É um ritual normal do torcedor: chegar ao estádio, comprar o ingresso e assistir ao jogo do seu time favorito. Às vezes pode adquirir antecipadamente se conseguir tempo livre. Ou, a depender do clube, tem a entrada garantida através do programa. Mas de fato, é necessário pagar para acompanhar a uma partida de futebol. Porém, esse não é o caso de muitas torcidas organizadas que são bancadas pelos clubes com ingressos, viagens e salas nas sedes. Além de poderem usar o símbolo da instituição livremente, inclusive para comercialização de produtos. Privilégio que nenhum outro torcedor tem.
Não se trata de justiça, e sim de prejuízo - financeiro e de imagem. Por isso, os presidentes de Cruzeiro, Palmeiras e Náutico estancaram essa relação. Deram um duro e rompante fim à troca de apoio, em que o clube paga para receber incentivo político e no campo. No entanto, Gilvan Tavares, Paulo Nobre e Glauber Vasconcelos ainda remam contra a maré e são ínfimos comparados aos que mantém as regalias das organizadas.
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Presidente do Palmeiras, Paulo Nobre foi o responsável por puxar essa arriscada fila. A atitude foi tomada depois que uma das uniformizadas alviverdes agrediu alguns jogadores no aeroporto de Buenos Aires, em março de 2013, após a derrota para o Tigre, na Libertadores. Chegou a ser ameaçado algumas vezes. Porém, não recuou e mantém a firme posição.
“Não tenho nada contra organizadas. Acho que fazem festas bonitas no campo. Mas como em todos os grupos, existe uma minoria de maus elementos e as atitudes dos mesmos afetam a torcida como um todo. A partir do momento que tiveram atitude hostil contra a delegação do Palmeiras, houve um rompimento da relação”, disse o presidente alviverde.
Ainda em dezembro de 2013, Gilvan Tavares resolveu dar um basta. Ao ver a festa do título brasileiro do Cruzeiro ser cancelada por brigas das organizadas, o mandatário cruzeirense cortou todas as relações com as torcidas. A partir de então, as uniformizadas estavam proibidas de usar o símbolo do clube em camisas e bandeiras. Não foi uma decisão fácil, era preciso ter pulso firme.
“Sofri ameaças no início. Ligavam para a minha casa, ameaçaram minha esposa e tive que trocar de telefones. Mas, não são torcedores. Apenas se aproveitaram do Cruzeiro para ganhar dinheiro e agora sofrem no bolso. Estavam usando nosso símbolo para atrapalhar a vida do clube, trazendo prejuízos terríveis”, contou.
Normalmente um jogador quando faz um gol procura logo a torcida organizada para fazer a festa. Muitas vezes, as câmeras flagram fazendo o símbolo da "facção". O atacante Fred, do Fluminense, já fez algumas vezes. Depois de quase ser agredido no treinamento, nas Laranjeiras, decidiu não mais apoiar as uniformizadas. E desabafou em uma rede social.
“Ser membro de torcida organizada no Brasil já virou profissão, meio de vida. Há casos de presidentes de facções que se elegem ou conseguem cargos políticos. Lutarei com a arma que tenho. Por isso, a partir de hoje, as comemorações dos meus gols não serão mais para as torcidas organizadas. Meus gols serão dedicados exclusivamente aos verdadeiros torcedores do Fluzão, a não ser que a lei seja mais rigorosa ou os responsáveis por essas facções revejam o papel que deveriam exercer, que é apoiar o time de coração. Principalmente nos momentos de dificuldade, pois é quando mais precisamos de incentivo”, disse em um trecho do desabafo.
Com menos de cinco meses de gestão no Náutico, o presidente Glauber Vasconcelos teve problemas com a Fanáutico, maior uniformizada do Timbu. Após recusa em ceder ingressos à torcida organizada em um jogo em Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, o mandatário foi ameaçado com pichações no muro da sede do clube. Glauber chegou a ter reuniões com os membros da Fanáutico e explicou os motivos que o levariam a manter aquela decisão. No entanto, não trata-se apenas de um rompimento entre as partes.
“Nós estamos apenas cumprindo uma recomendação do Ministério Público que é de não dar ingressos e passagens às organizadas. Mas não pode ficar apenas nisso. O poder público precisa agir de forma correta. Não é um problema do Náutico ou do futebol. É da sociedade como um todo”, ressaltou Glauber Vasconcelos.