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Fadwa al Najjar caminhou 30 quilômetros com sua família após a ordem do Exército israelense de retirada do norte da Faixa de Gaza, antes de chegar às barracas de campanha instaladas pela ONU para acolher os deslocados no sul do território sitiado por Israel no âmbito de sua guerra com o Hamas.

As barracas foram montadas pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês) no oeste de Khan Yunis, uma cidade no sul do enclave.

Najjar, de 38 anos, conta que andou 30 quilômetros com sua família depois de Israel ter ordenado a evacuação da parte norte da Faixa, há uma semana.

"Deixamos nossa casa às dez da manhã e chegamos às oito da noite", relata essa mãe de sete filhos. "Tentamos descansar no caminho, mas os bombardeios eram intensos, então começamos a correr".

O território, onde vivem 2,4 milhões de palestinos, foi intensamente bombardeado por Israel em resposta à ofensiva do Hamas em solo israelense em 7 de outubro.

Os habitantes de Gaza aguardam a chegada da ajuda humanitária pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, o que não acontecerá antes de sábado, segundo a ONU. Ao mesmo tempo, continuam a temer uma invasão terrestre por parte do exército israelense.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, na quinta-feira (19), que o número total de pessoas deslocadas dentro da Faixa "poderia ter alcançado um milhão". A agência das Nações Unidas teme, seriamente, a escassez de alimentos e de água potável.

- Bombardeios -

Fadwa al Najjar diz que deixou sua casa, junto com cerca de 90 familiares que vivem em um edifício residencial. Como não tinham dinheiro para pagar os cerca de US$ 250 (R$ 1.265 na cotação do dia) exigidos por um motorista de ônibus, resignaram-se a caminhar.

"Israel bombardeou carros à nossa frente, nos quais havia deslocados. Vimos cadáveres", e "rezamos, achando que a gente ia morrer", desabafa Fadwa al Najjar.

Israel nega ter atacado civis que fugiam para o sul e acusa o Hamas de usar a população como "escudos humanos", o que o movimento islâmico palestino nega.

"Houve bombardeios sobre nossas cabeças durante todo o caminho. Teria preferido não ir embora e ficar em casa e morrer lá", diz a filha de Fadwa al Najjar, Malak. Sua mãe diz que não consegue tomar banho "desde o primeiro dia da guerra".

Mais de 4.137 palestinos, a maioria civis, morreram em bombardeios israelenses na Faixa de Gaza desde 7 de outubro, segundo autoridades locais desse território governado pelo Hamas.

Desde essa data, mais de 1.400 pessoas morreram em Israel, a maioria civis baleados, queimados vivos, ou mutilados, no primeiro dia do ataque do movimento islâmico, segundo as autoridades israelenses. O Hamas também sequestrou cerca de 200 pessoas.

- "Nem cobertores nem colchões" -

Sentada em sua barraca, Um Bahaa Abu Jarad, de 37 anos, morava em Beit Lahia, no norte da Faixa, em um prédio com "cerca de 150 pessoas que agora estão dispersas entre Rafah [na fronteira com o Egito] e Khan Yunis", afirmou.

"Pegamos uma carroça puxada por burros para chegar à cidade de Gaza [no norte da Faixa, abaixo de Beit Lahia] por 30 shekels", o equivalente a US$ 8 (R$ 40,70 na cotação do dia), "e depois pagamos 400 shekels [US$ 100, ou R$ 509, na cotação do dia] por um carro que nos levaria a Khan Yunis", explica.

"É uma quantia significativa e tem gente que aproveita", reclama.

Antes de conseguir uma barraca, Um Bahaa Abu Jarad e outras 27 pessoas passaram cinco dias dormindo na rua, no pátio de um edifício de escritórios da UNRWA.

"Estava muito quente durante o dia e muito frio à noite", acrescentou.

A mulher mostra um xarope que comprou para a tosse do filho, que pegou um resfriado.

"Não há cobertores, nem colchões", diz, mostrando erupções cutâneas causadas por falta de higiene.

"Temos que esperar na fila em frente aos banheiros junto com dezenas de outras pessoas, e pode levar uma hora até chegar a nossa vez", desabafa.

- Fuga em um caminhão de gado -

Uma de suas primas, Faten Abu Jarad, mãe de sete filhos, diz que caminhava por uma estrada na Cidade de Gaza quando ocorreram os bombardeios israelenses.

"Começamos a correr", até alcançar um caminhão de gado. "Imploramos ao motorista que nos levasse para o sul e tivemos que pagar 400 shekels", conta.

"Estávamos todos amontoados, jovens e velhos, com esterco de vaca, e chegamos aqui num estado lamentável", completou.

Hanaa Abu Sharj lava sua roupa e a de sua família em um balde, depois de conseguir alguns litros de água.

"Não temos roupa limpa, e uso a água com muito cuidado para não desperdiçá-la", finaliza.

Mais de 260.000 pessoas foram forçadas a abandonar suas casas na Faixa de Gaza, em meio aos fortes bombardeios israelenses por ar, terra e mar, informou a ONU.

Os intensos combates deixaram cerca de 3.000 mortos em ambos os lados desde que o Hamas lançou um ataque surpresa no sábado, provocando a represália israelense.

"Mais de 263.934 pessoas em Gaza teriam fugido de suas casas", detalhou a OCHA, a agência humanitária da ONU, em novo boletim na noite de terça-feira, acrescentando que esse número deve aumentar.

A agência disse ainda que cerca de 3.000 pessoas foram deslocadas, "devido a escaladas prévias" à do sábado.

Mais de 1.000 pessoas morreram em Israel no pior ataque da história do país, enquanto as autoridades de Gaza relataram 900 mortos nos ataques aéreos.

Israel também relatou cerca de 1.500 combatentes do Hamas mortos em território israelense.

Os bombardeios destruíram mais de 1.000 casas, e 560 ficaram inabitáveis, devido aos danos, segundo o OCHA, citando autoridades palestinas.

Entre os deslocados, cerca de 175.500 pessoas se abrigaram em 88 escolas administradas pela agência da ONU que apoia os refugiados palestinos.

Mais de 14.500 foram instalados em 12 escolas públicas, enquanto quase 74.000 estariam com familiares e vizinhos, ou alojados em igrejas e outros locais.

O número de deslocados dentro de Gaza "representa o maior número de pessoas deslocadas desde a escalada de hostilidades de 50 dias em 2014", disse o OCHA.

Israel impôs um cerco total à Faixa de Gaza que impede a entrada de alimentos, água, combustível e eletricidade.

Mais de 43.000 pessoas foram deslocadas pelas inundações provocadas pela tempestade Daniel, que devastaram o nordeste da Líbia há 10 dias, anunciou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

"Segundo as estimativas mais recentes da OIM, 43.059 pessoas foram deslocadas pelas inundações no nordeste da Líbia", afirmou a agência da ONU em seu boletim mais recente.

A tempestade Daniel afetou a cidade líbia de Derna durante a noite de 10 de setembro e provocou o rompimento de duas barragens. A água dos reservatórios gerou um fluxo que destruiu bairros inteiros.

Mais de 3.300 pessoas morreram na tragédia, segundo um balanço provisório das autoridades do leste da Líbia. O balanço real, no entanto, deve ser muito maior porque milhares de pessoas estão desaparecidas.

A OIM destacou que a falta de abastecimento de água obrigou vários desabrigados a abandonar Derna.

As autoridades líbias pediram aos moradores da região que não consumam a água procedente das tubulações porque o abastecimento foi contaminado pelas inundações.

A Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL) anunciou esta semana que suas agências estavam trabalhando para "prevenir a propagação de doenças e evitar uma segunda crise devastadora na região".

A empresa nacional de telecomunicações informou que restabeleceu as redes de telefonia e de internet em Derna nesta quinta-feira, após um apagão durante a semana e dos protestos contra as autoridades locais pela gestão da catástrofe.

As autoridades relataram uma "ruptura na fibra óptica", mas vários especialistas afirmaram que o apagão foi deliberado.

Mais de 110 milhões de pessoas vivem atualmente em situação de deslocamento ou exílio forçado, anunciou a ONU, que considera o número recorde uma "acusação" contra o estado do mundo.

A guerra na Ucrânia, o aumento dos refugiados do Afeganistão e os combates no Sudão elevaram os números de maneira dramática nos últimos meses, destaca o relatório do Alvo Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

O número de deslocados e refugiados, 108,4 milhões no fim do ano passado, registrou aumento de quase dois milhões desde então devido ao conflito no Sudão, afirma o relatório.

Desde o fim de 2021, a quantidade de pessoas em situação de deslocamento forçado, dentro ou fora de seus países, aumentou em 19,1 milhões, o avanço mais expressivo desde que a agência da ONU começou a publicar os balanços, em 1975.

O número de 110 milhões foi alcançado em maio.

"Há 110 milhões de pessoas que fugiram de suas casas devido a conflitos, perseguições, discriminações e violência, muitas vezes combinados com outros motivos e, em particular, com o impacto da mudança climática", afirmou o diretor do ACNUR, Filippo Grandi, em uma entrevista coletiva em Genebra.

"Os números são uma verdadeira acusação contra o estado de nosso mundo", acrescentou.

- Número em alta -

Em 2022 o balanço do ACNUR registrou 35,3 milhões de pessoas que buscavam refúgio em outros países e 62,5 milhões de deslocados internos.

Também foram registrados 5,4 milhões de demandantes de asilo e 5,2 milhões de pessoas, principalmente venezuelanas, que solicitaram proteção internacional.

"Temo que o balanço continuará aumentando", disse Grandi.

Os deslocados e refugiados enfrentam um "ambiente mais hostil, praticamente em todos os lugares, em particular quando trata-se de refugiados", afirmou.

Os governantes devem "convencer a opinião pública de que há pessoas que merecem obter proteção internacional", acrescentou.

- Pedir asilo "não é crime" -

Grandi afirmou que o plano do governo do Reino Unido de enviar solicitantes de asilo para Ruanda "não é uma boa ideia".

As respostas dos Estados Unidos são mais complexas, mas o ACNUR está "preocupado" com as novas dificuldades que os aspirantes de asilo enfrentam no país, destacou o diplomata italiano.

No mês passado entrou em vigor nos Estados Unidos uma norma que obriga os migrantes a solicitar uma consulta por meio de um aplicativo para smartphone (CBP One) ou a aproveitar programas de reunificação familiar ou permissões humanitárias para cotas de venezuelanos, haitianos, nicaraguenses e cubanos.

Nos dois casos, o pedido de asilo deve ser processado antes da chegada aos pontos de entrada do país.

Ao mesmo tempo, Grandi elogiou o acordo anunciado este mês pela União Europeia (UE) que pretende reduzir as tensões entre os 27 países membros e dar uma resposta "relativamente justa" às pessoas em deslocamento.

O acordo obriga todos países da UE a receber um determinado número de solicitantes de asilo procedentes de outro país do bloco que enfrenta uma grande pressão migratória ou a fazer uma contribuição financeira em caso de recusa.

Grandi fez um apelo para que UE, Estados Unidos e Reino Unido "mantenham suas portas abertas".

"Os demandantes de asilo não devem ser detidos. Pedir asilo não é crime", destacou.

- Medo pelo Sudão -

Grandi pediu uma ação global urgente para aliviar as causas e os impactos dos deslocamentos e afirmou que a situação financeira do ACNUR "não é boa este ano".

Os apelos da agência da ONU para enviar ajuda aos deslocados internos no Sudão conseguiram arrecadar apenas 16% dos fundos esperados. As doações para ajudar os países que acolheram os refugiados registraram apenas 13% da quantia necessária.

Quase 470.000 pessoas fugiram do país africano desde o início dos combates entre a junta militar no poder e grupos paramilitares em meados de abril e 1,4 milhão de sudaneses se tornaram deslocados internos.

O balanço do ACNUR também registrava no fim do ano passado 6,5 milhões de refugiados sírios, incluindo 3,9 milhões que vivem na vizinha Turquia.

Também havia 5,7 milhões de refugiados ucranianos, que fugiram após o início da invasão russa em fevereiro de 2022, na maior onda de refugiados na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

No ano passado, 339.000 refugiados retornaram para seus países e 5,7 milhões de deslocados internos voltaram para suas casas.

Os países que mais receberam refugiados em 2022 foram Turquia (3,6 milhões), Irã (3,4 milhões, Colômbia (2,5 milhões), Alemanha (2,1 milhões) e Paquistão (1,7 milhão).

O acúmulo de crises forçou 71 milhões de pessoas a fugir de seu próprio país no ano passado, um número recorde, informaram nesta quinta-feira (11) o Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC, com sede em Genebra) e o Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC).

Em 2022, um total de 71,1 milhões de pessoas foram registradas como deslocados internos, um aumento anual de 20%, em grande parte provocado pelas fugas em massa após a invasão russa da Ucrânia e pelas inundações catastróficas no Paquistão, afirma um relatório conjunto divulgado pelas duas organizações.

O número de novos deslocados aumentou a quase 61 milhões de pessoas, algumas delas obrigadas a fugir em várias oportunidades. Uma alta de 60% na comparação com 2021.

Este número é "extremamente elevado", declarou à AFP a diretora do IDMC, Alexandra Bilak.

"Uma grande parte do aumento é causado, claro, pela guerra na Ucrânia, mas também pelas inundações no Paquistão, por conflitos novos e os já existentes em todo o mundo e por uma série de desastres súbitos ou lentos que vimos das Américas até o Pacífico", acrescentou.

- África, muito afetada -

No ano passado, os novos deslocamentos internos provocados por conflitos chegaram a 28,3 milhões, quase o dobro de 2021 e o triplo na comparação com a média anual da última década.

O número inclui 17 milhões de pessoas deslocadas dentro da Ucrânia.

Além disso, oito milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas após as grandes inundações no Paquistão.

A região da África subsaariana registrou 16,5 milhões de deslocamentos internos, mais da metade devido a conflitos, em particular na República Democrática do Congo e na Etiópia.

E o número de deslocados internos deve aumentar em 2023.

No Sudão, os combates iniciados em abril forçaram 700.000 pessoas a fugir para outras áreas do país.

"Desde o início do conflito mais recente em abril, nós registramos o mesmo número de deslocamentos que em todo ano de 2022", declarou Bilak.

- Dez países -

Muitas pessoas sejam forçadas a fugir em todas as regiões do planeta, mas quase 75% dos deslocados internos vivem em apenas 10 países: Síria, Afeganistão, República Democrática do Congo, Ucrânia, Colômbia, Etiópia, Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão (em ordem decrescente do número de deslocados internos).

Muitos deslocados são vítimas de conflitos que duram vários anos, mas as catástrofes naturais são responsáveis pela maioria dos novos deslocamentos internos: 32,6 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir por este motivo em 2022, 40% a mais que em 2021.

Para o diretor do NRC, Jan Egeland, o acúmulo de crises gera uma "tempestade perfeita".

"Os conflitos e desastres se combinaram no ano passado passado para agravar as vulnerabilidades e desigualdades existentes, provocando deslocamentos em uma escala nunca observada ante", afirmou em um comunicado.

Ele também denunciou a crise alimentar mundial, agravada pela guerra na Ucrânia, que "minou o progresso de vários anos".

O impacto do míssil arremessou Anna Protsenko contra a cerca com tanta força que se estilhaçou. Sua mãe a encontrou morrendo no banco sob a árvore de peras onde ela havia aproveitado a tarde. Anna foi morta dois dias depois de voltar para casa. A mulher de 35 anos fez o que as autoridades queriam: deixou a região de Donetsk, no leste da Ucrânia, à medida que as forças russas se aproximavam. Mas começar uma nova vida em outro lugar acabou sendo muito caro.

Como Anna, milhares de cidadãos ucranianos que haviam atendido ao apelo das autoridades para deixar o país - principalmente as áreas com conflito aberto - retornaram às comunidades rurais ou industriais próximas à linha de frente, apesar do risco considerável, porque não têm como arcar com o custo de viver em um lugar mais seguro.

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Anna tentou viver longe de sua cidade por dois meses, depois voltou para casa para trabalhar, na pequena cidade de Pokrovsk. Nesta segunda-feira, 25, amigos e familiares acariciaram seu rosto e choraram antes de seu caixão ser fechado ao lado de seu túmulo.

De acordo com o gabinete do prefeito de Pokrovsk, cidade na região de Donetsk, 70% das pessoas que se retiraram da cidade desde o começo da guerra voltaram para casa. Na cidade Kramatorsk, também no leste da Ucrânia e a uma hora de carro da linha de frente, as autoridades disseram que a população caiu para cerca de 50 mil dos 220 mil nas semanas seguintes à invasão da Rússia, mas desde então aumentou para 68 mil.

Idioma

É frustrante para as autoridades ucranianas ver civis continuarem no caminho da guerra, mas os moradores da região de Donetsk também estão frustrados. Alguns dizem sentir-se indesejados por falarem russo entre falantes de ucraniano em outras partes do país.

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Mas, mais frequentemente, a falta de dinheiro é o problema. Em Kramatorsk, algumas pessoas na fila da entrega de caixas de ajuda humanitária disseram que eram pobres demais para deixarem suas casas.

Donetsk e sua economia são arrastados por conflitos desde 2014, quando separatistas apoiados pela Rússia começaram a lutar contra o governo da Ucrânia. "Quem vai cuidar de nós?" perguntou Karina Smulska, que retornou a Pokrovsk um mês após deixar o local.

Agora, aos 18 anos, ela é a responsável financeira de sua família, trabalhando como garçonete. Voluntários estão dirigindo pela região de Donetsk há meses desde a invasão da Rússia, ajudando pessoas vulneráveis a sair do local, mas esses esforços podem terminar silenciosamente em fracasso.

Nova realidade

Em uma casa úmida no vilarejo de Malotaranivka, nos arredores de Kramatorsk, pedaços de pano foram enfiados nas frestas das janelas para impedir a entrada de correntes de ar. Tamara Markova, de 82 anos, e seu filho Mykola Riaskov disseram que passaram apenas cinco dias como deslocados na cidade central de Dnipro este mês antes de decidirem voltar para casa. "Teríamos sido separados", disse Markova.

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O abrigo temporário onde eles ficaram disse que ela seria transferida para uma casa de repouso e seu filho, com o lado esquerdo imobilizado após um derrame, iria para uma casa para deficientes. Eles acharam isso inaceitável.

Na pressa de partir, deixaram a cadeira de rodas para trás. Era grande demais para levar no ônibus. Agora eles se conformam.

Agora, se a sirene do ataque aéreo soar, Markova vai para o abrigo com os vizinhos até que o bombardeio pare. A ajuda humanitária é entregue uma vez por mês. Markova chama isso de "bom o suficiente". Quando chega o inverno, os vizinhos cobrem suas janelas com filme plástico para isolamento e limpam a lareira da fuligem. Talvez eles tenham gás para aquecimento, talvez não.

Saudades de casa e incertezas também impulsionam o retorno a Donetsk. Um trem diário sai de Pokrovsk para o oeste da Ucrânia relativamente mais seguro, mas outro trem também chega diariamente com pessoas que decidiram voltar para casa. Enquanto o trem de retirada é gratuito, o de retorno não é.

 A Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) informou nesta terça-feira (1º) que a guerra na Ucrânia já provocou ao menos um milhão de deslocados desde a quinta-feira (24), quando os ataques russos iniciaram.

Destes, mais de 660 mil fugiram do país para nações vizinhas.

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"No momento, cerca de 660 mil refugiados fugiram nos últimos seis dias. Os números estão aumentando de maneira exponencial e, nesse ritmo, a situação parece que pode se tornar a maior crise europeia de refugiados neste século", disse a porta-voz da Acnur, Shabia Mantoo, aos jornalistas.

Números das fronteiras apontam que só nas últimas 24 horas foram 150 mil as pessoas que passaram em postos de controle. A Polônia, que já abrigava uma população de mais de 1,5 milhão de ucranianos antes do início do conflito, é o principal destino.

Mas, milhares de pessoas se dirigem também para Hungria, Moldávia e Romênia.

A ONG católica Cáritas da Polônia informou que as "filas quilométricas" nas fronteiras do país fazem com que algumas pessoas precisem esperar até "dois dias" para conseguir entrar em território polonês.

"A situação na fronteira é muito dinâmica, muito fluida e muda continuamente com o agravamento do conflito. Da nossa parte, estamos coordenando com as autoridades a evacuação em massa, que vê como protagonistas, sobretudo, mulheres e crianças. Nós posicionamos centros de recepção com o fornecimento de comidas quentes e assistência médica", disse o responsável pela ONG no país, Ireneusz Krause.

A União Europeia estima que até 7,5 milhões de ucranianos precisem se deslocar internamente por conta do conflito e que entre três e quatro milhões cruzem as fronteiras. 

Da Ansa

Quase 80 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de suas casas em consequência da violência e da perseguição, o que significa que mais de 1% da humanidade era composta por deslocados em 2019, anunciou a ONU nesta quinta-feira (18).

As 79,5 milhões de pessoas que viviam como deslocados, refugiados ou que solicitaram asilo até o fim de 2019 representam um número recorde, destaca o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

"O 1% da população mundial não pode retornar a suas casas porque há guerras, perseguição, violação dos direitos humanos e outras formas de violência", explicou o diretor do ACNUR, Filippo Grandi, em uma entrevista à AFP.

Em uma década, o número de pessoas obrigadas a fugir de suas casas praticamente dobrou, ainda de acordo com a ONU.

Países como Síria, Venezuela ou República Democrática do Congo registraram grandes fluxos de deslocamento de suas populações devido a conflitos internos, e a tendência ficou mais intensa particularmente a partir de 2012.

"Aconteceram mais conflitos, mais violência", adverte Grandi. "E isto significa que as soluções políticas têm sido insuficientes".

"Com uma comunidade internacional muito dividida, incapaz de alcançar a paz, infelizmente a situação não vai parar de aumentar. E temo que o o próximo ano será pior do que este ano", disse.

Dos quase 80 milhões de afetados, mais da metade, 46 milhões, são o que a ONU denomina "deslocados internos", ou seja, pessoas que não precisaram abandonar seu país. Outros 26 milhões são refugiados fora de sua pátria.

O ACNUR estabeleceu uma categoria separada para os 3,6 milhões de venezuelanos que foram obrigados a deixar o país por razões econômicas. Os demais, 4,2 milhões de afetados, são demandantes de asilo.

Cinco países concentram 68% da população de refugiados no planeta: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar.

Na Síria, 13,2 milhões de pessoas abandonaram suas casas, um sexto da população total, para fugir da guerra civil e seguir para outro lugar, dentro ou fora do país.

E são os países de renda média ou baixa que devem apoiar 85% do enorme fluxo transfronteiriço.

"O que observamos realmente aumentar dramaticamente é a pobreza", explica o diretor da agência.

"Uma atividade que não foi contida pela pandemia (do novo coronavírus) foi a guerra, o conflito ou a violência", resumiu.

No final de 2018, o mundo tinha 70,8 milhões de pessoas deslocadas em consequência de guerras ou perseguições, um recorde que não reflete a magnitude do êxodo venezuelano, pois apenas uma minoria solicita asilo, anunciou a ONU nesta quarta-feira.

O relatório anual do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) destaca que 2018 foi marcado pelo forte aumento do deslocamento interno na Etiópia e por um aumento nos pedidos de asilo apresentados por pessoas que fogem da grave crise política e econômica da Venezuela.

O conflito na Síria continua provocando um grande número de refugiados e deslocados. A violência na Nigéria também foi uma fonte importante de deslocamentos.

O documento afirma que o número total de "desarraigados" no mundo - incluindo os refugiados (25,9 milhões), os deslocados internos (41,3 milhões) e os demandantes de asilo (3,5 milhões) - registrou alta de 2,3 milhões na comparação com 2017.

O cálculo é considerado "prudente", ressalta o ACNUR, porque "embora a maioria dos venezuelanos devem beneficiar-se do sistema internacional de proteção de refugiados, apenas meio milhão solicitaram asilo".

- Síria e Venezuela -

"Mais uma vez, as tendências vão no caminho errado. Novos conflitos se unem aos antigos", afirmou o alto comissário Filippo Grandi em Genebra.

Grandi fez um apelo por unidade no Conselho de Segurança da ONU para solucionar os conflitos.

O número de pessoas deslocadas e de refugiados no mundo voltou a aumentar a partir de 2009, com um forte avanço entre 2012 e 2015 com a guerra na Síria.

Colômbia e Síria são os países com o maior número de deslocados internos.

No caso dos refugiados, 5,5 milhões são palestinos, que estão sob responsabilidade de uma agência específica da ONU.

Entre os demais, a maioria procede de cinco países: Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar e Somália.

Os sírios - mais de 500.000 - também foram os que apresentaram a maior quantidade de solicitações de asilo ano passado, a maioria na Turquia.

Em seguida aparecem os venezuelanos com 341.800 demandas, a maioria na Colômbia e Peru.

Como o governo peruano passou a exigir recentemente vistos dos venezuelanos, Grandi pediu aos demais países da região que permitam a entrada para evitar um "congestionamento" nas fronteiras.

Quatro em cada cinco refugiados vivem em um país vizinho ao próprio, e a grande maioria vive em países em desenvolvimento.

Estados Unidos, Peru, Alemanha, França e Turquia foram os países que receberam mais pedidos de asilo no ano passado.

Pelo quarto ano consecutivo a Turquia foi o país que recebeu a maior população de refugiados (3,7 milhões), seguido por Paquistão, Uganda, Sudão e Alemanha.

Grandi elogiou a política migratória da chanceler alemã Angela Merkel, que tomou a decisão de abrir as fronteiras de seu país a centenas de milhares de candidatos ao asilo.

"Não estou acostumado a dar uma pontuação, mas acredito que neste caso devemos parabenizar a Alemanha pelo que fez. A chanceler foi muito corajosa", disse.

Também pediu aso europeus que encontrem uma solução duradoura para o sistema de distribuição de migrantes.

"Temos atrás de nós as eleições europeias e temos um número francamente administrável de chegadas à Europa. É o momento de enfrentar esta questão", concluiu.

As inundações pelas fortes chuvas que atingem o Uruguai provocaram o deslocamento de mais de 2.300 pessoas nos últimos dias, informou neste domingo o Sistema Nacional de Emergências.

A província mais afetada pelas precipitações é a de Durazno (centro), onde se concentram mais de 1.700 dos deslocados.

Sete estradas nacionais permanecem fechadas ao trânsito, informou a Direção Nacional de Polícia.

Na Argentina, as chuvas deixaram quatro mortos e mais de 6.000 foram evacuados.

Quase dois milhões de pessoas foram deslocadas pelo conflito em Darfur, a província ocidental do Sudão, que vive um ressurgimento da violência, indicou nesta segunda-feira um alto funcionário da ONU.

"Nós estimamos o número de deslocados em quase 1,9 milhão, e há 1,3 milhão de pessoas afetadas pela violência ou pela insegurança alimentar", declarou Ali Al-Zatari.

"Isso totaliza 3,2 milhões de sudaneses de Darfur que necessitam" de ajuda humanitária, disse Zatari a líderes de uma comissão responsável ​​pelo acompanhamento da implementação de um acordo de paz assinado em 2011 no Catar entre o governo sudanês e os rebeldes nesta província.

Contudo, este acordo foi rejeitado pelas mais importantes facções rebeldes.

As Nações Unidas já haviam afirmado no mês passado que os confrontos tribais e os combates entre rebeldes e tropas do governo em Darfur provocaram o deslocamento de 460.000 pessoas este ano.

O governo sudanês parece impotente contra essas tribos, que ele mesmo armou para lutar contra os rebeldes que atuam na região há dez anos, mas que agora disputa entre si por terras, água e direitos minerários.

Darfur é palco desde 2003 de violentos confrontos entre o exército e as tribos de um lado, e rebeldes do outro.

Esse conflito longo e devastador fez pelo menos 300.000 mortos, segundo a ONU. Cartum fala de cerca de 10.000 mortes.

Há vários meses, os combates entre tribos experimentaram um ressurgimento da violência, a principal ameaça para a segurança da região, de acordo com as autoridades.

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