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A saga judicial-financeira do ex-bilionário Eike Batista pode estar mais perto de um fim. Nesta terça-feira (16), devem ser conhecidas as propostas por um lote de debêntures da Anglo American, grupo britânico que comprou o projeto de mineração Minas-Rio, da mineradora MMX, de Eike, em 2008. Esses títulos foram ‘descobertos’ dentro do emaranhado de companhias criadas pelo empresário antes de sua derrocada. O lance mínimo é de R$ 1,25 bilhão, dinheiro que seria suficiente para quitar boa parte dos débitos remanescentes - o empresário informou este ano ter recebido oferta de quase R$ 2 bilhões pelos papéis. Dois fundos internacionais, o Oaktree e o Vox Royalty, e o BTG Pactual estão na disputa, segundo revelou a Coluna do Broadcast no último dia 9.

As maiores dívidas conhecidas de Eike somam algo perto de R$ 2 bilhões - sendo R$ 1,2 bilhão da falência da MMX e cerca de R$ 800 milhões do acordo de delação fechado no Supremo Tribunal Federal no âmbito da Operação Lava Jato. Há ainda uma certa incerteza em relação ao passivo tributário. A União cobra R$ 3,5 bilhões da MMX, mas esse débito é passível de recurso e não tem prazo para ser pago.

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Vender as debêntures para quitar as dívidas, porém, não está sendo fácil. Um processo de venda, de dezembro do ano passado, foi suspenso. Este ano, novos leilões judiciais foram convocados. Os títulos estavam no patrimônio da NB4, elo da "cadeia" de firmas usada por Eike para gerir seus bens. Foram localizados pela Associação Brasileira de Investidores (Abradin), cuja origem remonta às primeiras mobilizações de acionistas minoritários lesados pela derrocada do Grupo X e que foi aceita como parte interessada no processo que buscou o patrimônio pessoal de Eike na falência da MMX, segundo Aurélio Valporto, presidente da entidade.

"Começamos a baixar tudo quanto é documento que tinha na Junta Comercial (do Rio)", diz Valporto, lembrando do trabalho de busca por ativos em empresas ligadas a Eike, no início de 2021. "Não conseguíamos achar nada. Até que deu um estalo e falamos: poxa, vamos procurar no emissor. Aí, conseguimos achar a escritura da debênture. Quando fizemos o primeiro ‘valuation’ (avaliação do valor de determinado ativo) da debênture, falei: isso aqui vale centenas de milhões e o cara estava escondendo!"

Como o ativo é valioso, a descoberta causou uma reviravolta na novela. Na disputa de interesses conflitantes, o empresário falido sempre tende a preferir que nada do patrimônio pessoal entre no processo. Uma vez que algo entra, é de seu interesse que seja vendido por preço elevado o suficiente não só para pagar as dívidas, mas, quem sabe?, para sobrar algo para si. Aos credores, interessa recuperar as perdas. Portanto, basta que o ativo seja vendido pelo equivalente às dívidas - eles nada ganham com valores além. Assessores financeiros, administradores judiciais e demais intermediários ganham um porcentual das operações de venda - para eles, quanto maiores os valores, maiores os honorários, que podem chegar a milhões, no caso da MMX.

Com o aval da juíza Cláudia Helena Batista, da 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte, o administrador judicial Bernardo Bicalho vem tocando a venda das debêntures desde o ano passado. Em dezembro, organizou um "processo competitivo" para encontrar um comprador. A proposta vencedora, de R$ 612 milhões, foi da Argenta Securities, offshore sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. O valor é inferior ao total das dívidas, mas, em processos do tipo, é normal os credores aceitarem menos, desde que vejam logo a cor do dinheiro.

Rei das quentinhas

Só que a proposta da Argenta não foi concretizada. A offshore se apresenta como empresa de investimentos. Segundo uma fonte ouvida sob condição do anonimato e documentos, a Argenta pertence à família de Jair Coelho, empresário falecido em 2001 - que ficou conhecido no Rio, no fim dos anos 1990, como o "Rei das Quentinhas", por dominar o fornecimento de refeições para órgãos públicos, com destaque para os presídios fluminenses, e enfrentou acusações de superfaturamento e sonegação fiscal. Jorge Antônio da Cunha Lima Coelho, filho de Jair, assina em nome da Argenta. Um processo de 2021 que corre no TJ-RJ, e tem o espólio do empresário como parte, cita a Argenta como "empresa de propriedade" de Jair Coelho.

Em mais uma reviravolta, neste ano, uma manifestação de Eike e de novos assessores financeiros do empresário pediu que uma nova operação de venda fosse realizada. O motivo: o empresário havia recebido uma proposta para vender as debêntures por US$ 350 milhões, entre R$ 1,8 bilhão e R$ 1,9 bilhão, dependendo da taxa de câmbio, acima, portanto, da proposta da Argenta. A juíza acatou o pedido e, no fim de maio, determinou a realização de um leilão judicial. A proposta de US$ 350 milhões entrou como lance mínimo, segundo o edital do leilão.

A Argenta acionou a 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte para impedir a convocação do certame. Para reforçar que o pagamento dos R$ 612 milhões estaria seguindo os procedimentos conformes, os advogados da empresa anexaram uma carta-compromisso de investidores americanos, que teriam patrimônio sob gestão de cerca de US$ 60 bilhões e estariam dispostos a investir nos papéis.

Na carta, o Grupo DiFalco - sediado em Miami, se define como "firma de investimentos" que opera com "private equity" nos Estados Unidos, no Brasil e na Argentina - se apresenta como coinvestidor; os fundos CarVal Investors e Arena Investors, como financiadores.

Não deu certo. A 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte manteve o leilão. Um recurso aos desembargadores do TJ-MG não foi aceito. Mesmo assim, na interpretação da Argenta, caso não haja lances firmes no segundo leilão convocado em julho, o processo de venda de dezembro pode ser retomado, o que garantiria à offshore o direito de levar as debêntures por R$ 612 milhões.

Ofertas nebulosas

Para deixar tudo mais nebuloso, conforme documentos do processo, a oferta de US$ 350 milhões, que suscitou a convocação do primeiro leilão, foi feita por uma empresa chamada RC Group. A colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, revelou que a firma pertence a Renato Costa, empresário brasileiro radicado nos Estados Unidos e que responderia a pelo menos 18 processos no Brasil, inclusive por passar "cheques sem fundos" e sumir com um carro alugado.

Ao término do primeiro leilão, no início de julho, a RC Group não deu as garantias de que faria o pagamento. Para alguns, lembrou o acordo, anunciado em março de 2021, da MMX com a China Development Integration Limited (CDIL). O investidor chinês estaria disposto a aportar US$ 50 milhões na empresa, mas nunca deu garantias de que faria o investimento de fato - mesmo assim, a apresentação da proposta atrasou o processo de falência. Segundo uma fonte que pediu anonimato, assim como no caso da CDIL, a proposta do RC Group não era "firme".

Para essa pessoa, apenas diante da conclusão definitiva dos leilões judiciais será possível enxergar melhor se a saga de Eike poderá mesmo se aproximar do fim. As debêntures da Anglo são um "ativo muito bom", disse a fonte, mas os valores são elevados - no Brasil, só "cinco fundos" teriam recursos suficientes para fazer esse tipo de operação.

Antes do fracasso do primeiro leilão, o presidente do banco de investimentos BR Partners, Ricardo Lacerda, nomeado assessor financeiro para a operação, disse ao Estadão que havia apresentado os títulos a 43 investidores em potencial até meados de junho. No início de junho, o executivo avaliou que seria possível vender os títulos por cerca de US$ 500 milhões, R$ 2,7 bilhões pelo câmbio médio de julho.

As regras do edital do segundo leilão são mais rígidas, incluindo uma lista de critérios para que os proponentes comprovem sua capacidade financeira. Antes de entregar as propostas, em envelopes lacrados, tinham que ser habilitados. A audiência de terça-feira, 16, para abrir os envelopes, será virtual, por meio da plataforma on-line do TJ-MG, segundo uma fonte. No caso de empate de valores, poderá haver pregão com disputa em viva voz, lance a lance, segundo o edital.

Do auge - quando chegou a ser considerado a sétima pessoa mais rica do mundo, em 2012, com fortuna avaliada em US$ 34,5 bilhões - ao fundo do poço - após virar alvo da Operação Lava Jato, ser condenado por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e manipulação de mercado, ser preso e firmar acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) -, Eike Batista deixou um rastro de dívidas bilionárias, mesmo que se pondere que alguns negócios deram certo, nas mãos de outros donos.

Diante das dívidas, buscar a proteção contra credores, pedindo recuperação judicial, foi o caminho natural, iniciado em 2013. A petroleira OGX - criada, nos planos faraônicos de Eike, para ser uma "mini-Petrobras" - puxou a fila, já que foi a primeira a não entregar o desempenho prometido. Foi seguida pelo estaleiro OSX e a mineradora MMX.

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Os pedidos de recuperação judicial do conglomerado se destacaram pelo tamanho das dívidas, colocando à prova a então recente Lei de Falências, aprovada em 2005. Alguns processos permitiram a reestruturação de parte dos débitos. O caso da OGX, por exemplo, serviu de modelo para situações que envolvem empresas e credores sediados no exterior, diz Juliana Bumachar, sócia do escritório Bumachar Advogados Associados.

Outros processos se arrastaram. É o caso da mineradora MMX, criada para ser uma "mini-Vale" e protagonista dos últimos capítulos da novela de Eike. O pedido de recuperação judicial da empresa já começou complicado. Em parte por causa do emaranhado de firmas por trás da composição acionária, típico no Grupo X. A companhia entrou com dois processos no Judiciário, que correm em paralelo, um no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), outro no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).

Nos dois, o grupo minerador teve a falência decretada. As dívidas somam em torno de R$ 1,2 bilhão no processo de Minas, segundo o administrador judicial, Bernardo Bicalho. O valor do processo do Rio é menor, mas eles se sobrepõem, já que as dívidas são praticamente as mesmas - a operadora ferroviária MRS Logística é quem tem mais a receber. O objetivo, agora, é levantar o máximo de recursos com o leilão de debêntures que será realizado nesta terça-feira, 16, para pagar os credores.

Interesses conflitantes

Nos processos das empresas do Grupo X, as polêmicas já tradicionais em processos de falência são turbinadas pela personalidade icônica e midiática de Eike. O processo da MMX no TJ-MG se destacou porque, em maio 2017, o administrador judicial conseguiu autorização para "desconsiderar a personalidade jurídica" da mineradora. Em outras palavras, o TJ-MG autorizou que bens do patrimônio pessoal de Eike e de outras empresas pelas quais o empresário detinha sua participação na companhia fossem incluídos no processo, servindo para, uma vez vendidos, ressarcir os credores.

De acordo com Bumachar, essa saída tem sido mais usada nos processos de recuperação judicial. A atualização da Lei de Falências, aprovada em dezembro de 2020, deixou mais clara a possibilidade de fazer esse acesso ao patrimônio pessoal dos sócios das empresas. A ideia é que, se o dono de uma empresa usa a pessoa jurídica de forma abusiva ou fraudulenta, a segregação legal que existe entre a pessoa física do empresário e a jurídica da firma é "desconsiderada", trazendo para o processo o patrimônio pessoal.

O acesso ao patrimônio pessoal de Eike se combinou a um esforço de localização de ativos. Ainda conforme Bumachar, esse trabalho tem se sofisticado nestes pouco mais de 15 anos da legislação, com prestadores de serviços se especializando na procura de bens que possam ter sido desviados das empresas num contexto de pedido de recuperação.

No emaranhado de firmas que o ex-bilionário usa para gerir seus bens - ou ocultá-los, dependendo de quem conta a estória - foi encontrado um lote de "debêntures participativas", título de dívida com características financeiras especiais, da mineradora britânica Anglo American, uma das gigantes do setor no mundo, que disputa com a Vale, a BHB Billiton e a Rio Tinto.

Os papéis são da subsidiária brasileira da Anglo que toca o projeto Minas-Rio, complexo de produção de minério de ferro. Em 2008, a mineradora britânica desembolsou US$ 5,5 bilhões para comprar o projeto desenvolvido pela MMX, que inclui uma mina, em Conceição do Mato Dentro (MG), um mineroduto e um terminal exportador no Porto do Açu, litoral norte do Rio. O projeto deu muita dor de cabeça para a Anglo, até começar a produzir, com anos de atraso.

Segundo informações do jornal Extra, em uma das cenas do longa-metragem “Tudo ou Nada”, que conta a história do famoso empresário Eike Batista, a Carol Castro, atriz que interpretará a Luma de Oliveira, reproduziu a penúltima das cinco capas que Luma fez para a revista Playboy.

A cena em questão, foi inspirada no ensaio que Luma fez para a revista em maio de 2001, que acabou gerando uma crise entre a modelo e Eike Batista, seu marido na época. A modelo teve que convencer o empresário para que pudesse posar nua novamente.

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Apenas dois anos antes desse acontecido, outro ensaio tinha sido cancelado depois que Eike pagou 20% do valor do cachê que a mulher receberia da revista.

O filme, que retrata como aconteceu a ascensão e a queda de Eike Batista, famoso por seus escândalos, perda da fortuna e do poder, tem previsão para estrear em 22 de setembro de 2022.

A Justiça Federal no Rio de Janeiro determinou o bloqueio de bens do empresário Eike Batista até o limite de R$ 3.622.491.046,40. A decisão da juíza Bianca Stamato Fernandes, da 5ª Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro, atende a pedido da Fazenda Nacional no processo de falência da MMX Mineração e Metálicos, empresa que atua na mineração de minério de ferro. A falência foi decretada em maio do ano passado.

O valor definido corresponde à dívida da empresa, atualizada no início do mês. A defesa tem o prazo de 30 dias para recorrer. A decisão traz a data do dia 20, mas foi divulgada ontem (23).

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No ano passado, o empresário Eike Batista foi condenado a 11 anos de prisão por crimes contra o mercado financeiro. Ele já foi preso duas vezes em operações da Lava Jato por manipulação de bolsas de valores no Brasil, Canadá, Estados Unidos e Irlanda, além de uso de informação privilegiada para fraudar o mercado de capitais.

Aos 64 anos de idade, o empresário Eike Batista será pai pela quarta vez. O anúncio foi feito por sua esposa, Flavia Sampaio, com quem compartilha a paternidade de Baldin, de 8 anos.

Na publicação, a empresária expressa felicidade com a notícia. “8 anos depois… vivendo de novo a maior felicidade do mundo. E com a benção e tamanha felicidade dele, Balder, tudo se tornou ainda mais especial nesse momento. A coisa que ele mais gosta de contar a todos: ‘Minha mamãe está grávida, você sabia?!’ Amo vocês”, escreveu para os seguidores.

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O empresário também é pai de Thor Batista, de 29 anos, e Olin, de 25, que nasceram do seu casamento com a ex-rainha de bateria Luma de Oliveira.

 

Documentos revelados pela Pandora Papers, nesse domingo (3), mostram que 66 dos maiores devedores brasileiros de impostos mantêm offshores com milhões depositados em paraísos fiscais. Os dados são levantados e investigados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Segundo informações do Metrópoles, os débitos desses devedores com a União chegam a R$ 16,6 bilhões. Dentre os mencionados, na lista que ultrapassa 300 empresários e políticos do mundo todo, estão Eike Batista, o ministro da Economia Paulo Guedes, o inventário do ex-deputado José Janene, estrela do Mensalão e morto em 2010. Há também figuras não-públicas, mas que já estiveram envolvidas em esquemas de corrupção investigados pela Polícia Federal em algum momento. 

Empresas “offshore” (“fora da costa”, do inglês) são empresas e contas bancárias abertas em territórios onde há menor tributação para fins lícitos. Ter dinheiro fora do país ou ser dono de offshores não é crime no Brasil, se informado à Receita Federal, mas a tática é comumente usada para driblar tributações e esconder dinheiro ilícito. Geralmente, os paraísos fiscais são boas opções, também, por estarem em território cujo sigilo bancário é rígido, dificultando um possível rastreio do dinheiro depositado. Saiba quais os principais nomes na lista de empresários brasileiros: 

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Paulo Guedes, ministro da Economia 

Guedes fundou a Dreadnoughts International, uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe. Nos meses seguintes, Guedes aportaria US$ 9,54 milhões — o equivalente, hoje, a mais de R$ 50 milhões — na conta da offshore, numa agência do banco Crédit Suisse, em Nova York. A empresa surgiu em meio à crise do governo de Dilma Rousseff, em 2014, e à alta do dólar. 

Eike Batista 

O empresário que chegou a ser a pessoa mais rica do Brasil tem hoje débito de R$ 3,8 bilhões inscrito na Dívida Ativa. O nome dele está ligado a duas offshores, a Farcrest Investment e a Green Caritas Trust. A Farcrest foi criada em abril de 2006. Na época, ele ainda estava longe do pico na sua carreira, em 2012, quando foi listado como o sexto homem mais rico do mundo. 

A Green Caritas Trust, criada em dezembro de 2011, tinha como objetivo declarado repassar 2,5 milhões de euros para a filantropia. Os recursos viriam de um outro trust no Panamá, o Blue Diamond Trust, que detinha participações em mais de oito empresas. Trusts são estruturas patrimoniais utilizadas na proteção de ativos. 

Irmãos Parrillo, da Prevent Senior 

A Prevent Senior, plano de saúde que tem rede própria de hospitais, entrou no foco da CPI da Pandemia devido a supostos estudos realizados pela empresa para, sem a autorização dos pacientes, avaliar a efetividade da cloroquina e de outros medicamentos contra a doença. Os irmãos que controlam a Prevent Senior —Andrea, Eduardo e Fernando Fagundes Parrillo— figuram no banco de dados do Pandora Papers como detentores de quatro offshores, a Shiny Developments Limited, a Luna Management Limited, a Hummingbyrd Ventures Limited e a Grande Developments Limited. Juntas, totalizam quase 9 milhões de dólares em ativos. 

Em todos os casos, o dono da empresa é uma offshore localizada em São Cristovão e Nevis, país que é um movimentado paraíso fiscal no Caribe, e que não informa quem são os donos de suas offshores. Os irmãos aparecem sempre como beneficiários, ou seja, as pessoas que efetivamente controlam a companhia. 

Claudio Rossi Zampini 

O empresário Claudio Rossi Zampini possui negócios de ramos diversos em São Paulo, como a CRZ Telecomunicações e a Flamingo Táxi Aéreo. Zampini aparece direta ou indiretamente no quadro social de nove companhias. Ele também possui débitos somados de R$ 1,3 bilhão inscritos na Dívida Ativa da União, referentes a inscrições entre 2014 e 2019. 

Zampini aparece como o dono de três offshores criadas entre 2008 e 2011 nas Ilhas Virgens Britânicas. Não há muitas informações sobre a mais antiga, a Lizza Properties, estabelecida em março de 2008, nem sobre a mais recente, Encinita Holdings, criada em 2011. 

Inventário de José Janene 

O ex-deputado José Janene, morto em 2010, aparece como o representante de duas offshores sediadas no Panamá, a Corliss Enterprises e a Kleman Investments. Ambas foram criadas em junho de 2003, quando ele iniciava o terceiro mandato na Câmara dos Deputados. 

Janene ficou conhecido por ser um dos pivôs do escândalo do Mensalão, o que quase levou à cassação do seu mandato. Ele acabou absolvido pelo plenário da Câmara em uma votação secreta no fim de 2006. Caso estivessem declaradas no Brasil, as offshores precisariam constar no inventário de Janene.  

Nos documentos, aparecem operações relacionadas a mais de 330 políticos e altos funcionários públicos e 35 chefes e ex-chefes de estado, de mais de 90 países, além de empresários e celebridades internacionais. A investigação durou dois anos e teve a participação de 615 jornalistas, de 149 veículos, em 117 países. 

O resultado da investigação deu origem à série de reportagens Pandora Papers, que começou a ser publicada no domingo (3) por veículos como Washington Post, Le Monde, El País, The Guardian e BBC, entre outros. No Brasil, além do Metrópoles, também participaram da investigação o site Agência Pública, a revista Piauí e o site Poder 360. 

A história do empresário Eike Batista será contada no cinema. Para dar vida à ex-esposa dele, Luma de Oliveira, a produção escalou a atriz Carol Castro. Em um bate-papo com a VAM Magazine, durante uma live, Carol confessou uma de suas preocupações com o projeto. Ela afirmou que questionou se os lados de Eike e Luma seriam mostrados no projeto. "Precisa ser um filme real, com os dois lados", disse.

"Foi muito desafiador aceitar esse personagem, e está sendo, pois dar vida a uma pessoa que existe é sempre muito delicado. Aceitei o convite com muito respeito. Além disso, sei que tudo será retratado de forma lúdica e quase teatral", completou ela. O filme ainda não tem previsão de ser lançado, mas as gravações estão sendo realizadas intensamente.

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Na manhã deste sábado (18), no Instagram, Carol mostrou um pouco da preparação do seu papel. Usando uma fantasia semelhante de Luma, que repercutiu em um dos carnavais do Rio de Janeiro, a atriz legendou: "Sendo Luma no cinema". O filme é baseado na biografia escrita pela jornalista Malu Gaspar, lançada em 2014. Para viver o personagem-título, foi escolhido o ator Nelson Freitas. Eike Batista e Luma de Oliveira ficaram juntos por 13 anos. Eles tiveram dois filhos: Thor e Olin.

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A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu, por maioria, multar o empresário Eike Batista em R$ 150 mil por ter votado em situação de conflito de interesse na reunião conselho de administração da MMX Mineração, que aprovou, em 2015, a quebra de um contrato de fornecimento de energia elétrica firmado com a MPX Energia, empresa irmã da mineradora rebatizada de Eneva.

Na época, Eike era membro do board e controlador da mineradora. Ao mesmo tempo, era titular de 19,95% do capital social da Eneva, empresa na qual tinha o controle compartilhado com a alemã E.ON., por meio de um acordo de acionistas que estabelecia direitos econômicos e políticos iguais entre eles.

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A superintendência de relações com empresas (SEP) da CVM concluiu que, pela posição que ocupava em ambas as companhias, o empresário não poderia intervir na operação. O artigo 156 da Lei das S.A. veda ao administrador intervir em qualquer operação social em que tiver interesse conflitante com o da companhia. O racional é impedir que ele exerça seu voto quando não puder ser imparcial.

O processo foi aberto por reclamação de um acionista, para quem o preço da energia acordado nos contratos era vantajoso para a MMX, independentemente da sua utilização. A venda da energia contratada a terceiros ou a liquidação na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) poderia gerar ganhos superiores a R$ 1 bilhão. O fim do contrato, por sua vez, gerou uma compensação de apenas R$ 40 milhões pela Eneva.

A relatora do caso, diretora Flávia Perlingeiro, entendeu que havia interesse particular indireto do administrador no fim do contrato. Em seu voto, ela reforçou seu entendimento de que o conflito de interesses é de natureza formal, ou seja, o administrador fica automaticamente impedido de votar.

A análise do acordo de acionistas da Eneva demonstrou que Eike era parte do grupo de controle da empresa, já que o documento lhe assegurava a maioria dos votos nas deliberações da Assembleia Geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da Eneva, ao lado de sua sócia alemã. "Considero o fato de que o acusado, em conjunto com a E.ON, dirigia as atividades sociais da Eneva e orientava o funcionamento de seus órgãos suficiente para lhe gerar o dever de abster-se de participar da deliberação sobre a celebração do distrato", escreveu em seu voto, descartando a alegação de Eike de que não exercia o controle de fato da Eneva.

Perlingeiro destacou que nem todo e qualquer interesse pessoal indireto implica a vedação prevista no artigo 156. Isso porque, em alguns casos, ainda que o administrador possa ter interesse na operação, a decisão da outra parte envolvida pode não estar sujeita à sua influência. No caso concreto, entretanto, Eike tinha poder sobre as decisões de ambas as companhias.

O diretor Alexandre Rangel divergiu do voto da relatora, defendendo a tese de conflito material, em que o voto ocorre e só depois se verifica se houve conflito de interesses. Ele pediu a absolvição de Eike Batista. O empresário ainda pode recorrer ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN).

O empresário Eike Batista foi condenado mais uma vez pela Justiça. Na última terça-feira, 9, foi sentenciado a mais 11 anos e oito meses de prisão por crime ao mercado financeiro e multa de R$ 871 milhões. A decisão é da juíza Rosália Monteiro Figueira, da 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Em seu julgamento, ela considerou que o executivo abusou do seu conhecimento do mercado financeiro para enganar pequenos investidores nas empresas do grupo EBX.

Eike já tinha duas condenações da 3ª Vara Criminal anteriores a essa. Em 2019, ele foi condenado a oito anos e sete meses de prisão e, em 2020, a mais oito anos em regime semiaberto. Além disso, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, determinou outros 30 anos de confinamento. Somando as quatro sentenças, a pena de Eike chega a 58 anos de prisão.

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Segundo a juíza Figueira, a conduta social de Eike é "digna de censura", inclusive em sua família. Ela diz também que o empresário "demonstrou fascínio incontrolável por riquezas, ambição sem limites que o levou a operar no mercado de capitais de maneira delituosa". E que o seu objetivo seria o lucro fácil, "ainda que em prejuízo da coletividade".

O pedido da condenação desta semana partiu do Ministério Público Federal (MPF) e por entidades representantes de investidores no mercado financeiro que se julgam prejudicados pelas práticas do empresário. Eike liderou empresas com atividade em diversos segmentos da economia, como de petróleo e gás, logística e mineração.

No setor de petróleo, a OGX ganhou notoriedade por superdimensionar suas descobertas e levar seus investidores a acreditar que a companhia teria resultados operacionais e financeiros, revelados irreais no futuro.

Em sua decisão, a juíza destacou crimes cometidos especialmente no ano de 2013, quando o empresário já tinha conhecimento de que os seus projetos não teriam retorno financeiro que justificasse o valor das ações de suas empresas, principalmente da OGX. Mesmo assim, Eike executou uma série de manobras financeiras para fazer com que os investidores continuassem a apostar nos seus negócios e a participar de processos de alienação de suas ações.

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a delação premiada fechada pelo empresário Eike Batista com a Procuradoria-Geral da República, o primeiro acordo do tipo da gestão Augusto Aras. A decisão foi assinada na terça-feira (3).

Os termos incluem 32 cláusulas e 18 anexos que trazem depoimentos e documentos apresentados como provas por Eike. O acordo está sob sigilo e envolve pessoas com foro privilegiado no Supremo.

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Em maio, Rosa mandou a PGR e a defesa de Eike realizarem ajustes nos termos do acordo antes de homologá-lo. Entre os pontos questionados pela ministra estavam o local onde Eike cumpriria pena pelos crimes cometidos e a ausência de documentos que comprovassem seu patrimônio atual. A ministra também estabeleceu que os regimes de cumprimento do acordo devem estar de acordo com o Código Penal.

Pelos termos aprovados, Eike deverá pagar R$ 800 milhões em multas e cumprir um ano de pena em regime fechado, um ano em prisão domiciliar e dois anos em regime semiaberto.

O empresário foi alvo da Lava Jato Rio em janeiro de 2017, quando foi preso na Operação Eficiência. Após três meses de detenção, deixou a prisão em abril do mesmo ano por habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo.

No ano passado, Eike foi preso novamente na Operação Segredo de Midas e foi apontado pela Procuradoria como 'principal beneficiário das operações ilícitas contra o mercado de capitais'.

As investigações revelaram que as mesmas contas utilizadas para o pagamento de propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) 'foram usadas para manipular ações de empresas envolvidas em negociações com Eike Batista'. Ele foi solto no mesmo dia de sua prisão por liminar do Tribunal Regional Federal da 2ª Região.

O empresário Eike Batista foi condenado a oito anos de prisão em regime semiaberto por manipulação do mercado financeiro, em decisão proferida pela juíza federal Rosália Monteiro Figueira, da 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, na última terça-feira (9). Eike Batista também foi condenado a pagar 10.500 salários mínimos de multa pelos crimes. O empresário ainda poderá recorrer da sentença da juíza em liberdade.

Também foram condenados na decisão judicial dois executivos da OGX: Marcelo Faber Torres, sentenciado a cinco anos, sete meses e seis dias de reclusão em regime semiaberto mais pagamento de multa; e Paulo Manuel Mendes De Mendonca, condenado a cinco anos e dez meses de prisão em regime semiaberto e pagamento de multa. Ambos também poderão recorrer da sentença em liberdade.

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Os três foram acusados de terem manipulado o mercado de capitais, mediante a divulgação de informações falsas em aviso na forma de Fato Relevante sobre a estimativa de "bilhões de barris" de petróleo potencialmente extraível em poços, ainda em fase de perfuração, de áreas do pré-sal na Bacia de Campos e na Bacia de Santos, cujos direitos de concessão, à época, pertenciam à empresa OGX Petróleo e Gás S/A. A decisão judicial lembra que os poços de petróleo foram devolvidos à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) "sem produzir sequer uma gota de óleo".

Segundo a decisão judicial, as informações ao mercado financeiro tinham como propósito elevar as cotações das participações acionárias e outros ativos vinculados à OGX, "levando investidores a erro e causando prejuízos difusos".

Na sentença, a juíza aponta que Eike Batista "é pessoa com larga experiência do mercado de capitais, utilizou de modo nocivo esse conhecimento, bem como sua influência no meio político a indigitada prática delituosa, cooptando diretores da Companhia para garantir o sucesso de sua empreitada criminosa; merecia de toda sociedade credibilidade em seus negócios, o que incentivava o investimento dos prejudicados na malfadada empreitada criminosa, deixando de pautar sua vida com respeito ao próximo".

O documento indica que Eike foi motivado pelo "lucro fácil ainda que em prejuízo da coletividade, com desdobramentos inimagináveis no plano interno e externo, 'acreditando' em seu poder econômico e na impunidade que grande mal tem causado à sociedade brasileira".

Segundo a sentença, o empresário "demonstrou fascínio incontrolável por riquezas, ambição desmedida (usura), que o levou a operar no mercado de capitais de maneira delituosa; indiferença à fragilidade de fiscalização do mercado de capitais e petrolífero brasileiro, e insensibilidade à insegurança causada com sua conduta criminosa, demonstrando fazer dessas práticas atentatórias ao mercado de capitais seu modus vivendi".

A ação penal foi movida Ministério Público Federal e pela Associação dos Investidores Minoritarios (Aidmin).

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com agravo regimental junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) questionando decisão do ministro Gilmar Mendes, que concedeu habeas corpus, rejeitado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Luiz Arthur Andrade Correia, envolvido em suposto esquema de lavagem de dinheiro com o empresário Eike Batista. As informações foram divulgadas pela Secretaria de Comunicação Social da Procuradoria-Geral.

No parecer, o subprocurador-geral da República José Adonis de Araújo defende que a decisão "afronta a conhecida e estável Súmula 691 do STF, segundo a qual não compete ao Supremo conhecer de habeas impetrado contra decisão do relator que, em HC requerido a Tribunal superior, indefere a liminar".

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Segundo o Ministério Público Federal, o próprio ministro já vinha "reiteradamente negando seguimento a HCs impetrados contra decisões monocráticas denegatórias de medida liminar em habeas anteriores", inclusive em casos cuja gravidade "é notoriamente inferior à retratada" no caso de Luiz Arthur Andrade Correia.

"A necessidade da prisão preventiva está em proteger a ordem pública, em face da gravidade em concreto do crime a ele imputado e contra o risco de reiteração delitiva, considerando que o paciente continuou praticando atos de lavagem de dinheiro até o meio do ano passado, durante toda a persecução penal dos autos", sustenta o subprocurador.

José Adonis de Araújo afirma que a Súmula 691 do STF somente pode ser superada, muito excepcionalmente, se houver flagrante ilegalidade ou teratologia, o que não é o caso. "Vale registrar que a superação indiscriminada da súmula, fora das hipóteses em que a histórica jurisprudência do STF a autoriza, representa preocupante ofensa às regras de competência, além de evidente supressão de instância e desrespeito ao princípio da colegialidade", registra.

Ao apresentar as provas concretas do caso, o Ministério Público Federal aponta fatos que comprovam que "a prisão preventiva decretada tem fundamentação concreta e demonstra a presença dos requisitos legais".

O subprocurador defende que a afirmação de "frágil saúde de Correia não foi confirmada, uma vez que não há perícia oficial para respaldar as alegações, e o único exame levado aos autos não comprova a existência de enfermidade grave".

Entenda o caso

Luiz Arthur Andrade Correia teve a prisão preventiva decretada no âmbito da Operação Segredo de Midas, deflagrada pela Procuradoria e pela Polícia Federal em 2019 para apurar crimes de manipulação de mercado e utilização de informação privilegiada.

As investigações realizadas a partir das operações Eficiência e Hashtag revelaram que as mesmas contas usadas para o pagamento de propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral foram também usadas para "manipular ações de empresas envolvidas em contextos negociais com Eike Batista". O esquema utilizava uma empresa sediada no Panamá, segundo a Procuradoria.

No curso das investigações, apurou-se que Eike e Luiz Arthur usaram a empresa "para atuar ilicitamente nos mercados de capitais nacional e estrangeiro, a fim de manipular ou usar informação privilegiada de ativos que estariam impedidos ou os que não queriam que o mercado soubesse que operavam".

O empresário Eike Batista foi condenado a 8 anos e 7 meses de prisão, e a pagar multa de R$ 82,829 milhões, por usar informações privilegiadas e por manipulação de mercado nas negociações com ativos da OSX, empresa dona do estaleiro e do Porto de Açu, no antigo grupo EBX. A sentença, da juíza Rosália Monteiro Figueira, foi publicada nesta segunda-feira, 30, conforme a Associação dos Investidores Minoritários (Aidmin), parte interessada no processo, iniciado pelo Ministério Público Federal (MPF). A ação judicial foi iniciada em 2014.

As operações investigadas no processo ocorreram em 2013. Num dos casos, embora a decisão de manter na Ásia a plataforma FPSO OSX-2, destinada a produção de petróleo dos campos Tubarão, Tigre, Gato e Areia - operados pela petroleira OGX e que tinham reservas bem abaixo do esperado -, tenha sido tomada em reunião em 15 de abril de 2013, foi omitida de um comunicado ao mercado divulgado em 17 de maio de 2013.

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"Mesmo ciente dessa informação, o acusado continuou a lançar ao mercado perspectivas que, mais do que otimistas, mostraram-se fraudulentas", diz a sentença.

Segundo as investigações, isso induziu os investidores a erro. Enquanto isso, Eike "desfazia-se de suas ações da OGX (período de 24/05/2013 a 10/06/2013) e da OSX, em 19/04/2013, o que demonstrou a intenção do acusado de manipular o mercado de capitais".

Para a juíza, "a conduta típica está devidamente comprovada nos autos, não se verificando elementos capazes de afastar a ilicitude ou a culpabilidade" de Eike. "Portanto, sem provas nos autos capazes de excluir ou mesmo diminuir a culpabilidade, a conclusão judicial, à luz do acervo probatório, é pela condenação", diz a sentença.

A juíza aproveitou a sentença para fazer críticas à capacidade de fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Para a magistrada, Eike "se aproveitou da fragilidade dos órgãos de fiscalização do mercado de capitais". "Diferentemente do que ocorre no Brasil, no mercado de capitais norte-americano, a Securities and Exchange Commission-SEC (Comissão de Valores Mobiliários Americana) é proativa no combate ao uso de informações privilegiadas e à manipulação de mercado, com regras rígidas que inviabilizam que companhias divulguem ao mercado de valores mobiliários notícias baseadas em dados artificiais, sem qualquer embasamento concreto", diz a sentença.

Defesa - Segundo o advogado Fernando Martins, que representa a defesa de Eike, o empresário recorrerá da decisão, "uma vez que esta diverge do posicionamento atual do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, órgão que detém capacidade técnica para avaliar se houve efetivamente ilícito ao mercado de capitais".

Um processo que bloqueou R$ 778 milhões de Thor Batista, filho de Eike Batista, tenta traçar o caminho dos recursos que o ex-megaempresário enviou para o exterior. A ação, movida pelo advogado Bernardo Bicalho, administrador judicial da mineradora MMX, tem o objetivo de garantir o ressarcimento total aos credores da companhia em recuperação judicial, mas cumpre também outra função: a de revelar offshores em paraísos fiscais que cumpririam o papel de ocultar recursos em um momento em que o império de Eike ruía.

Os argumentos para pedir o bloqueio dos bens de Thor - determinado liminarmente pela juíza Cláudia Helena Batista, da 1.ª Vara da Fazenda Empresarial de Belo Horizonte e confirmado por três desembargadores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) - trazem evidências da tentativa de ocultar patrimônio com um emaranhado de offshores em paraísos fiscais, que não questionam a origem de recursos.

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Embora o bloqueio tenha sido confirmado, o mérito da ação não recebeu sentença de primeira instância. Apesar de os advogados acreditarem que a família de Eike tenha, nas contas offshore, os recursos necessários para cobrir o bloqueio, eles dizem que o processo de busca por esse dinheiro ainda está em curso. Uma fonte próxima a Eike Batista disse, no entanto, que o empresário "nem de longe" tem recursos suficientes para cobrir essa dívida.

Além de Thor Batista, que até 2013 era dependente de Eike, a decisão inclui seis pessoas jurídicas, sendo quatro delas com sede em paraísos fiscais: a Meisterschaft Holding (em Belize), a Aux Luxembourg Sarl e a Aux LLC (ambas em Luxemburgo) e a 63X Master Fund (Ilhas Cayman). As outras companhias listadas são a holding EBX, controladora da MMX localizada no Rio de Janeiro, e a OTX Fund LLC, dos EUA.

No auge do Grupo "X" - que controlava negócios como a OGX, de petróleo, a OSX, de construção naval, e a LLX, de logística -, o empresário brasileiro chegou a ser o 7.º homem mais rico do mundo em 2012, com fortuna de US$ 34,5 bilhões.

Fraude

O administrador judicial da MMX diz que o bloqueio de ativos visa a garantir que ex-donos de empresas em recuperação judicial não possam cometer fraudes para ocultar patrimônio - realidade na qual ele acredita que Eike Batista se encaixe. Bicalho argumenta que os credores da MMX devem ser ressarcidos integralmente - o valor de R$ 778 milhões do bloqueio se refere à atual dívida da mineradora, sem os descontos negociados no plano de recuperação já aprovado.

A fraude na MMX, segundo o processo, se configura de diferentes formas. Começa pela divulgação de falsas perspectivas de produção: em 2006, ao abrir capital, a mineradora anunciou a intenção de multiplicar sua produção de minério de ferro, superando 36 milhões de toneladas. Mais tarde, a meta foi reiterada e estabelecida para o ano de 2016.

O "pico" de produção da mineradora, no entanto, foi de pouco menos de 7,7 milhões de toneladas de minério de ferro, em 2010. Depois disso, os números só caíram até zerarem, cinco anos depois. Hoje, a MMX está em recuperação judicial, mas não opera e nem emprega ninguém. O administrador judicial diz que a antiga "Vale de Eike" hoje se resume a uma sala de dez metros quadrados em Belo Horizonte.

Bicalho lembra que Eike Batista sabia que esse potencial jamais poderia ser atingido. "Não obstante já houvesse, em 2009, um parecer de consultoria especializada concluindo pela incerteza com relação ao potencial minerário, tal informação jamais foi transmitida ao mercado", argumenta a ação.

Segundo o processo, o lucro do empresário com a venda de ações da mineradora, na época das falsas alegações de capacidade, foi de R$ 634,4 milhões. Dentro das investigações da Operação Segredo de Midas, desdobramento da Lava Jato, Eike chegou a ser preso de agosto. Ele é investigado por suposta manipulação do mercado de ações.

Caminhos

Mas por que o envio do dinheiro ao exterior não foi detectado antes? Segundo o advogado Rodrigo Kaysserlian, presidente do Instituto Brasileiro de Rastreamento de Ativos e auxiliar de Bicalho no processo da MMX, a venda de ações era feita por meio da estrutura propositalmente complexa que Eike montou para seus negócios.

No caso da MMX, a empresa operacional (dona das minas) era denominada MMX Sudeste e controlada pela holding MMX (que emitia as ações em Bolsa). Essa holding, por sua vez, tinha como controladores Eike Batista (como pessoa física) e duas pessoas jurídicas: a Mercato e a offshore Centennial.

A Centennial, segundo os advogados, seria o primeiro elo da cadeia de envio de dinheiro ao exterior na estratégia de aproveitar a bonança passageira para estocar recursos para a tempestade inevitável que viria quando a empresa não cumprisse as metas ambiciosas.

Segundo o processo, a Centennial, que originalmente obteve os recursos financeiros com a venda das ações da MMX, passou a abastecer o fundo 63X, nas Ilhas Cayman. Esse fundo posteriormente repassou dinheiro para outra offshore, localizada em Belize, a Meisterschaft.

A Meisterschaft - palavra que, em alemão, quer dizer "campeonato" - surgiu bem depois da Centennial, que fez parte da criação da holding MMX, em 2005. Segundo as investigações do processo, a empresa foi aberta por Thor Batista depois de uma doação de R$ 130 milhões em espécie recebida do pai em 2013.

Thor, logo após receber o dinheiro, foi aos EUA, em janeiro de 2014, contratou um advogado em Miami e abriu a Meisterschaft em Belize. Isso ocorreu meses antes de a MMX pedir recuperação judicial.

Tanto a criação de estruturas jurídicas complexas quanto doações de pai para filho não são, por si, ilegais. Porém, Kaysserlian diz que "toda fraude financeira é revestida de alguma forma de legalidade". "O repasse ao filho não é ilegal, desde que a doação não seja uma forma de proteger recursos devidos a terceiros."

Outro processo, que corre nos EUA, pede o bloqueio de todas as empresas de Eike e seus parentes no mundo. Tanto Bicalho quando Kaysserlian acreditam que a estrutura de offshores é bem mais complexa do que a já identificada na ação contra Thor Batista. "Podem ser dezenas ou até centenas de pessoas jurídicas", diz Bicalho.

Procurado, o advogado de Thor não quis se pronunciar. Os representantes de Eike não retornaram os contatos.

Múltiplos bloqueios

A disputa pelo dinheiro de Eike - independente do valor que ainda reste nas mãos do empresário - está aquecida. A Justiça bloqueou, no início deste mês, R$ 1,6 bilhão do empresário e de seus dois filhos, Thor e Olin. A medida foi solicitada pelo Ministério Público Federal, no âmbito da Operação Lava Jato.

Além dos processos ligados às outras empresas do grupo, a holding que controla a MMX teve a falência decretada pela Justiça do Rio de Janeiro há pouco menos de duas semanas. No entanto, também se trata de uma decisão da qual cabe recurso.

O administrador judicial da MMX, Bernardo Bicalho, espera ter prioridade no recebimento dos valores. Para sair na frente, conta com a jurisprudência estabelecida no caso do Banco Santos. Segundo ele, embora o argumento de que Eike Batista deva compensar o País como um todo pelos prejuízos de seu grupo econômico seja válido, as pessoas que prestaram serviços ou forneceram produtos sem receber o valor devido devem ser ressarcidas antes.

Foi o que aconteceu no caso do banco controlado por Edemar Cid Ferreira. Tanto os bens da instituição quanto os do controlador estão sendo vendidos, com o valor arrecadado repassado aos credores diretos. É o que Bicalho espera que ocorra no caso da MMX, cujo processo ainda está em primeira instância e cuja conclusão deve se arrastar por anos.

O procurador de falências Eronides Rodrigues dos Santos, do Ministério Público de São Paulo, que participou do rastreamento de ativos do Banco Santos - conseguindo um acórdão no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que garantiu a preferência aos credores diretos da instituição perante o ressarcimento a processos criminais -, diz acreditar que a mesma lógica possa ser aplicada ao caso da MMX.

Possibilidade de retorno

Embora os credores da MMX já tenham aprovado uma recuperação judicial com desconto de mais de 80%, essa realidade pode ser modificada se a decisão tiver sido tomada a partir de uma base falsa. Ou seja: caso agora fique provada a existência de recursos de que não se tinha conhecimento anteriormente, o acordo da recuperação pode revertido.

"Só faz sentido o Estado ter prioridade no recebimento de recursos em crimes contra a sociedade, como o tráfico de drogas", diz o procurador especializado em falência. "Do contrário, a prioridade deve ser das vítimas diretas da empresa em questão." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) decretou a falência da MMX Mineração e Metálicos. A decisão foi tomada nesta terça-feira (21) dentro do processo que tramitava desde novembro de 2016 e analisava o pedido de recuperação judicial apresentado pela empresa, que tem Eike Batista como fundador e acionista majoritário.

Em comunicado, a MMX informou surpresa com a sentença e adiantou que vai recorrer da decisão. A empresa destacou ainda que manterá os acionistas e o mercado em geral devidamente informados e atualizados sobre o tema.

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"Na Assembleia Geral de Credores, realizada em 1º de julho de 2019, foram obtidos votos favoráveis à aprovação do Plano de Recuperação Judicial apresentado, em quantidade suficiente para a concessão da recuperação judicial na forma do artigo 58º da Lei Federal 11.101/2005, como reconhecido pelo Ministério Público e pelo administrador judicial", registra o texto.

A decisão atinge também a MMX Corumbá Mineração, subsidiária da MMX Mineração e Metálicos.

A falência foi decretada pelo juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro do TJRJ. Na sentença, ele escreveu que a recuperação judicial "não atende aos interesses dos credores, os quais, com justa causa, repudiaram o plano, e não se desenha claramente a preservação da empresa, do emprego dos trabalhadores e do atendimento à função social".

Cram down

A recuperação judicial é solicitada quando a empresa se encontra em dificuldades financeiras e perde a capacidade de honrar compromissos com credores, fornecedores e funcionários. É um instrumento utilizado no intuito de evitar a falência. Antes de aceitar o pedido, a Justiça analisa se a empresa cumpre uma série de pré-requisitos estabelecidos pela legislação.

Uma vez que a recuperação judicial é aceita, o juiz nomeia um administrador judicial que participa da condução do processo. A empresa, por sua vez, elabora um plano que inclui não apenas uma proposta de refinanciamento das suas dívidas, mas uma ampla reorganização administrativa e econômica que lhe permita voltar a ter lucro. Esse plano deve ser aprovado pelos credores, que são classificados em diferentes classes.

A aprovação depende do voto favorável da maioria em cada uma das classes. Caso isso não ocorra, decreta-se a falência. Há, no entanto, exceções previstas no artigo 58º da Lei Federal 11.101/2005, citado pela MMX. Este artigo estabelece cenários em que o juiz pode adotar o cram down, modalidade de recuperação judicial forçada que é concedida mesmo sem a aprovação de todas as classes de credores.

No caso da MMX, o juiz Paulo Assed Estefan observou que o plano foi reprovado pelos credores da classe III, mas que o administrador judicial atestou a presença dos requisitos para aplicação do cram down. Ele assinalou, no entanto, que o cram down é apenas uma possibilidade a ser considerada e que, conforme a legislação, cabe ao juízo realizar uma apreciação mais ampla.

O juiz observou que a empresa propõe aplicar sobre as dívidas um desconto de cerca de 97%, assegurando um pagamento de apenas 3%. Além disso, destacou que a classe que reprovou a proposta responde por 99% do total devido.

"Diante dessa constatação, soa ilógico imputar conduta abusiva aos credores que rejeitaram o plano. Afinal, repudiar um desconto da magnitude sugerida pelas recuperandas é conduta mercadológica típica", avaliou.

Com a falência, os bens da empresa devem ser vendidos para pagamento das dívidas. De acordo com a sentença, os credores terão 15 dias de prazo para apresentar seus créditos ao juízo.

Prisão

Eike Batista foi alvo, no início do mês, de um mandado de prisão temporária cumprido pela Operação Segredo de Midas, na qual o Ministério Público Federal (MPF) o acusa dos crimes de informação privilegiada e manipulação de mercado praticada em bolsas de valores no Brasil, Canadá, nos Estados Unidos e na Irlanda entre 2010 e 2015. Dois dias depois, ele obteve um habeas corpus e foi libertado.

Esta foi a segunda ocasião em que Eike foi preso. A primeira ocorreu em janeiro de 2017, quando a Operação Eficiência cumpriu um mandado de prisão preventiva contra o empresário. Três meses depois, ele obteve o direito à prisão domiciliar. Em outubro de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que ele precisaria ficar recolhido em casa apenas à noite.

Em julho de 2018, como desdobramento da Operação Eficiência, Eike Batista foi condenado em primeira instância a 30 anos de prisão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Ele recorre dessa sentença em liberdade.

 

Ao pedir a prisão temporária de Eike Batista, no âmbito da Operação Segredo de Midas, braço da Lava Jato, deflagrada nesta quinta-feira, 8, a Procuradoria da República no Rio afirma que o empresário teve atuação "bastante grave, sendo ele inegavelmente o líder e principal beneficiário das operações ilícitas contra o mercado de capitais".

"Difícil calcular neste primeiro momento o lucro ou vantagem indevida auferido por Eike Batista, bem como o dano a terceiros nestas manobras fraudulentas que perpetrou. Entretanto, pode-se adiantar que certamente passa da casa das centenas de milhões de dólares, somadas todas as negociações", afirma o Ministério Público Federal.

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A Procuradoria pondera, no entanto, que, "embora haja indícios de outros crimes mais atuais, só há provas contra ele dos crimes de manipulação de mercado de capitais e crimes de uso indevido de informação privilegiada, cuja permanência cessou ao menos em 2016, mas sendo principais operações realizadas até 2013".

"Assim, sua situação é distinta de seu partícipe, Luiz Arthur Andrade Correia, que praticou atos bem mais recentes de lavagem de dinheiro, justificando a prisão preventiva", diz o Ministério Público Federal.

Eike e Luiz Arthur Andrade Corrêa, responsável financeiro pelo grupo do "ex-bilionário", são investigados por "manipulação de mercado e uso indevido de informação privilegiada". Luiz Arthur, o "Zartha", também é alvo de mandado de prisão.

Segundo o Ministério Público Federal, do valor bloqueado, R$ 800 milhões correspondem a danos morais e R$ 800 milhões a danos materiais.

Ao determinar as buscas, Bretas considerou a indicação do Ministério Público Federal de que o empresário "transferiu parte relevante de seu patrimônio a seus filhos, muito provavelmente com a finalidade de se furtar ao cumprimento das obrigações junto aos seus credores".

As medidas cautelares de prisão e busca e apreensão foram autorizadas pelo juiz federal da 7ª Vara Criminal do Rio, Marcelo Bretas. Ele também determinou o bloqueio de R$ 1,6 bilhão em nome de Eike e de seus dois filhos.

A ordem de Bretas registra ainda que, "diante de aparente sucessão e/ou confusão patrimonial" o Ministério Público Federal pediu que o bloqueio de bens e valores atingisse o patrimônio de Olin e Thor, "tendo em vista que tal patrimônio se constituiu substancialmente por doações e transferências de valores e ativos de seu pai, durante e logo após da prática dos crimes ora investigados".

A decisão de Bretas leva em consideração depoimento de Eduardo Plass, que firmou acordo de delação premiada e irá pagar R$ 300 milhões em multa e devolver US$ 9,2 milhões de Eike que estão sob sua custódia no exterior. O banqueiro foi alvo da operação "Hashtag" em agosto de 2018.

As investigações revelaram que as mesmas contas utilizadas para o pagamento de propina ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) "foram usadas para manipular ações de empresas envolvidas em negociações com Eike Batista", indicou a Procuradoria.

A Procuradoria destacou que o esquema utilizava a empresa The Adviser Investiments (TAI), com sede no Panamá, criada por Eduardo Plass e seus sócios, proprietários do TAG Bank.

As investigações identificaram que Eike e Luiz Arthur usaram a empresa para "atuar ilicitamente nos mercados de capitais nacional e estrangeiro, a fim de manipular ou usar informação privilegiada de ativos que estariam impedidos ou não queriam que o mercado soubesse que operavam".

Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Rio afirmaram que a TAI "funcionou como um banco paralelo, gerindo recursos de terceiros sem autorização".

"Para o mercado, passava a aparência de investir recursos próprios, pois omitia o real operador dos ativos."

Segundo a Procuradoria, entre 2010 e 2013, foram manipulados os mercados de ações e bonds de diversas empresas: Ventana Gold Corp, utilizada como falso pretexto para encobrir o repasse ilícito de recursos ao ex-governador Sérgio Cabral, Galway Resources Ltd, MMX, MPX e OGX.

Defesa

Em nota, o advogado Fernando Martins, que defende Eike, informa que "assim que obtiver acesso aos autos e motivos que fundamentaram a prisão de Eike Batista apresentará recurso, porque certamente essa nova ordem de prisão, assim como a anterior, carece de amparo legal."

O Ministério Público Federal informou que o empresário Eike Batista, preso na manhã desta quinta-feira, 8, no âmbito da Operação Segredo de Midas, desdobramento da Lava Jato, e o responsável financeiro pelo grupo EBX Luiz Arthur Andrade Corrêa, o "Zartha", que também foi preso, manipularam o mercado de capitais por meio do uso de informações privilegiadas "interferindo na precificação dos ativos financeiros". Ao todo, a dupla teria realizado mais de 300 operações, movimentando R$ 800 milhões.

Segundo o Ministério Público Federal, entre 2010 e 2013, foram manipulados os mercados de ações e bonds de diversas empresas: Ventana Gold Corp, utilizada como falso pretexto para encobrir o repasse ilícito de recursos ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral, Galway Resources Ltd, MMX, MPX e OGX. Em outros casos, foram usadas informações privilegiadas, assinala a investigação.

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"No total, foram movimentados mais de R$ 800 milhões", indica a Procuradoria.

As cinco situações, descritas pela Procuradoria, em que Eike e "Zartha" teriam agido estão relacionadas a diferentes ativos - da Ventana Gold Corp (VEN), da Galway (GWY), da MMX (MMXM11), da MPX (MPXE3) e de bonds da OGX.

A investigação levou em consideração os depoimentos em delação premiada do banqueiro Eduardo Plass e de outras cinco pessoas.

Plass foi alvo da operação "Hashtag" em agosto de 2018 e estaria ligado a esquema de corrupção envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral e Eike, segundo a investigação.

Segundo o Ministério Público Federal, Eike e "Zartha" negociavam ativos financeiros (ações e bonds) "por meio de contas fantasmas no banco paralelo The Adviser Investments, que aparecia nas bolsas como titular das operações, sendo, contudo, apenas uma interposta pessoa jurídica por meio da qual estavam operando".

Em seu depoimento, Plass indicou que a dupla mantinha três contas fantasmas, denominadas Gerencial, no The Adviser Investments.

O delator apontou que a "Gerencial 62" e a "Gerencial 64" pertenciam ao empresário e eram operadas por Luiz Arthur. Já a "Gerencial 68" era vinculada ao responsável financeiro do grupo EBX.

129 operações de ativos VEN, movimentando US$ 68,3 milhões

A decisão do juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Criminal Federal do Rio, indica que a primeira transação de ativos com suposta manipulação de mercado foram as ações da empresa Ventana Gold Corp (VEN). A operação teria sido feita, segundo o MPF, com o objetivo de elevar lucro da companhia no momento de sua aquisição pela empresa AUX Canada.

Segundo os colaboradores, entre fevereiro de 2010 e janeiro de 2011, com recursos da "Gerencial 62", conta de Eike, foram realizadas 129 operações de compra e venda de ativos VEN, na bolsa de valores canadense, movimentando US$ 68.380.713,80 - o equivalente a pouco mais de R$ 268,7 milhões hoje.

O magistrado ressaltou que Eike estaria negociando a aquisição do controle acionário da Ventana Gold Corp, por meio da pessoa jurídica AUX Canada, ao mesmo tempo em que transacionava os ativos, "o que configura verdadeira manipulação de mercado financeiro".

"Em tese, Eike elevou o valor das ações da Ventana para acumular maior lucro no momento em que a pessoa jurídica, também comandada por ele, adquirisse a primeira", destacou.

104 operações de ativos GWY, totalizando US$ 17,2 milhões

O segundo caso abordado no documento, apontado pelos colaboradores, é o de que Eike e Luiz Arthur teriam manipulado as ações da empresa Galway, também operadas na bolsa canadense.

A negociação teria utilizado recursos da "Gerencial 62" para realizar 104 operações de compra de ativos GWY, totalizando US$ 17.246.527,43, entre agosto de 2011 e fevereiro de 2012 - o equivalente a pouco mais de R$ 67,7 milhões hoje.

Segundo o MPF, a Galway tinha baixa liquidez, à época, e a aquisição do grande volume de ações em curto período alterou o preço dos seus ativos. O órgão indicou que o objetivo era, novamente, elevar o custo das ações e posteriormente faturar mais com a compra da pessoa jurídica.

O documento registra que em dezembro de 2012, "após reunião de acionistas e credores da Galway Resources LTD, aí incluído a posição acionária de Eike, por meio da The Adviser Investments, se decidiu positivamente sobre a proposta de aquisição da AUX Canada, cujo controlador também era Eike, para a compra do controle acionário da primeira empresa".

10 operações de compras do ativo MMXM11, totalizando R$ 24,4 milhões

Segundo o MPF, Eike teria realizado 10 operações de compras do ativo MMXM11, entre março e junho de 2013, e por meio das "gerenciais 62, 64, 68", totalizando o valor de R$ 24.406.670,00. A decisão ressalta que Eike era sócio controlador da MMX, responsável pelo ativo.

A Procuradoria apresentou documentos que apontam negociação realizada pelo empresário, na mesma época da compra dos citados ativos, para a venda de seu controle acionário, sem notificação do mercado e dos demais acionistas. Bretas aponta que a negociação motivou inclusive um processo administrativo da CVM.

"Ou seja, enquanto Eike Batista, como controlador da MMX, arquitetava a possível venda de seu controle acionário, sem ciência dos demais acionistas, também operava, em tese, por meio de banco paralelo (Gerenciais 64 e 68), a compra de ações MMXM11, vinculadas a dívida da empresa", anota o juiz.

O magistrado apontou ainda que a possível manipulação dos papéis MMXM11 "elevou o valor da negociação do Porto Sudeste (65% de Eike), resultando numa venda de quase R$ 3 bilhões em outubro de 2013".

24 operações com o MPXE3, movimentando R$ 85,2 milhões

O quarto caso mencionado na decisão de Bretas envolve 24 operações de compra e venda do ativo MPXE3, realizadas pela "Gerencial 62", movimentando o valor de R$ 85.241.877,46, na bolsa brasileira. O ativo é regular da empresa MPX.

O texto indica que Eike estava "em fase de negociação velada" para a venda de sua parte acionária da MPX (24,5%). Segundo processo administrativo da CVM, as negociações de venda com a empresa alemã E.ON tiveram início em dezembro de 2012 e foram finalizadas em 27 de março de 2013.

"Coincidentemente, a empresa TAI (em tese, contas de Eike e Luiz Arthur) vendeu todas suas ações MPXE3 em 10 de abril de 2013, poucos dias após a venda da participação da MPX", aponta Bretas.

Segundo o documento, no momento da transação com empresa alemã as ações da MPX valorizaram, influenciando a negociação. O resultado foi participação acionária de Eike foi vendida por R$ 1,4 bilhões, diz o texto.

37 operações de bonds da OGX, movimentando US$ 38,7 milhões

Bretas assinala que a quinta situação de manipulação de mercado relatada pela Procuradoria trata de transações financeiras de bonds da OGX. Segundo Plass, Eike, com auxílio de Luiz Arthur, realizou 37 operações de compra e venda do ativo, entre novembro de 2012 e abril de 2013 movimentando US$ 38.718.565,02 - o equivalente a pouco mais de R$ 152,1 milhões hoje.

O texto indica que, de acordo com processo do CVM, as compras coincidiram com momentos de crise na empresa OGX, que teriam sido "escamoteados pelo investigado". Segundo a Procuradoria, a operação revelaria uma tentativa de manter os ativos em alta na bolsa, "mesmo com problemas administrativos na pessoa jurídica".

Para o Ministério Público Federal, Eike criou um "falso ambiente de confiança dos investidores e mascarou o risco de inadimplemento".

Uso indevido de informação privilegiada

O Ministério Público Federal assinalou ainda que Eike e Luiz Arthur teriam operações que tiveram como objeto ações de uma rede de fast food, então negociadas na Bolsa de Valores de Nova York.

Segundo a Procuradoria, foram realizadas operações de compra em maio de 2010, no total de 205.000 ações da rede, no valor total de US$ 4.088.659,96. Depois, em setembro, foram vendidas as 205.000 ações, no valor total de US$ 4.791.320,50. A operação gerou um lucro de US$ 702.660,54.

O MPF investiga a possível ocorrência do crime de uso de informação privilegiada, "já que, no mesmo dia em que foram realizadas as operações de venda, foi anunciada a compra da empresa".

A Procuradoria indica que no momento da compra das ações, o empresário, possivelmente, já detinha a informação privilegiada de que da empresa seria comprada por fundo brasileiro do qual tornou-se parceiro.

"Desta forma, sustenta o MPF que Eike possuía informação relevante, ainda não divulgada, sigilosa e com potencial para gerar vantagem indevida, o que enquadraria a sua atuação no crime de uso de informação privilegiada", indicou.

Defesa

Em nota, o advogado Fernando Martins informa que "assim que obtiver acesso aos autos e motivos que fundamentaram a prisão de Eike Batista apresentará recurso, porque certamente essa nova ordem de prisão, assim como a anterior, carece de amparo legal."

A Justiça decretou a indisponibilidade de R$ 1,6 bilhão em bens do empresário Eike Batista e de seus filhos, Thor e Olin, informou a Procuradoria da República no Rio. O fundador do grupo EBX foi preso na manhã desta quinta-feira, 8, pela Polícia Federal na Operação Segredo de Midas, desdobramento da Lava Jato. Ele já está condenado a 30 anos de prisão pelo juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Criminal Federal do Rio.

Eike e Luiz Arthur Andrade Corrêa, responsável financeiro pelo grupo do "ex-bilionário", são investigados por "manipulação de mercado e uso indevido de informação privilegiada". Luiz Arthur, o "Zartha", também é alvo de mandado de prisão.

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Segundo o Ministério Público Federal, do valor bloqueado, R$ 800 milhões correspondem a danos morais e R$ 800 milhões a danos materiais.

A medida teria como finalidade "garantir efetivamente a reparação dos danos causados pelos crimes cometidos por Eike Batista", sinalizou a Procuradoria a Bretas, que determinou a prisão temporária de Eike e a preventiva de Luiz Arthur.

Agentes cumpriam ainda quatro mandados de busca e apreensão. Os alvos são endereços ligados a Eike, aos filhos do empresário Olin e Thor e ao ex-diretor-presidente e diretor de relações com investidores da CCX José Gustavo Costa.

Ao determinar as buscas, Bretas considerou a indicação do Ministério Público Federal de que o empresário "transferiu parte relevante de seu patrimônio a seus filhos, muito provavelmente com a finalidade de se furtar ao cumprimento das obrigações junto aos seus credores".

A ordem de Bretas registra ainda que, "diante de aparente sucessão e/ou confusão patrimonial" o Ministério Público Federal pediu que o bloqueio de bens e valores atingisse o patrimônio de Olin e Thor, "tendo em vista que tal patrimônio se constituiu substancialmente por doações e transferências de valores e ativos de seu pai, durante e logo após da prática dos crimes ora investigados".

A decisão de Bretas leva em consideração depoimento de Eduardo Plass, que firmou acordo de delação premiada e irá pagar R$ 300 milhões em multa e devolver US$ 9,2 milhões de Eike que estão sob sua custódia no exterior. O banqueiro foi alvo da operação "Hashtag" em agosto de 2018.

As investigações revelaram que as mesmas contas utilizadas para o pagamento de propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) "foram usadas para manipular ações de empresas envolvidas em negociações com Eike Batista", indicou a Procuradoria.

A Procuradoria destacou que o esquema utilizava a empresa The Adviser Investiments (TAI), com sede no Panamá, criada por Eduardo Plass e seus sócios, proprietários do TAG Bank.

As investigações identificaram que Eike e Luiz Arthur usaram a empresa para "atuar ilicitamente nos mercados de capitais nacional e estrangeiro, a fim de manipular ou usar informação privilegiada de ativos que estariam impedidos ou não queriam que o mercado soubesse que operavam".

Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Rio afirmaram que a TAI "funcionou como um banco paralelo, gerindo recursos de terceiros sem autorização".

"Para o mercado, passava a aparência de investir recursos próprios, pois omitia o real operador dos ativos."

Segundo a Procuradoria, entre 2010 e 2013, foram manipulados os mercados de ações e bonds de diversas empresas: Ventana Gold Corp, utilizada como falso pretexto para encobrir o repasse ilícito de recursos a Cabral, Galway Resources Ltd, MMX, MPX e OGX.

Defesa

Em nota, o advogado Fernando Martins, que defende Eike, informa que "assim que obtiver acesso aos autos e motivos que fundamentaram a prisão de Eike Batista apresentará recurso, porque certamente essa nova ordem de prisão, assim como a anterior, carece de amparo legal."

Agentes da Polícia Federal cumprem nesta quinta-feira (8) mandado de prisão do empresário Eike Batista. A ação é parte da Operação Segredo de Midas, deflagrada na manhã de hoje, como  desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro. O pedido de prisão foi expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal.

Condenado a 30 anos por corrupção ativa e lavagem de dinheiro, o empresário foi preso em janeiro de 2017. Três meses depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que Eike cumprisse a pena em casa.

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Na operação de hoje, a Polícia Federal também cumpre mandado de prisão contra outra pessoa ligada a Eike, além de quatro mandados de busca e apreensão. Segundo a PF, o objetivo é buscar provas sobre manipulação de capitais e lavagem de dinheiro.

"I'm back" (estou de volta, em inglês). Era o que dizia um vídeo apresentado por Eike Batista neste sábado, dia 6, em Florianópolis. No seu retorno, além de dar palestras, Eike pretende criar dez unicórnios, nome usado para designar startups cujo valor de mercado bate a casa de US$ 1 bilhão. Revelou pouco da estratégia, porém, para chegar lá. Diz que serão empresas de tecnologia e mineração, área na qual "sempre" teve "sucesso". "Tenho tudo. Sei identificar oportunidades únicas. Atrair capital sempre foi fácil para mim." Antes do evento Empreende Brazil Conference, Eike conversou com a reportagem.

O sr. falou que voltaria. Sua volta é como palestrante?

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Estou de volta. Tinha de passar um certo período (afastado). Foi necessário, até porque tive de deixar as empresas em pé. Nenhuma faliu. Botei todo o meu patrimônio para que não quebrassem e não acontecesse como com as empreiteiras, que demitiram milhares. Meus projetos continuaram. Vendi (minha parte) barato. Mas busquei sócios novos, que continuaram os projetos, hoje legados extraordinários para o Brasil.

Mas o sr. voltou para trabalhar como empresário, palestrante ou influenciador?

Sou tudo. Toco a banda inteira. Vou palestrar, mas já desenhei mais de dez empresas de US$ 1 bilhão. Desenhei minhas próximas dez.

Quais são?

São na área de mineração, onde sempre tive sucesso, não só no Brasil, mas também no Chile e nos Estados Unidos. Estou mexendo na área de nanotecnologia, química e de materiais, como o grafeno, que é o material do futuro.

Quantas pessoas trabalham com o sr. Hoje?

O suficiente.

Já tem investidores?

Tenho tudo. Sei identificar oportunidades únicas. Monto unicórnios e atrair capital sempre foi fácil para mim.

O sr. já atraiu quanto em investimento para os novos projetos?

O suficiente.

Quanto é o suficiente?

O suficiente.

Quem está aportando?

A definição de unicórnios é empresa com potencial de mais de US$ 1 bilhão. Criei mais de dez e tenho dez no meu curral. Estou criando dez unicórnios.

O sr. colocou seu patrimônio nas empresas. O que o sr. tem hoje?

O suficiente.

O suficiente para quê?

Dou consultorias e tenho opções de adquirir, por minha capacidade intelectual... Num aplicativo, bota pouco dinheiro. Sou um homem de ideias.

Essa é sua primeira palestra?

Sim. Comecei agora. Tenho uma legião de jovens que me seguem, sabem o que fiz e faço. Na mídia, (dizem que) meu porto está afundando, as coisas mais ridículas. Projetos de bilhão demoram anos para ficar prontos. Graças a Deus, todos os meus ficaram prontos.

Qual o objetivo com palestras?

Nada. Estou de volta. Trouxe US$ 50 bilhões para o Brasil em projetos estruturantes. Simples assim. Vou mostrar a maior parte deles e tem os novos (que serão apresentados).

Vai dar dicas com base mais nos erros ou acertos?

Tudo. A experiência com pessoas foi meu aprendizado e maior decepção. É meio cômico acharem que é tudo Eike Batista. Cinco empresas gigantes (do Grupo X) na Bolsa e só tem Eike Batista, mais ninguém (errou)? Impressionante.

Houve quem dissesse que venderia o ingresso, por causa da sua condenação no esquema do ex-governador Sergio Cabral.

Vou abordar esse assunto (na palestra). Quero lembrar, que o réu confesso Cabral disse no depoimento: "com Eike Batista não houve toma lá da cá".

Como o sr. avalia sua imagem?

Nunca se é unanimidade. Não quero ser unanimidade. Se fizeram uma imagem minha do que não sou, o que vou fazer? Foi feita, foi construída assim...

Foi construída por erros seus? Várias empresas suas entraram em recuperação judicial...

Uma empresa minha teve problema, a de petróleo. Na verdade, tive problema com executivos, que causaram a história e se criou uma corrida bancária.

Como foi seu tempo na prisão?

Um aprendizado. Entristeceu ver jovens que, por delitos não importantes, recebem condenação de anos e viram potenciais filiados de uma facção. Me assusta, como brasileiro humanista. Se cadeias reeducassem e os jovens tivessem chance de se reinserir na sociedade... Mas elas não são assim. Você já passou 90 dias na cadeia?

Não.

Recomendo passar, para escrever melhor sobre o assunto.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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