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A juíza Italia Maria Zimardi Areas Poppe Bertozzi, da 24ª Vara Federal do Rio de Janeiro condenou a deputada federal Chris Tonietto (PL-RJ) ao pagamento de indenização por danos morais coletivos de R$ 50 mil em razão de uma postagem discriminatória 'que relacionava a prática de crime e a pedofilia à população homossexual'. A parlamentar ainda terá de excluir discriminatório e publicar retratação, que deverá ser mantida no ar por, pelo menos, um ano.

"Cabível, pois, no caso presente, a responsabilização da parte ré, uma vez que a manifestação externada, conforme apurado no contexto dos autos, representou ultraje moral à comunidade LGBTI+, comportamento este que, porquanto intolerante contra essa minoria, revela-se antagônico ao pluralismo político erigido a condição de fundamento da República e contrastante ao objetivo fundamental de 'promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação'", registra a sentença.

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O valor arbitrado como indenização será destinado à estruturação de centros de cidadania LGBT, geridos pelo poder público. A magistrada considerou que a medida era adequada em razão de 'sancionar a ofensora, inibir referida prática ilícita e, ademais, de oferecer reparação indireta à sociedade, por meio da repartição social dos lucros obtidos com a prática ilegal'.

A decisão foi publicada no último dia 12 e divulgada pelo Ministério Público Federal na sexta-feira, 15. O despacho foi dado no âmbito de uma ação civil pública impetrada pela Procuradoria em fevereiro de 2021, questionando uma publicação feita pela deputada em 12 de junho de 2020.

Os procuradores da República Ana Padilha, Sérgio Suiama e Julio Araújo, autores da ação civil pública, argumentaram que a postagem não tinha só discriminatório, mas acabava por 'estimular a violência' contra a população LGBT, 'caracterizando discurso de ódio e menosprezo pelo ordenamento jurídico e pelas instituições democráticas'.

Ao analisar o caso, a juíza Italia considerou que, ao ligar a prática da pedofilia ao movimento LGBT, Chris Tonietto 'ultrapassou, certamente, as largas balizas do exercício constitucionalmente autorizado da manifestação de pensamento'.

"Não se pode irrogar ao movimento LGBTI+, não sem embasamento, pelo menos, sob pena de constituir leviandade, juridicamente qualificada como ato ilícito, por isso mesmo passível de reparação, o crescimento do número de casos de pedofilia, pois que quando assim se procede pratica-se verdadeira manifestação de ódio, desprezo ou intolerância contra determinados grupos, motivada por preconceito ligado ao gênero", ponderou.

Antes de judicializar o caso, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão recomendou que a parlamentar a apresentar os 'estudos científicos em que se baseou para disseminar as conclusões de sua postagem' e, em caso negativo, indicou que a deputada se retratasse da informação falsa publicada no Facebook, com o mesmo destaque da publicação original.

De acordo com o MPF, Chris Tonietto 'se recusou a acatar a recomendação, limitando-se a informar que goza de imunidade parlamentar e que o recomendado implicaria ato de censura, além de sustentar que sua opinião estaria lastreada no senso comum e na realidade'.

A alegação de imunidade parlamentar também foi apresentada à Justiça, mas rechaçada pela juíza da 24ª Vara Federal do Rio. A magistrada ponderou: "Não se pode, pois, elastecer a imunidade a ponto de fazê-la escudar toda e qualquer manifestação emitida pelo cidadão, que, exercendo mandato eletivo, profira opiniões ofensivas a pessoas e/ou coletividades, sem nexo etiológico com o cargo desempenhado".

COM A PALAVRA, A DEPUTADA

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato, por e-mail, com o gabinete da deputada. O espaço está aberto para manifestações.

O Ministério Público Federal (MPF) move ação civil pública contra a deputada federal Chris Tonietto (PSL-RJ) por prática de discriminação contra a população LGBTTQIA+ em publicação postada no Facebook no dia 12 de junho de 2020, em que, com teor discriminatório relacionava a prática de crime e a pedofilia a pessoas homossexuais.

Na ação, o MPF requer que a deputada seja condenada ao pagamento de R$ 50 mil a título de indenização por danos morais coletivos, devendo o montante ser destinado à estruturação de centros de cidadania LGBT, no município ou no Estado do Rio de Janeiro. Além disso, requer-se a condenação para que ela exclua o comentário objeto da presente a ação e publique retratação na rede social Facebook, especificando tratar-se de condenação judicial, devendo a referida postagem permanecer no ar por, pelo menos, um ano.

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“A publicação induz falsamente a opinião pública a acreditar que todo o grupo de pessoas homossexuais seria propenso a cometer os graves crimes que giram em torno da pedofilia, gerando preconceito e reforçando estigmas”, pontuam os procuradores Regionais dos Direitos do Cidadão, Ana Padilha, Julio Araujo e Sérgio Suiama.

Em julho do ano passado, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão expediu a Recomendação PRDC/RJ nº4/2020 para que a parlamentar esclarecesse e apresentasse os estudos científicos em que se baseou para disseminar as conclusões de sua postagem, especificando exatamente qual autor relaciona o ensino de gênero nas escolas à pedofilia. Em não havendo, recomendou-se que a autora do texto se retratasse da informação falsa publicada no Facebook, com o mesmo destaque da publicação original.

Em sua resposta, a deputada se recusou a acatar a recomendação, limitando-se a informar que goza de imunidade parlamentar e que o recomendado implicaria ato de censura, além de sustentar que sua opinião estaria lastreada no senso comum e na realidade.

Diante disso, não restou outro caminho ao MPF senão a judicialização do caso. “Além do teor discriminatório, é patente que a descabida associação entre a homossexualidade e a prática de crimes associados à pedofilia estimula a violência contra este grupo, caracterizando discurso de ódio e menosprezo pelo ordenamento jurídico e pelas instituições democráticas”, concluem os procuradores.

Da assessoria do MPF

Uma das parlamentares a votar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), a deputada Chris Tonietto (PSL-RJ), justificou seu posicionamento contra a medida afirmando que o modelo proposto retira a participação da família na escola ao centralizar o financiamento da educação.

A PEC foi aprovada na Câmara na última terça-feira, 21, com apenas sete votos contrários, todos eles de bolsonaristas. Chris Tonietto encaminhou uma declaração de voto à Mesa Diretora da Casa justificando seu voto. Para ela, tornar o financiamento permanente na Constituição engessa as regras e dificulta mudanças no futuro.

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"A educação é coisa séria. Eu jamais daria um voto sem antes entender qual é a implicação da matéria sobre a qual estou discutindo", diz a parlamentar na declaração. "A solução é realmente entregar nossa educação para a esquerda ou para a direita? As famílias devem estar mais presentes na escola e o professor não tem de estar lá sozinho. Por que estou dizendo isto? Porque estamos fazendo a discussão sobre educação da maneira errada. O foco está errado."

Para a deputada, a proposta deveria manter o Fundeb provisório, e não permanente, com a possibilidade de revisão em seis anos e uma discussão sobre o caráter definitivo daqui a dez anos. Na versão aprovada pela Câmara, porém, os deputados estipularam o prazo de seis anos para revisão da participação da União no fundo.

Outro ponto criticado por ela é a distribuição dos recursos de acordo com o desempenho escolar, conforme previsto no texto. Para ela, o dispositivo centraliza o currículo das escolas. "O Fundeb não deve amputar as escolas para, no lugar de seus membros, instalarem próteses sem vida".

O Ministério Público Federal (MPF) no Rio notificou a deputada federal Chris Tonietto (PSL-RJ) para que a mesma preste explicações sobre postagem em seu perfil no Fabebook na qual relacionou a pedofilia ao movimento LGBT e à "ideologia de gênero". Segundo a Procuradoria, a publicação "gera preconceito e reforça estigmas", além de usar a expressão ideologia de gênero "de modo a produzir pânico moral com o objetivo de obstaculizar o reconhecimento de direitos sexuais e equidade de gênero".

O MPF quer que a parlamentar apresente os estudos científicos e explique de forma clara qual autor relaciona o ensino de gênero nas escolas à pedofilia. Caso a deputada fluminense não consiga comprovar o relato, a Procuradoria recomenda que ela se retrate da informação falsa publicada, com o mesmo destaque da postagem questionada.

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Os procuradores deram 30 dias para que Chris Tonietto apresente informações e esclareça as providências adotadas em relação ao seu cumprimento. O documento assinado no último dia 26 e divulgado nesta segunda-feira (13), revela a instauração de uma notícia de fato para "apurar possível irregularidade praticada pela deputada".

Na recomendação, o MPF destaca que a Constituição Federal de 1988 prevê a construção de uma "sociedade livre, justa, solidária e sem preconceitos".

Na avaliação dos procuradores, a expressão "ideologia de gênero" foi utilizada e vem sendo empregada de forma "vaga, imprecisa e descontextualizada para designar indiscriminadamente toda e qualquer intervenção teórica concernente ou alusiva aos estudos de gênero, de modo a produzir pânico moral com o objetivo de obstaculizar o reconhecimento de direitos sexuais e equidade de gênero como consectários da dignidade da pessoa humana".

O documento indica ainda que a publicação de Chris Tonietto "induz falsamente a opinião pública a acreditar que todo o grupo de pessoas LGBT+ seria propenso a cometer os graves crimes que giram em torno da pedofilia, gerando preconceito e reforçando estigmas".

A Procuradoria também apontou no texto que, conforme estudos, na maioria dos casos de violência sexual infanto-juvenil notificados no Brasil, o agressor é um familiar ou pessoa integrante do ambiente doméstico onde ocorre a violência.

Além disso, a recomendação registrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) já "decidiu de forma reiterada pela inconstitucionalidade de leis que tentem proibir qualquer debate sobre educação sexual, orientação sexual, equidade de gênero ou a chamada 'ideologia de gênero' nas escolas", citando até trechos dos votos dos ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso nos julgamentos em questão.

Defesa

A reportagem entrou em contato, por e-mail, com o gabinete da deputada Chris Tonietto. O espaço está aberto para manifestações.

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