Mais de 100.000 pessoas aclamaram neste domingo na Praça de São Pedro do Vaticano o Papa Francisco, que celebrou o primeiro Angelus de seu pontificado, no qual insistiu na necessidade da misericórdia e do perdão para um mundo mais justo.
"Irmãos e irmãs, bom-dia", foram as primeiras palavras do Papa argentino Jorge Bergoglio, que escolheu o nome Francisco, ao aparecer de batina branca e com uma cruz de ferro, enquanto os católicos agitavam bandeiras de dezenas de países na imensa esplanada situada no coração do Vaticano.
"Para nós cristãos é importante encontrar-nos todos os domingos, saudar-nos, conversamos em uma praça que, graças aos meios de comunicação, tem as dimensões do mundo", disse em uma nova demonstração da proximidade com os fiéis que marcou o início de seu pontificado.
"Deus perdoa sempre e tem misericórdia para todos", disse, antes de insistir: Deus "nunca se cansa de perdoar, somos nós os que cansamos de pedir perdão", repetindo a mesma mensagem de uma missa celebrada poucos minutos antes na capela de Santa Ana, dentro dos muros do Vaticano.
"Saúdo cordialmente todos os peregrinos e agradeço por sua acolhida", afirmou, antes de receber mais aplausos.
"Um pouco de misericórdia faz o mundo menos frio e mais justo", disse o pontífice.
"Já pensaram na paciência de Deus, a paciência que tem com cada um de nós?", completou o Papa argentino.
Também recordou um episódio de quando era bispo em Buenos Aires, em 1992, quando, após uma missa em homenagem à Virgem de Fátima, uma idosa o abordou e disse: "Se o Senhor não perdoasse a todos, o mundo não existiria".
Surpreso, o atual Papa perguntou "'Mas diga-me senhora, estudou na Universidade Gregoriana?" (a universidade de Roma onde muitos Papas se formaram), completou Francisco, em mais uma demonstração de seu senso de humor.
O Papa voltou a pedir aos fiéis que rezem por ele, como havia feito na quarta-feira, dia em que foi proclamado pontífice. Ele encerrou o Angelus com o desejo de "bom domingo e bom almoço", com a simplicidade que caracteriza os primeiros dias de seu comando da Igreja Católica.
"Sinto uma emoção indescritível. Vai trazer muita paz porque é muito humilde, muito espontâneo. Você sente que é mais próximo das pessoas. Com o Papa anterior não se sentia isto", disse Gabriel Solís, um argentino de 33 anos, que, como milhares de compatriotas, assistiu a segunda aparição pública do pontífice eleito após a renúncia de Bento XVI.
"Precisávamos de um Papa que tivesse outro carisma", afirmou Sor Luisa, jovem religiosa chilena de Santa Marta, que exibia a bandeira de seu país.
Personalidades de todo o mundo já estão chegando a Roma para acompanhar a grande missa de entronização da próxima terça-feira, dia de São José, incluindo as presidentes da Argentina e do Brasil, além dos líderes do Chile e México, assim como representantes dos Estados Unidos e das casas reais europeias.
A presidente argentina Cristina Kirchner terá uma audiência com o Papa na segunda-feira às 12H50 (8H50 de Brasília) na Casa Santa Marta, onde o Papa residirá até a mudança para o apartamento pontifício do Palácio Apostólico.
As autoridades de Roma esperam a presença de um milhão de pessoas na cidade, onde já são vendidos os primeiros objetos com a imagem de Francisco.
Jorge Bergoglio, de 76 anos, que escolheu o nome Francisco em homenagem ao santo dos pobres São Francisco de Assis, oficiou durante a manhã uma missa em uma pequena igreja do Vaticano e saudou pessoalmente as centenas de pessoas reunidas na saída do templo e que gritavam "Viva o Papa".
Desde sua eleição, o primeiro Papa latino-americano da história tem surpreendido com improvisos e com seu senso de humor, deixando de lado em alguns momentos o roteiro e saudando com carinho as pessoas que aparecem em seu caminho, o que tem sido interpretado como o início de uma nova era para uma Igreja desacreditada por vários escândalos.
No sábado, diante dos jornalistas credenciados no Vaticano, expressou o desejo de uma "Igreja pobre e para os pobres".
Uma das primeiras reformas que Francisco deve organizar é a da Cúria romana, o governo da Igreja, criticado por sua opacidade e centralismo.
O Papa confirmou "provisoriamente" os dirigentes de todos dicastérios, os ministérios da Igreja Católica, para ter tempo antes de tomar uma decisão sobre os cargos, anunciou o Vaticano.
Analistas acreditam que Francisco adiará a questão, que foi debatida nas congregações prévias ao conclave, para depois da Semana Santa, o momento mais intenso do ano para o Papa.
Em 23 de março, véspera do domingo de Ramos, o Papa visitará Bento XVI, com quem almoçará em Castelgandolfo, a residência papal a 30 km de Roma onde o Papa emérito se instalou temporariamente desde sua renúncia, em 28 de fevereiro.