Tópicos | Fobia

Gente como a gente! Todo mundo sente um medinho de algo, não é mesmo?! E com a apresentadora Fátima Bernardes não é diferente. Convidada especial do Portugal Show, do Multishow, ela abriu o jogo sobre o medo que sente de avião.

Sincera, Fátima deixou claro que sente um pânico muito grande.

##RECOMENDA##

- Tenho fobia, pânico mesmo. Eu mudo a respiração, fico agoniada, contou ela, revelando que já optou por tomar remédios para controlar o sentimento durante as viagens.

E não parou por aí, já que ela ainda aproveitou para brincar sobre sua relação com a tripulação:

- A aeromoça deve me olhar e pensar: essa vai dar trabalho nesse voo. Eu observo tanto que às vezes eu quero orientar o piloto.

Com o avanço da internet nos últimos anos e com a facilidade e a rapidez proporcionadas por ela, surgiu também a urgência de estarmos conectados o tempo inteiro. Em alguns casos, a necessidade de estar on-line constantemente foi agravada, tornando-se uma fobia: o Fear of Missing Out (FoMO), ou traduzindo, o “medo em ficar de fora”.

A psicóloga Caroline Cavalcante (foto abaixo) define o FoMO como a sensação de apreensão por não participar das mesmas experiências gratificantes que outras pessoas estão vivenciando, como por exemplo, um passeio que alguém não pode ir com os amigos por ter que estudar.

##RECOMENDA##

“Ou ter a sensação de que está todo mundo viajando e se sentindo bem nesse período das férias e você não”, complementa.

Caroline explica que o medo de ficar de fora pode ser influenciado pelas exigências sociais, culturais e por aquilo que é propagado pela mídia.

“Hoje, temos altos padrões impostos sobre as nossas relações e modo de ser, o que leva a pessoa a ter medo de ser vista enquanto inadequado ou excluído, por exemplo. Desejamos pertencer a algum lugar e grupo”, diz.

Segundo a psicóloga, pesquisas apontam que a FoMO está mais presente entre os adolescentes e que essa questão é atribuída ao fato de a maioria estar ligada às redes sociais de forma intensa. Ela afirma que, por ainda estarem em processo de desenvolvimento de suas personalidades e identificações, possuem medo de não se envolverem nessas experiências.

O FoMO está associado a sintomas de ansiedade e pode impactar diretamente na rotina das pessoas, destaca Caroline. Devido à apreensão em desconhecer algo, a pessoa passa mais tempo on-line, utiliza mídias sociais na hora dos estudos, do trabalho e até mesmo ao dirigir, gerando riscos à saúde física, mental, social e econômica.

A psicóloga ressalta ainda que, além do medo e da ansiedade, outros sintomas como depressão, dificuldades para dormir, vício nas redes sociais, sensação de incompletude e a falta de atenção estão vinculados ao FoMO.

No entanto, Caroline garante que é possível superar esse medo e que, dependendo da situação, talvez seja interessante a busca por um acompanhamento profissional, como o psicólogo.

A pessoa que sofre com esse medo também pode avaliar a sua rotina e sensações e designar algumas mudanças como horário para trabalhar, determinar um tempo para a permanência nas redes sociais, identificar como se sente ao estar nelas e ao ver as informações às quais tem acesso.

“Em momentos sociais ou profissionais, talvez seja interessante deixar o celular longe ou desligado”, finaliza.

Por Isabella Cordeiro

Neste período de pandemia em virtude da Covid-19, notou-se um aumento de números em casos de pessoas com doenças de cunho psicológico, como depressão, fobia e neurose. De acordo com um levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Síndrome do Pânico é um agravante que assola cerca de 2 a 4% da população mundial. Por conta deste fenômeno, inúmeras obras audiovisuais abordam esses temas, como o curta-metragem “Pináculo”, estrelado por Andriu Freitas, que foi indicado à premiação de dois festivais internacionais: Independent Shorts Awards (EUA) e High Tatras Film & Video Festival (Eslováquia). Confira o filme na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=twAf-rLBsgw&ab_channel=AndriuFreitas

De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), depressão, fobia e neurose estão caracterizadas como transtornos psiquiátricos, sendo que um pode vir como queixa principal, enquanto os outros podem surgir como comorbidades ou reações dentro das síndromes. Segundo a psicóloga cognitivo-comportamental, Rosana Cibok, a característica da depressão está relacionada à autodepreciação. “O indivíduo seleciona apenas fatos de sua vida que sejam congruentes com seu humor negativo, referindo-se a eles de forma absoluta”, explica a psicóloga.

##RECOMENDA##

Enquanto a depressão reforça os aspectos negativos que se configuram nos sentimentos de profunda tristeza, angústia, falta de prazer, desesperança e ideação suicida, a fobia está atrelada a um quadro de ansiedade, que representa um medo irracional diante de um agente fóbico. “Muitos indivíduos convivem com suas fobias, desenvolvendo estratégias de evitação que não os colocam frente a frente com o agente fóbico. Essas estratégias, por vezes, levam o indivíduo à inatividade e ao isolamento social,  que podem culminar com os sintomas da depressão, mostrando aqui uma comorbidade”, define Rosana.

Já quando se trata de neurose, a psicóloga afirma que este é um transtorno de afetividade, em que se experimenta sentimentos e reações incontroláveis diante das situações mais comuns. “Uma pessoa com neurose percebe a realidade como todo mundo, mas faz julgamentos distorcidos desta realidade”. Também existe a classificação de neurose fóbica, em que o indivíduo sente intenso medo de uma situação ou objeto que ele sabe que não representa perigo. “Ele externa suas angústias através das fobias, transformando esta ação em uma obsessão, levando ao isolamento social e até a depressão”, esclarece a especialista.

Apesar das doenças psicológicas estarem presentes na humanidade há muito tempo, fatores como a pandemia de Covid-19 servem como agravante para quadros que até então eram leves ou despertam o sintoma naqueles que ainda não o tinham. Segundo a psicóloga, indivíduos com quadro de depressão podem estar propensos a fazer julgamentos distorcidos, sem conseguir criar estratégias para combater a doença. “O medo pode se transformar em fobia, pois a distorção da realidade com o isolamento social, o medo de contrair o vírus, de perder o emprego, da privação, acentuam o percentual de casos”, afirma Rosana.

Como alternativa para que se possa evitar agravamento de quadros envolvendo doenças psicológicas durante a pandemia, a psicóloga conta que costuma orientar seus clientes a fazer um filtro de consumo relacionado às informações diárias. “Quando temos uma teoria, buscamos fatos que as confirmem. Portanto, se você pensa que vai morrer diante do quadro mundial que se apresenta, acaba indo atrás de informações que comprovem isto, levando a quadros ansiogênicos”.

Segundo Rosana, cada pessoa tem um funcionamento psíquico, mas existem medidas que funcionam de maneira geral. “Fazer meditação, relaxamento, assistir a comédias, ler bons livros, focar na atenção no trabalho, na família, enfim, tirar o foco do problema. Eles costumam ser maiores de acordo com a importância que damos a eles”. Rosana ressalta que esta orientação não se trata da prática de alienação, mas é viável que o consumo de informações seja ponderado, que a fonte seja séria e comprometida com a ciência.

Problemas psicológicos retratados no audiovisual

De acordo com a psicóloga, as produções audiovisuais de um modo geral buscam acender uma luz em relação às doenças, assim como o cinema que trabalha com ficção, criando cenários lúdicos para a informação. “São essenciais para a propagação do conhecimento das doenças psicológicas, diminuem o tabu, aproximando as pessoas de situações que possam estar sendo vivenciadas dentro da própria casa e, por vezes, passam despercebidas. Eu não consigo me lembrar de nenhum filme ou série que tenha levado a informação de forma leviana, ao contrário, gera mais curiosidade pela busca de mais informação”, explica Rosana.

Ao longo da história, a psicóloga conta que este é um tabu que vem se desmistificando, visto que na Idade Média, as doenças mentais eram consideradas punições divinas. Ainda há um número de pessoas que tiram suas próprias vidas por ignorarem que estejam doentes, situação que poderia ser tratada caso houvesse ajuda profissional. “Boa parte dos indivíduos afetados não têm confiança para falarem abertamente de suas questões, o que torna os problemas mais graves. Estas doenças trabalham de forma silenciosa e quando o indivíduo resolve conversar e contar o que sente, em sua maioria, os casos já estão associados à outras, levando às comorbidades”, finaliza

O cenário de pandemia causado pelo novo coronavírus (Covid-19) resultou em um misto de incertezas na população e provocou diversas angústias, transtornos e perturbações psicológicas, seja por questões de saúde ou por conta da economia, que também foi afetada na crise sanitária. Diante desta situação, este novo quadro de ansiedade que destaca o medo constante do novo vírus ganhou um nome: coronofobia.

De acordo com o psicanalista, pós graduado em neurociência Gregor Osipoff, as fobias são representações de medos internos, que podem ser relacionadas com o passado do paciente. “Elas se manifestam em forma de fobia, com os mais variados sintomas psicológicos e fisiológicos”, descreve.

##RECOMENDA##

No caso da coronofobia, Osipoff aponta que o fato da pandemia se estender por tanto tempo, junto ao crescimento do quadro de infecção, pode contribuir com a manifestação do transtorno. Neste caso, as pessoas devem observar se o medo não interfere em seus aspectos emocionais e psicológicos, que impedem as realizações de projetos futuros e cria distúrbios de comportamento que as deixam mais ansiosas e depressivas de maneira irracional.

Para amenizar os quadros da coronofobia ou de qualquer outra fobia, Osipoff, explica que o primeiro passo é se reconhecer neste quadro e procurar por um especialista que possa proporcionar conforto emocional, pois esses transtornos podem afetar a qualidade de vida e privar a vítima de seguir com as atividades essenciais do cotidiano. “Em especial o quadro da coronofobia, em que as pessoas são bombardeadas o dia inteiro por informações ligadas ao assunto, o que as deixam ainda mais transtornadas com o tema. Para amenizar, é recomendável ficar longe do conteúdo que provoca o transtorno e procurar um especialista da área”, orienta o psicanalista.

Além das incertezas e medos causados pela pandemia, a neuropsicóloga Nívea Loza lembra que este é um momento de administração dos lutos, uma vez que a doença já vitimou mais de 460 mil pessoas no país e muitos familiares não tiveram a chance de se despedirem, o que pode gerar diversas doenças emocionais. “Com isso, podem surgir outras fobias, como por exemplo a fobia social, na qual as pessoas começam a temer as relações que envolvem muita gente. Vivemos um momento de perturbação emocional, de medo e pânico, além da incerteza de quando tudo isso acabará”, ressalta.

Segundo a neuropsicóloga, a coronofobia não se resume apenas ao medo de ser infectado, mas também outros receios como: temer que pessoas próximas contraíram o vírus, achar que perderá tudo, a insegurança de se relacionar com outras pessoas, as sequelas que infecção pode deixar e o temor da morte. “No momento, é preciso ter calma, cuidado, tranquilidade e ter certeza de que tudo isso passará”, afirma Nívea.

Na fila para contar ao Papai Noel do Shopping Higienópolis o que pretende ganhar no Natal, José Luiz, de 3 anos, parecia animado. Mas, ao chegar a vez dele, o humor mudou: o menino decidiu não se aproximar e ficar em pé, guardando uma distância segura do bom velhinho. "Ele não é nada tímido. Mas acho que essa deve ser uma das primeiras experiências dele com essa figura", contou a avó Silvia Cataldo, de 67 anos.

Apesar de a maioria das crianças agir com familiaridade e desenvoltura, empilhando uma lista de pedidos que deixariam qualquer papai (Noel ou não) de cabelo em pé, também teve quem repetisse José Luiz - e segurasse a mão do personagem natalino com insegurança, que abrisse o berreiro ou, simplesmente, ficasse mudo.

##RECOMENDA##

Esse medo pontual do Papai Noel pode se transformar em fobia? Embora não seja reconhecida oficialmente pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), feito pela Associação Americana de Psiquiatria, os medos relacionados às festas de fim de ano e à própria figura de Noel estão cada vez mais presentes no dia a dia dos consultórios e na experiência de quem interpreta o personagem de barba branca e gorro vermelho.

"Eu não gosto quando os pais insistem. Acho que tem de respeitar o tempo das crianças. O Noel é uma figura que deve conquistar a confiança. E precisa ser visto como amigo", disse Cláudio Altruda, de 79 anos, Noel de shopping há mais de 26 anos.

Psicóloga com especialização em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e Terapia Cognitivo Comportamental pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Elaine Di Sarno compara o medo de Papai Noel com a clássica fobia de palhaço. "São figuras muito diferentes daquilo que as crianças mais novas estão acostumadas. Elas não têm ideia de quem é aquele velhinho de barba branca, uma figura vermelha que fica tocando um sino... Aí, as crianças são obrigadas a se apresentar ao Noel, falar com ele, interagir... Algumas acabam desenvolvendo um medo que pode se desdobrar para a vida adulta", disse. Aliás, na vida adulta, segundo Elaine, esse tipo de fobia acaba se transformando no estresse de fim de ano, na vontade de ficar sozinho em datas como Natal e ano-novo.

Para a psicanalista especialista em programação neurolinguística (PNL) e constelação familiar Taís Ribeiro, a fobia de Natal também se reflete em medos peculiares como o do pisca-pisca e de árvores de Natal. "Parece estranho, mas já tratei casos assim. Na maioria das vezes, diria em 80% dos casos são traumas de infância", contou. "Não ajuda quando os pais ficam contando histórias do 'homem do saco', aquela figura que viria capturar a criança se ela fizesse alguma má-criação. A figura do 'homem do saco' pode ser confundida com o Papai Noel na cabeça das crianças", completou.

Os casos mais graves, que se transformam em ansiedade na vida adulta, podem nascer de diversas fontes. "Conheço uma pessoa que tinha medo de Noel porque um dia flagrou um tio de quem não gostava fantasiado de bom velhinho", falou Taís. "Teve uma que o pai bebia muito durante o Natal e estragava a festa. Fazia coisas terríveis como gritar com a mulher, dar um soco no bolo e atirar um peru pela janela", lembrou.

De acordo com a especialista, algumas situações só conseguem ser "atacadas" com hipnose, com o paciente conseguindo "ressignificar" alguns momentos importantes da própria vida.

O psicólogo Carlos Alberto Vieira pontua que é importante resgatar a diferença entre medo e fobia. "No primeiro, o sujeito está diante de algo que apresenta alguma razão objetiva no risco que se atribui àquilo que está em questão, enquanto que na fobia não há razão concreta a ameaçar o sujeito."

Segundo ele, em ocasiões típicas do período natalino é mais comum encontrar adultos que apresentam algum tipo de desconforto, ou de sofrimento, mesmo em função de situações relacionadas à solidão. "Pode ser um desconforto decorrente de uma experiência de atualização, podemos assim chamar, de um período de luto vivido no passado, ou mesmo uma experiência em que o sujeito faz um balanço da sua vida e de si mesmo, colocando questões importantes em perspectiva, num momento de avaliação das coisas naquela altura da vida, podendo vir à tona uma sensação de medo por algo que se dê em um contexto de incerteza referente ao seu futuro." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nas últimas semanas, a aparição de pessoas fantasiadas de palhaços assustadores, principalmente em ruas desertas dos Estados Unidos, Austrália e até em algumas cidades do Brasil, tem causado polêmica e alimentado o medo de pessoas que tem pavor dos persongens de nariz vermelho. Apesar do recente debate, o medo do palhaço é algo comum entre crianças e adultos e em casos de pavor agudo, pode até evoluir para uma patologia clínica específica, chamada de coulrofobia.

Esse tipo de fobia é reconhecida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) e pode causar ataques de pânico, falta de ar, arritmia cardíaca, suores e até náuseas. A figura circense do palhaço geralmente é relacionada ao personagem que é alegre, bobo, mas também pode representar tristeza. Fisicamente, as vestimentas são coloridas, o rosto é pintado de branco, o nariz é vermelho, os pés são grandes e desproporcionais ao corpo e as sobrancelhas se destacam. 

##RECOMENDA##

Em 1961, o pesquisador e antropólogo Levi-Strauss escreveu que o medo humano pelo mascarado é algo natural. Em suas pesquisas, Strauss explica que a máscara e a fantasia proporciona certa liberdade em quem está por trás e elimina temporariamente deveres com a sociedade. Para ele, a liberdade pode passar a sensação de perigo para as pessoas porque não há uma obrigação de pessoa civil, enquanto se está mascarado. Sigmund Freud também traz à tona a contradição existente em um grande sorriso, e a face desfigurada, como o personagem do Coringa, causando um “vale misterioso” que pode gerar dissonância cognitiva, levando pessoas a terem medo de palhaços.

Em 1995, a jornalista Rebeca Arruda, hoje com 22, completava um ano de vida. Como tradição em muitas famílias brasileiras, sua mãe resolveu dar uma festa e contratou um palhaço para animar a festividade. Rebeca conta que em todas as fotografias de seu aniversário ela aparece tensa e muito assustada. "Não pareço feliz em nenhuma foto", completa. Para ela, o medo da figura do palhaço sempre foi constante em sua vida, mas nunca atrapalhou sua rotina. 

"Tinha um senhor que subia em um ônibus que eu pegava, e ele tava vestido de palhaço pedindo dinheiro, aí eu ficava meio tensa", relata. Para ela, o principal medo é quando associam os palhaços a coisas assustadoras. "Eu tenho pesadelos e isso atrapalha meu sono, então eu evito assistir filmes desse teor ou ler notícias que remetam a isso", explica. De acordo com a psicóloga clínica Priscilla Figueiredo, do site Psicologia para Curiosos, ter medo de palhaços não significa que você tem coulrofobia.

Instinto de proteção x coulrofobia

Para a psicóloga, o fato de pessoas estarem assustadas com recente aparição de palhaços macabros é vista como um instinto de proteção. "Quem tem a fobia tem pavor de qualquer imagem dos palhaços, sejam fotografias ou pessoas fantasiadas de forma assustadora ou não, isso é muito subjetivo", assevera. Um estudo realizado por um Hospital no Reino Unido mostrou um resultado negativo, quando um grupo decorou a enfermaria infantil com imagens de palhaços. 

No total, mais de 250 crianças, na faixa etária de 4 a 16, relataram não gostar das imagens. A clínica esclareceu que durante a infância é mais comum que a fobia se desenvolva, mas nada impede o desenvolvimento já na vida adulta. "A coulrofobia é patológica e traz prejuízos a rotina saudável de quem sofre com essa síndrome. Crianças com menos de cinco anos reagem a rostos diferentes e isso pode criar uma mensagem de perigo para elas", detalhou a psicóloga.

A estudante Ana Beatriz, 23, conta que o medo por palhaços se manifestou por volta dos 12 anos, quando começou a assistir filmes de terror que abordavam a temática de forma bizarra. "Eu tenho um medo que me incomoda profundamente, mesmo que o palhaço esteja bonitinho em uma festa de criança, eu fico assustada", falou. Com a onda dos palhaços macabros rondando pelas ruas, Ana lamenta que sua fobia tenha voltado à tona mais forte. 

Em 1986,  Stephen King escreveu o romance “It” (A coisa), que até ganhou uma adaptação para os cinemas e o vilão é um palhaço assassino. Com um remake para estrear em 2017, fãs cogitaram que onda dos palhaços macabros poderia ser um marketing da direção do longa. King se manifestou em sua conta no Twitter e pediu calma e menos histeria. De acordo com ele, “a maioria deles é boa, anima as crianças e faz pessoas rirem”. 

De onde vem o medo dos palhaços?

Para a psicóloga Priscila Figueireido, existem duas hipóteses que podem ser relacionadas à repulsa de pessoas à figura do palhaço. Uma delas  sobre o nosso inconsciente coletivo, que acredita na ideia de que donos dos narizes vermelhos são ruins. "É algo cultural e que está impregnado em nosso senso comum a partir de livros, reportagens, filmes e histórias contadas, mesmo", esclarece. 

Uma outra teoria é a vestimenta do palhaço, que é peculiar e chama muita atenção. "Para uma criança pode ser muito impactante a questão da fantasia e do diferente", completou. É como se o palhaço representasse o misterioso e o incerto e errado em certas formas. 

Atuando como palhaça há 13 anos, Enne Marx (foto à esquerda), integrante da ONG Doutores da Alegria e do grupo As Levianas, explica que entende a fobia como algo natural, não só com o palhaço mas também com outras figuras folclóricas. "É uma figura exuberante e, como foge do humano e entra no universo do fantástico e da imaginação, é comum que algumas pessoas possam se assustar". 

Para ela, o grande problema é quando pessoas despreparadas se aproveitam da linguagem do palhaço macabro para fazer o mal. Enne, que interpreta a palhaça Mary En em palcos de teatro, defende a arte dos palhaços macabros, na medida em que sejam feitas por profissionais e estudiosos da área, pesquisadores do assunto. 

"A gente sabe da tradição que existe nos EUA dos palhaços macabros. A intenção não é roubar, nem matar, nem fazer nada contra ninguém. É apenas uma linha de trabalho antiga e mais séria. São realmente assustadores, sobretudo por causa da maquiagem mais exuberante e de traços mais fortes", aponta. Na sua concepção, é uma arte diferente do palhaço de circo e também precisa ser respeitada.

A psicóloga cita duas formas de tratar a fobia de palhaços. A primeira é uma abordagem da psicoterapia, que acredita na exposição ao medo, quando o profissional coloca o paciente em contato com o que ele tem mais medo. "Eu acho essa técnica agressiva e invasiva e evito utilizá-la", relata.

A segunda é a terapia psicanalítica, quando o profissional tenta entender o que foi que levou a pessoa a ter esse medo de algo e qual relação do perigo com o palhaço, por exemplo. "Nessa, a pessoa escolhe quando está pronta para se expor e não é algo traumático". 

"O palhaço tem sua beleza, seu lugar e merece respeito"

Enne Marx lamenta que essa onda de palhaços assustadores tenha levado a população a associar a figura do palhaço profissional pejorativamente. "É uma grande confusão de comunicação e de generalização, eu sou palhaça e não estou assustando ninguém, pelo contrário, gosto de fazer as pessoas sorrirem".

De acordo com a profissional, ser palhaça é um trabalho difícil e você tem que se entregar a pesquisa, porque as vezes é doloroso."Você vai encontrar o seu próprio ridículo e mostrar sua própria verdade, se não for uma trabalho fabricado, claro". Para ela, essa onda de palhaços macabros é uma resposta à atualidade violenta recorrente, mas que o palhaço tem sua beleza, seu lugar e merece respeito.

LeiaJá também

--> 'Palhaços Sinistros' são vistos em cidades brasileiras

--> Palhaço com machado na mão é baleado e preso em Juazeiro

--> Família é assaltada por 'palhaço' em bufê de casamento

--> 'Palhaços' assaltam e vítima leva tiro em Caruaru

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando