Um casal de servidores públicos federais foi vítima de violência policial na praça central da vila de Alter do Chão, em Santarém, um dos pontos turísticos do Pará mais conhecidos no mundo. Tábata Morelo Viana, servidora da Funai (Fundação Nacional do Índio), e Pedro Leal, professor do curso de Antropologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), foram abordados pela Polícia Militar na noite da última sexta-feira (18), na presença dos três filhos menores de idade, durante uma operação de fiscalização, sob suspeita de deixarem as crianças em situação de risco. Pedro reagiu e acabou sendo detido por desacato.
As agressões tiveram registro em vídeo (veja abaixo). As imagens circulam nas redes sociais e o caso ganhou repercussão. Em entrevista ao site Envolverde, Tábata relatou o drama que viveu em Alter do Chão, balneário citado pelo jornal inglês The Guardian por ter uma das praias mais bonitas do Brasil. Segundo Tábata, o casal passeava com os filhos pela praça 7 de Setembro, um dos principais pontos de encontro da vila, quando policiais fizeram a abordagem. Eles questionavam o fato de ela estar consumindo bebida alcoólica perto dos filhos. “Muitos policiais foram em minha direção e quando eles começaram a me acusar, um dos meus filhos saiu de perto e o perdi de vista. Fiquei desesperada por não vê-lo e os policiais ficaram na minha frente, impedindo minha visão e repetindo que eu estava bêbada e por isso perdi meu filho. Eram vários policiais armados me cercando e repetindo acusações. Não havia ninguém do Conselho Tutelar”, contou Tábata.
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Ao interceder pela família, disse Tábata, Pedro Leal discutiu com os policiais. Os PMs alegaram ter sido vítimas de desacato e deram voz de prisão ao professor. Seguiram-se a isso cenas de agressão filmadas em celular.
Tábata relatou que seu marido prestou depoimento algemado e que nenhum amigo do casal pôde entrar na delegacia para ajudá-la com as crianças. “Eu estava do lado de fora do vidro, descalça, com as três crianças sozinhas. Enquanto o Pedro estava prestando depoimento, vários policiais ficaram em volta de mim e das crianças, o conselheiro tutelar fez perguntas pra mim ali no corredor. Várias pessoas do juizado de menores estavam ali presentes conversando apenas com os policiais”, afirmou Tábata em entrevista a Patrícia Kalil, do site Envolverde.
Tábata classificou a atitude policial como abuso de poder e disse que as crianças estão muito assustadas com tudo que viram. “Não existia nenhuma denúncia contra nós, não foram pedidos nossos documentos, estávamos sendo conduzidos arbitrariamente, sem intimação, sem nada. Nossos filhos estão muito mal, estão agressivos e com medo de sair de casa, a sensação é péssima, estamos preocupados com as crianças e com medo. Não desejamos essa sensação para ser humano nenhum”, disse.
O vídeo feito por um morador do local, na hora em que os policiais abordaram Pedro, viralizou na internet e muitos internautas saíram em defesa do casal, alegando que os policias desrespeitaram os pais e abusaram do poder. “Estamos recebendo apoio de muita gente e instituições, muitos amigos queridos e pessoas anônimas. Esse apoio nos dá força para não desabarmos. Agradecemos imensamente a cada um”, escreveu Tábata em sua página no Facebook.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) informou que durante a operação preventiva realizada na noite de sexta-feira (18), na vila de Alter do Chão, integrantes do Conselho Tutelar, acompanhados da Polícia Militar, identificaram uma situação de risco e vulnerabilidade social de menores na praça da matriz. Quando os conselheiros e militares informaram aos responsáveis sobre a situação, diz a nota, foram imediatamente desacatados.
Segundo a Segup, os pais foram convidados a se dirigir ao Conselho Tutelar e se mantiveram, segundo os componentes da operação, "alterados e estavam visivelmente alcoolizados". O pai dos menores passou a gritar e posteriormente desacatar os agentes de segurança com palavras de baixo calão, informa a nota oficial, e por isso lhe foi dada voz prisão. O homem resistiu e foi conduzido para UIPP Alter do Chão para as providências cabíveis pela Polícia Civil e Conselho Tutelar, informa a Segup.
A Secretaria conclui informando que a corregedoria da Polícia Militar está disponível para qualquer tipo denúncia contra agentes que, porventura, venham cometer excesso durante suas atuações. Da operação de fiscalização comanda pelo Comando de Policiamento Regional (CPR I) participaram: Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Conselho Tutelar, Juizado da Infância, Procon, Vigilância Sanitária, Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito e Detran. Foram realizadas revistas em coletivos, carros e motocicletas na PA-457, principal via de acesso à vila de Alter do Chão. Ao todo, sete motocicletas e um carro foram apreendidos. Também foram feitas 48 abordagens a pessoas em atitude suspeita e fiscalizados sete bares e lanchonetes na vila de Alter do Chão.
Com apuração de Letícia Aleixo e informações do site Envolverde.
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