Em sua primeira temporada como titular do Grêmio, aos 22 anos de idade apenas, o goleiro Galatto já recebeu a maior responsabilidade que teve em sua carreira até o momento: defender o pênalti batido por Ademar, ex-atleta do Náutico, na conhecida Batalha dos Aflitos. A missão foi cumprida pelo arqueiro. Mas, até lá, o caminho percorrido foi dos mais conturbados. Em uma tarde de tensão no estádio alvirrubro, o herói gremista oscilou, repetidamente, entre momentos de confiança absoluta e de desolamento total.
Confusões à parte, o fato é que ele foi o responsável por tirar do Timbu o acesso e por fazer a torcida do Tricolor Gaúcho comemorar, numa só tacada, a transição do desespero para a garantia de presença na Série A do Campeonato Brasileiro. E mais: a vaga veio junto com o título da Série B de 2005. Isso tudo, obviamente, sem a simplicidade que meras linhas escritas transmitem. Pelo contrário. A recompensa só veio depois de uma verdadeira guerra em campo – não é à toa que surgiu a alcunha de Batalha dos Aflitos.
##RECOMENDA##Naquele dia, teve recepção sob xingamentos dos alvirrubros, arbitragem complicada, polícia em campo e até diretoria no gramado. Foram quatro gremistas expulsos. Por pouco o ‘juiz’ não encerrou o jogo. O furdunço foi generalizado. Mas toda a gritaria deu espaço ao silêncio no momento em que Galatto e Ademar ficaram frente a frente no segundo pênalti do confronto. O goleiro levou a melhor, e o choro tomou conta da torcida do Timbu.
Protagonista desse enredo que até hoje pasma quem o conhece, Galatto concedeu entrevista exclusiva ao Portal LeiaJá, e mostrou seu sincero orgulho em ter sido destaque de um dos capítulos mais impressionantes da história do futebol. Em seu discurso, ele revelou as orientações que recebeu antes de Ademar bater o pênalti, admite que chegou a se desesperar antes da cobrança e falou sobre a curiosa tranquilidade que apresentou em campo durante os momentos mais tensos da Batalha dos Aflitos.
O pênalti decisivo
Ademar não era o batedor, não tinha experiência nesse sentido. Então, não havia muita referência. Só que meu treinador de goleiros da época me orientou a tentar esperar o máximo possível antes de pular. Justamente pela possível insegurança do alvirrubro na hora da cobrança. A ideia era estudar a corrida dele até a bola e, nesse meio-tempo, definir o canto. Foi isso que fiz e deu certo.
Momento de desespero
Quando o árbitro marcou o segundo pênalti, pensei: “Meu Deus, o ano foi por água abaixo”. Afinal, já tinham perdido um pênalti. Não é comum um time perder dois no mesmo jogo. Ainda mais durante decisões. Foi tenso. Pensei que estava tudo perdido e que passaríamos por maus bocados. Até porque a diretoria vinha cobrando muito o acesso. Isso sem falar na torcida, que nos apoiava bastante, mas que também estava com pressa para voltar à Série A. Felizmente, tudo deu certo!
Sobriedade em meio à confusão
Quando começou toda aquela bagunça no gramado, com jornalistas, torcedores, dirigentes e policiais em campo, procurei manter a calma. Acho que o goleiro é uma peça do time que tem o dever de passar tranquilidade para o resto dos jogadores. Além disso, nunca gostei de me envolver em bate-boca com árbitro, nem com adversários. Mas, claro, eu fiquei atento em todos os momentos, pois poderia existir alguma brecha para que eu brigasse pelos nossos direitos e sem precisar entrar em conflito direto com os envolvidos.
Reconhecimento pelo acesso
Todos fizeram um ótimo trabalho e o reconhecimento foi incrível. Principalmente pelo fato de que, àquela época, tínhamos um time sem estrelas. Muitos anônimos e outros atletas de mais experiência. Mas sem nenhum ‘superstar’. Éramos uma família de amigos, em que todos se ajudavam. Enfim, depois daquele jogo, a torcida explodiu em alegria. Quando voltamos para Porto Alegre, o aeroporto estava lotado. Até hoje alguns gremistas me param na rua para agradecer por ter salvado aquele pênalti no final da partida.
Gol da redenção
No lance que originou o gol, o Anderson (meio-campista do Grêmio, autor do tento que deu a vitória ao time gaúcho) sofreu falta pelo lado esquerdo, e eu imaginei que ele fosse passar uns cinco minutos deitado. Olhei pro lado e, quando voltei a observar a jogada, ele já estava empurrando a bola para as redes do Rodolpho (goleiro alvirrubro na Batalha dos Aflitos). Rapaz, acho que isso nunca mais vai se repetir no futebol, viu? (risos).
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