Frequentemente aparece na imprensa brasileira notícias, editoriais e artigos de opinião comparando o ensino superior público e privado no Brasil. Vão desde análises técnicas até discussões ideológicas apaixonadas.
Fala-se desde as “ilhas de excelência” em algumas universidades federais e estaduais e, por outro lado, da “mercantilização” da educação promovida por algumas empresas educacionais privadas com fins exclusivamente de lucro.
Encontro especialistas, pesquisadores, professores, jornalistas e outros mais, defendendo este ou aquele lado da contenda, mas o que eu nunca encontrei, até o momento, é alguém que mostre o mais óbvio e mais importante: ambas as partes da disputa, o ensino superior privado, quanto o público, são muito ruins quando comparado com o ensino em outros países.
Na prova do ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), a média da notas dos alunos concluintes em todo o país, vem variando entre 41,6 a 47,3 dependendo do curso avaliado. Isto significa que, em uma escala de 0 a 100, os estudantes brasileiros estão se formando com menos do que 50% dos conhecimentos e competências necessários às suas profissões.
Em pesquisa realizada nos países da OCDE que aplicam provas semelhantes ao ENADE em seus concluintes do ensino superior, percebemos uma diferença de nota que varia de 18% a 47% de médias acima da brasileira. Ou seja, todos os países da OCDE que realizam testes com os concluintes ou egressos apresentam nota superior a do Brasil.
Neste momento, você leitor deve estar pensando que, diferentemente do que ocorre na educação básica, onde a prova é a mesma (o PISA), no ensino superior as provas não são as mesmas, então como podemos comparar as notas? Evidentemente não podemos. No entanto, seria muito pouco racional tentar argumentar que a diferença da nota se dá porque em todos estes países a prova é mais fácil do que a nossa.
O mais provável é supor que realmente estamos abaixo da média mundial mas, enquanto não fazem um exame PISA para a educação superior, temos que nos contentar em comparar as públicas e as particulares. Em tempo, por que será que a sétima maior economia do mundo não tem nenhuma universidade (seja pública ou privada) no ranking das 100 melhores?
Voltando a velha contenda, em recente estudo realizado pelo professor Claudio de Moura Casto, ficou evidente que não há praticamente diferença de desempenho entre as instituições particulares com fins lucrativos e as sem fins lucrativos. No subconjunto das instituições com fins lucrativos, as de capital aberto se mostraram melhores, contrariando a expectativa de que ter investidor financeiro promove queda na qualidade.
O mesmo estudo também mostrou a ligeira superioridade no desempenho das instituições públicas sobre as privadas. A titulação dos professores das universidades públicas é superior, em média, a das instituições particulares e o regime de trabalho também e, ambas as condições afetam a nota. No entanto, já sabemos que esta ligeira superioridade se dá, principalmente, pela diferença do nível intelectual do aluno que entra na instituição pública em relação ao aluno que entra na instituição privada.
Em qualquer simulação feita, se entrar um aluno de nível semelhante ao da universidade pública na instituição privada, a nota final desta seria a mesma. Em síntese, não há diferença de qualidade (na média) entre as instituições de ensino superior públicas e privadas no Brasil. Ambas deixam muito a desejar.
Com atraso de mais de 15 anos em relação aos países da OCDE, o Brasil começou um projeto piloto para a introdução da educação financeira nas escolas de ensino médio e fundamental. O projeto será implantando em 410 escolas da rede pública em seis unidades da federação e pretende atingir um universo de 15 mil alunos. É composto de um caderno, um livro texto (para o aluno e outro para o professor) e a capacitação à distância dos professores. Não existirá uma nova disciplina (educação financeira), mas o conteúdo será trabalhado “dentro” das disciplinas já existentes.
O projeto faz parte do ENEF (Estratégias Nacionais de Educação Financeira), estabelecido pelo Governo Federal através do Decreto 7.397 que visa fortalecer a cidadania e a solidez do sistema financeiro nacional.
A iniciativa não partiu do MEC (como era de se esperar), mas é fruto do esforço conjunto de diversos órgãos que compõem o Sistema Financeiro Nacional – Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Banco Central, CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar) e Susep (Superintendência de Seguros Privados) – e conta com o apoio de outras entidades públicas e privadas, como a BM&FBovespa e a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
O projeto tem como objetivo ensinar as crianças a tomar decisões de consumo; compreender o orçamento doméstico; conhecer sobre poupança, investimentos, seguros, aposentadoria, financiamentos e a planejar o futuro.
O despreparo do brasileiro no que se refere às questões de finanças pessoais é notório e já foi identificado em diversas pesquisas acadêmicas. O projeto, portanto, merece todo o apoio e incentivo. No entanto, a importância da questão nos impele a sugerir ir além. O passo atual é muito pequeno e urge um movimento nacional mais abrangente, começando pela introdução da disciplina de educação financeira no currículo de todos os cursos superiores (principalmente nas licenciaturas).
O professor precisa ser formado com este conhecimento (como acontece na maioria dos países desenvolvidos). Um curso rápido para que ele aprenda a usar o material não será suficiente para criar uma real condição de aprendizagem dos assuntos financeiros para seus alunos. Sem que ele (professor) viva esta realidade antes, pouco conseguirá agregar aos seus alunos. Lhe faltará a necessária vivência na área para dar respaldo ao que está contido no material didático.
Para surtir o impacto necessário, a educação financeira não pode ser colocada como um elemento complementar no currículo escolar, como querem alguns especialistas em educação, mas sim como elemento essencial. Por que álgebra, geometria, trigonometria, genética, botânica e diversos outros importantes temas são considerados superiores? Como educador, me parece claro que não são. Nem no aspecto de desenvolvimento cognitivo, nem tampouco no aspecto de utilidade pragmática.
Para reforçar ainda mais a importância da educação financeira sugiro também que os restes oficiais como o ENEM, devam incluir questões de finanças pessoais, de modo que os estudantes compreendam o devido valor deste tema.
Do advento da popularização do computador pessoal até a Web 2.0 e as conexões por telepresença holográfica, a tecnologia evoluiu em pouco mais de 20 anos, transformando totalmente a forma como vivemos.
Atualmente não se concebe mais o computador ou o tablet como ferramenta a ser usada no laboratório de informática em aulas específicas. O computador é o lápis de ontem, precisa acompanhar o aluno todos os dias, o tempo todo.
Temos a possibilidade de passar do tradicional modelo de aula expositiva, onde o professor explica e o aluno presta atenção e toma nota, quando muito interrompe o professor para tirar alguma dúvida, para um modelo participativo, onde o professor propõe as questões a serem discutidas e, coletivamente, os alunos constroem as respostas, com o auxílio da web e de centenas de outras pessoas de qualquer lugar do mundo, conectadas através de redes. Não só as pessoas podem estar em qualquer lugar, como também o professor não precisa estar mais em sala.
Estamos entrando em um mundo onde a presença virtual se torna real e corriqueira. Morando em São Paulo, posso tomar meu café da manhã conversando com amigos em Los Angeles, almoçar com colegas chineses que se encontram em Xangai e jantar com fornecedores russos, diretamente de Moscou. A velocidade das conexões em rede cresceram tanto, a ponto de transmitir a imagem em altíssima resolução, promovendo a percepção de proximidade quase que real, da pessoa do nosso interlocutor que se encontra à distância.
Muitos especialistas acreditam que com o rápido crescimento das tecnologias da informação e comunicação que ocorre atualmente, já estaríamos prontos para viabilizar financeiramente, em larga escala, o modelo da aprendizagem centrada no estudante, viabilizando um verdadeiro “salto quântico” no desempenho destes estudantes. Esquecem, no entanto, que ainda não vencemos o maior obstáculo de todos – a formação docente.
Em minha opinião, ainda teremos que esperar que uma nova geração de professores, nascidos na era da Internet, que cresceram conectados e interligados ao mundo em redes sociais e, portanto, com um modelo mental aberto a este novo mundo, para somente então conseguirmos mudar o modelo educacional vigente.
A pressão pela mudança está vindo de baixo para cima, uma vez que os estudantes não estão esperando seus professores evoluírem, mas estão se tornando protagonistas de seu próprio processo de aprendizagem, utilizando todos os recursos proporcionados pela tecnologia e encontrando novas e criativas formas de aprender.
A cruzada contra o plágio e a cópia de trabalhos da Internet tem movimentado intensamente professores, escolas e faculdades em todo o mundo. A Universidade de Oxford, na Inglaterra, obriga seus alunos a assinarem, na matrícula, um documento que permite que a universidade tome medidas drásticas, como a expulsão, se o aluno for pego plagiando em algum trabalho.
Em todo o mundo encontramos intensas manifestações de docentes e especialistas em educação, repudiando o plágio em trabalhos acadêmicos e incentivando o uso de medidas punitivas severas contra o estudante plagiador. Softwares especializados em identificar textos plagiados foram criados em diversos países e um Congresso Mundial sobre o tema é realizado a cada dois anos – o “Plagiarism Conference”, que este ano será na Universidade de Northtumbria em Londres.
No Brasil já existe até um site na Internet “em defesa da integridade acadêmica”- o Plágio.Net, que chega até a emitir um “certificado antiplágio” e listar as medidas necessárias para evitá-lo.
Compreender a questão da responsabilidade e da ética (ou falta de) envolvida no plágio é consenso de todos os educadores. Orientar melhor os estudantes para esta questão também. O que não é consenso é a compreensão das causas do problema.
Transferir integralmente para o estudante a responsabilidade sobre o plágio é um erro que vem sendo cometido sistematicamente por educadores de todo o mundo, incapazes que são de compreender a mudança que a tecnologia da informação trouxe para a relação ensino/aprendizagem.
Em momento algum podemos deixar de considerar o erro cometido pelo estudante ao copiar um trabalho e assinar como seu, nem tampouco eximi-lo da responsabilidade de tal ato. O que pretendo mostrar é que o professor também é co-responsável pelo plágio de seu aluno e merece igualmente ser responsabilizado por tal ato.
Se um estudante recebe uma nota zero quando seu professor descobre que o trabalho que foi entregue por ele é copiado da Internet, este professor também merece uma nota zero por ter sido incapaz de formular uma proposta de trabalho que impedisse a copia literal.
Por exemplo: se um professor da disciplina de teoria geral da administração pede a seus alunos que escrevam um texto sobre o Taylorismo e, percebe que parte de seus alunos simplesmente copiaram o texto do primeiro site sobre o assunto que encontraram na Internet, este professor merece mais a nota zero do que os alunos que plagiaram. Ele merece zero porque poderia ter facilmente evitado o plágio e não o fez. Poderia ter pedido aos alunos que descrevessem os princípios Tayloristas utilizados na Farmácia do Zé, o na Padaria do Manoel, ou ainda qualquer outra contextualização que exigisse que o aluno compreendesse o significado do Taylorismo e tivesse que descrevê-lo, de forma aplicada, em um contexto real, praticamente impossível de ser copiado que qualquer lugar na Internet.
Se evitar o plágio por parte dos estudantes é tarefa fácil para o professor, porque então isso não acontece na prática e, ao contrário, vemos uma verdadeira guerra punitiva aos plagiadores?
A resposta a esta questão não é tão simples, mas ousaria dizer que a base do problema reside na falta de preparo dos docentes para uma nova realidade de ensino/aprendizagem que a tecnologia proporciona. O acesso universal à informação exige um novo tipo de professor. Exige alguém preparado para compartilhar, orientar, construir junto e até aprender com seus alunos. O magister dixit e a autoridade de cátedra será enterrada junto com a última geração de docentes que se formou antes do advento da Internet.
Além do despreparo dos docentes bem intencionados, que podem mudar se quiserem, há o problema dos docentes não tão bem intencionados (ainda que sejam minoria), que fazem da guerra contra o plágio uma plataforma pessoal de autopromoção.
Hoje vivemos na sociedade do conhecimento e o acesso à informação está praticamente universalizado. Retransmitir informações não é mais papel do professor. Já há quem faça melhor esta tarefa.
Cabe agora ao educador, utilizar toda a sua experiência no trato com o conhecimento, para auxiliar seus pupilos a transformar informação em conhecimento; compreendê-lo em profundidade; aplicar este conhecimento na solução de problemas e transferi-lo para outras situações distintas.
Não basta sabermos transformar informação em conhecimento, temos que ser capazes de integrar informações, conhecimentos, habilidades e atitudes na solução de distintos problemas a todo momento.
Aprender a aprender nos possibilita obter a capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. O advento da sociedade da aprendizagem certamente trará para a educação alguns importantes novos elementos, entre eles:
a) Mudança do foco no ensino para o foco na aprendizagem.
b) Aprendizagem centrada no estudante e “individualizada”, através do apoio da tecnologia da informação.
c) Foco no resultado com controle de qualidade em todas as etapas do processo, em função dos objetivos a serem atingidos em cada etapa.
d) Acompanhamento e orientação permanente do estudante. A base é o trinômio: orientação-acompanhamento-avaliação.
e) Autodidatismo exercido através de um conjunto de atividades opcionais e obrigatórias selecionadas em conjunto com o professor orientador.
f) Estrutura com menos docentes, melhores docentes e com mais tempo de dedicação ao aprendizado do aluno.
g) Professor posicionado como gestor do processo de aprendizagem do estudante.
h) Portabilidade (o aluno deve ser o gestor do seu conjunto de competências adquiridas). Modularização do conteúdo e certificação por competência modular como maneira de garantir a portabilidade.
“Eu ensinei, não tenho culpa que ninguém aprendeu”, disse-me recentemente um professor universitário que se orgulhava de ter reprovado 65% dos alunos da turma em sua disciplina. Respondi a ele, mesmo com o receio de ser mal interpretado, o seguinte: professor, com essa afirmação você torna público o quanto você ainda não compreende o real objetivo do ato de ensinar e também o novo momento em que vivemos na educação no Brasil e no mundo.
Em última análise, o que interessa efetivamente é o quanto o aluno realmente aprendeu. O como ensinamos é apenas uma questão circunstancial que deve considerar o conteúdo, os diferentes estilos cognitivos dos estudantes e seu contexto. A responsabilidade do professor, portanto, não é com o ensino, mas sim com a aprendizagem. Por mais simples e óbvio que isto possa parecer, este pensamento ainda não se disseminou nos meios educacionais hodiernos.
No passado recente vivemos na sociedade da informação. Quem detinha mais e melhores informações tinha mais poder e, o papel do professor como um eficiente retransmissor de boas informações se justificava plenamente.
Hoje vivemos na sociedade do conhecimento e o acesso à informação está praticamente universalizado. Retransmitir informações não é mais papel do professor. Já há quem faça melhor esta tarefa.
Cabe agora ao educador, utilizar toda a sua experiência no trato com o conhecimento, para auxiliar seus pupilos a transformar informação em conhecimento; compreendê-lo em profundidade; aplicar este conhecimento na solução de problemas e transferi-lo para outras situações distintas.
A educação formal vive nostálgica do “tempo da informação” e ainda nem sequer conseguiu introjetar o paradigma do conhecimento e já vem sendo “pressionada” pelo novo paradigma: o da aprendizagem.
Não basta sabermos transformar informação em conhecimento, temos que ser capazes de integrar informações, conhecimentos, habilidades e atitudes na solução de distintos problemas a todo momento.
Nesta sociedade, interessa mais quem é capaz de aprender rapidamente como se resolve um dada situação ou problema, do que aquele que já sabe como resolver este mesmo problema, pois amanhã a questão será outra e depois outra e mais outra e sempre com novas nuances, novas informações e novos desafios.