Terra de gigantes, Pernambuco tem tradição em revelar grandes nomes do vôlei nacional. Não é de se estranhar quando um atleta nascido ou 'criado' no Estado aparece em grandes clubes da Superliga e na Seleção Brasileira. Foi assim que aconteceu desde a década de 1960 com Marly Álvarez, passando por Ana Cláudia Ramos, Pampa, Marcelo Negrão até os casos mais recentes como Jaqueline (Minas), Dani Lins (Osasco), Ellen Braga (Pinheiros), entre outros nomes. Porém, no espaço onde surgem grandes talentos, aquele que deseja prosperar, precisa ir embora.
Atualmente a Federação de Voleibol do Estado de Pernambuco conta com apenas três equipes filiadas, pagando mensalidade à entidade. São elas: Náutico, Santa Cruz e Sport. Todos os demais 27 clubes que costumam levar o nome do Estado em torneios regionais e nacionais juvenis mantém apenas um vínculo com a federação, o que por si só causa preocupação. Mudar esse status é uma das causas que o presidente da FEVEPE, Celso Assumpção, tem como compromisso na atual gestão.
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"Queremos tornar todos eles filiados. Hoje a federação vive da contribuição recebida da CBV, das inscrições dos torneios que organiza e recebe parte das negociações, mas apenas o suficiente para manter estas competições funcionando e bancar o quadro de profissionais. Existem também receitas advindas de projetos com o Governo, porém é algo destinado, que sempre visa fazer funcionar as disputas do voleibol de quadra e de praia", disse ao LeiaJá.
O dirigente conta que somando torneios diretamente realizados pela federação, e os que recebem a chancela, o ano inteiro é ocupado por datas de competições. Ao todo, são 1,2 mil partidas envolvendo Pernambuco e suas equipes. Pode parecer uma quantidade até excessiva para os 365 dias de um ano, porém estes compromissos são divididos entre as categorias, vôlei de praia e quadra, e a imensa maioria é focada para jovens atletas, visto que o quadro local não conta com uma equipe profissional. Apenas o Sport conta com um time adulto, mas provém de uma parceria com a UNINASSAU que cede os atletas-bolsistas para disputas entre clubes. Esse processo é facilitado pelo fato das duas equipes terem a mesma comissão técnica.
"Não temos um time profissional. Os clubes têm apenas o infantil e juvenil. Daí em diante, os atletas partem para as universidades, ou se são bons, seguem para o Sul e Sudeste. Atualmente contamos com 12 atletas disputando a Superliga, além de gente fora do país. Porém nos falta a profissionalização, esse acredito que seja o maior entrave para o vôlei em Pernambuco", afirmou Celso.
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Nesse contexto, resta a quem investe na carreira apostar nos torneios universitários para conseguir chamar atenção dos clubes profissionais de outras regiões do Brasil. É o caso de Petterson Oliveira, 26 anos, capitão dos times da UNINASSAU e Sport, que ainda sonha com uma transferência para ter destaque como profissional. "Esse projeto é interessante, a gente sempre disputa campeonatos nacionais e isso me motiva para quando terminar a faculdade disputar uma Taça Ouro, Taça Prata, ou até a Superliga B como a gente já teve a oportunidade", revelou.
Para quem trabalha com o esporte, isso tira, inclusive, o interesse de jovens que poderiam estar investindo na modalidade pensando mais a frente. "Não temos equipes participando de torneios nacionais, assim você tira o interesse da prática. Na época que o Sport disputou a Superliga B, os jovens vinham assistir aos jogos do time adulto. É o que atrai público e futuros atletas", comentou o treinador do Sport e da UNINASSAU, Carlos Freitas.
Mesmo podendo atuar nas ligas universitárias com a faculdade, e nos torneios entre clubes pelo Leão, os atletas sabem que é preciso ainda mais para chegar ao nível profissional. Elinaldo Soares, 21 anos, acredita que o calendário local é enxuto e utiliza justamente essa desvantagem como forma de manter a chama acesa para um dia estar entre os grandes nomes nacionais.
"Devido ao pouco investimento no Estado, é difícil. Para a profissionalização é preciso sair de Pernambuco, e o único jeito é fazendo testes ou através de competições. Isso motiva a gente ainda mais, somos o time que mais treina em Pernambuco para jogar fora e mostrar que, mesmo com pouco investimento, temos força", destacou.
Foi por isso que passou Amanda Marques, jovem promessa de apenas 17 anos do Colégio DOM, em Olinda. Ela foi chamada para atuar em São Paulo, mas acabou voltando por dificuldades de se adaptar. Caso houvesse a possibilidade de jogar por um time local, a história podia ser diferente. "Eu não me dei bem lá, sentia muita saudades de casa, da família. Hoje estou com uma cabeça diferente e penso em tentar outra vez. Ficaria mais fácil se eu pudesse fazer toda a carreira aqui", disse a estudante.
Se para os atletas é complicado, para os profissionais que formam os jovens, também é frustrante ver que não há como manter bons jogadores atuando no Estado. Professor no DOM, e da UNINASSAU, Adalberto Nóbrega conta que é preciso se desdobrar para manter-se na função e ele acaba se realizando com aqueles que vão embora.
"Acredito que não há jogador de vôlei com salário em Pernambuco, tem quem receba auxílios ou bolsa de estudos, mas remunerado, não conheço. Em um cenário ideal, nós veríamos esses atletas disputando a Superliga aqui no Estado. Mas o investimento não é suficiente, eu termino torcendo para que minhas jogadoras consigam ir para o Sul e Sudeste, mesmo que não seja o que eu realmente gostaria", explicou.