Em uma ação pioneira na capital pernambucana, a mostra cinematográfica “Cine às Escuras” traz ao espectador uma maneira democrática de ter acesso ao cinema. Com filmes nacionais e internacionais sobre o universo erótico, a mostra foi pensada para incluir e se adaptar às pessoas com deficiência visual e auditiva, contando com legendas descritivas, libras e audiodescrição nas exibição das películas. O evento é gratuito e segue até a próxima terça-feira (22), com exibições de filmes no Cinema do Museu, o Cinema do Museu, em Casa Forte, na Zona Norte da cidade, e oficinas de audiodescrição no audiovisual e legendagem descritiva.
Segundo a coordenadora da mostra, Andreza Nóbrega, a proposta de realização do festival é tornar o espaço do cinema mais democrático. "É uma mostra erótica de cinema acessível com uma perspectiva de incluir as pessoas com deficiência, promovendo um espaço de inclusão, em que o público geral possa frequentar o mesmo espaço em condições de igualdade", explicou. Após a exibição dos filmes, que iniciaram às 19h30 deste sábado (19), o público pôde debater com os organizadores da mostra e com alguns diretores dos filmes exibidos. "O debate é uma oportunidade dos espectadores conversarem sobre cinema, sobre acessibilidade e sobre o próprio filme, levantando questionamentos sobre a carência de um cinema mais acessível", argumentou a coordenadora da mostra, que é mestra em educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em audiodescrição pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).
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Em sua primeira edição e com um caráter inédito no Estado, o festival teve início na quinta-feira (17) e as respostas do público, que lota as salas do cinema, já são positivas. "A gente já vê a adesão do público em geral, não só das pessoas com deficiência. Também vemos muitos comentários nas redes sociais e com isso já tivemos a demanda de outros estados querendo que a mostra circulasse pelo Brasil", contou Andreza. As exibições dos filmes conta com os equipamentos de recursos de acessibilidade, como audiodescrição, libras e legendas, que são praticamente escassos no cinema tradicional brasileiro.
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A escolha dos filmes não se basearam pontualmente na temática da acessibilidade. Os realizadores, diretores e produtores puderam inscrever seus filmes e uma comissão de escolha foi montada. "A acessibilidade como temática na escolha dos filmes, a princípio, não era nosso critério de seleção. Mas, apesar disso, a nossa programação conta com quatro filmes que abordam a temática de pessoas com deficiência", explicou Andreza Nóbrega. A temática erótica foi escolhida com o propósito de provocar questionamentos sobre o corpo, relacionamentos, identidade sexual e tantas outras infinitas possibilidades da sexualidade.
Cego há 12 anos e presente na exibição dos filmes neste sábado, o professor Wellignton Barbalho estava ansioso pelo início da sessão. "A iniciativa é muito válida, embora a gente saiba que esse processo de inclusão ainda está no início. Espero que futuramente todas as salas de cinema tenham o material de audiodescrição, por exemplo". Ele contou que após perder a visão não teve mais interesse pelos filmes de erotismo. "Enquanto eu enxergava, assistia muito filme erótico e depois isso se perdeu junto com a minha visão. Quando soube da mostra vim pela curiosidade, e com a audiodescrição espero me excitar com os filmes", sorriu timidamente.
Neste sábado, com a sala praticamente lotada, foram exibidas as películas 'Virgindade' (PE), de Chico Lacerda; 'Um outro ensaio' (RJ), de Natara Ney; e 'Tubarão' (PE), de Leo Tabosa. Os diretores dos filmes estiveram presentes no debate após a exibição e Natara Ney, do Rio de Janeiro, falou sobre a importância de haver mais festivais que contemplem o público em geral. "A gente percebe que o audiovisual tem uma dívida com os deficientes visuais e auditivos. Ele não é tão democrático quanto eu pensava que fosse. Tem sido excludente e por isso a importância desse evento hoje", concluiu.
Programação
As obras inscritas foram analisadas por uma comissão nomeada pela coordenação do evento, formada pela cineclubista Amanda Ramos, a jornalista e educadora sexual Julieta Jacob (Erosdita) e a professora de Cinema da UFPE, Cristina Texeira. Foram selecionados os curtas "Popoxexeca" (SP), de Ioanna Pappou e Ruth Steyer; "Yes, we fuck" (Espanha), de Antonio Centeno Ortiz e Raúl de la Morena; "Filme para poeta cego" (SP), de Gustavo Vinagre; "Sujo" (PE), de Anderson Almeida, Brenda Souza, Erlânia Nascimento, Everton Frederic Hermany e Sheila Pereira; "Eu queria ser arrebatada, amordaçada e nas minhas costas tatuada" (RJ), de Andy Malafaia; "Virgindade" (PE), de Chico Lacerda; "Um outro ensaio" (RJ), de Natara Ney; "Tubarão" (PE), de Leo Tabosa; "Messalina" (RS), de Cristiane Oliveira; e "Nova Dubai" (SP), de Gustavo Vinagre.
Oficinas
Além das exibições das películas, a mostra também conta com duas oficinas gratuitas. A primeira, de 'Legendagem descritiva', será realizada na segunda (21), das 9h às 16h. Na aula, os participantes terão contato com uma abordagem teórica e prática dos princípios básicos da legendagem para surdos e ensurdecidos em produções audiovisuais, além da experimentação e elaboração de edição de legendas.
Na terça (22), das 9h às 11h e das 18h às 22h, será a vez da oficina de 'Audiodescrição no audiovisual', que será focada nos estudos da tradução audiovisual, envolvendo a audiodescrição como um recurso de acessibilidade cultural e educacional para produções audiovisuais. Além de conteúdos teóricos e uma análise das pesquisas realizadas no Brasil sobre o tema, os participantes receberão uma introdução à elaboração de roteiros de audiodescrição utilizando o software Subtitle Workshop.
Serviço
Mostra erótica ‘Cine Às Escuras’
De 17 a 20 de março | 19h30
Cinema do Museu - Avenida Dezessete de Agosto - 2187 - Casa Forte - Recife
Entrada gratuita (ingressos são disponibilizados ao público às 18h30)
Oficina Legendagem Descritiva
Segunda (21), das 9h às 16h
Ministrada por Bruna Leão (Universidade Estadual do Ceará)
Carga horária de 6h
Oficina Audiodescrição no Audiovisual
Segunda (21), das 18h às 22h, e terça (22), das 9h às 11h
Ministrada por Klístenes Braga (Universidade Estadual do Ceará)
Carga horária de 6h