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O Brasil conquistou a sua primeira medalha de ouro em uma Olimpíada nos Jogos da Antuérpia, na Bélgica, em 3 de agosto de 1920, há 100 anos. Guilherme Paraense foi o autor do feito no tiro esportivo. Um dia antes, Afrânio da Costa e a equipe da modalidade haviam conquistado a primeira prata e o primeiro bronze para o País.

O Estadão relembra parte dos acontecimentos que levaram ao momento histórico, como atletas dormindo no chão do navio em uma longa viagem, atrasos e até o furto de armas e munições da delegação.

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A delegação brasileira partiu em viagem à Bélgica em 1.º de julho de 1920, um mês antes do início dos Jogos, no navio Curvelo. Um relato de Afrânio da Costa presente no livro A História do Tiro Esportivo Brasileiro e divulgado no site brasil2016.gov.br, à época da Olimpíada no Rio de Janeiro, dá mais detalhes sobre como foi a viagem.

Diante de um navio considerado de "3.ª classe", os atletas pediram ao comandante para dormir no bar, onde havia mais espaço e menos falta de ar. Houve permissão, desde que esperassem a saída do último freguês. Por isso, dormiram no chão durante a maior parte da viagem.

Informações desencontradas também atrapalharam a delegação do tiro. Antes de chegar à Europa continental, em parada na Ilha da Madeira, descobriram que a chegada do navio à Antuérpia estava prevista para 5 de agosto, após as suas provas. Na ocasião, acreditavam que disputariam competições a partir de 22 de julho. Assim que chegaram em Lisboa decidiram "abandonar" o barco e ir à Bélgica de trem para chegar mais rápido.

As provas de tiro foram disputadas no campo de Beverloo, a 18 km da Antuérpia. Os brasileiros chegaram ao local somente em 26 de julho, mas, com o adiamento de algumas provas, puderam participar.

ROUBO, AJUDA DOS NORTE-AMERICANOS E 1ª MEDALHA - Um grave problema, porém, surgiu ao longo do caminho: armas, alvos e munições foram roubados. Afrânio da Costa conhecia o coronel George Sanders, da delegação americana, que acabou cedendo cerca de duas mil balas e emprestou duas pistolas.

Em relatório oficial entregue por Afrânio após o torneio, a história é retratada: "Nesta ocasião, o coronel Snyders, do Exército Americano, e capitão da equipe de pistola livre, me disse: 'Sr. Costa, essa arma não vale nada, vou arranjar duas para os senhores, feitas especialmente para nós pela fábrica Colt' E voltou pouco depois trazendo duas belíssimas armas. Retificadas as armas por ele próprio, entregou-as desejando melhor resultado".

Uma delas, a Colt 22 que havia sido usada por Alfred Lane para levar o ouro nos Jogos de Estocolmo-1912, foi emprestada para Afrânio superar o próprio Lane e conquistar a primeira medalha de prata da história do Brasil, na categoria Pistola Livre, a uma distância de 50m, que tinha 36 inscritos vindos de 13 países. O ouro ficou com o norte-americano Karl Frederick, que fez 496 pontos. O brasileiro conseguiu 489, oito a mais que Lane.

Na categoria de pistola de tiro rápido, com distância de 30 metros, 38 atletas, vindos de 14 países, disputavam a medalha de ouro. Guilherme Paraense fez 274 pontos, dois a mais que Raymond Bracken (Estados Unidos), e cinco a mais que Friz Zulauf (Suíça), e tornou-se o primeiro brasileiro a subir ao lugar mais alto do pódio - o que não se repetiria até o ouro de Adhemar Ferreira da Silva, no salto triplo, em Helsinque-1952, na Finlândia. Ao tomar conhecimento dos resultados, consta que Paraense foi carregado nos braços inclusive por adversários na hora da comemoração.

Segundo uma das netas do atleta, Valéria, a arma utilizada por seu avô teria sido uma das únicas que não foi roubada: "Eu já li em vários lugares sobre isso e essa história das armas emprestadas de fato existiu. Mas elas foram emprestadas para o Afrânio. Meu avô competiu com a arma dele".

Guilherme Paraense seguiu a carreira militar e chegou ao posto de coronel do exército. Morreu em 19 de abril de 1968, aos 83 anos de idade. Em São Paulo, o medalhista foi homenageado com a rua Guilherme Paraense, antiga rua 10, no decreto nº 9.204, de 16 de dezembro de 1970. Atualmente, o local fica próximo ao Parque da Juventude e à estação de metrô Carandiru.

Após os Jogos, Afrânio Costa continuou trabalhando na área da Justiça e foi nomeado ministro do TFR (Tribunal Federal de Recursos) em 1947. Foi convocado a substituir os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Edgar Costa, em 1952, e Rocha Lagôa, em 1954. Em 1930, ele foi chefe da delegação brasileira que disputou a primeira Copa do Mundo de futebol, no Uruguai. Morreu em 1979, aos 87 anos.

O BRONZE NO TIRO EM EQUIPES - Na competição em pistola livre por equipes, com distância de 50 metros, o Brasil conseguiu o bronze, entre 12 países, também em 2 de agosto, ao fazer 2.264 pontos, à frente dos gregos, que ficaram em quarto com 2.240. Os norte-americanos venceram com 2.372 pontos e os suecos ficaram com a prata com 2.289. A equipe era composta por Afrânio da Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade.

Na disputa em pistola de tiro rápido por equipes, o Brasil chegou perto de conseguir outra medalha, mas acabou na quarta colocação com 1.261 pontos, atrás dos suíços, que levaram o bronze com 1.270. A equipe era composta por Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Sebastião Wolf, Demerval Peixoto e Mauro Maurity.

Os atletas do tiro voltaram ao Brasil apenas em 31 de outubro daquele ano, quando o transatlântico Almanzora desembarcou no Rio de Janeiro. Assim como antes de partir, eles se encontraram com Epitácio Pessoa, então presidente do País.

O tiro brasileiro seguiu sem medalhas nos jogos até os Jogos do Rio-2016, quando Felipe Wu conquistou a medalha de prata na prova de pistola de ar 10 metros.

Em 120 anos de Olimpíadas, o Brasil conquistou várias medalhas e soma inúmeras histórias curiosas. Desde o primeiro ouro até aqueles que sequer subiram ao pódio, os atletas nacionais viveram momentos marcantes durante todo esse tempo. Nada mais justo que relembrar quem foram os protagonistas das maiores proezas nos jogos defendendo o verde e amarelo. Fizemos uma galeria especial com dez personagens que serão lembrados pela eternidade por seus feitos e desempenhos marcantes. Confira:

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