Tópicos | Carlos Miranda

Os bens mais valiosos da lista de itens apreendidos na Operação Lava Jato, no Rio de Janeiro, postos em leilão, hoje (4), não tiveram compradores. Nesta primeira fase do certame, que ocorreu no prédio da Justiça Federal, havia lanchas, carros de luxo e propriedades pertencentes ao empresário Eike Batista, ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral e ao economista Carlos Miranda.

O valor arrecadado ficou em R$ 90,5 mil. Dos dez bens disponibilizados, foram vendidos o jetboat Thorolin, com lance inicial de R$ 47 mil e arrematado por esse valor. Já o jet ski Spirit of Brazil X, com lance de R$ 42 mil alcançou R$ 43,5 mil.

##RECOMENDA##

Outros bens de Eike Batista não tiveram interessados. A embarcação Intermarine 680 Spirit of Brazil, avaliada em R$ 3,5 milhões; o Lamborghini Aventador, branco, avaliado em R$ 2,24 milhões e o jet ski Spirit of Brazil IX, avaliado em R$ 52 mil. Embora não tenha recebido oferta de compra, o Lamborghini foi o item que teve o maior número de visitas (2.646), seguido da lancha de Cabral (2.353) e da embarcação de Eike (2.176).

A lista tinha ainda a lancha Ferretti 80 Luxury, de 80 pés, batizada com o nome de Manhattan Rio, que tem propriedade atribuída ao ex-governador, foi oferecida por R$ 2,95 milhões, e a fazenda Três Irmãos, em Paraíba do Sul, de Carlos Miranda, avaliada em R$ 3 milhões. Esses itens também não foram arrematados.

Também fazem parte dos lotes não vendidos um apartamento em Jacarepaguá, zona oeste no Rio, pertencente a Ary Ferreira da Costa Filho, apontado como operador de Sérgio Cabral; dois automóveis, sendo um Pajero e um Peugeot 206, de Luiz Carlos Bezerra, indicado também como receptor de propinas do ex-governador.

O leilão foi autorizado pelo juiz titular da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro. Os itens que não foram arrematados voltarão a ser oferecidos na segunda fase do leilão, marcada para o dia 18. Dessa vez os valores terão descontos de 20%. O leiloeiro Renato Guedes, disse que, em geral, os interessados preferem apresentar os lances na segunda etapa para comprar com preços mais baixos.

 

Preso há dois anos, Carlos Miranda, operador financeiro confesso do esquema de corrupção atribuído ao ex-governador Sergio Cabral (MDB), e seu delator, foi libertado neste domingo, 18, para cumprir prisão domiciliar. No sábado, 17, a prisão de Cabral completou também dois anos. Ele já foi condenado a mais de um século de prisão por crimes como corrupção, organização criminosa, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

A expectativa da defesa era de que Miranda saísse da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na sexta-feira, 16. Mas houve problemas burocráticos e a liberação atrasou. Apelidado de "o homem da mala de Cabral", função que desempenhou no primeiro mandato do ex-governador (2007-2010), Miranda conseguiu redução de pena por colaborar com a Justiça. Suas revelações, consideradas essenciais para se desvelar toda a estrutura criminosa, são refutadas pela defesa do ex-governador.

##RECOMENDA##

Responsável pela contabilidade de repasses escusos, conforme sua delação, Miranda deu detalhes sobre como funcionava a cobrança, o recolhimento e a distribuição da propina; revelou, por exemplo, como se deram os permanentes pagamentos feitos por empreiteiras que realizaram obras de vulto no Estado, os "mensalinhos" a deputados estaduais da base de apoio a Cabral e a compra de votos para que a cidade do Rio fosse escolhida sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Ele assinou acordo de colaboração premiada ano passado. Amigo de juventude de Cabral, Miranda foi casado com uma prima dele. Usava mochilas para recolher propinas nas sedes das empresas, pagava contas, comprava joias em joalherias de luxo e chegou a preparar declarações de Imposto de Renda de Cabral e parentes, ainda de acordo com as investigações. Uma empresa aberta por ele era usada para lavagem do dinheiro.

Cabral foi governador entre 2007 e 2014, período em que foi movimentado cerca de R$ 1 bilhão em propinas oriundas de contratos do Estado em áreas como transportes, obras e saúde, conforme a Procuradoria da República. Ele admite que ficou com caixa dois de campanha para si, mas nega ser corrupto.

O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), se ocupou nesta quinta-feira, 7, de desmentir os depoimentos de seus operadores, em audiência hoje para a 7ª Vara Federal Criminal. Ele afirmou que Carlos Miranda, apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) por ser o seu "homem da mala", guarda ressentimentos por nunca ter passado um fim de semana em sua casa em Mangaratiba e por nunca tê-lo levada para trabalhar no governo.

Nesta quinta-feira, Miranda, que fechou delação premiada, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), admitiu que participou do esquema de propina do ex-governador. Cabral negou a informação e disse que o serviço de Miranda "era dar apoio a pagamentos a familiares e pegar recursos de campanha".

##RECOMENDA##

"Não tinha intimidade nenhuma com Carlos Miranda. Não ia com ele para lugar nenhum, achava ele um sujeito sem graça. Ele nunca passou final de semana em Mangaratiba". "Eu quero que ele mostre a materialidade disso (das denúncias). Ele não tem documento nenhum, é só o falar", afirmou.

Cabral também atribuiu as confissões de Miranda a transtornos psicológicos. "Ele não está aguentando a prisão, as três sentenças que ganhou. Ele vivia deprimido, chegou a receber visita de psiquiatra, não estava bem. Tomou carona nos depoimentos do Cavendish (Fernando Cavendish, da Delta). "Chega a dar pena dele ao inventar essa história", disse.

Já as informações do operador Luiz Bezerra, Cabral atribuiu ao alcoolismo e a limitações intelectuais. "Bezerra veio de uma família humilde, foi praticamente criado na minha casa. Era uma pessoa com limitações intelectuais e acadêmicas. Eu sempre ajudei ele (sic), como no tratamento do seu filho, arrumei emprego para o irmão dele", disse.

O ex-governador também criticou o MPF. "Se o MPF trabalhar para que a pessoa confirme a sua versão, ele vai adaptando a realidade ao MPF. Suas anotações (do Bezerra) não tem lé com cré", disse. "Bezerra tinha algumas características como beber muito, houve até agressões verbais à mulher que eu tive que interferir para dar um basta. É uma pessoa que já de manhã estava alcoolizado", acrescentou.

Interrogado nesta quinta-feira, 7, na 7ª Vara Federal Criminal como delator, o principal operador do suposto esquema de corrupção chefiado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho (PMDB), Carlos Miranda, confirmou que empresas contratadas pelo Estado pagavam 5% por contrato à organização criminosa do peemedebista. Ele também confirmou a afirmação do empresário Fernando Cavendish, da Delta Construções, de que abateu o valor de um anel comprado para a ex-primeira dama do Estado, Adriana Ancelmo - cerca de R$ 800 mil - de propina repassada a Cabral.

"Fernando Cavendish me informou que tinha esse gasto para ser descontado desta propina e eu fiz a contabilidade desse valor", disse o novo delator ao juiz Marcelo Bretas. Miranda fechou delação com o Ministério Público Federal (MPF), homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi divulgada pela defesa do próprio delator durante o depoimento.

##RECOMENDA##

O operador também explicou o papel de cada um dos integrantes do esquema. Ele disse que Luiz Bezerra atuava como seu funcionário e passou a fazer o recolhimento de dinheiro vivo, de acordo com as suas ordens, depois que o seu nome apareceu na operação Castelo de Areia, em 2010. A orientação teria partido do próprio Cabral.

"Bezerra trabalhava para mim, recolhia o dinheiro vivo e fazia os pagamentos que eu determinava que ele fizesse. Em 2010, com a operação Castelo de Areia, saiu meu nome e, por orientação do Sérgio, ele me pediu para que eu evitasse ir até as empresas para trazer o dinheiro. Foi quando o Bezerra começou a trabalhar comigo, fazendo esse trabalho", disse.

Miranda acrescentou que a pessoa referida como "Cabra Macho" na tabela de contabilidade das propinas era Sérgio Cabral. Além disso, que empresas também fizeram contribuições visando interesses em alguma legislação estadual. O operador também afirmou que o então secretário da Casa Civil de Cabral, Regis Fichtner, recebia propinas em parcelas de R$ 50 e R$ 150 mil.

Miranda tem laços fortes com o ex-governador. Ele já foi assessor parlamentar de Cabral, sócio em uma empresa ligada à sua família e casou-se com uma prima em primeiro grau do ex-governador. Segundo apontou o MPF, depoimentos apontaram Miranda como a pessoa a quem Sérgio Cabral confiou a coleta e transporte dos valores de propina exigidos das empreiteiras.

A reportagem ainda não conseguiu ouvir as defesas de Cabral e Régis Fichtner.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando