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Nove meses após o imbróglio em torno da tentativa de extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), na Amazônia, que mobilizou artistas como Gisele Bundchen e fez o presidente Michel Temer recuar, o novo Código de Mineração trouxe o tema de volta à tona. O Ministério Público Federal (MPF) do Amapá pediu anulação de parte do decreto por entender que ele abre a possibilidade de exploração da área.

Publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira, 13, o decreto 9.406, em seu artigo 72, estabelece: "Em zona declarada reserva nacional de determinada substância mineral ou em áreas específicas objeto de pesquisa ou lavra sob o regime de monopólio, o Poder Executivo federal poderá, mediante condições especiais condizentes com os interesses da União e da economia nacional, outorgar autorização de pesquisa ou concessão de lavra de outra substância mineral, quando os trabalhos relativos à autorização ou à concessão forem compatíveis e independentes dos relativos à substância da reserva nacional ou do monopólio".

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Em outras palavras, com exceção do cobre, que dá o nome à Renca, seria possível fazer a concessão de lavra de outros minérios ali presentes, como ouro e nióbio, os minérios mais cobiçados. Essa é a interpretação feita pelo MPF do Amapá e também pelas equipes do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ). Este último entrou nesta quinta-feira, 14, com um projeto de decreto legislativo que susta os efeitos do artigo 72.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério de Minas e Energia disse que o texto sobre o tema no novo decreto é o mesmo do artigo 120 do Decreto 62.934, de 1968. "Não houve qualquer alteração ou inovação no tratamento relativo à questão das Reservas Nacionais de Substâncias Minerais quando da assinatura do decreto que regulamentou o Código de Mineração esta semana." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A preservação da Floresta Amazônica ganhou mais um capítulo após a decisão do presidente Michel Temer em autorizar a extinção de uma reserva natural de mais de quatro milhões de hectares na Amazônia para permitir a exploração privada de minérios como ouro, manganês, cobre e ferro na área. Trata-se da Renca (Reserva Nacional de Cobre e Seus Associados), uma área com alto potencial de ouro e outros metais preciosos que fica entre o Pará e o Amapá com 46.450 quilômetros quadrados, pouco maior que a Dinamarca.

A reserva foi criada em meados de 1984, ainda durante o regime militar. No local estão partes de três Unidades de Conservação (UC) de proteção integral, de quatro unidade de conservação de uso sustentável e de duas terras indígenas. Essa região, no início da década de 80, foi comparada à Serra dos Carajás por seu potencial mineral que despertava o interesse de investidores brasileiros e estrangeiros.

Imediatamente, a iniciativa foi criticada por especialistas brasileiros e estrangeiros, pela população nacional e mundial, que acreditam que os prejuízos da mineração serão sentidos amplamente com a exploração daquela que é uma das três maiores florestas tropicais do mundo e representa mais da metade das florestas tropicais remanescentes no planeta, inclusive com liminar da justiça federal do Distrito Federal  suspendendo o Decreto. A Floresta Amazônica compreende a maior biodiversidade em uma floresta tropical no mundo e é um dos seis grandes biomas brasileiros.

O Brasil tem uma enorme rede de áreas protegidas, cobrindo quase 2,2 milhões de quilômetros quadrados. Esta rede protege biomas com uma enorme biodiversidade e presta riquíssimos serviços ecossistêmicos globais, um dos motivos que tornou o Brasil um líder ambiental, com papel de destaque em fóruns internacionais como as conferências climáticas da ONU. Autorizar a exploração dessa reserva é, além da exploração demográfica, promover o desmatamento, perda da biodiversidade e comprometimento dos recursos hídricos, incentivando o acirramento dos conflitos fundiários e ameaça a povos indígenas e populações tradicionais que fazem parte da história do nosso país.

Infelizmente, em um ambiente complexo como esse, a derrubada e queima de árvores e do solo, o plantio de outras plantas e o uso de agrotóxicos, a criação de gado são fatores que contribuem para a perda desse bioma rico e importante. Com as intervenções humanas, os solos começam a ficar cada vez mais pobres em nutrientes e contaminados com substâncias provenientes da extração do ouro e outros minerais, as erosões começam a se intensificar e áreas que não eram alagadas, passam a ser. É um processo em cadeia. Com o corte de árvores ocorrem incêndios florestais, pois as árvores de grande porte constituem uma barreira de proteção contra incêndios. Calcula-se que 17% da área está devastada ou ocupada.

Há compromissos de clima e biodiversidade que assumimos internacionalmente e salvaguardas socioambientais que devem ser consideradas nestes processos. Não podemos retroceder e o governo precisa garantir a integridade das Unidades de Conservação e Terras Indígenas da região, impedindo que as florestas que ficaram sem proteção continuem sendo vítimas da exploração territorial e do desmatamento.

A Justiça Federal no Amapá suspendeu os efeitos do decreto de extinção da Reserva Nacional do Cobre e seus Associados (Renca), na noite dessa terça-feira (5) – data em que se celebra o Dia da Amazônia. A decisão atende a pedido do Ministério Público Federal no Amapá (MPF/AP), segundo o qual a medida da Presidência da República é inconstitucional e representa risco de ecocídio e prejuízos incalculáveis às comunidades tradicionais e indígenas que habitam a região.

Na decisão, o juiz federal Anselmo Gonçalves, baseado em entendimento do Supremo Tribunal Federal, considera ilegítimo o decreto presidencial por entender que “somente lei em sentido estrito possui o condão de alterar ou suprimir os espaços protegidos”. O magistrado acrescenta ser flagrante a inconstitucionalidade do Decreto nº 1.947/2017, conforme sustenta o MPF/AP. “O tratamento constitucional dispensado aos espaços territoriais especialmente protegidos configura verdadeiro arrimo contra quaisquer intervenções indevidas no meio ambiente”, pontua.

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O decreto editado em 28 de agosto foi reformado para prever que a exploração mineral se dê em áreas onde não haja sobreposição com unidades de conservação, terras indígenas ou faixa de fronteira. Diante da repercussão negativa, em âmbito mundial, a medida foi suspensa por 120 dias sob a justificativa de ouvir as comunidades afetadas. Para o Judiciário, “o debate a que agora se propõe o senhor Presidente da República deveria ter sido promovido antes mesmo da extinção da Renca, pois não é sensato debater a conveniência e os efeitos de um ato após tê-lo praticado”.

Consulta pública - Assim como a Convenção 169, da OIT, a Constituição Federal também impõe ao Estado Brasileiro o dever de consultar as comunidades afetadas. A Justiça, assim como o MPF/AP, defende o direito dos indígenas de serem ouvidos pois, além de sofrerem com danos da exploração mineral clandestina, estão diante da possibilidade de terem as nascentes e leitos dos rios e igarapés afetados pela mineração em larga escala.

Na decisão, a Justiça também critica declaração do presidente da República à imprensa de que a pretensão do Governo é legalizar a exploração que se faz na área da Renca: “o que se espera das autoridades públicas é que combatam condutas criminosas, não que as legalizem ou 'regularizem'”. O juiz relembra, ainda, a tragédia de Mariana, em Minas Gerais, e reforça que “uma reserva mineral não pode ser considerada isoladamente, pois faz parte de um ecossistema que se desequilibra naturalmente”.

Competência - A União e a Agência Nacional de Mineração, antigo Departamento Nacional de Produção Mineral, ouvidas pela Justiça, alegaram que a ação civil pública movida pelo MPF/AP perdeu o objeto, já que tramita na 21ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal ação popular com a mesma finalidade. A alegação das rés é contestada.

A Justiça Federal no Amapá esclarece que cabe à Seção Judiciária no Estado julgar demandas relativas à declaração de nulidade dos efeitos dos decretos presidenciais que extinguiram a Renca. A argumentação tem como fundamentos a Lei da ACP e o Código de Processo Civil. Além de a ação do MPF/AP ter sido distribuída antes da ação popular protocolada na Seção Judiciária do Distrito Federal, a competência do foro é inquestionável, visto que o dano ocorre no Estado do Amapá.

Do site do MPF

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta segunda-feira, 4, o governo Michel Temer por extinguir a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), na Amazônia. "Agora querem vender a Amazônia, querem entregar a nossa água doce, ou seja, se é pra gente ter governo para fazer o que estão fazendo agora, é melhor a gente colocar o Brasil nas Casas Bahia", declarou o petista, que está em Teresina, onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A cerimônia foi transmitida pelas redes sociais do PT.

Após críticas de ambientalistas e de grupos que viam na medida uma "entrega" do patrimônio mineral brasileiro a interesses privados, o governo federal determinou a paralisação de todos os procedimentos relativos à atividade de mineradoras no Renca. Na prática, a decisão não revoga o decreto assinado por Temer, mas suspende, por ora, a permissão para o avanço da exploração mineral sobre a área. Segundo o Ministério Público Federal, a reserva tem tamanho equivalente ao desmate acumulado na Amazônia nos últimos quatro anos.

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No evento da UFPI, Lula exaltou os feitos das gestões petistas na educação e dedicou o título à sua falecida mulher, Marisa Letícia, e ao ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, seu ministro da Educação e um possível "plano B" do PT ao Planalto caso o ex-presidente não possa concorrer no ano que vem. Para Lula, Haddad foi "o melhor ministro da Educação que esse País já teve".

Esta é uma das últimas paradas da caravana de Lula. Após 19 dias de trajeto, a viagem deve terminar nesta terça-feira, dia 5, em São Luis. Na capital maranhense, o ex-presidente deve ser recebido pelo governador Flávio Dino (PCdoB).

O decreto permitindo a extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) assinado pelo presidente Michel Temer (PMDB) contrariou um parecer técnico do Ministério do Meio Ambiente. A informação é do site Observatório do Clima. De acordo com a publicação, uma nota técnica emitida no dia 20 de junho solicitava que o governo mantivesse a Renca e não abrisse a área para exploração mineral privada. Em menos de uma semana, o decreto foi emitido, revogado, publicou novamente com algumas ressalvas e suspenso por um juiz do Distrito Federal. 

No texto de avaliação técnica, assinado Departamento de Florestas e Políticas para o Combate ao Desmatamento, é ressaltado que “frente ao cenário de aumento do desmatamento na região como um todo e à possibilidade de abrir uma nova frente de conversão em áreas que ainda não foram alteradas de forma significativas”. O documento ainda recomenda o apoio da gestão federal “às comunidades locais que vivem nas Terras Indígenas e nas Unidades de Conservação como uma resposta à pressão pela liberação dessas áreas que se avista”. 

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A análise também põe em xeque o argumento de Temer de que a reserva “não é um paraíso” e que o decreto para abrir o local para a exploração mineral privada coibiria o garimpo ilegal. Em nota, o presidente disse na semana passada que a região está submetida a “degradação provocada pelo garimpo clandestino de ouro,  que, além de espoliar  as  riquezas nacionais,  destrói a natureza e polui os cursos d’água com mercúrio.” Contudo, segundo o parecer, o garimpo clandestino existe “há décadas” e a área atual desmatada corresponde a apenas 1,1% do total. 

O parecer aponta ainda que a ação de “interesses econômicos agressivos” na Amazônia, “sob a alegação de promover o desenvolvimento regional”, vêm conduzindo ao aumento da violência no campo na região. 

Procurado Observatório do Clima, o Palácio do Planalto afirmou que o próprio Ministério do Meio Ambiente disse “que a extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) não afeta as unidades de conservação federais existentes na área, pois estas são de domínio público, onde não se permite o desenvolvimento de atividade de mineração”. Além disso, ponderou que “a medida fomentará o aproveitamento racional e sustentável, sob o controle do Estado, do potencial mineral daquela área (…) A preservação da Amazônia, em respeito à legislação socioambiental brasileira, será fortalecida pelo combate às atividades ilegais na região.” 

Criada por decreto em 1984, a extinção da Renca é uma demanda antiga do setor do minério por no local existir reservas de ouro, nióbio e outros metais. Entretanto, a região tem oito unidades de conservação e duas terras indígenas. Além disso, ela compõe parte do Parque Nacional Montanhas de Tumucumaque, no Amapá, e da Floresta Estadual do Paru, no Pará.

O presidente da República em exercício, Rodrigo Maia, disse hoje (30) que o governo pode não ter avaliado os possíveis impactos negativos da extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), mas descartou a possibilidade de revogar a medida. O decreto que extingue a Renca foi publicado no último dia 23 e revogado nesta segunda-feira (28) por meio de novo decreto, que foi suspenso hoje por decisão da 21ª Vara Federal de Brasília.

“Talvez o governo não tenha avaliado o impacto que [a extinção da reserva] poderia ter. Qualquer coisa que se faz naquela região tem muito impacto no Brasil e no mundo, e a gente precisa entender isso”, disse Rodrigo Maia, após participar de evento na Câmara dos Deputados, da qual é presidente.

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Maia descartou, contudo, a revogação da medida assinada pelo presidente Michel Temer, que está em viagem à China. “Não vou, como presidente em exercício, tomar nenhuma decisão em relação a decisões que o presidente já tomou, sem um pedido do próprio presidente. A gente sabe que é uma matéria polêmica, mas não tão polêmica como está sendo colocado. Poderia não ter tido toda essa polêmica, mas eu sustar um ato do presidente Michel Temer não seria um ato correto", afirmou.

Assinado na última quarta-feira (23) pelo presidente Michel Temer, o decreto extinguiu a Reserva Nacional do Cobre e Associados. A decisão gerou questionamento de ambientalistas, artistas, de setores da sociedade e até da mídia internacional.

A área de proteção foi criada em 1984 no governo do presidente João Figueiredo, o último chefe do governo do período militar. Na ocasião, foi definida a proteção de uma área de 47 mil quilômetros quadrados (km²), incrustada em uma região entre os estados do Pará e do Amapá.

Desde então, pesquisa mineral e atividade econômica na área passaram a ser de responsabilidade da Companhia Brasileira de Recursos Minerais (CPRM – Serviço Geológico Brasileiro) ou de empresas autorizadas pela companhia. Além do cobre, estudos geológicos indicam a ocorrência de ouro, manganês, ferro e outros minérios na área.

Na segunda-feira (28), o Ministério Público Federal no Amapá (MPF/AP) ajuizou ação civil pública pedindo à Justiça Federal a concessão de tutela de urgência para suspender os efeitos do decreto. Hoje o juiz Rolando Spanholo, da 21ª Vara Federal de Brasília, determinou a suspensão dos efeitos de “todo e qualquer ato administrativo tendente a extinguir a reserva.

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