa foram identificadas diferenças de valores para um mesmo medicamento, que chegaram a até 544,13%, a exemplo do Hemitartarato de Zolpidem, de 10mg, com 30 comprimidos, que pôde ser encontrado em farmácias diferentes nos valores de R$ 8,00 e R$ 51,53.

Os fiscais do órgão de defesa do consumidor passaram por 13 farmácias nos bairros de Boa Viagem, São José, Encruzilhada, Casa Amarela, Torre, Madalena e Iputinga.

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Um outro exemplo é o Cloridrato de Fluoxetina, utilizado para tratar transtornos como: humor, síndromes psicóticas, depressão e ansiedade. A caixa de 20 mg, com 30 comprimidos, varia entre R$ 6,00 e R$ 38,05. Uma diferença percentual de 534,17%.

Outros medicamentos também chamaram a atenção com variações que ultrapassam 400%:

O Maleato Enalapril, usado para controle da pressão arterial, a caixa de 20mg, com 30 comprimidos, apresentou uma variação de 495,42%.

O Ácido acetilsalicílico- ASS, a cartela do analgésico, com dez comprimidos, chegou a apresentar uma variação de 460%.

A Rosuvastatina Cálcica, utilizada na redução dos níveis elevados de colesterol total e gordura no sangue, encontrada por R$ 11,99 em uma farmácia, e por R$ 61,93, em outra representando uma diferença percentual de 416,51%.

“O objetivo da pesquisa é oferecer ao consumidor pernambucano um instrumento auxiliar para a determinação de compras mais racionais do ponto de vista do preço”, explicou Hugo Souza, Gerente Geral do Procon - PE.

Diagnosticado clinicamente com transtorno de ansiedade, o estudante universitário Pedro Henrique Alves Pereira, de 21 anos, toma o medicamento com o princípio ativo zolpidem nos momentos de crise, quando tem dificuldade para dormir. Na última quarta-feira, 9, ele tomou o comprimido, mas foi fazer um lanche rápido, o que contraria a principal recomendação dos médicos para este remédio: tomá-lo já deitado, pronto para o sono. Como consequência, Pedro teve alucinações e chegou a realizar uma compra de dois pacotes de viagens para Buenos Aires, na Argentina, no valor de R$ 9,2 mil.

O episódio viralizou nas redes sociais com mais de 174 mil curtidas e 5 mil comentários no Twitter. Embora a maioria dos comentários seja bem-humorada e até jocosa - existem dezenas de relatos de comportamentos incomuns dos usuários após o uso do mesmo remédio -, a experiência de Pedro, aluno de Fisioterapia na Unifacisa em Campina Grande (PB), alerta para o uso incorreto da droga, vendido sob prescrição médica.

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No ano passado, investigações da Polícia Civil indicaram que a deputada federal Joice Hasselmann (PSDB-SP) sofreu uma queda e se feriu possivelmente por causa do uso de medicamento Stilnox que induz ao sono e possui o mesmo princípio ativo.

Psiquiatras relatam um problema ainda mais sério: o uso de forma "recreativa", simplesmente para "curtir o barato". Ou seja: jovens estão usando remédios para ter alucinações. "É um remédio que deve ser tomado por indicação médica. O ideal é tomar esse remédio e dormir. Tem gente que toma o remédio de forma recreativa, como se fosse uma droga", alerta o psiquiatra Leandro Valiengo, coordenador dos ambulatórios de Cetamina e EMT do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da USP. "Além de colocar a própria vida em risco, o paciente pode tornar dependente", afirma.

O psiquiatra e ex-professor da Faculdade de Ciêncas Médicas da Unicamp Carlos Cais explica que esse uso ocorre porque o zolpidem produz leve efeito de euforia em uma pequena parcela dos pacientes. As pseudo alucinações, como ele classifica, são mais raras. O especialista explica que o paciente se sente como se estivesse leve ou moderadamente alcoolizado. Uma de suas antigas pacientes começou a usar o remédio por conta própria, durante o dia - sete a oito comprimidos - para "curar" sintomas de depressão. "Além do risco de usar as doses acima da recomendação médica, ela não estava tratando a depressão", diz o sócio fundador da Elibré Saúde Mental.

Medicamento deve ser usado em tratamentos de curta duração

O zolpidem se trata-se de um medicamento controlado, vendido sob prescrição médica e retenção de receita. Ele integra o chamado "grupo Z" de medicamentos ao lado da Zopiclona, Zaleplon, Eszopiclona. De acordo com a bula eletrônica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o zolpidem é recomendado para tratamento de curta duração para insônia. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão: sonolência, dor de cabeça, tontura, distúrbios cognitivos, como amnésia anterógrada (os eventos após a ingestão do remédio), diarreia, náusea, dor abdominal, vômito, dor nas costas e fadiga.

A bula adverte ainda que o medicamento pode causar sonambulismo ou outros comportamentos incomuns. "Em um dos episódios, eu tomei o remédio e fui tomar banho. Na volta, eu me deparei com o cachorro dormindo com frio na minha cama. Muito depois eu percebi que era só o lençol porque eu não tenho cachorro", escreveu a internauta Rafa Putier.

Valiengo conta que os lapsos de memória, como os que ocorreram com Pedro, também são comuns. O médico conta que uma de suas pacientes usou o remédio e, quando se deu conta, estava no pedágio da Rodovia dos Imigrantes, principal acesso ao litoral de São Paulo. Pedro Henrique só conseguiu se lembrar do que havia acontecido porque enviou mensagens aos amigos e chegou a gravar um vídeo em que saía para visitar a avó que, na verdade, mora com ele.

Os efeitos adversos estão relacionados ao mau uso do medicamento, na avaliação do farmacêutico Marcelo Polacow, presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo. "É um medicamento seguro. Mas as pessoas acreditam que o remédio vai dar sono, ela vai para cama e vai dormir. Esse não é o mecanismo de funcionamento dele", alerta o especialista. "A pessoa tem de deitar na cama, apagar as luzes e evitar o contato com as telas. Ela não pode levantar. O remédio vai induzir ao sono de seis ou sete horas", completa.

Polacow explica que a embalagem do medicamento no mercado americano traz alerta sobre risco de sonambulismo e desconexão com a realidade. Se isso acontecer, o uso deve ser interrompido e o médico e farmacêutico tem de ser avisados.

Pedro Henrique conseguiu cancelar as compras que fez. Elas ficaram pendentes por iniciativa do próprio banco em função do valor da transação e do horário em que foi realizada. No dia seguinte, a compra do pacote aéreo foi cancelada. Ele vai consultar sua psiquiatra sobre a continuidade do uso do medicamento. Nas últimas noites, ele conseguiu dormir sem o uso do medicamento.

O futuro fisioterapeuta critica o comportamento de alguns usuários das redes sociais diante do seu sofrimento. "Pessoas que não conhecem o poder do remédio dizem que eu estava querendo chamar a a atenção nas redes sociais. Eu faço acompanhamento psiquiátrico. Algumas reações revelam certo preconceito com o tratamento psíquico".

Na última semana de julho, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) relatou publicamente ter sofrido um “apagão” de memória e acordado com fraturas e hematomas pelo corpo, sem saber se as lesões teriam origem acidental ou seriam fruto de agressão física. Após as declarações, diversos relatos de pessoas que utilizam o medicamento Stilnox, substância hipnótica usada para induzir o sono e à base de zolpidem, ganharam espaço na mídia por darem luz a experiências similares à da parlamentar, que também faz uso do fármaco há cerca de 20 anos. As histórias foram publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo.

Cerca de 5% dos pacientes que fazem uso do hipnótico estão sujeitos a diminuição ou perda total da memória (amnésia), especialmente nas quatro primeiras horas após a ingestão, quando a medicação ainda está na corrente sanguínea. Desenvolvida há 30 anos, de início para regular o jet lag de pessoas que fazem viagens internacionais, a substância é considerada segura pelos médicos desde que usada de acordo com as indicações da bula, na dose certa e por tempo adequado.

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"A pessoa pode fazer e vivenciar coisas, que não ficam retidas na memória", afirma o psiquiatra Mauro Aranha. Nessa situação, mesmo parecendo estar acordado, o indivíduo não tem os mesmos reflexos nem o mesmo raciocínio.

Segundo o psiquiatra, se a pessoa acordar durante as quatro horas em que o fármaco circula na corrente sanguínea, ela pode não se lembrar do que fez. "Mas, se despertar quando a substância não está mais circulando no corpo, provavelmente já estará consciente dos próprios atos", explica.

A bula do medicamento alerta sobre "as propriedades farmacológicas do zolpidem, que podem causar sonolência, diminuição dos níveis de consciência —levando a quedas e, consequentemente, a lesões severas—, sonambulismo ou outros comportamentos incomuns (como dormir na direção e durante a refeição), acompanhado de amnésia".

Um advogado que também toma Stilnox, remédio usado pela deputada, e que pediu à reportagem para não ter o nome revelado disse que relacionou o cenário narrado por Joice a possíveis reações colaterais da substância antes mesmo de ela citar que faz uso do medicamento para dormir.

Nas palavras do advogado, "esse é um remédio que precisa ser tomado na cama e com a luz apagada", já que há riscos de a pessoa "se levantar no meio da noite e fazer coisas das quais não vai se lembrar no dia seguinte".

O advogado relata episódios malucos e até perigosos que vivenciou sob efeito do medicamento, como fazer macarrão em uma frigideira, deixar o gás aberto por sete horas e cair no banheiro. Ele diz que só descobriu os fatos no dia seguinte, ao ver indícios como a cozinha revirada e escoriações pelo corpo.

Apesar das experiências serem prescritas em bula, Joice Hasselmann não descarta a possibilidade de atentado. Segundo sua assessoria de imprensa, "os médicos descartaram a possibilidade de uma queda acidental" ter provocado as escoriações.

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