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O cineasta brasileiro Fellipe Barbosa disse nesta terça-feira em Paris, onde apresenta seu último filme, "Domingo", que os artistas de seu país sentem medo ante a possibilidade de que o candidato de extrema direita à presidência, Jair Bolsonaro, vença o segundo turno das eleições.

Pura coincidência: o terceiro longa-metragem do diretor da "Casa Grande" é um amargo retrato da burguesia brasileira, ambientada no dia em que o Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como presidente em 1o. de janeiro de 2003.

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O filme, codirigido por Clara Linhart, reflete, por meio de uma família abastada e de seus empregados domésticos, a tensão entre as classes sociais quando Lula chegou ao poder, provocando desconfiança entre os primeiros e esperança entre os últimos.

Uma situação contrária ao que aconteceu precisamente no domingo, quando Bolsonaro venceu o primeiro turno das eleições com 46,03% dos votos contra o esquerdista Fernando Haddad.

"Agora é a esquerda quem teme", disse à AFP Fellipe Barbosa por telefone.

E os artistas, muitos deles já mobilizados contra o governo do conservador Michel Temer, acusados de dar as costas à cultura, também "sentem medo". "Porque Bolsonaro nos vê como inimigos do Estado, vagabundos que não fazem nada", explica o cineasta.

"Isso nos remete a uma época muito sinistra", acrescenta, aludindo ao regime militar (1964-1985).

Para o diretor, o triunfo da extrema direita no domingo se deve em parte ao desejo de "vingança da burguesia" em relação aos governos de Lula e Dilma Rousseff e aos escândalos de corrupção.

"No Brasil, há um ódio entre as classes e um dos seus motores é a vingança", afirmou.

Nascido em uma família rica, Fellipe Barbosa volta a denunciar a burguesia no Brasil, como fez em "Casa Grande" e também em "Gabriel e a montanha", premiado em 2017 com o Prêmio Revelação na Semana da Crítica do Festival de Cannes.

"É uma necessidade de me confrontar. É, de certa forma, um exercício de culpa ", explicou.

O longa-metragem “Gabriel e a montanha”, de Fellipe Barbosa, recebeu, nesta quinta-feira (25), dois prêmios na 56ª Semana da Crítica, mostra paralela do Festival de Cannes. A produção do filme contou com recursos da Agência Nacional do Cinema (Ancine), por meio do Fundo Setorial do Audiovisual. 

O filme conquistou o Prêmio Revelação France 4, atribuído pelo júri oficial por sua criatividade e inovação, o que renderá 4 mil euros ao diretor. A produção também ficou com o prêmio oferecido pela Fundação Gan, de apoio à distribuição. A distribuidora francesa do filme receberá 20 mil euros para utilização no lançamento do filme na França. 

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Filme 

O filme recria uma viagem de Gabriel Buchmann, amigo de infância do diretor Fellipe Barbosa, à Africa. A ida do economista ao continente africano para pesquisar a pobreza de perto terminou em tragédia, quando ele tentou subir o Monte Mulanje, no Malauí. A história tem o roteiro baseado em anotações e e-mails de Gabriel para a mãe e a namorada, além de entrevistas com pessoas que cruzaram seu caminho na África. 

“Gabriel e a montanha” é o segundo longa do diretor, que fez sua estreia com “Casa Grande”, vencedor do prêmio do público no Festival do Rio 2014. 

O longa foi um dos vencedores da primeira edição da chamada pública Prodecine 05, edital do Programa Brasil de Todas as Telas voltado a filmes com linguagem inovadora e relevância artística.

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