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O próximo leilão de exploração marítima de petróleo, marcado para 7 de outubro, inclui, entre as suas 92 ofertas, blocos com impacto direto e sobreposição a algumas das regiões mais sensíveis e importantes do ecossistema de recifes do Brasil. Trata-se da "Cadeia de Fernando de Noronha", que envolve a sequência de montes submarinos que se conecta no litoral e que forma o arquipélago de Fernando Noronha e a reserva biológica Atol das Rocas.

Região de biodiversidade única, a área de preservação integral também é fundamental para manter a subsistência de todas as atividades de pesca e turismo. O arquipélago de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas foram reconhecidos em 2001 como Patrimônio Natural Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura.

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O Estadão teve acesso a um estudo técnico realizado por pesquisadores e professores do Departamento de Oceanografia (Docean) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP). Os especialistas se debruçaram sobre os dados técnicos dos blocos que serão oferecidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O levantamento revela que, entre os 92 blocos que a ANP vai ofertar para exploração de grandes petroleiras, estão aqueles da chamada "Bacia Sedimentar Potiguar", uma área que tem blocos com impacto direto em três bancos submarinos da cadeia de Fernando de Noronha. São os chamados bancos Guará, Sirius e Touros. Os estudos revelam que dois desses blocos atingem diretamente cerca de 50% da área da base do monte Sirius e 65% de seu topo.

Do fundo do mar, o Sirius avança sentido à superfície e chega a ficar a apenas 54 metros abaixo do nível do mar. Trata-se, portanto, de uma área extremamente rasa. O mesmo impacto direto foi identificado sobre os bancos Guará e Touros.

Localizado na região oeste da cadeia de Noronha, o Sirius é o banco mais importante para manter a ligação dos ecossistemas oceânicos da região Nordeste. Entre ele e o arquipélago de Noronha está localizado o Atol das Rocas. Dada a sua importância ecológica, o Atol se tornou, ainda em 1979, a primeira unidade de conservação marinha do Brasil. Hoje, é classificado como uma reserva biológica.

"As pessoas conhecem o arquipélago de Noronha e o Atol, mas os bancos que fazem parte desse ecossistema, e que são pouco conhecidos, têm a mesma relevância e riquezas e são vitais para que todo o conjunto seja preservado, porque estão conectados", diz Mauro Maida, professor do Docean/UFPE, que assina o estudo com Moacyr Araújo, Beatrice Padovani Ferreira (Docean/UFPE) e Julia Araujo (IO-USP).

Questionada pela reportagem, a ANP declarou, por meio de nota, que a rodada de licitações foi aprovada após manifestação conjunta dos ministérios de Minas e Energia (MME) e do Meio Ambiente (MMA). Segundo a ANP, "os normativos em vigor a respeito das diretrizes ambientais foram cumpridos integralmente" e ajustes pedidos pelos órgãos vinculados ao MMA foram acatados, além de as informações ambientais "relevantes e disponíveis" terem sido tornadas públicas.

O órgão ponderou que a aprovação dos blocos para o leilão não significa aprovação tácita para o licenciamento. "As informações ambientais existentes acerca de determinada área, decerto, serão utilizadas por ocasião do respectivo licenciamento ambiental e não suprem a necessidade de estudos ulteriores, cuja exigência são próprias do licenciamento ambiental específico de determinado bloco ou área geográfica", afirmou.

Até o início deste mês, nove empresas tinham se inscrito para o leilão: Petrobras, 3R Petroleum, Chevron, Shell, Total Energies EP, Ecopetrol, Murphy Exploration & Production Company, Karoon Petróleo e Gás e Wintershall Dea.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) decidiu prorrogar até o dia 14 próximo a suspensão de visitas ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos, no litoral da Bahia. A expectativa é que possa ser reaberto aos turistas no feriado de 15 de novembro (Proclamação da República).

Na prática, a suspensão das visitações entrou em vigor na segunda-feira (4), dois dias após fragmentos do óleo que já poluiu praias e mangues dos nove estados da Região Nordeste terem atingido uma pequena área do parque nacional.

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O ICMBio garante que, até o início da noite desta terça-feira (5), nenhum novo vestígio de óleo tinha sido encontrado na região. Ainda assim, por precaução,  optou por prorrogar a suspensão a fim de facilitar o trabalho de controle e remoção do óleo, e também para minimizar ao máximo os eventuais riscos à saúde de turistas.

Correntes marítimas

O instituto não descarta que as correntes marítimas podem voltar a carregar novos fragmentos do produto para o arquipélago, que está sendo monitorado não só por navios da Marinha e equipes do ICMBio, mas também por pesquisadores, ambientalistas, pescadores e mergulhadores autônomos.

Na segunda-feira (4), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, esteve em Abrolhos, onde acompanhou os trabalhos de limpeza e avaliação dos impactos ambientais desenvolvidos pelas equipes da Marinha e do ICMBio.

Naquela dia, o ministro garantiu que apenas “algumas poucas e pequenas manchas” de óleo bruto tinham chegado ao arquipélago, e que a substância poluente estava sendo “prontamente recolhida”, inclusive com a ajuda de pescadores voluntários.

Segundo o ICMBio, uma barreira de contenção foi montada no estuário do rio Caravelas para tentar impedir que o óleo atinja o local. Cedida pela empresa Suzano Papel e Celulose, a barreira de lona sintética tem 84 centímetros de altura, sendo que 42 centímetros ficam submersos.

Localizado a cerca de 70 quilômetros da cidade litorânea de Caravelas (BA), o parque nacional, criado em 1983, é uma das regiões mais ricas em biodiversidade marinha do Brasil e do Atlântico Sul, com estruturas de recifes únicas.

Segundo o ICMBio, a região é o principal berçário das baleias jubarte no Atlântico Sul e refúgio de espécies de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção, além de aves marinhas que aproveitam o fato de as águas ao redor do arquipélago serem fartas em peixes e outras espécies marinhas, o que faz da pesca fonte de subsistência de milhares de moradores da região.

Na segunda-feira, a Agência Brasil conversou, por telefone, com funcionárias de empresas de turismo autorizadas a transportar os visitantes de Caravelas até o arquipélago dos Abrolhos.

Explicando que, inicialmente, a repercussão da suspensão das visitas por três dias não causaria grande impacto para as operadoras turísticas, pois a temporada de observação de baleias jubarte está perto do fim e as férias de fim  de ano ainda não começaram, as pessoas entrevistadas disseram temer mais a repercussão negativa das notícias sobre a presença de óleo na região.

Desde o fim de agosto, quando manchas de óleo começaram a ser avistadas ao longo do litoral nordestino, a substância de origem desconhecida já atingiu Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Óleo recolhido

Segundo o Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha, Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), até o último sábado cerca de 4,3 mil toneladas de resíduos de óleo já tinham sido recolhidas das praias nordestinas.

Ao todo, 3.370 militares da Marinha, além de 27 embarcações da Marinha (23) e da Petrobras (4); 15 aeronaves; 140 viaturas e servidores do Ibama, do ICMBio e da Petrobras atuam na operação.

Além disso, a Polícia Federal (PF) tenta identificar os responsáveis por este que já é o maior desastre ecológico em extensão ocorrido no Brasil. Investigadores suspeitam que o óleo pode ter sido derramado por um navio de bandeira grega, o Bouboulina, a 700 km da costa brasileira.

Na sexta-feira (1º), a PF deflagrou uma operação (Mácula) e, com autorização judicial, apreendeu documentos em escritórios de empresas ligadas à proprietária do Bouboulina, a empresa Delta Tankers – que já negou ter qualquer relação com o óleo e afirma poder comprovar a regularidade de suas operações. Estudos da Petrobras atestam que o óleo cru é proveniente de campos petrolíferos na Venezuela, onde o Boubolina aportou recentemente.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, destacou no domingo (3) que a força-tarefa formada por agentes públicos de diversas instâncias, pescadores e voluntários tentará conter a poluição por óleo que atingiu neste fim de semana o Arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia. Um plano de contenção civil está sendo executado desde o dia 12 e já evitou a chegada à área de 19,2 mil quilos de resíduos.

Silva sobrevoou Abrolhos no domingo e destacou que nenhuma mancha havia sido relatada e a limpeza do material encontrado sábado estava em andamento. Segundo ele, foi montado um cerco com seis embarcações, quatro da Marinha e duas da Petrobrás. "E temos também lançado botes e mergulhadores nossos para fazer vistoria nos corais. Isso sem contar o pessoal do ICMBio (ambiental). E há a participação fundamental das pequenas embarcações - que só elas podem entrar em alguns lugares. Se precisar, ainda mobilizaremos o Exército."

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A Associação Mãe Reserva Extrativista de Canavieiras (Resex), que trabalha com pescadores e voluntários, observou que a primeira mancha de petróleo foi relatada no dia - com 120 quilos de óleo. Chamada de "SOS Mangue Mar Canes", a iniciativa já retirou quase 20 mil quilos de poluentes de dentro do mar e da faixa de areia. De acordo com Carlos Pinto, da Resex, a região é monitorada 24 horas, com aval do ICMBio, que ajuda com transporte e alimentação, além de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). "Nossa equipe está agindo em caráter de urgência mesmo. Como o vento mudou de direção, pode ser que isso colabore com a chegada de mais óleo", completa.

Ele destaca o risco à economia local, pois mais de 2,5 mil famílias sobrevivem da venda de pescados. "Quando não encontrarmos mais nada, ainda vamos observar por mais 15 a 30 dias."

Investigação

O total de resíduos retirados de praias do Nordeste já chega a 4 mil toneladas. Silva reiterou ontem que a investigação sobre o derrame foca no navio Bouboulina, sem dar detalhes. A empresa do petroleiro nega vazamento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Ministro da Defesa, Fernando Azevedo, fez um sobrevoo pela região do arquipélago baiano de Abrolhos (BA) na manhã deste domingo (3) e acompanhou as operações de monitoramento e limpeza de áreas atingidas pelas manchas de óleo.

No sábado (2), a Marinha informou que pequenos fragmentos de óleo foram encontrados e recolhidos na região de Abrolhos. Segundo a Marinha, os fragmentos foram retirados do mar pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha do Brasil (MB), Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 

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Desde o início do aparecimento de manchas de óleo nas praias nordestinas, mais de 4 mil toneladas de resíduos já foram retirados desses locais, segundo levantamento divulgado neste sábado pelo GAA. O descarte desse material é feito pelas secretarias de Meio Ambiente dos estados.

Em nota, o GAA informou também que "foram detectados e removidos pequenos fragmentos de óleo em Ponta da Baleia, em Caravelas e na Ilha de Santa Bárbara, em Abrolhos, por equipes e navios da Marinha, juntamente com o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade]".

De acordo com o GAA, estão limpas as praias do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco. As localidades que ainda permanecem com vestígios de óleo e com ações de limpeza em andamento são as seguintes: Maragogi, Japaratinga, Barra de São Miguel, Coruripe, Feliz Deserto e Piaçabuçu, em Alagoas; Artista, em Sergipe; Arembepe, Berlinque, Barra Grande, Cueira, Pratigi, Alcobaça, Mar Moreno e Piracanga, na Bahia.

Ainda segundo a nota, foram empregados nos trabalhos de limpeza das praias e observação marítima 15 navios, quatro aeronaves, três drones e mais de 2.350 militares e 85 servidores do Ibama e ICMBio.

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A Marinha confirmou neste sábado, 2, que fragmentos do óleo que atinge as praias do Nordeste foram encontrados em uma das ilhas do arquipélago de Abrolhos, localizado no sul da Bahia, região que é umas das áreas mais ricas em biodiversidade da América da Sul. As partículas foram detectadas na Ilha de Santa Bárbara, que não faz parte do Parque Nacional Marinho de Abrolhos.

Equipes atuam no local para a remoção do material, que também foi encontrado em Ponta da Baleia, em Caravelas. A localização dos fragmentos encontrados foi informada pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha do Brasil, Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

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Na última quarta-feira, 30, uma equipe do Ibama sobrevoou o local e não encontrou vestígios de óleo na região. Com a possibilidade de chegada das manchas, que estavam se deslocando para o sul da Bahia, o monitoramento na área do entorno do arquipélago tinha sido intensificado.

O Ministério Público Federal (MPF) propôs, na última quarta-feira, 18, uma ação civil pública, para pedir a retirada de sete blocos situados no litoral baiano em área próxima ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos. O leilão da 16.ª Rodada de Licitações, promovido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), está marcado para o próximo dia 10 de outubro.

Na ação, o MPF na Bahia sustenta que esses blocos não deveriam ir a leilão sem os devidos estudos ambientais prévios, principalmente por estarem em áreas sensíveis do ponto de vista ambiental. Respondem à ação a União, a ANP e o Ibama.

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A região de Abrolhos apresenta a maior biodiversidade do oceano Atlântico Sul, lembra o MPF, e foi o primeiro parque nacional marinho a ser reconhecido no Brasil em 1983, abrigando a maior biodiversidade marinha, o principal berçário das baleias jubarte, além de abrigar importantes áreas de reprodução e alimentação de aves e tartarugas marinhas.

Os blocos marítimos que são alvo da ação do MPF estão situados na Bacia de Camamu-Almada, bem próximo à região de Abrolhos, e na Bacia de Jacuípe, também no litoral baiano.

Em abril, reportagem do 'Estado' revelou que um parecer técnico do Ibama pedia a exclusão desses blocos do leilão, por causa dos impactos que a área poderia sofrer em caso de acidente com derramamento de óleo. O presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, no entanto, ignorou o parecer técnico e, numa atitude inédita, contrariou seus próprios especialistas, autorizando a Agência Nacional de Petróleo (ANP) a seguir com o leilão.

Dias depois, uma segunda reportagem do 'Estado' revelou que a decisão de Bim, na realidade, atendia a um pleito feito diretamente pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). O ministério pediu que a decisão técnica fosse revisada, por causa da "relevância estratégica do tema". Bim, então, rejeitou o parecer técnico e liberou o leilão. A denúncia embasa a ação do MPF.

"Na ação, o MPF considera ilegal o ato isolado do presidente do Ibama, que, a pedido do Ministério do Meio Ambiente (MMA), ignorou parecer do corpo técnico do próprio Ibama, que entendeu que antes da oferta de tais blocos deveriam ser realizados estudos de caráter estratégico - como a Avaliação Ambiental de Bacias Sedimentares (AAAS)", declarou o Ministério Público. "Os estudos poderiam avaliar previamente a aptidão da área com maior segurança ambiental, proporcionando, consequentemente, maior segurança para o meio ambiente e maior segurança jurídica aos empreendedores."

No parecer técnico, o Ibama ressalta que, em caso de acidente com derramamento de óleo, os impactos podem atingir todo o litoral sul da Bahia e a costa do Espírito Santo, incluindo todo o complexo recifal do Banco de Abrolhos, manguezais e recifes de corais, além de pesqueiros relevantes para a pesca artesanal. De acordo com o mesmo parecer, "a depender do tempo de chegada do óleo a estas áreas sensíveis, não há estrutura de resposta que seja suficiente, dentro dos recursos hoje disponíveis em nível mundial, para garantir a necessária proteção dos ecossistemas".

Outra preocupação do MPF apresentada na ação é o possível prejuízo financeiro à União com a venda de lotes cuja exploração pode não ser autorizada após a realização do leilão. "Isso porque, uma vez leiloado o bloco marítimo sem a devida avaliação ambiental estratégica antecedente, pode acontecer que o estudo a ser realizado tardiamente seja no sentido da não possibilidade de exploração", explica a procuradora da República Vanessa Previtera, na ação.

Foi exatamente o que aconteceu com o Bloco BM-ES-20, na parte norte da Bacia do Espírito Santo. Este bloco foi ofertado na 4.ª rodada, em 2002, sendo que, em 2006 o Ibama negou ao empreendedor todas as tentativas de licença para exploração pelo fato de o bloco estar localizado em área de alta sensibilidade ambiental, próxima ao arquipélago de Abrolhos, como acontece agora com os blocos da Bacia Camamu-Almada. Pela devolução, a ANP acabou pagando cerca de R$ 3,21 milhões a mais do que o desembolsado pela petroleira na compra do bloco, seguindo os termos do contrato.

"Em síntese, um péssimo negócio para o erário e, por consequência, para o bolso de todos os contribuintes. De certo, o prejuízo poderia não ter existido se a ANP e o Ibama, quando da oferta do bloco em leilão, já tivessem chegado a um consenso quanto à viabilidade ambiental do empreendimento antes de o órgão regulador licitar os blocos exploratórios", afirma o MPF na ação.

Retrocesso ambiental

O MPF aponta, ainda, um retrocesso da governança ambiental, uma vez que a ANP, desde 2003, vinha incrementando a análise prévia dos blocos marítimos a serem leiloados. Ao longo das rodadas de leilão, as análises foram aprimoradas, passando a contar com manifestações de órgãos ambientais federais - como a ANP, o Ibama, o MMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) -, além de pareceres dos órgãos ambientais estaduais. A Agência Nacional de Águas (ANA) também passou a se manifestar a partir da 13.ª rodada. Contudo, nesta 16.ª rodada, houve manifestação de uma única coordenação do Ibama, que foi, inclusive, contrariada pelo presidente do próprio órgão.

No pedido de medida liminar, o MPF requer que a Justiça determine à ANP a devida publicidade sobre a exclusão de tais blocos marítimos da licitação, sob pena de multa diária de pelo menos R$ 100 mil reais.

Pede, ainda, que a ANP não inclua os blocos marítimos alvos da ação em licitações, nem assine contratos relacionados à exploração de petróleo nestas áreas - bem como o MMA e o Ibama - antes dos devidos estudos e análises ambientais prévios serem concluídos.

O MPF pede, também, que a Justiça determine que a ANP, o Ibama e o MMA apenas autorizem ou se manifestem favoravelmente à inclusão de novos blocos marítimos exploratórios das bacias de Camamu-Almada e Jacuípe, nas próximas rodadas de leilões, após parecer favorável do corpo técnico do Ibama, do ICMBio, do MMA e da ANA, organizados como Grupo de Trabalho Interministerial de Atividades de Exploração e Produção de Óleo e Gás (GTPEG), bem como dos órgãos ambientais estaduais, como foi realizado nas rodadas de leilão anteriores da ANP.

Campanha

A Conexão-Abrolhos, um grupo formado por organizações socioambientais que atuam na conservação marinha no País, deu início na quinta-feira, 19, a uma campanha para alertar sobre riscos da exploração de petróleo e gás em uma área próxima do Parque Nacional de Abrolhos. O grupo, uma coalizão formada pela Conservação Internacional (CI-Brasil), Oceana no Brasil, Rare, SOS Mata Atlântica e WWF-Brasil, também organizou uma petição online contra o leilão.

Em julho, os senadores Fabiano Contarato (Rede-ES) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) entraram com uma ação popular na Justiça Federal do Distrito Federal, para requerer a exclusão dos mesmos blocos alvo da ação do MPF. A ação com pedido liminar de tutela de urgência foi juntada a uma petição anterior apresentada pelos senadores, na qual requeriam os documentos do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente que levaram à inclusão dos blocos no leilão.

A mancha de lama que vinha se espalhando na direção Sul, ao longo do litoral do Espírito Santo, agora está viajando para o Norte, alcançando as proximidades do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no sul da Bahia. A Samarco, responsável pela barragem de Fundão, que se rompeu em 5 de novembro, foi notificada a iniciar a coleta de amostras na região.

Embora de forma pouco concentrada, os sedimentos somam uma área de 6.197 km2. A mancha foi detectada durante sobrevoos realizados na segunda e na terça-feira por técnicos do Ibama e do ICMBio.

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O "desvio de rota" foi possivelmente ocasionado por um intenso vento sul que se observou na região na última semana. Os testes para confirmar a origem do material devem ficar prontos em 10 dias, mas a presidente do Ibama, Marilene Ramos, afirmou que os técnicos têm "praticamente certeza de que se trata da lama da Samarco".

Os sedimentos podem impactar a biodiversidade de fitoplâncton, algas e corais de Abrolhos - um dos principais patrimônios ambientais do Brasil. "Ter essa lama no mar é como colocar uma camada de fumaça em cima da Mata Atlântica", comparou o presidente do ICMBio, Cláudio Maretti.

O órgão informou que o parque não será interditado, pois o monitoramento das águas tem indicado que não há metais pesados ou substâncias tóxicas na água.

Espírito Santo

Três praias de Linhares, na região norte do Espírito Santo, foram interditadas pela prefeitura da cidade, nesta quarta-feira, 6. De acordo com o órgão, as praias de Pontal do Ipiranga, Degredo e Barra Seca estão impróprias para banho. Toda região foi afetada pela lama de rejeitos da mineradora Samarco.

A possibilidade de receber alguns milhões de dólares em investimento deveria ser motivo de alegria para qualquer gestor de unidade de conservação no Brasil. No Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, porém, a carência de recursos humanos é tanta que uma eventual abundância de recursos financeiros se transforma em preocupação.

Localizado no extremo sul da Bahia, com 880 km² de área marinha, o parque tem hoje apenas três funcionários concursados: o chefe, o subchefe e um técnico administrativo. Dois anos atrás, eram cinco. O chefe em exercício do parque, Marcello Lourenço, classifica a situação atual como "o pior momento" da unidade. Na semana passada, ele e outros gestores de unidades de conservação marinhas foram chamados com urgência a uma reunião no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Brasília, com o intuito de fatiar às pressas um bolo de US$ 116 milhões, que deverão ser investidos em áreas protegidas costeiras e marinhas do País nos próximos cinco anos por um programa chamado GEF Mar.

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O valor inclui US$ 18 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e US$ 98 milhões em recursos de contrapartida da Petrobrás e do governo brasileiro (US$ 90 milhões da empresa e US$ 8 milhões do ICMBio e do Ministério do Meio Ambiente). A expectativa é de que 11 unidades de conservação marinhas e costeiras sejam contempladas, com o objetivo de proteger pelo menos 5% do território marítimo nacional.

Na reunião, Lourenço e outros gestores receberam planilhas em branco para serem entregues no dia seguinte, com instruções para listar tudo que suas unidades precisavam para operar, "sem limite de gasto". "Como é que eu vou gastar um dinheiro desses se não tenho funcionários?", questiona Lourenço, que conversou com a reportagem em Caravelas, município costeiro da Bahia que abriga a sede do parque. "O governo tem de dar essa contrapartida em recursos humanos." O chefe do parque, Ricardo Jerozolimski, está em férias.

Prioridades

Lourenço entregou ao ICMBio uma planilha no valor de R$ 8 milhões, com necessidades que vão desde a melhoria do centro de visitantes em Caravelas até a compra de equipamentos de vigilância e uma segunda lancha de apoio à fiscalização do parque, que é frequentemente invadido por pescadores da região.

"Já temos uma lancha, mas todo mundo sabe que, no mar, quem tem uma não tem nenhuma, e quem tem duas tem uma", diz Lourenço, referindo-se às dificuldades mecânicas e logísticas de manter uma embarcação funcionando em tempo integral. "Não tem como garantir a segurança de um parque desses com apenas uma embarcação." A lancha fica em Caravelas e é acionada quando um barco é detectado pescando. Leva uma hora para chegar ao Arquipélago dos Abrolhos, a 72 km da costa. O ICMBio foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até as 21h desta terça-feira, 21. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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