O desempenho escolar de estudantes, aferido através de suas notas, simulados e aprovação em provas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares, muitas vezes leva alguns alunos a posições de destaque na escola e fora dela. O professor de biologia Fernando Beltrão, mais conhecido como Fernandinho, é um crítico da ideia de tratar de modo distinto estudantes com alto rendimento, criando o que ele define como “rankeamento de alunos”. O docente ministrou uma palestra a respeito do assunto nesta quarta-feira (9), durante a 12ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, no Centro de Convenções, em Olinda, no Grande Recife.
Para o professor, classificar os estudantes com base no seu desempenho e, o que em sua visão é ainda pior, se valer desse rankeamento para a atração de alunos com altas notas para outras escolas, oferecendo bolsas de estudos, causa prejuízos tanto para os estudantes considerados "número um" quanto para os demais colegas e professores. Na sua análise, o aluno que é considerado "brilhante" em relação aos demais costuma sofrer bullying e pode ter distorções de auto-imagem.
##RECOMENDA##“Tenho uma tese de que o rankeamento é danoso para todos, pois quando ele é posto como 'top', ele com frequência já passa a ser vítima de bullying, ninguém o convida para nada porque ‘só pensa em estudo’ quando muitas vezes não é isso, ele é uma vítima. Esse aluno também pode começar a desenvolver uma auto-imagem patológica, passando a achar que os outros são inferiores a ele só porque tira nota boa”, explicou Fernandinho.
Para o professor, os demais estudantes que não conseguem atingir o mesmo nível de rendimento acadêmico podem se sentir tolhidos e desestimulados em sala de aula, com medo e vergonha de se expressar e tirar dúvidas diante dos colegas tidos como melhores. Como consequência, não acreditam que possam evoluir para além do ponto em que se encontram por não ser como o aluno do topo. “É como se aparecesse um dançarino profissional de Frevo aqui e eu, coitado, já vou ficar com vergonha de mostrar minha pequena arte de Frevo porque tem um gênio no ambiente”, explicou Fernandinho.
Na avaliação do professor, a prática do rankeamento e destaque excessivo a estudantes com alto desempenho acadêmico também pode gerar problemas com a expectativa da família do aluno. Ele dá, como exemplo, a situação em que fica um estudante que tem um irmão que é considerado um aluno exemplar. “Quem tem um irmão genial... coitado. As famílias dizem ‘seu irmão foi primeiro lugar, você vai ser também’, seu irmão é seu irmão, você é você. Ele pode ter sido primeiro lugar geral do vestibular, você o último colocado e vocês dois serem felizes”, explicou Fernandinho.
O professor lembra que o desempenho escolar é apenas um aspecto da vida de um ser humano e que o ideal é que além de ter boas notas, os alunos aprendam a falar, ouvir, se relacionar e tenham momentos de relaxamento e descontração.
Como alternativa a este modelo, o docente sugere uma conduta em que a escola busque seguir estimulando os alunos que já têm bons resultados, mas direcione mais esforços principalmente àqueles que estão apresentando um desempenho mais abaixo e podem melhorar. Na opinião de Fernandinho, exaltar o crescimento do desempenho de alunos que estão com um rendimento mediano ou baixo tanto pode ajudar esses estudantes como dar “gás” aos que já estão bem para continuarem apresentando bons resultados.
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