Tópicos | Affonso Celso Pastore

Ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore avalia que Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seguem um caminho parecido na condução da política econômica, o do populismo.

"O mesmo erro cometido por um populista de direita, chamado Bolsonaro, que promoveu uma expansão fiscal muito grande, está sendo cometido por um populista de esquerda, chamado Luiz Inácio Lula da Silva", afirmou.

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Em entrevista ao Estadão, Pastore se mostrou pessimista com o futuro da economia brasileira, defendeu que não se alterem as metas de inflação, elogiou a atuação do Banco Central e disse que o governo deveria melhorar as contas públicas para permitir uma queda da taxa básica de juros. A seguir os principais trechos da entrevista.

Como o sr. vê a discussão de mudar a meta de inflação?

O governo está brigando a guerra errada ao pensar em mudar a meta. As taxas de juros não estão altas porque o Banco Central favorece os rentistas, como tem sido afirmado pelo presidente (Lula). Elas estão altas porque existe uma política fiscal expansionista que vem tirando a potência da política monetária e, para reduzir a inflação, o Banco Central é obrigado a manter a taxa de juros mais alta por mais tempo. Esse é o diagnóstico do problema. Para crescer o Brasil, tem de baixar juros. Para baixar juros, o País precisa de disciplina fiscal, mas isso não foi endereçado até agora.

Quais podem ser as consequências de uma alteração da meta de inflação?

Recentemente, nós vimos várias pessoas dizendo que o Brasil tem uma meta muito baixa. Isso não é verdade. A grande maioria dos países tem metas iguais ou menores do que a do Brasil. Não há nada de exagerado em ter esse tipo de meta. Se a meta for aumentada, a desancoragem de expectativas tende a crescer. E, na medida em que cresce a desancorarem das expectativas, você tende a retardar o momento no qual a taxa de juros cai.

No cenário atual, quando os juros podem cair?

A taxa de juros só vai cair na hora que a inflação vier para baixo, na hora que as expectativas de inflação vierem para baixo. Eu acho que isso vai demorar muito tempo. Vamos colocar numa outra dimensão: existe uma política fiscal expansionista, porque o governo acha que crescimento econômico é feito com aumento de gastos. Ele não está disposto a cortar gastos. Até agora, também não enunciou reformas tributárias que aumentem a receita. O déficit público vai continuar. Isso gera uma subida da taxa de juros ao longo de toda a curva, eleva a taxa de juros da dívida pública e piora a dinâmica de dívida, o que traz um novo aumento do prêmio de risco. O que estou querendo colocar é o seguinte: o caminho que o governo está adotando é um que agrava a situação fiscal, gera uma desaceleração da economia maior do que aquela que precisava acontecer, sem que a inflação caia o que poderia cair.

O Brasil está fadado a ter anos de baixo crescimento?

O governo tem de mudar a política econômica. O mesmo erro cometido por um populista de direita, chamado Bolsonaro, que promoveu uma expansão fiscal muito grande, está sendo cometido por um populista de esquerda, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, com uma expansão fiscal grande demais para o País. Ele tem de atacar isso. Na hora que fizer isso, a taxa de juros começa a cair, e o País volta a crescer. Ele está com o diagnóstico errado. O problema é muito simples: o governo tem o diagnóstico errado da situação econômica.

O sr. acha que vai ser possível insistir até quando nesse diagnóstico?

Eu esperaria que eles pudessem mudar a cabeça, mas eu acho que não vão mudar. Eu vejo que essa situação econômica vai se agravar, e nós vamos convergir para uma tensão política no final desse ciclo. A minha visão é muito negativa sobre a perspectiva da economia brasileira.

Mas para dimensionar essa visão negativa: será uma crise parecida com a recessão enfrentada em 2015 e 2016?

A política econômica é a mesma do governo Dilma. Não tem diferença, está seguindo o mesmo caminho.

Nesse cenário, não há avanço, não sai uma reforma tributária, por exemplo?

Eu não sei como é a relação do governo com o Congresso. Agora, é mais difícil aprovar uma reforma tributária se a economia estiver frágil economicamente. Os setores que estão sentindo essa fragilidade, como o comércio varejista e o setor de serviços, se opõem a mexidas como essa. Isso dificulta a aprovação da reforma tributária.

Qual posição o presidente do BC tem de adotar no meio desse conflito com o governo?

O que ele (Roberto Campos Neto) está fazendo é o que tem de fazer. Não tem de mudar nada. Não vejo erros técnicos cometidos pelo Banco Central. Eu vejo erros de diagnósticos cometidos pelo governo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Após Sergio Moro desistir de disputar a Presidência da República, o economista Affonso Celso Pastore afirma que o documento com propostas econômicas que havia elaborado para a campanha do ex-ministro da Justiça está a disposição de quem quiser discutir ideias.

Em entrevista ao Estadão, Pastore comenta o documento "Desenvolvimento inclusivo, sustentável e ético" e defende uma maior mobilização da sociedade para influenciar os políticos. "Ou a sociedade civil se mobiliza e começa uma discussão ou ela vai ficar a reboque da polarização", diz. "Hoje você tem, infelizmente, um Orçamento do governo que foi capturado pelo Centrão e está todo mundo olhando isso e assobiando", critica. Confira trechos da entrevista, por tópicos.

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Programa

Quando o Moro resolveu entrar na disputa, ele nos perguntou se éramos capazes de produzir, com independência, um documento com diagnósticos e proposições. Conheço o Moro, admiro ele. Coloquei como condição que iríamos indicar sugestões que fogem dos extremos, que são extremos populistas, tanto o Lula como o Bolsonaro. A ideia era publicarmos esse documento de qualquer modo, quer o Moro o usasse ou não. Se alguém quiser aproveitar a ideia, aproveita. Não tomamos a iniciativa de procurar ninguém. O objetivo não é a eleição. É discutir proposições para o País.

Sociedade civil

Ou a sociedade civil se mobiliza e começa uma discussão ou ela vai ficar a reboque da polarização. A gente podia ter tomado duas atitudes. A primeira seria apostar no cavalo vencedor. A segunda é a sociedade civil descobrir que, nesses dois extremos, o País está empacado. Se a sociedade quiser viver num país civilizado, que melhore a distribuição de renda e cresça, ela tem de influenciar os políticos. Hoje você tem, infelizmente, um Orçamento do governo que foi capturado pelo Centrão e está todo mundo olhando isso e assobiando. Resolvemos não assobiar. Quero colocar na cabeça de um empresário que se senta com essa gente (políticos) um pouco de ideia que não seja a da defesa do interesse dele, mas a da defesa do interesse do País.

Persio x Mercadante

O Aloizio Mercadante foi colega de faculdade meu. Se ele pensa diferente de mim, não é razão para não conversarmos. Se ele pensa diferente do Persio, não é razão para não conversarem. O fato de o Persio conversar com o Mercadante não significa que está aderindo ao Lula. Conheço o Mercadante bem. É difícil ter alguma coisa em comum entre o Persio e ele.

Diálogo entre as campanhas

Vejo uma diferença tão grande de objetivos que acho extremamente difícil uma convergência (do programa de Pastore com Lula ou Bolsonaro). Há diferenças em relação aos objetivos e aos diagnósticos. Se um médico faz um diagnóstico diferente do outro, vai dar um tratamento diferente. É difícil ter diálogo nos extremos. Isso que estamos chamando de terceira via é o pessoal que está fora dos extremos. Aí, tem diálogo.

Lula e Alckmin

Eu não conheço o Alckmin (ex-governador de São Paulo e vice na chapa de Lula). Ele esteve uma vez no CDPP (Centro de Debates de Políticas Públicas), fez uma palestra muito geral. Quando o pessoal apertou ele, saiu sem se comprometer com nada. Não sei o que ele pensa.

Sem convergências

Meu programa não tem nada a ver com a proposta (do ministro Guedes). A reforma tributária dele era a CPMF. O negócio dele era utilizar privatização para matar a dívida pública. A abertura da economia, nunca pensou. Investir em educação e distribuição de renda não é o que ele pensou.

Privatizações

Estamos propondo porque a empresa privada é mais eficiente que a pública. O que a gente quer quando propõe a privatização da Petrobras é que ela, administrada pelo setor privado, fique livre da ingerência do governo.

Futuro da indústria

O mundo estava caminhando na direção da globalização, mas a pandemia começou a criar entupimentos na cadeia global. Faltou semicondutor, parou a produção de automóveis e subiu o preço. A discussão de hoje na Europa é, ao invés de "acabou com a globalização", se diz "vou ter dois, três, quatro (países) fornecedores". Porém, ninguém está falando em fechar as economias e só produzir domesticamente. No documento, abordei esse tema. Eu digo: "O Brasil está fechado". Tem imposto sobre aço. Sabe quanto tem de imposto sobre automóveis? É um absurdo. O valor adicionado de automóveis dobra, e isso vai para o lucro da multinacional. É um nível de proteção que país nenhum tem.

Reforma Tributária

Tem de ser debatida. No Imposto sobre Bens e Serviços (previsto na reforma), há um conflito entre indústria e setor de serviços. Isso tem de ser arbitrado no Congresso. O sujeito do setor de serviço diz: "você vai aumentar o imposto para mim". Mas quem paga o imposto não é o dono da loja, é a pessoa que compra. Sabemos que a indústria tem distorções. O ICMS é pago na origem, onde o bem é produzido, e não no destino. Tem de ser cobrado no destino, temos de ter rápida recuperação dos créditos. As pessoas de renda baixa consomem mais produtos que serviços. Suponha que se fixe uma alíquota, que taxe menos os bens e mais os serviços com o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), como é no mundo inteiro. Não é mais o pobre ficar pagando uniformemente esse imposto. O deputado e o senador, que decidirão, têm de conhecer todos os argumentos para fazer uma decisão bem informada. É uma discussão que precisa ser feita, mas não se vê hoje. A discussão é a seguinte: candidato A diz "eu preciso do voto do setor de serviços", então, eu não posso mais taxá-lo.

Desonerações de Guedes

O governo tem direito de reduzir o que quiser. Só que tem de olhar para a restrição orçamentária. E essa restrição não é só de um ano. A inflação gerou um ganho anormal de receitas. Nesse momento, a arrecadação tributária cresce transitoriamente. Se o governo usar essa arrecadação transitória para gerar uma despesa permanente, aparece o déficit ali na frente. Mas, se o governo renuncia ao imposto agora e tem o corte da despesa do outro lado, não tem problema.

Pressa

Daqui a 20 anos, se eu não morrer, terei 103 anos. Estou interessado nos próximos anos. Minha taxa de desconto do futuro é muito alta. O sujeito que desconta o futuro a uma taxa alta é impaciente. A gente tem pressa e frustração de ver a velocidade na qual as coisas acontecem. Não tenho dúvida de que o Brasil vai encontrar o caminho. Mas não será fácil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Liderado pelo ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, o plano para a economia do agora assumidamente presidenciável Sérgio Moro (Podemos) terá foco no combate à pobreza, crescimento com distribuição de renda e responsabilidade fiscal. Moro postou nesta quarta, 17, nas redes sociais a foto do livro Erros do Passado, Soluções para o Futuro, de autoria do ex-presidente do BC, de 83 anos, como um recado da escolha de seu conselheiro econômico. O grupo que Pastore reuniu vê o ex-juiz e ex-ministro da Justiça do presidente Jair Bolsonaro como a "terceira via" nas eleições de 2022 e já começa a desenhar o plano econômico.

Ao Estadão, Pastore detalha o que pensa para o Brasil em 2023. Mas diz que não tem pretensão nenhuma de ser o 'Posto Ipiranga' de Moro como o ministro Paulo Guedes é de Bolsonaro.

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Por que o sr. topou ajudar Moro na candidatura à Presidência em 2022?

Moro, tanto quanto Eduardo Leite, (João) Doria, (Luiz Henrique) Mandetta e outros, está tentando construir uma terceira via que não é nem o PT e nem Bolsonaro. A ideia é ter um mapa sobre que tipo de contribuição se pode dar numa discussão na qual cada um desses pode ser o candidato. Moro julga que haja discussões muito bem feitas sobre o tipo de País que precisaria mudar do ponto de vista de retomada do crescimento econômico e distribuição de renda. É natural que procure economista. Eu o conheço há muito tempo, desde quando Cristina (a economista Maria Cristina Pinotti), minha esposa, escreveu o livro sobre Lava Jato e Mãos Limpas. O que ele quer de mim é uma contribuição do campo econômico para ver se essa terceira via se torna viável.

Por que o sr. avalia que Moro seria o candidato ideal?

Quando ele resolveu entrar para a política, começou a fazer contato comigo. Tivemos uma série de reuniões iniciais. Meu relacionamento com Moro é saber se ele concorda como meu ponto de vista e seu concordo com a visão que ele tem de como conduzir o Brasil. Esse é um projeto que me agrada. Houve absoluta concordância de como transformar o Brasil. Evidentemente, não se consegue fazer isso tudo sozinho. Outras pessoas vão colaborar. O importante não são as pessoas, mas os temas.

Quais são os temas principais?

Será preciso um arcabouço macroeconômico para refazer a responsabilidade fiscal do País. São necessárias condições para que se possa criar um programa que retome o desenvolvimento econômico e melhore a distribuição de renda dentro do País. Na promoção do desenvolvimento econômico há um conjunto de coisas que é preciso fazer. Precisamos de reformas tributárias de bens e serviços e do Imposto de Renda, criar as condições para abrir a economia brasileira ao setor externo. É importante que se dê uma correta dimensão de qual é o tamanho do Estado na economia. Eu quero gastar um tempo discutindo isso.

O sr. não pode virar o Posto Ipiranga de Moro?

Eu não tenho nenhuma pretensão de ser Posto Ipiranga de ninguém. O que eu tenho feito com o ministro Moro é expor minhas ideias e ouvir os contrapontos. Desculpa, eu não vou falar em nome dele. Ele vai falar em nome dele. Eu não tenho nenhum engajamento de dar repostas por ele. O que me anima é que ele está disposto a me ouvir. Eu vou dizer o seguinte: ele tem uma noção muito clara dos problemas econômicos e é capaz de colocar perguntas inteligentes que encaminhem a discussão para respostas que façam sentido. É uma coisa muito diferente de uma relação de economista com alguém que não entende nada e não quer entrar na discussão.

O combate à pobreza será uma questão central?

Nós estávamos começando a melhorar esse problema e fizemos o Bolsa Família, que ataca um pedaço da pobreza e condiciona a transferência de renda para que a criança vá para escola. Mas o País voltou para trás nesse campo. A pandemia provocou um efeito muito grande deixando uma quantidade de pessoas desassistidas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Para o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, os números do Produto Interno Bruto (PIB) de 2017 reforçam que o Brasil está numa trajetória de recuperação extremamente lenta. Na avaliação do economista, o resultado não trouxe surpresa. Uma aceleração do crescimento, segundo ele, vai ocorrer apenas se a agenda econômica abranger mais do que a questão previdenciária. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia o crescimento de 1% no ano passado?

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O resultado está dentro do que se esperava, mas no fundo quem projetava um crescimento de 3,5%, 3,8% para este ano vai ter uma frustração. Eu acho inatingível um crescimento de mais do que 3%. Se der um pouco menos do que 3%, também é possível. Eu espero 3%. Estamos numa trajetória de recuperação extremamente lenta. Em todas as outras recessões, houve uma recuperação relativamente rápida. Essa recessão deixou uma carga pesada.

Por que a recuperação tem sido lenta?

Está andando devagar porque o Brasil precisa fazer muito ajuste, precisa de muita reforma. Tem de ir além da reforma da Previdência. Tem de tocar a agenda de reformas microeconômicas, melhorar a eficiência e a produtividade. Tem de colocar a economia de pé de novo. Nós estamos nos recuperando, não tem nada de misterioso. Não foi frustrante esse resultado. Eu só enfatizo que é uma recuperação muito lenta em relação a qualquer outra recuperação que o Brasil já teve.

A reforma da Previdência não deve ser aprovada neste governo. Quais são, então, as consequências para a economia?

O Brasil precisa de uma reforma da Previdência. Sem ela, a equação fiscal não fecha. O próximo governo vai ter de pegar esse peão na unha e vai ter de encontrar uma forma política de fazer uma reforma bem feita.

No mercado há uma confiança de que a agenda reformista vai seguir no próximo governo. O sr. acredita nisso?

O CDS (Credit Default Swap, espécie de seguro contra o risco de calote) brasileiro está escolhendo, mas o de todos os países está encolhendo. O câmbio no Brasil valorizou, mas o câmbio de todos os países da América Latina também valorizou. Esse movimento reflete um mercado internacional extremamente favorável. Não é um voto de confiança no Brasil. É pura e simplesmente uma leniência dos investidores externos que estão sequiosos de obter retornos em países emergentes porque não estão conseguindo retornos nos países desenvolvidos.

É possível prever quando esse ciclo vai acabar?

O PIB potencial dos Estados Unidos está crescendo 2% ao ano e o PIB de fato está avançando a 3%. O hiato do PIB, que era negativo lá atrás, no período da recessão, é positivo hoje. Os EUA aceleraram o crescimento econômico. O presidente Donald Trump fez aprovar no Congresso uma lei que reduz o imposto para empresas. Isso estimula um crescimento mais rápido e já há um estímulo monetário que está gerando um crescimento acima do potencial. Com o estímulo fiscal, todo esse negócio deve aparecer lentamente na inflação.

Os juros podem subir mais rápido nos EUA, então?

Há alguns meses o mercado olhava e dizia que, talvez, o Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano) suba duas vezes o juro em 25 (pontos-base), agora são três ou quatro altas de 25. Quando for olhar lá na frente, daqui a pouco, vai aparecer uma quinta de 25 pontos. A tendência nos Estados Unidos é de ir lentamente para juros mais altos. Esse negócio vai mudando o quadro. Isso é muito bom porque o mundo está crescendo mais depressa, mas tem o efeito de subida de juros lá dentro que muda um pouco esse quadro de leniência dos investidores externos com relação a ativos de países emergentes.

O impacto para a economia brasileira vai depender se a agenda de reformas for adiante?

Se for eleito um presidente que continue essa agenda de reformas, com uma equipe econômica boa, com o mesmo Banco Central, com gente desse tipo, eu acho que o problema externo é superado. Agora, se não tiver agenda de reformas, o risco percebido é mais alto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar das comemorações do presidente Michel Temer e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que a alta do PIB após oito trimestres seguidos no vermelho crava o fim da recessão que o País atravessa, economistas ponderam que o resultado deve ser analisado com cautela e que ainda é cedo para comemorar. Segundo o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e membro do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da FGV, que estabeleceu oficialmente o início da atual crise econômica no segundo trimestre de 2014, é "extremamente prematuro" analisar o resultado como evidência para o fim desse ciclo, tanto sob o ponto de vista técnico quanto em uma análise mais ampla do cenário econômico. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Em termos técnicos, é possível afirmar que o PIB positivo deste trimestre, que interrompe um longo ciclo de contração, crava o fim da recessão?

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Para dizer que acabou a recessão, o Codace tem de se reunir e verificar se existem ou não dois trimestres consecutivos de crescimento, que é o critério adotado. Se crescer também o PIB do segundo trimestre, aí você decreta o fim da recessão no último trimestre de queda - que, no caso, seria o quarto trimestre de 2016. Agora, se no segundo trimestre de 2017 o PIB voltar a cair, o Codace não tem condições de decretar o fim do processo recessivo. Mas, para além do PIB, é preciso avaliar todos os indicadores econômicos. Uma coisa é certa: é muito cedo ainda para decretar o fim da recessão.

Por quê?

No resultado do primeiro trimestre, nós tivemos um crescimento do PIB da agricultura que é o maior da história. Sem ele, o PIB não teria subido 1%, mas sim 0,2%. Isso não irá se repetir no segundo trimestre, de forma que essa força desaparece. O crescimento do PIB da indústria não é uma recuperação, é apenas um carry over (espécie de herança estatística) do dado de dezembro. A boa notícia da indústria é que ela parou de cair, está estável, mas ainda não mostrou tendência de crescimento. Outra notícia muito negativa é a queda da Formação Bruta de Capital Fixo, que mostra que a economia não está investindo. E, sem investimento, não há crescimento.

Há alguma boa notícia?

Uma notícia que pode ser considerada positiva é a redução do ritmo de queda do consumo. Neste trimestre, tivemos um PIB positivo e o consumo ainda contraiu. Porém, trimestre após trimestre o consumo das famílias vem caindo menos do que no período anterior.

Quais as perspectivas para o resultado do segundo trimestre?

No PIB, você olha para trás - o que aconteceu no trimestre passado. Para saber se acabou a recessão ou não, porém, você tem de olhar para os indicadores do segundo trimestre que já existem, como produção industrial, vendas reais do comércio e os indicadores mensais que o IBGE publica e são utilizados como base para o cálculo do PIB. E todos mostram ainda uma economia ainda muito fraca. Há, portanto, um risco grande de que haja queda do PIB no segundo trimestre. Então, o ponto central dessa história é que afirmar que acabou a recessão é no mínimo uma coisa extremamente prematura.

Qual deve ser o impacto da crise política que vive o governo no resultado do PIB de 2017?

Olha, é muito simples: se a crise política for resolvida, o impacto é menor; se não for resolvida, o impacto é maior.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A economia brasileira registrará uma contração de 3,7% a 4,0% em 2015 e, no ano seguinte, o Produto Interno Bruto (PIB) deve perder entre 2,5% e 3,5%, afirmou Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e sócio da A.C.Pastore & Associados. O economista disse que o PIB deve ter retração novamente no quarto trimestre deste ano e, depois, ao menos mais dois trimestres em baixa. "Quando isso tiver terminado, as pessoas vão descobrir que essa foi a maior recessão da história do País e mais profunda que a de 2008", acrescentou.

"Estamos numa crise profunda de natureza dupla: econômica, que tem componente fiscal gigantesco, e política, na qual foi perdida a condição de governabilidade", disse o economista em evento do Fiabci-Brasil e do Secovi-SP. "O governo não tem vontade de fazer as reformas, talvez por inclinação ideológica, e foi perdendo o suporte político para conduzi-las. Isso deixa uma perspectiva de crescimento muito ruim", afirmou.

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O economista apontou que a recessão começou no segundo trimestre de 2014, quase um ano antes de o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, começar o atual ajuste fiscal. "A recessão brasileira não é causada pelo ajuste fiscal, ela tem causas anteriores", afirmou o economista. Entre os motivos para a situação atual, Pastore citou o enfraquecimento da confiança e o aumento da sensação de risco, com consequente alta de juros pelos bancos e restrição de investimentos nas empresas.

De acordo com dados publicados pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB brasileiro recuou 1,7% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre deste ano. Na comparação com o terceiro trimestre de 2014, o PIB recuou 4,5%.

O economista disse que a crise econômica atual é derivada, em parte, do fator externo, como o fim do boom das commodities, embora o grande motivo das dificuldades atuais sejam internas. "A crise que temos hoje no Brasil é interna, mas há também um componente externo: o fim a bonança. Vivemos alguns anos com preços de commodities em alta, favorecendo fartamente o crescimento do Brasil. Mas esse período se esgotou", disse, repetindo declarações recentes de Levy. "Os preços das commodities estão caindo e não temos mais esse impulso externo", completou.

Desequilíbrio fiscal

Para o Affonso Celso Pastore, o desequilíbrio fiscal, com crescimento da dívida pública, é a principal fonte da crise atual. Ao citar as chamadas pedaladas fiscais, o economista disse que as manobras do governo para "tentar fazer o PIB crescer a fórceps" fizeram com que a dívida bruta tivesse forte elevação.

Diante desse problema, o economista apontou que o governo tem buscado, com recessão e queda da receita tributária, encontrar receita não recorrente, como a repatriação de recursos de brasileiros no exterior não declarados ao Fisco. Outro esforço do governo, lembrado pelo economista é a tentativa de recriar a CPMF. No entanto, por causa da falta de apoio político, o ex-presidente do Banco Central mostrou ceticismo com a aprovação da medida.

"Daqui para frente, ou corta-se gastos e aplicam-se reformas, ou não tem como conseguir equilíbrio" das contas públicas, disse o economista. "Tivemos cortes de gastos neste ano concentrados inteiramente em investimentos públicos. Mas não é possível cortar INSS", ponderou, ao criticar as regras da previdência. "Não deveria ter um salário mínimo indexado do jeito que há no Brasil", acrescentou.

"É preciso aplicar reformas, que requerem vontade de fazer e apoio político. O governo não tem nenhum dos dois", disse. "Com isso, o risco de insolvência do governo cresce", elevando o Credit Default Swap (CDS), que já se afastou do México, que tem grau de investimento, afirmou ao apontar que esta espécie de seguro contra calote já está em cerca de 450 pontos.

Para o economista, o governo teria de mudar o regime de política econômica e realizar reformas que alterem "radicalmente" o regime fiscal, como na previdência, nos salários e no ICMS. "Teria de fazer uma abertura da economia para o setor externo e criar regras que reduzem risco de investimento em infraestrutura, cujo financiamento só pode ser feito pelo setor privado, porque o governo não tem mais dinheiro", disse. Além disso, seria preciso abandonar a ideia de que a fonte de crescimento vem de gastos públicos e que "tudo se resolve com expansão de crédito".

"A crise econômica está se agravando porque a crise política minou a governabilidade", afirmou o economista, ao indicar que a disputa com o Congresso tem travado as tentativas de reforma. "O problema fiscal continua se agravando e daqui a pouco o Brasil perde o grau de investimento", acrescentou. Para ele, não é difícil pensar em um governo transitório, frente às dificuldades atuais, pois com a piora da economia há também uma deterioração da situação do governo, abrindo caminho para pressão de impedimento da presidente Dilma Roussef.

"Se vai ter impeachment ou não, eu não sei. Mas se não tivermos uma mudança de governo, para resolver a governabilidade, não saímos desse problema", disse.

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