Tópicos | Caso Manoel Mattos

Após dois dias, o julgamento dos acusados de cometerem o assassinato do advogado, político e ativista dos Direitos Humanos, Manoel Mattos, chegou ao fim. Nesta quarta-feira (15), no último dia, a sessão teve duração de, aproximadamente, 15 horas e terminou com a condenação de dois réus e absolvição de três acusados. A sentença foi lavrada pela juíza da 36ª Vara da Justiça Federal  em Pernambuco (JFPE), Carolina Marta, após o conselho de sentença responder a um questionário, com sete perguntas, sobre cada réu e a magistrada realizar dosimetria - contagem de pena.

Flávio Inácio Pereira foi condenado a 26 anos de prisão, em regime fechado. "O réu foi considerado o mentor do crime e o incentivador da participação dos demais agentes. Além disso, de acordo com o júri, possui um comportamento desajustado", destacou a magistrada. Ela ressaltou que o crime foi motivado pela forma destemida como a vítima Manoel Mattos atuava contra os grupos de extermínio.

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Outro condenado foi José da Silva Martins, conhecido como 'Parafina'. O réu ficará recluso por 25 anos. O conselho de sentença entendeu que Parafina foi o sequestrador e executor de Mattos. A juíza explicou a pena aplicada. "Condenamos a 20 anos, porém como ele possuía duas condenações por homicídio e estava foragido, o tempo de prisão foi majorado para 25 anos".

Os advogados de defesa, Adailton da Silva e Harley Medeiros, afirmaram que vão recorrer. "Não tenho dúvida que a pena foi muito agressiva. Na minha concepção, caso o meu cliente fosse condenado, seria no máximo a 12 anos de prisão. Na próxima semana entrarei com o pedido de recurso e caso seja aceito haverá outro julgamento", disse Adailton da Silva, parte do acusado Flávio Inácio Pereira. O defensor de  José da Silva Martins, o advogado Harley Medeiros, também relatou que haverá recurso para o caso.

Em contrapartida, o Ministério Público Federal (MPF) manifestou insatisfação com a sentença de absolvição de Cláudio Roberto Borges e José Nilson Borges. "Já recorremos em audiência e o Ministério Público já manifestou inconformismo com a decisão dos jurados, que vai de encontro às provas dos autos. Agora os autos vão para a procuradoria que já vai ser preparado as razões de apelações", argumentou o procurador da república, Fabrício Carrer.

Quanto às penas, o procurador considerou que foram bem aplicadas. "Pelos autos e pelos fatos apresentados, acho que foi satisfatório", avaliou Carrer. O procurador da república ainda explicou porque solicitou a absolvição do acusado Sérgio Paulo da Silva. "A defesa levantou dúvida sobre os autos. Dessa forma o Ministério Público aconselhou a não condenação do réu".

Após dois dias de julgamento, a mãe da vítima Nair Ávila desabafou com a imprensa. "Quanto ao Flávio e ao Parafina, eu estou bastante satisfeita. Agora, ficaram faltando os outros que também tiveram envolvimento. Não foi como eu queria, mas foi uma vitória muito grande, eu tenho certeza que onde o meu filho estiver, ele vai estar satisfeito", disse.. 

Relembre o caso - Manoel Mattos foi assassinado a tiros de espingarda, no dia 24 de janeiro de 2009, na Praia Azul, situada no município de Pitimbu (PB). O crime ocorreu após denúncias realizadas pelo próprio advogado contra grupos de extermínio, que atuavam nos estados de Pernambuco e Paraíba, região intitulada como ‘Fronteira do Medo’. Antes do crime, a Organização dos Estados Americanos (OEA) concedeu medidas cautelares para o Brasil, com o propósito de proteger Mattos. Porém, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), as medidas não foram realizadas quanto à repressão das quadrilhas, o que acarretou na morte do advogado. A vítima nasceu no município de Itambé e atuou permanentemente na cidade como assessor de Fernando Ferro, foi vereador e prefeito da cidade, inclusive, chegou a presidir a Câmara Municipal.

Federalização de transferência para PE - O processo foi o primeiro caso a ser federalizado do Brasil. Após a fereralização, em 2010, o julgamento saiu da competência do poder público estadual da Paraíba e para a Justiça Federal. Só em 2014, o caso foi desaforado e passou a ser realizado em Pernambuco. 

Encerrando os depoimentos às 14h43, nesta quarta-feira (15), o julgamento do caso de Manoel Mattos entra em recesso e retorna às 16h30. Durante o início da tarde, houve os debates da defesa e os advogados alegaram a inocência dos acusados, afirmando, inclusive, que um deles não possuía perfil de integrante de grupo de extermínio e que as provas apresentadas pela acusação deixavam dúvidas.

Os debates obedeceram a seguinte ordem: os advogados Carlos Antônio Rodrigues e Harley Medeiros, defenderam o réu Flávio Inácio Pereira; Claudios Augusto Caju e Alberto Domingos atuaram a favor de Cláudio Roberto Medeiros e José Nilson Borges; Adailton Silva defendeu José da Silva Martine e por último, o advogado da Defensoria Pública da União (DPU), Flávio Siviero falou em defesa do acusado Sérgio Paulo da Silva.  

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O advogado Adailton Silva alegou que as características físicas do réu José da Silva Martins, conhecido como "Parafina", não coincidem com as formas físicas citadas por uma das testemunhas. "Em depoimento, uma testemunha afirma que a pessoa que estava encapuzada e utilizando uma camisa "camuflada" - estilo do exército -, não possuía a mesma forma física que o Parafina. Segundo a pessoa, quem matou Manoel Mattos era mais alto e mais forte, como o soldado Flávio (acusado de ser um dos mentores do crime)", defendeu.

Ainda durante debate, Adailton acrescentou, "Não estou acusando Flávio, apenas afirmo se há dúvida, não se pode condenar nenhum dos dois. Além disso, a blusa encontrada na casa do acusado tinha manga curta e o assassino utilizava camisa de manga comprida. Essa prova é muito fraca", argumentou. "Acredito que o delegado, na época, foi muito habilidoso, simplesmente apresentou como culpados pessoas que já possuíam precedente criminal", concluiu.

Às 14h 22, o último advogado de defesa, Flávio Siviero iniciou o debate e alegou, do réu Sério Paulo da Silva, que o mesmo não detém perfil de integrante de grupo de extermínio. "Ele não pertence a Polícia Militar, nem a Civil e muito menos foi agente penitenciário. Além disso, ele é um ladrão e usuário de drogas, características que o grupo de extermínio abominam", falou.

Siviero ainda destacou que as acusações são inconsistentes. "Temos que levar em consideração também que há elementos que comprovam que o acusado estava em uma festa e quatro testemunhas afirmam isso. Só podemos confirmar que ele é ladrão e foi condenado por isso", defendeu.

A sessão está sendo realizada na Justiça Federal, na Zona Oeste do Recife. Após os debates serão realizadas as réplicas e tréplicas, com duração de duas horas cada uma. Em seguida, o júri se reúne e seguida é revelado o veredito e a sentença.

Relembre o caso - Manoel Mattos foi assassinado a tiros de espingarda, no dia 24 de janeiro de 2009, na Praia Azul, situada no município de Pitimbu (PB). O crime ocorreu após denúncias realizadas pelo próprio advogado contra grupos de extermínio, que atuavam nos estados de Pernambuco e Paraíba, região intitulada como ‘Fronteira do Medo’. Antes do crime, a Organização dos Estados Americanos (OEA) concedeu medidas cautelares para o Brasil, com o propósito de proteger Mattos. Porém, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), as medidas não foram realizadas quanto à repressão das quadrilhas, o que acarretou na morte do advogado. A vítima nasceu no município de Itambé e atuou permanentemente na cidade como assessor de Fernando Ferro, foi vereador e prefeito da cidade, inclusive, chegou a presidir a Câmara Municipal.

O julgamento do caso Manoel Mattos começou com os inquéritos dos acusados pelo crime de homicídio. A primeira pessoa interrogada foi o sargento reformado da Polícia Militar Flávio Inácio Pereira, apontado como mandante do homicídio.

No depoimento, Flávio confessou que tinha desentendimento com o advogado Manoel Mattos, mas que era o próprio Mattos quem o perseguia. “Ele era um bêbado que só arrumava confusão. Tinha 36 TCOs por espancamento, baderna...”, citou o sargento. “Ele tinha muito inimigo em Itambé”, explicou.

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Alguns casos que constam nos autos da investigação foram levantados pela juíza Carolina Malta durante o inquérito. Por exemplo, uma discussão em uma churrascaria em que Flávio teria ameaçado Mattos. Na versão do réu,  os acontecimentos não se deram dessa forma. “Ele estava lá embriagado, com três elementos da favela. Ele estava com uma pistola – ele sempre usou pistola- e não deixou que eu entrasse”, lembra.

Outra discussão entre os dois teria ocorrido em um posto de gasolina. Segundo depoimentos de testemunhas, Flávio teria ficado extremamente nervoso ao avistar Mattos, chegando a dizer que nem que levasse dez anos mataria o rival e, após deixarem o local, teria seguido o carro do ativista por grande parte do caminho. Mas segundo Flávio, ele estava calmo e foi embora do posto por pedido do dono do estabelecimento.

Para apontar a raiva que Flávio tinha de Manoel Mattos, a acusação lembrou de uma investigação de estupro cometida pelo sargento. Ele tem um filho de 14 anos com uma mulher que hoje possui 29 anos - "ela tinha 15 anos quanto teve o filho", assumiu o acusado. Mattos foi o responsável pela ação do processo, lutando por uma pensão para a mulher. 

O público presente na sessão se manifestou, principalmente com sorrisos irônicos, quando o acusado disse que “nunca existiu naquela região grupos de extermínio”. Mattos era conhecido por combater esses grupos na divisa entre Pernambuco e Paraíba e a razão da sua morte estaria relacionada a esta atividade.

Após a ouvida, a sessão foi suspensa para o horário de almoço, voltando às 14h. A previsão é que a sentença seja dada só na quarta-feira (15).

Ocorre nesta terça-feira (14) o julgamento dos cinco acusados de envolvimento no homicídio do advogado e ativista Manoel Mattos, morto em 2009. Mesmo com a grande repercussão do caso, que foi o primeiro federalizado do Brasil, os advogados de defesa ainda vão buscar a inocência dos seus clientes.

O defensor público Flávio Siviero, que faz a defesa de Ségio Paulo da Silva, apontado como um dos executores do crime, alegou que não há provas da participação do réu. “Se eu dissesse que você matou uma pessoa’, exemplificou, ‘então eu devia comprovar o que disse. Em nenhum momento a acusação comprovou”. Siviero evitou detalhar sua estratégia de defesa.

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Apesar de apontarem a inocência dos acusados, antes da sessão iniciar, por três vezes os advogados pediram o desmembramento do julgamento, ou seja, que cada réu tivesse seu julgamento separado, o que resultaria no adiamento da sessão. Os pedidos foram indeferidos pela juíza Caolina Malta, da 36ª Vara da Justiça Federal de Pernambuco.

Uma confusão na hora do sorteio dos jurados atrasou o início da sessão e a defesa ameaçou utilizar isto para o adiamento. É que a urna que deveria conter o nome das 25 pessoas aptas a compor o júri continha 26 nomes. “Esta ocorrência é passível de anulidade”, explicou Harley Cordeiro,  advogado  de Cláudio Roberto Borges e Flávio Inácio Pereira, ambos apontados como mandantes. 

Ainda de acordo com Cordeiro, seus clientes também não são responsáveis pelo homicídio. “Não há nada que aponte a participação de Cláudio. Dizem que Flávio é mandante mas isso não ficou devidamente provado”, comenta.

Os advogados de defesa criticaram a transferência do julgamento da Paraíba para Pernambuco. Mas de acordo com o procurador da República Alfredo Falcão, da acusação, essa foi uma decisão do Tribunal Regional da 5ª Região: “Pedimos ao tribunal que indicasse qual era o local mais seguro pra realizar esse julgamento, que oferecesse garantias processuais tanto à defesa quanto à acusação e um julgamento justo, que é o que se busca desde o início com essa federalização”. 

“Foi uma decisão do tribunal que Recife ofereceria uma estrutura que diluiria esse temor que atrapalhou o julgamento da Paraíba”, concluiu Falcão. No primeiro julgamento adiado, que seria realizado na Paraíba, a quantidade de jurados que compareceram não deu quórum mínimo. A acusação alega que os jurados eram coagidos pelas pessoas envolvidas com os grupos de extermínio a não comparecerem.

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Parentes, amigos e estudantes participaram na manhã desta segunda-feira (30) de um debate sobre a morte do advogado e defensor dos Direitos Humanos Manoel Matos, morto em janeiro de 2009, e cujo julgamento do caso está marcado para o dia 14 de abril. Mattos denunciava grupos de extermínio que atuavam na divisa entre Pernambuco e Paraíba. Este foi o primeiro caso de federalização de crime contra os direitos humanos. O encontro foi realizado no Auditório Capiba, na Faculdade Maurício de Nassau, localizada na área central do Recife.

O professor Manoel Moraes, organizador do evento, era amigo e militava com Mattos. De acordo com o docente, o objetivo do evento é lembrar a sociedade do caso. “Queremos mobilizar a sociedade, divulgar o julgamento que vai acontecer e conscientizar as pessoas. Este é o primeiro evento de uma jornada de atividades. Nos dias 9 e 10 de abril, faremos outros debates com a participação da ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti”, destaca.

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Para a mãe da vítima, Nair Ávila, há uma expectativa positiva para o julgamento. “Eu estou com muita esperança depois que o caso foi federalizado, porque eu acredito que a Justiça Federal é isenta e com isso nós tenhamos justiça”, opina. Quatro pessoas serão julgadas como mandantes e executores crime. Os grupos de extermínio são suspeitos de terem pessoas ligadas à polícia.

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O caso - Manoel Mattos foi executado por dois homens em sua casa de praia em Pitimbu-PB, onde estava com amigos. O principal suspeito de ser o mandante do crime é o ex-policial militar Flávio Inácio Pereira, que havia sido citado por Manoel na CPI dos Grupos de Extermínio. 

O advogado possuía um relatório com 200 casos de pessoas que haviam sido vítimas dos grupos de extermínio. Segundo o professor Manoel Moraes, após começar a trabalhar em Itambé, na Zona da Mata de Pernambuco, Mattos passou a notar que seus clientes eram mortos. “Para algumas pessoas era mais barato contratar um executor do que pagar os direitos trabalhistas”, comenta Moraes. 

A Organização dos Estados Americanos constatou a necessidade da proteção ao ativista. Mattos passou a ser protegido pela Polícia Federal. “Ele visitava muitos clientes à noite. A Polícia Federal disse que para preservar sua vida, ele teria que voltar para casa às 17h. Mattos começou a se contrapor às decisões da Polícia Federal, que disse que não poderia continuar com a proteção”, detalha o professor. Manoel Moraes reforça que quem poderia revogar a ordem de proteção era o Estado, não a polícia.

O julgamento do caso foi adiado mais de uma vez. A própria família da vítima pedia que o júri não ocorresse na Paraíba, por causa do clima de intimidação existente entre os jurados. O pedido foi acatado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

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