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O deputado federal André Janones (Avante) afirmou nesta segunda-feira (23), através das redes sociais, que teve acesso a provas de um "plano de extermínio" dos indígenas da etnia Yanomami durante o governo Bolsonaro. O político disse ainda que irá "até o fim" por Justiça.

"Acabo de ter acesso a provas de que Damares pediu a Bolsonaro que não enviasse aos indígenas, que padeciam pela pandemia da covid-19, leitos de UTI, água potável e itens de necessidade básica. Havia um plano de extermínio em execução e eu vou até o fim pra fazer justiça", tuitou Janones.

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Lula denuncia genocídio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva denunciou nesse domingo (22) um "genocídio" contra o povo Yanomami, que perdeu nos últimos quatro anos mais de 500 crianças por causas ligadas à desnutrição, segundo dados do próprio governo.

O presidente se comprometeu a acabar com o garimpo ilegal em terras indígenas e a garantir atendimento de saúde para os yanomamis em suas próprias aldeias, para evitar que eles precisem se deslocar até Boa Vista.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, vai determinar abertura de inquérito policial para apurar o crime de genocídio e crimes ambientais na Terra Indígena Yanomami, em Roraima

Corrupção

Operação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF), em novembro de 2022, mirou suspeitas de desvio no uso de verba para remédios na área Yanomami, onde foi decretada na sexta (20), emergência de saúde pelo governo federal.

A suspeita era de que só 30% de mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo distrito sanitário indígena local (DSEI-Y) teriam sido devidamente entregues.

Crise avisada

O MPF alertava para a crise de saúde no território Yanomami pelo menos desde 2021. Em recomendação de novembro daquele ano, o órgão já cobrava ações do Ministério da Saúde para melhoria no atendimento à população indígena e solicitava a reformulação do plano de trabalho que vinha sendo adotado até então. Como causas para o pedido, destacou a piora nos quadros de desnutrição, mortalidade infantil e malária.

As informações compiladas pelo MPF indicavam que, em 2019, foram registrados 117 óbitos infantis e 1.329 crianças nascidas vivas na reserva Yanomami, uma taxa de mortalidade infantil (TMI) de 88,04. Em 2020, esse índice saltou para 112,38. Já no ano seguinte, apenas nos três primeiros meses do ano, foram 20 óbitos para 150 nascimentos, taxa de 133,33, afirma o documento.

A Terra Indígena Yanomami é a maior do País, com área de 9,6 milhões de hectares (equivalente à de Portugal). Nela, vivem 30,4 mil indígenas das etnias Yanomami - considerados de recente contato - e Ye'kwana, de cinco troncos linguísticos.

Os médicos brasileiros e agentes de saúde destacados nas aldeias da terra indígena yanomami descartam o uso da cloroquina como a principal ferramenta no combate ao novo coronavírus nas aldeias isoladas da região.

A cloroquina, cuja eficácia contra a Covid-19 não foi comprovada cientificamente, é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e recomendada pelo Ministério da Saúde inclusive para pacientes com sintomas leves.

"Não tem um protocolo único. Infelizmente a gente não tem um remédio que a gente fale que com certeza vai tratar" a doença, explicou à AFP a médica Maria Letícia Nascimento, que fez parte de uma operação de saúde interministerial liderado no fim de junho pelas Forças Armadas em três comunidades do território yanomami, no extremo norte do Brasil.

Nas instalações militares da região de Surucucu, encravada na Amazônia e a quase 300 km da capital de Roraima, Boa Vista, Nascimento realizou durante a operação dezenas de exames rápidos.

Em quinze minutos, dez jovens se submeteram ao furo no dedo. Outros observavam curiosos pelas frestas da janela do pequeno quarto onde médicos, cobertos com aventais, luvas, máscaras e viseiras, coletavam as amostras.

Na região de Surucucu, as mulheres vestem ornamentos tradicionais fúcsia e carregam seus bebês em cintas intrincadas que lhes permitem manter os braços livres. Traços em vermelho escuro, feitos com urucum, estampam seus rostos, adornados também com flores, folhas e piercings de palitos finos de madeira.

Ao redor é só verde e azul, um horizonte de floresta e céu. O sol é abrasador.

As autoridades levaram 82.000 comprimidos de cloroquina às comunidades e a dois Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei) do estado de Roraima, estruturas que atendem os indígenas nas aldeias, onde a medicina também é utilizada para combater a malária.

"A cloroquina está na região há mais de 50 anos", disse o porta-voz do ministério da Defesa, vice-almirante Carlos Chagas, respondendo às críticas contra o envio do medicamento.

Também foram levados máscaras, luvas, antibióticos, testes rápidos, corticoides e antigripais. Os insumos devem atender 75.000 indígenas nas terras Yanomami e Raposa Serra do Sol, ambas no norte, na fronteira com a Venezuela.

"Ficou a critério médico, mas a indicação é que é usada em casos mais graves, via assistência hospitalar para que seja acompanhado. Aqui na área mesmo usa-se azitromicina, antitérmico e xarope", disse Giovani Carvalho, agente de saúde na região de Auaris, a noroeste de Surucucu.

Nas duas comunidades, os protocolos não foram acionados, visto que nenhum caso positivo foi registrado. Segundo cifras oficiais, há 186 casos de contágio entre indígenas yanomami, a maioria na cidade, e quatro óbitos.

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