Por mais de três horas, aproximadamente 1.500 estudantes caminharam pelas ruas do Recife pela quinta vez, em uma semana, como forma de protesto contra o aumento de 6,5% no valor das passagens de ônibus no Grande Recife. Semelhante aos outros dias, a concentração dos manifestantes aconteceu em frente ao colégio Ginásio Pernambucano, situado na Rua do Hospício, área central da capital do Estado.
Mesmo depois do governador Eduardo Campos ter garantido ao movimento estudantil mais uma cadeira no Conselho Metropolitano de Transporte, na última quarta-feira (25), os protestantes continuam lutando pela revogação do reajuste na passagem. Segundo a estudante Carol Santos, 19 anos, as manifestações vão continuar na semana que vem. “Nós vamos protestar e reivindicar nossos direitos até o governador ceder. Continuaremos o protesto até o gestor não suportar mais a pressão”, finalizou a manifestante.
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Liderados pelo Comitê Contra o Aumento das passagens de ônibus, a passeata seguiu pelo mesmo percurso do último protesto, da quarta-feira (25). Cerca de 500 estudantes saíram Rua do Hospício e tomaram a Avenida Conde da Boa Vista, seguiram em caminhada pela via cantando palavras de ordem do movimento e chamando a população para o protesto. Aos poucos, pedestres que passavam pelo local se juntaram à multidão. Manifestações de apoio também vinham dos edifícios localizados na avenida, moradores de vários apartamentos jogavam pedaços de papel quando os manifestantes passavam.
Os protestantes continuaram caminhando pela Rua Dom Bosco, tiveram acesso a Avenida Agamenon Magalhães até a Praça do Derby. No momento em que eles passaram pelo Hospital da Restauração, todos fizeram silêncio, em respeito aos pacientes da unidade de saúde. Em seguida, os estudantes permaneceram sentados no cruzamento da avenida com a Boa Vista por cerca de 15 minutos, bloqueando o trânsito nos sentidos Olinda e Boa Viagem.
De acordo com um dos guardas de trânsito, que não quis se identificar, os agentes foram orientados a não intervir no protesto. “Nós recebemos ordens do comandante da polícia para não entrar em atrito com os estudantes e para não impedir que eles bloqueiem as ruas”, afirmou.
Passageiros dos coletivos tiveram que descer dos ônibus e seguir o resto do percurso andando, muitos deles reclamando do ato. “Isso é um absurdo, eles não trabalham e não tem o que fazer, por isso fazem isso. Que façam o protesto, mas não impeçam que as pessoas cheguem aos seus destinos. Desse jeito o protesto se torna ilegal”, reclamou dona Noêmia Silvia, 50 anos.
Nesse momento, uma senhora tentava passar pelo protesto com sua neta, um bebê de um mês que ela carregava nos braços. Assustada, dona Maria Helena Monteiro não quis falar com a equipe do Leiajá e seguiu apressada entre os estudantes no sentido da Boa Vista.
Pinheirinho - Em meio ao protesto, encontramos grupos mostrando solidariedade ao ato de desocupação provocado pela polícia a comunidade de Pinheirinho, em São Paulo, no início desta semana. Com faixas, eles demonstravam apoio aos moradores. Segundo Rodrigo Silva, “este é um ato simbólico e pacífico que mostra nossa revolta e reprovação com as atitudes arbitrárias que os governos vêm agindo através da força da polícia. Outro exemplo aconteceu na última segunda (23), quando uma estudante tomou uma gravata de um policial, eles não respeitam a democracia e o direito das pessoas”, disse o manifestante.
O grupo retornou pela Boa Vista e depois seguiram na direção do Palácio do Campo das Princesas, no centro do Recife, onde entregaram uma pauta de reivindicações do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Pernambuco (DCE-UPE). Antes de chegarem ao prédio do governo, eles pararam em frente aos Correios, no cruzamento da Avenida Guararapes com a Rua do Sol, onde começaram um princípio de tumultuo entre eles mesmos. Tudo estava sendo acompanhado pelo policiamento que escoltava os estudantes.
“A polícia está aqui fazendo seu papel, enquanto eles (protestantes) não querem acordo. Tem um grupo de aproximadamente 400 pessoas que não sabem o que querem e nem para onde vão, isso é exemplo de democracia? Não estão respeitando o direito das outras pessoas”, criticou o Coronel da Polícia Militar, José Antônio.
Os estudantes chegaram ao Palácio do Governo por volta das 18h, fizeram a entrega do documento e permaneceram no local por cerca de 30 minutos. Depois disso, alguns participantes do movimento começaram a se dispersar. Todo o trajeto do protesto foi acompanhado por cerca de 20 policiais do 16° BPM, batedores da Rocam, Agentes do BPtran e Guardas de Trânsito.
Entre todas as entidades estudantis presentes no protesto, foi observado a ausência de bandeiras representando a União Nacional dos Estudantes (UNE). Veja a galeria de imagens do quinto dia de protestos: