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A máfia italiana é "vaso ruim, não quebra" e, como sempre, saberá como se adaptar para enfrentar a crise causada pela pandemia do novo coronavírus, afirma o general de Carabineiros Giuseppe Governale, sem ilusões.

O siciliano de 62 anos, que era o comandante dos carabineiros em sua ilha natal, atualmente chefia a Direção de Investigação Antimáfia (DIA, na sigla italiana), que coordena todas as investigações sobre o crime organizado na Itália. "A experiência nos diz que a máfia italiana tem a capacidade de transformar qualquer ameaça em uma oportunidade", disse Governale à AFP.

"A máfia parte do princípio de que é um momento passageiro que deve ser enfrentado com menos negócios, mas já está observando atentamente a futura reconstrução econômica", alerta o general.

"O que se pode prever? Que o momento difícil possa terminar em maio-junho e, em seguida, as economias italiana, francesa e alemã terão que se reativar. E é aí que a máfia tentará interferir, pois nos períodos de reconstrução se olham menos para os procedimentos burocráticos", afirma o diretor do DIA.

"Eles procurarão as falhas do sistema. A reconstrução econômica após o coronavírus será um grande evento, haverá muito dinheiro em circulação e nosso objetivo será encontrar um equilíbrio entre as demandas da reconstrução e a luta contra a infiltração da máfia", afirmou o general.

Julgamentos antimáfia paralisados

Os julgamentos na Itália estão paralisados desde o início da epidemia de Covid-19 e a justiça lida apenas com os casos mais urgentes.

O jornalista e escritor Roberto Saviano, autor do livro "Gomorra" sobre a Camorra, a máfia napolitana, que deu origem a uma série de televisão com o mesmo nome, considera que "a pandemia é uma situação ideal para a máfia por uma razão muito simples".

"Quando você está com fome, procura o pão e não vê quem te dê; se você precisa de um remédio, paga sem ver quem o vende, o quer e ponto final", escreveu Saviano no jornal La Repubblica.

"Entre os atores desse novo começo também estará, infelizmente, a máfia", disse Giuseppe Pignatone, procurador-geral de Roma até sua aposentadoria em maio de 2019, em um artigo no jornal La Stampa.

A máfia buscará primeiro "expansão nos setores em que está tradicionalmente presente", como construção ou coleta de lixo, e depois financiará pequenos empresários que ficarão de mãos atadas", escreveu Pignatone.

Em seguida, tentará "se infiltrar na construção de infraestruturas, financiadas por importantes investimentos públicos", acrescentou.

A Polícia Federal cumpriu, na manhã desta segunda-feira (8), mandados de prisão contra dois italianos, pai e filho, suspeitos de integrar o braço da máfia italiana na América do Sul, conhecido como “Ndrangheta”.

O grupo mafioso, com origem na região da Calábria, no sul de Itália, controlaria 40% dos envios globais de cocaína, representando o principal esquema criminoso importador para a Europa. Eles estavam foragidos desde de 2014, com passagens por Portugal e Argentina.

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Um dos presos já tem condenação por tráfico e associação para tráfico de drogas na Itália (com pena fixada em 14 anos de prisão). Eles ocupavam ao menos três apartamentos na cobertura de prédio de alto padrão na Praia Grande, litoral paulista.

A polícia encontrou com os suspeitos duas pistolas, dinheiro em espécie e veículos. Os mandados foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, a pedido da Representação da Polícia Federal junto à Interpol, em cooperação com o Escritório da Direção Central para os Serviços Antidrogas, da Itália no Brasil.

Rocco Morabito, um dos criminosos mais procurados da Itália, foi preso nesse domingo (3), na cidade de Punta del Este, a 131 quilômetros de Montevidéu, no Uruguai. O italiano foi encontrado após 23 anos foragido.

Morabito, de 50 anos, é chefe da máfia “Ndrangheta”, uma associação criminosa formada na região da Calábria, na Itália. Segundo o Ministério do Interior uruguaiao, o grupo é considerado um dos principais importadores da cocaína produzida na América do Sul.

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O criminoso, que tinha um mandado de captura da Interpol, só foi localizado após usar o seu nome verdadeiro para matricular sua filha em um colégio em Punta del Este.

O italiano usava um documento de identidade falso uruguaio, que conseguiu a partir de um passaporte brasileiro com o nome de Francisco Capeletto. De acordo com o jornal uruguaio Subrayado, Marobito vivia na cidade de Punta del Este desde 2004.  

A mulher do criminoso foi encontrada pelas autoridades em uma casa na cidade de Maldonado, a 129 quilômetros de Montevidéu. Na residência foi encontrada uma pistola, uma arma branca, 13 celulares, 12 cartões bancários, dois carros, passaportes portugueses, várias joias e alguns talões de cheques em dólares.

A investigação e a prisão de Marobito foi realizada através de uma parceria entre as polícias e autoridades uruguaias e italianas.

Morabito, que é conhecido como “rei da cocaína de Milão”, foi descoberto tentando enviar drogas da América do Sul para a Itália nos anos 90. Ele estava foragido desde 1994, quando tentou enviar para a Itália quase uma tonelada de cocaína, que seria distribuída em na cidade de Milão, a 570 quilômetros de Roma.  

Ele já havia atuado no Brasil em 1992, quando tentou enviar para a Itália um carregamento de 592 quilos de cocaína, que foi apreendido pelas autoridades italianas. 

Um mandado internacional de prisão foi emitido em 1995 com o objetivo de encontrá-lo e extraditá-lo para a Itália, onde já foi condenado a 30 anos de prisão.

Segundo as autoridades italiana, Rocco Morabito será extraditado nos próximos dias.

Denúncia do Ministério Público Federal (MPF) apresentada à Justiça na sexta-feira (31) aponta, pela primeira vez, ligação entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e a N’Drangheta, organização tida como a mais atuante das quatro máfias italianas. Os grupos criminosos se associaram para fazer a cocaína da Bolívia chegar a portos da Espanha, Holanda e Itália, passando pelo Porto de Santos.

É a primeira vez que o MPF cita a organização italiana nas denúncias - que estão sendo feitas depois da Operação Oversea, desencadeada pela Polícia Federal em 31 de março e tida como a maior ação antidrogas no ano em Santos.

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A Procuradoria da República em São Paulo não confirmou o nome dos denunciados. Informou apenas que eles foram detidos com 230 mil, enquanto tentavam embarcar 56 quilos de cocaína.

A conexão entre as facções vinha sendo monitorada desde o ano passado. Relatório da inteligência da Polícia Federal de Santos, datado de 13 de fevereiro e obtido pelo Estado, relata interceptações de mensagens de texto entre integrantes da quadrilha e um homem chamado Dido, que seria o contato no Brasil da N’Drangheta.

A base da ação seria a Calábria, cidade do leste da península italiana. Dido diz, nas interceptações, que a droga seria distribuída em dois portos italianos. "O transbordo é em Gioia e o (destino) final é Napoli", explica. Nesses textos, ele chega a mandar para os contatos fotos dos lacres dos contêineres onde os tabletes de cocaína deveriam ser depositados.

O suspeito, que não havia sido identificado até a operação ser deflagrada, vinha sendo monitorado pela Direzione Centrale Per I Servizi Antidroga, o departamento contra narcóticos do Ministério do Interior da Itália. A cooperação entre a PF e as autoridades italianas foi costurada pelo Departamento Antidrogas dos Estados Unidos (DEA). A carga terminou sendo apreendida no próprio porto, dias antes de a Operação Oversea ser deflagrada.

PCC

Conforme os relatórios de inteligência da PF, os diálogos de Dido eram com Ricardo dos Santos Santana, vulgo MC, uma das 34 pessoas que trabalhavam em Santos no embarque das drogas. A cocaína vinha sendo estocada na capital, vinda da Bolívia, até haver oportunidade para embarcá-la em contêineres do porto.

Nos registros oficiais, MC aparece como parceiro de André de Oliveira Macedo, o André do Rap, que seria um dos principais líderes do PCC na Baixada Santista, e um dos encarregados de recolher as mensalidades da facção paulista. André, MC e um terceiro indivíduo, chamado Myfriend, seriam líderes de quadrilhas que atuavam em parceria, encarregados de conseguir embarcar drogas nos navios do porto.

Pagamentos

A quadrilha usava uma empresa offshore, com sede no Uruguai, para receber os pagamentos pelo serviço, de acordo com as investigações. A companhia, chamada Oklona Corporation, tinha ao todo três chácaras, todas em condomínios na Estrada Mogi-Bertioga, em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo.

A empresa foi descoberta porque MC fotografou um código de barras e mandou a imagem por mensagem para uma pessoa, pedindo que ela pagasse a conta de luz. A troca de diálogos já era monitorada pelos agentes da PF.

Para conseguir identificar todos os envolvidos no esquema, a polícia pediu autorização para uma ação controlada - quando os policiais deliberadamente deixam de agir ao verificar a existência de um delito, para mapear o restante da organização criminosa.

Itália

A N’Drangheta é tida como a mais atuante das quatro organizações da Itália que se enquadram nas leis antimáfia (que atingem facções criminosas com ramificações políticas e atuação internacional). As outras são a Cosa Nostra, a Camorra e a Sacra Conora Unita. O grupo é tido como o mais internacional deles, com relatos de investimentos até na bolsa de valores de Frankfurt.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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