Tópicos | Érica Malunguinho

As deputadas Monica Seixas e Erica Malunguinho, ambas do PSOL, estão acionando o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo contra os parlamentares Welligton Moura, Gilmaci Santos e Douglas Garcia (Republicanos) por episódios de alegadas violência política de gênero, transfobia e injúria racial.

As representações assinadas por Mônica Seixas, contra Moura (violência política e injúria racial) e Santos (violência e machismo) já foram protocoladas na Alesp, sendo que a parlamentar prepara representação a ser apresentada no Ministério Público Eleitoral contra o primeiro. Já Malunguinho está elaborando a representação contra Garcia (violência política de gênero e transfobia), documento que deve ser apresentado à casa legislativa ainda nesta semana.

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Mônica Seixas chegou a lavrar boletim de ocorrência contra Gilmaci e Garcia por injúria e calúnia. Segundo a parlamentar, Gilmaci disse que ela era 'louca' e Garcia alegou ter sido agredido por ela. Depois, o registro foi complementado pela defesa de Malunginho, relatando o episódio envolvendo as declarações de Garcia na Alesp. A deputada também indicou que, nas redes, Garcia disse que ela 'deu um tapa em seu braço', mas sustenta que 'nada disse e apenas encostou para chamá-lo'.

Os casos que motivaram as iniciativas das deputadas ocorreram nas últimas terça e quarta-feira, 17 e 18. O primeiro ocorreu durante sessão da Alesp que culminou na cassação do deputado Arthur do Val em razão da declaração machista de que mulheres ucranianas 'são fáceis porque são pobres'.

Na ocasião, o deputado Douglas Garcia subiu à tribuna para alegar que a deputada Erica Malunguinho, uma mulher trans, seria 'agressiva' 'quando defende que um homem que se sente mulher'.

Mônica Seixas reagiu a fala de Garcia, ressaltando que transfobia é crime. Em seguida, o deputado Gilmaci Santos chamou a deputada de 'louca', com o dedo em riste, chegando a 'tocar em seu nariz', segundo narra o boletim de ocorrência.

No dia seguinte, durante a votação de perda do mandato do deputado Frederico D'Ávila - que xingou o papa Francisco e o arcebispo de Aparecida de 'vagabundos', 'safados', 'pedófilos' e 'canalhas' - Welligton Moura afirmou que iria 'colocar um cabresto' na boca de Mônica Seixas.

A declaração se deu após a parlamentar discursar sobre saúde pública, depois de a votação sobre o caso de D'Ávila ser adiada. O presidente da Alesp, Carlão Pignatari, interrompeu a deputada, afirmando que Mônica estava falando de um assunto diverso ao tema da sessão. Foi então Moura que falou sobre o cabresto.

A deputada chegou a reagir, falando que o colega não iria 'calar sua boca'. Em seguida, ouviu de Moura: "Vou sim".

COM A PALAVRA, O DEPUTADO GILMACI SANTOS

Até a publicação deste texto, a reportagem tentou contato, por e-mail, com o gabinete do deputado, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

COM A PALAVRA, O DEPUTADO WELLIGTON MOURA

Até a publicação deste texto, a reportagem tentou contato, por e-mail, com o gabinete do deputado, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

COM A PALAVRA, O DEPUTADO DOUGLAS GARCIA

Não houve transfobia nas falas do Deputado Douglas Garcia, que foi agredido com um tapa pela Deputada Erica Malunguinho, que está sendo representada no Conselho de Ética por esse motivo.

A fala do Deputado Douglas Garcia é a defesa do direito das mulheres e a exposição da contradição de quem diz defender as mulheres e, ao mesmo tempo, acha justo transexuais lutarem boxe ou MMA contra mulheres. Além disso, o Deputado Douglas Garcia já foi absolvido criminal e civilmente por se manifestar contrariamente ao uso de banheiros femininos por transexuais.

Ao votar favorável à cassação do mandato do deputado estadual Arthur do Val (União Brasil), mais conhecido como Mamãe Falei, em processo por quebra de decoro parlamentar por áudios vazados sendo machista e misógino com mulheres ucranianas, a deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL) pontuou que o caso relata uma violência simbólica contra as mulheres. 

“Isso é uma construção histórica baseada numa lógica de poder, no qual as mulheres são sempre o lado mais frágil da corda. Isso, o que parece muito bobo, papo de homem, demonstra o exercício de poder e é necessário que a gente estanque e corte o mal pela raiz”, afirmou a deputada. 

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Malunguinho destacou a relativização do processo por parte da população e pela defesa de Arthur do Val. “O meu posicionamento não é nenhum tipo de afeto ou desafeto, porque eu nunca nutri nenhum tipo de sentimento pelo deputado Arthur do Val. Diante disso, quero afirmar que essa violência que aconteceu a partir da fala de Arthur do Val, por mais que muita gente tente relativizar o processo dizendo que ele teve um ato falho e que não era passível de cassação, é como se a gente estivesse fingindo e colocando para debaixo do tapete algo muito maior”. 

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Com relação ao conteúdo do áudio vazado, tendo uma das partes que o deputado afirma que as ucranianas “são fáceis porque são pobres”, Erica ressalta a violência estrutural. “Não estou falando apenas dessa fala pontual, estou falando de uma história de violência, estrutura e lógica de poder do homem. Isso, uma ‘fala banal’ é o que gera estupro e feminicídio, ou vocês acham que a pessoa acorda e fala ‘vou matar a minha mulher hoje’?”, questionou.

A deputada comentou da vez que sofreu LGBTQIA+fobia na Alesp, assim que tomou posse, e ressaltou que a “política brasileira não pode mais ser palco para violência”. “Lembro da vez que [o deputado] Douglas Garcia, assim que entrei nesta Casa, falou no microfone que tiraria uma mulher trans e travesti às tapas do banheiro e chamaria a polícia. Eu não estou falando isso para te lembrar [direcionada ao deputado] que não vou esquecer, mas para dizer que não estou aqui por palanque político. Tenho vergonha e fico triste com o que está acontecendo. Todas as pessoas não devem superar a razão de que há um problema histórico estrutural dentro desta instituição e que precisa ser tratado com o rigor cabível a este lugar. A política brasileira não pode mais ser palco para a violência”. 

A deputada estadual por São Paulo, Erica Malunguinho, sabe que não é possível eliminar a história escravagista do Brasil, mas pode-se escolher a partir de qual ótica contá-la: "a dos algozes ou a dos que lutaram e resistiram a essas violências".

A partir dos protestos antirracistas ocorridos nos Estados Unidos, que impulsionaram a retirada dos monumentos de figuras históricas vinculadas à escravidão e ao colonialismo, essa educadora negra de 38 anos, primeira representante trans na Assembleia Legislativa de São Paulo, propõe criar uma comissão para revisar a existência dos monumentos, nomes de avenidas, escolas e edifícios públicos do estado mais povoado do país.

"A escravidão foi um regime cruel que deixou marcas profundas que não foram curadas, precisamos fazer uma revisão dessa história. Colocar essas esculturas e esses nomes no devido lugar, que são os museus ou em algum ambiente em que possa haver uma explicação sobre esse momento específico e triste", defende Malunguinho.

"Para haver a igualdade é necessária a reparação, e para haver reparação é necessário recontar a história", afirma a deputada eleita pelo PSOL.

A tarefa proposta é intensa. Em 1888, o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, mais de seis décadas depois de ter se tornado independente de Portugal.

E a grande maioria dos descendentes dos quase cinco milhões de africanos trazidos para estas terras ao longo de três séculos - o equivalente a quase metade do total de escravos enviados às Américas -, assim como os indígenas americanos escravizados, continuam relegados à base da pirâmide social.

"Não estou solicitando que haja uma retirada generalizada dos monumentos, nomes de rodovias ou de prédios públicos. Existe uma indicação para que haja uma comissão qualificada com museólogos, historiadores e a sociedade civil, para que se chegue a uma conclusão pra que esses pares consigam discernir sobre o melhor destino para esses monumentos", explica a deputada.

"É uma espécie de comissão da verdade patrimonial", explica.

Bandeirantes na mira

Candidatas a ser examinadas, por exemplo, são as múltiplas homenagens aos bandeirantes, expedicionários que desde o século XVI adentravam o país e outras regiões da América em busca de riquezas minerais e de indígenas, para vendê-los como escravos nas minas e plantações.

Séculos depois, esses personagens foram exaltados pela elite local, que passou a retratá-los como "nobres exploradores", estampando seus nomes em ruas, praças, monumentos e edifícios públicos, como a sede do governo de São Paulo.

A proposta de Malunguinho busca que a cidade "não reincida na prática da homenagem a pessoas que estiveram ligadas à violências escravagistas, tanto do povo indígena quanto do povo negro".

Aos que criticam esse tipo de iniciativa por considerar que há um "apagamento" da história, Erica responde: "Ao contrario do que alguns pensam, não é sobre apagar. (...) A História não se apaga, mas a gente pode encontrar formas de contá-la".

Por isso, ela defende homenagens aos que lutaram pela "igualdade, pelos direitos, pela emancipação". Lutas que "não estão atreladas a processos de dominação e de violência em relação ao outro".

O projeto, apresentado em 20 de junho, está nas mãos de uma comissão e talvez será votado em agosto, quando a Assembleia de São Paulo retomar suas atividades presenciais.

Sobre as chances de seu projeto prosperar em um espaço de maioria masculina, conservadora e branca, Malunguinho ressalta: "Vamos ver o que acontece".

O deputado estadual de São Paulo Douglas Garcia (PSL) recebeu uma advertência verbal da Assembleia Legislativa (Alesp), nessa quarta-feira (2), por ter afirmado, em discurso no plenário, que tiraria "no tapa" uma transexual do banheiro feminino que sua mãe ou irmã também estivesse usando. 

A punição foi resultado de processos movidos no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa pelas deputadas Erica Malunguinho (PSOL), que é trans, e Professora Bebel (PT). Erica Malunguinho foi quem acusou o deputado de transfobia. O deputado foi alertado para a necessidade de cumprimento da ética e do decoro parlamentar da Casa.

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Douglas ouviu a leitura da advertência de pé, durante a reunião do conselho, e quando encerrou a sessão não se pronunciou sobre o caso. Ele usou as redes sociais para exibir um vídeo do momento e dizer que isso aconteceu "por não aceitar que a militância LGBT desça goela abaixo a sua agenda no nosso Brasil".

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Fundador do Movimento Conservador e apoiador do presidente Jair Bolsonaro, Douglas disse ao jornal Folha de São Paulo que vai permanecer contra transexuais em banheiros femininos. 

"Não abaixo a cabeça, continuo exercendo meu mandato, agora tentando falar na polidez que a Assembleia aceita, mas continuo defendendo de forma contundente que a utilização de banheiros femininos por pessoas que se acham mulheres não é certo", declarou Douglas, que depois se ser acusado de transfobia e homofobia por Malunguinho revelou que é gay. 

Montagem/Facebook

Apesar do crescimento das bancadas conservadoras, a exemplo do PSL - partido de Jair Bolsonaro - que saiu de 1 para 52 deputados, o Congresso Nacional e as Casa Legislativas do país terão estreias significativas a partir de 2019, quando os eleitos no último domingo (7) tomam posse dos seus mandatos. Senadores e deputados ligados as causas progressistas, aos direitos das minorias e humanos são pontuais destaques na lista dos novos parlamentares.

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No Senado, por exemplo, terá a estreia de Fabiano Contarato (Rede-ES) primeiro senador declaradamente homossexual do país. Com 1,1 milhão de votos, ele desbancou o senador Magno Malta (PR-ES) que não foi reeleito no Estado. Já na Câmara Federal o destaque é para Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena a conquistar uma cadeira entre os deputados federais. Um índio não ocupa uma vaga na Casa desde 1982, quando o cacique Mário Juruna foi eleito pelo PDT.

No âmbito das assembleias estaduais, os destaques são para os mandatos da primeira mulher negra eleita para deputada estadual da Bahia, um estado majoritariamente negro, Olívia Santana (PCdoB); a primeira transexual da história da Assembleia Legislativa de São Paulo, Erica Malunguinho (PSOL); além dos mandatos coletivos - a Bancada Ativista em São Paulo, com oito co-candidaturas, e a Juntas, em Pernambuco, com cinco mulheres - cada uma delas com uma mulher trans.

As bandeiras encabeçadas pela maioria dos marinheiros de primeira viagem, incluem desde os direitos LGBT, descriminalização do aborto e das drogas até a demarcação de terras indígenas, igualdade de gênero e combate ao racismo. Todos pontos rebatidos pela onda conservadora legislativa.   

Na ótica da cientista política Priscila Lapa, o comportamento dos eleitores de “negação dos grandes partidos ou das grandes lideranças”, que reproduziram nas urnas o desejo de uma maior fragmentação partidária do Legislativo e desbancou grandes caciques, é responsável por essas mudanças.

“Vamos ter 21 partidos representados [na Câmara] e isso representa uma mudança de perspectiva, traz alguns segmentos que antes não tinham representação. Isso traz algumas implicações, mas, de fato, abriu-se nesta leva a possibilidade de alguns segmentos, que vem tendo uma demanda crescente na sociedade, passar a ocupar um espaço de poder”, considerou.

Para a estudiosa, essas eleições pontuais tem um peso significativo e podem ser o início de uma tendência que pode ir se firmando e abrindo mais espaços. “Tem um peso de enfrentamento, porque se a gente tem uma tendência conservadora é muito simbólica a presença deles lá, se uma parte da sociedade faz uma movimentação conservadora existem pontos de avanço”, disse. “Eles são muito simbólicos, existe uma reacomodação de forças, temos ao mesmo tempo esse caráter conservador e pontos da sociedade que buscam espaço maior dentro da esfera pública”, completou.

Representação feminina

O número de mulheres na Câmara dos Deputados e em boa parcela das assembleias teve um leve aumento. Entre os deputados federais, as mulheres passaram de 51 para 77 com a eleição de domingo. Mas, apesar disso, três estados não elegeram nenhuma mulher para o cargo: Amazonas, Maranhão e Sergipe.

Já considerando o quadro de deputados estaduais, foram 161 eleitas, o que representa um aumento de 35% em relação a 2014. Em Pernambuco, por exemplo, o número passou de seis para 10 - podendo considerar 14 representantes, se considerar todas que compõem o mandato coletivo da Juntas. Contudo, também há casos que chamam a atenção, como o do Mato Grosso do Sul, onde não há mulheres nas 24 cadeiras da Casa.

“De fato houve um crescimento, mas não existe uma uniformidade desse crescimento. Em alguns estados a pontuação é negativa, quatro Estados zeraram sua representação feminina e em outros casos houve o dobro [de eleitas]. Oscilou muito a forma como esse crescimento aconteceu, mas a quantidade é só um indicador, é preciso olhar a cara dessa representação”, analisou Priscila Lapa.

Para ponderar a composição das bancadas, a cientista política ponderou o quadro em Pernambuco. “O crescimento [na Assembleia Legislativas] está vinculado a uma forma política tradicional, que não representa a necessariamente a agenda feminina, são [a maioria] mulheres de políticos e filhas, com sobrenomes. Não ascendem na política por liderança nata”, frisou. Lapa acredita que apenas com o início da atuação dessas mulheres eleitas vai ser possível aferir se houve uma mudança qualitativa.

 

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