De padre em uma paróquia rural a tesoureiro do Vaticano: a trajetória de George Pell, um dos maior representantes da Igreja Católica na Austrália, foi despedaçada após sua condenação por pedofilia. Para os que o admiravam, o cardeal Pell, 77 anos, encarnava, com sua figura imponente e eloquência, a ortodoxia do catolicismo na Austrália.
Mas em dezembro ele foi declarado culpado de agressão sexual contra dois coroinhas na Catedral de São Patrício de Melbourne na década de 1990. Os crimes resultaram em uma condenação, anunciada nesta quarta-feira, a seis anos de prisão, sem possibilidade de liberdade condicional até 2022.
Pell, nascido em 1941, cresceu na cidade de Ballarat, onde integrou a equipe de debate em sua universidade. Foi protagonista em peças de teatro na escola e destaque no futebol australiano.
Sua mãe, uma católica fervorosa, não escondeu a felicidade quando o filho escolheu o caminho da igreja, segundo a imprensa australiana. Seu pai, um anglicano, não conseguiu entender o que levou o filho a rejeitar um contrato com uma equipe de futebol.
Prosseguiu os estudos em Roma antes de ser ordenado padre da diocese de Ballarat, em 1966.
- Ascensão e acusações -
Pell teve uma ascensão rápida até a nomeação como arcebispo de Melbourne, posteriormente de Sydney e, em 2003, entrou para o poderoso Colégio de Cardeais, o que deu a possibilidade de votar nos conclaves que escolheram os papas Bento XVI e Francisco.
Em 2014, o papa argentino o convocou para dar mais transparência às finanças do Vaticano. Pell se tornou o número três da Santa Sé. "O cardeal Pell é um dos maiores eclesiásticos que a Austrália já teve", afirmou a seu respeito o ex-primeiro-ministro conservador Tony Abott.
Diante de seus fiéis e da opinião pública, o cardeal Pell sempre defendeu os valores tradicionais do catolicismo. Mas sua reputação foi abalada nos últimos anos por acusações graves. Ele negou ter acobertado abusos cometidos por padres no estado de Victoria, onde trabalhava.
Uma investigação nacional sobre a resposta institucional aos casos de abusos sexuais contra menores na Austrália entre 1950 e 2010 concluiu que 7% dos padres haviam sido acusados de atos de pedofilia, mas as denúncias não resultaram em nenhum inquérito.
A comissão de investigação real que trabalhou durante quatro anos para apurar os casos descobriu que a Igreja australiana recebeu denúncias de 4.444 supostos caso de pedofilia. Em algumas dioceses, mais de 15% dos padres eram suspeitos de abusos.
O cardeal Pell prestou diversos depoimentos à comissão sobre o caso dos padres pedófilos da diocese de Ballarat nos anos 1970 e 1980. Ele pediu desculpas em nome da Igreja, mas insistiu que não recordava das acusações de abusos.
Ele, no entanto, admitiu erros ao lidar com os padres pedófilos no estado de Victoria na década de 1970. Porém, afirmou que foi enganado pela hierarquia católica sobre o que realmente acontecia em uma época de "crimes e dissimulação".
Depois, as acusações de agressão recaíram diretamente sobre ele. Ele foi acusado e declarado culpado, em dezembro de 2018, por agressões sexuais a dois menores de idade em Melbourne, quando eles tinham 12 e 13 anos.
Aos poucos foi afastado da vida do Vaticano. A Igreja aproveitou uma ordem de sigilo para a imprensa sobre o julgamento para retirá-lo de organismos importantes sem apresentar explicações.
O australiano entrou em licença e foi afastado do grupo de cardeais que integram o gabinete do papa e sus conselheiros mais próximos. Poucas semanas depois, o Vaticano anunciou que deixaria o posto de secretário de Economia.