Para evitar o descumprimento de seus covenants (compromissos financeiros) diante da reviravolta do câmbio e na tentativa de se beneficiar de um cenário de juros mais baixos, algumas empresas estão antecipando o resgate das suas debêntures. Somente na última semana, Sabesp, Companhia Providência Indústria e Comércio e B2W anunciaram que recolheriam seus papéis antes do prazo.
Esse movimento tende a aumentar com o fechamento dos balanços do terceiro trimestre, finalizados ontem, que trarão o impacto da alta do dólar no endividamento. É comum grandes empresas terem cláusulas limitadoras nos contratos, os chamados covenants, fixando, em geral, uma relação da dívida líquida com a geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização).
##RECOMENDA##
Com a alta expressiva do dólar no final do trimestre, essa proporção, a alavancagem, pode ultrapassar o teto e forçar a empresa a renegociar com os credores, uma vez que o não cumprimento da quebra do contrato pode fazer a dívida ter de ser quitada antecipadamente.
Para evitar o desgaste de uma negociação, o superintendente executivo de Mercado de Capitais do HSBC, Antonio Oliveira, acredita que mais empresas devem antecipar o resgate de dívidas em debêntures.
Ele lembra que, se a empresa tem dívida cambial, a valorização do dólar eleva a possibilidade de esses compromissos serem quebrados e nenhuma organização quer correr o risco de ter de ir para uma assembleia de debenturistas para negociar uma compensação financeira com credores, ficando à mercê da decisão dos investidores.
"Muitas vezes, principalmente em tempos de crise, se a empresa for de fato para uma assembleia de debenturistas pode sofrer", avalia Oliveira, referindo-se à possibilidade de a companhia ver elevado o custo da sua dívida.
O risco é de os investidores não concordarem com o prêmio de consolação oferecido pela companhia e, com isso, ser gerada uma tensão entre empresa e debenturistas - enquanto que, resgatando os papéis, a organização evita essa situação e indícios negativos ao mercado.
A Providência, fabricante de não tecidos, se decidiu pela antecipação do resgate de debêntures por já ter estourado um dos três covenants prescritos nos seus papéis e também pela necessidade de alongar a sua dívida com vencimentos em novembro deste ano e novembro de 2012. A relação dívida líquida sobre Ebitda para 2011 teria de ser inferior a 2,75%, e já estava em 3%. Nos outros dois covenants, a empresa ainda estava no limite. O índice de cobertura de juros, por exemplo, precisava ser superior a 3% e a Providência estava com 9%, enquanto a dívida líquida sob capitalização tinha de ser menor que 0,65%, e a empresa apresentava 0,41%.
Mesmo assim, a organização optou por trocar uma dívida com as cláusulas restritivas por outra sem tal compromisso financeiro por meio de um financiamento de R$ 100 milhões, com prazo de 10 anos. "Às vezes, os covenants se tornam uma trava e, por conta da nossa franca fase de investimentos, sabíamos que honraríamos nossos compromissos, mas teríamos dificuldade de mantê-los", afirma Gabriela Las Casas, gerente de Relações com Investidores da Providência.
O pagamento antecipado das debêntures será realizado em 31 de outubro. Os papéis somam R$ 100,5 milhões, acrescidos de prêmio de R$ 422,2 mil a ser quitado sobre o saldo total, e de juros pro rata temporis, conforme a escritura de emissão.