O termo ‘índio’ é associado ao primitivo, não-civilizado, enquanto ‘indígena’ significa aquele que é originário de algum lugar. Nesta segunda-feira (19), data que celebra o Dia dos Povos Indígenas, o LeiaJá entrevista o professor de história Marlyo Alex, que explica a origem da celebração e como essa cultura pode ser compreendida na sociedade.
Mas afinal, por que o Dia dos Povos Indígenas é celebrado em 19 de abril? O professor explica que a data foi decretada em 1943, durante o governo do então presidente Getúlio Vargas, como parte do seu projeto político, no período chamado Estado Novo. “Basicamente, dentro de um projeto de uma etnologia, nessa questão das etnias, da formação do povo brasileiro, que estava bastante em voga no momento, ele vai, de certa forma, unir essa questão do índio junto com um processo de criação de uma identidade nacional. Usando, por exemplo, assim como em outros momentos também, o índio como essa ideia de ancestralidade, de uma origem da cultura e do povo brasileiro”, ele pontua.
##RECOMENDA##
O dia e o mês em questão foram escolhidos em memória do congresso indigenista interamericano, que havia sido realizado pela primeira vez em 1940. Com a instituição da data, a partir de 1944, a celebração foi se tornando mais comum. Mas, nas escolas, ainda levou um longo tempo para que houvesse um aprofundamento de suas diretrizes curriculares.
Apenas em 2008 tornou-se lei o estudo das culturas indígenas no ensino fundamental e ensino médio. Mais de dez anos após instituída a Lei nº11.645/2008, é possível observar hoje uma mudança na forma como a data é abordada nas escolas. “A partir do momento em que você tem uma lei federal, que cria essa obrigatoriedade de ensino de determinado conteúdo, isso cai no currículo de ensino e no currículo que vai ser cobrado em provas como o [Exame Nacional do Ensino Médio] Enem. Então você começa a ter um engajamento um pouco maior, uma preocupação um pouco maior, editais de pesquisa, como os da [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] Capes, vão começar a dar uma atenção maior, porque você vai ter essa interferência”, Alex esclarece.
O docente ainda comenta a consequência, positiva, em estudar a história do Brasil sob a perspectiva dos povos originários. “A gente precisa entender que o Brasil vai ser formado por uma série de influências, nem sempre muito pacíficas, mas que são existentes. Grande parte da nossa cultura, língua, comportamentos, tem uma associação direta a povos indígenas que aqui viviam e que ainda vivem dentro de nossos costumes, nossas práticas, nossa fala”, analisa o professor.
A compreensão das origens e influências indígenas na formação da sociedade brasileira pode começar por palavras simples do vocabulário comum, ou nomes de lugares. A palavra Pernambuco, por exemplo, vem do tupi. Marlyo Alex reflete a importância de estudar essas origens para compreender o mundo atual. “Então, tem muito essa influência, e ela, muitas vezes, não é percebida, e é fundamental tentar entender esse passado, tentar entender essa influência e, de certa forma, prestar um certo respeito à essa identidade. (...) Há um apagamento da memória, da identidade, da história, como se fosse algo vergonhoso ter uma influência, ter um passado, ter uma ancestralidade que remete a essas populações. Então, se faz fundamental trazer à tona a discussão sobre essas culturas para o debate do momento”, observa.
Com esses novos paradigmas aplicados em sala de aula, e com os avanços tecnológicos, principalmente o acesso bem maior à internet e a todo tipo de informação, o conhecimento também se populariza, trazendo os indígenas como protagonistas de suas próprias narrativas. “Hoje, a gente, de certa forma, percebe que as populações indígenas são vistas como agentes um pouco mais ativos e menos passivos. (...) Por conta dessa cultura da internet, de informação em larga escala, ela tem lados negativos, de fato, mas tem lados positivos, que permitem um acesso a mais formação. E a partir daí, abrir, ampliar um pouco mais essa interpretação, um pouco mais essa observação em relação à cultura, em relação a esse passado”, finaliza.