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A Câmara dos Deputados da Argentina aprovou na madrugada desta quarta-feira (18) um projeto de lei que cria um imposto "extraordinário" para as pessoas que possuam um patrimônio superior a 200 milhões de pesos (US$ 2,35 milhões ou R$ 12,5 milhões).

O debate sobre a taxação das grandes fortunas durou cerca de 13 horas e o texto final foi aprovado por 133 a 115 votos, seguindo agora para discussão no Senado. De acordo com as estimativas do governo, a meta é arrecadar até US$ 3 bilhões com um imposto que varia de 2% a 3,5% de acordo com o valor do patrimônio.

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Ao todo, seriam afetados entre nove mil e 12 mil pessoas, sendo que o metade do valor estimado viria de "apenas 252 pessoas que estão no topo da pirâmide", conforme a deputada Fernanda Vallejos.

O projeto, defendido pelo atual presidente, Alberto Fernández, destinará 20% do valor arrecadado para a compra de materiais e instrumentos para a emergência sanitária provocada pela pandemia de coronavírus Sars-CoV-2; 20% para investimentos nas pequenas e médias empresas; 15% em programas de desenvolvimento das áreas mais pobres da Argentina; 20% para bolsas de estudo do Programa de Ajuda aos Estudantes (Progresar) - que permite que os estudantes concluam seus estudos em qualquer nível de ensino -; e 25% para programas de exploração e desenvolvimento de gás natural.

A oposição é contrária ao projeto por considerar que ele "afugentará" investimentos da Argentina e que atua como um "confisco". No entanto, os governistas afirmam que esse novo imposto afetará apenas 0,02% da população do país. 

Da Ansa

No Congresso, quase metade dos deputados declarou nas eleições de 2018 ter patrimônio superior a R$ 1 milhão, enquanto no Senado esse patamar chega a quase 66%. Isso quer dizer que muitos parlamentares podem ter de votar para ampliar os próprios tributos.

O deputado Hercílio Coelho Diniz (MDB-MG), com patrimônio de R$ 38 milhões, segundo declaração à Justiça Eleitoral, é a favor de taxar os "super ricos". "Temos de mudar nossa base tributária, migrar do consumo para patrimônio e renda", afirmou o dono de uma rede de supermercados na região do Vale do Aço, em Minas Gerais.

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Já seu colega, o deputado Alexis Fonteyne (Novo-SP) - R$ 28 milhões em bens - tem opinião contrária. Para ele, que atua no ramo de pisos e revestimentos industriais, a taxação sobre grandes fortunas não é eficiente. "Se mostrou absolutamente inócuo no mundo todo", disse. "A simples redistribuição de riqueza não resolve a causa da pobreza", afirmou.

Com patrimônio de R$ 238 milhões, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), empresário que fundou o Grupo Positivo, disse estar aberto ao debate. "Não tenho restrição a nenhum imposto isoladamente. Penso que só devemos criar ou modificar alíquotas de impostos já existentes dentro de uma ampla reforma tributária."

A crise gerada pela Covid-19 acendeu o debate no Brasil sobre a necessidade de aumentar os impostos do "andar de cima" junto com a proposta de reforma tributária em tramitação no Congresso. A divulgação na semana passada de uma lista de 42 brasileiros que aumentaram sua fortuna em US$ 34 bilhões, mesmo durante a pandemia, fez crescer a pressão para que a reforma tire do papel o imposto sobre grandes fortunas e eleve o Imposto de Renda dos super-ricos para diminuir a desigualdade social no País.

A corrente que cresce no Congresso é de que a reforma tributária tem de ser mais ampla do que apenas a simplificação de impostos para ajudar a reconstruir o País na fase pós-pandemia. Proposta encabeçada pela Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), junto com acadêmicos e um grupo de entidades ligadas aos Fiscos, aponta um potencial de arrecadação de R$ 40 bilhões por ano somente com o imposto sobre grandes fortunas.

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O imposto passaria ser a cobrado das pessoas com patrimônio a partir de R$ 10 milhões com alíquotas progressivas: de 0,5% (R$ 10 milhões a R$ 40 milhões); 1% (R$ 40 milhões a R$ 80 milhões a R$ 40 milhões) e 1,5% (acima de R$ 80 milhões).

"Somos um dos campeões mundiais de desigualdade e concentração de renda. Precisamos utilizar também esse imposto", defende Charles Alcântara, presidente da Fenafisco.

A Constituição de 1988 previu a instituição de um imposto sobre grandes fortunas no Brasil. Até hoje, no entanto, a medida depende da aprovação de um projeto de lei complementar que determine como será feita essa taxação. O imposto sobre grandes fortunas é o único dos sete tributos previstos na Constituição que ainda não foi implementado.

Outras propostas

Entre os projetos que tramitam no Congresso Nacional para regulamentar o imposto sobre grandes fortunas está o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Apresentada em 1989 - quando ainda era senador -, a proposta chegou a ser aprovada no Senado no mesmo ano, mas ficou travada na Câmara.

Para Dão Real, especialista do Instituto Justiça Fiscal, a aplicação do imposto sobre grandes fortunas em vários países no passado, mesmo que desativado depois da crise financeira de 2008, cumpriu a sua finalidade de reduzir desigualdade social em outras nações. Dão lembra que, com a pandemia, países europeus retomaram o debate para a volta desse tributo.

Os defensores de uma reforma mais ampla viram com os bons olhos a declaração do relator da reforma, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), de que vai trabalhar para a "justiça tributária".

A expectativa é de que relator possa avançar em mudanças nas alíquotas do IR da pessoa física e a volta da tributação de lucros e dividendos, proposta que está sendo elaborada também pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Um das ideias em estudo é criar uma alíquota de 35% para os contribuintes com renda mais alta - integrantes da equipe econômica falam em remunerações que superem a marca de R$ 40 mil por mês. A Fenafisco defende uma alíquota ainda maior, de 45%.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Visto como uma potencial fonte de arrecadação para o país, o imposto sobre grandes fortunas (IGF) é tema de quatro projetos em tramitação no Senado. Dois deles foram apresentados após o início da pandemia do novo coronavírus — e citam essa calamidade sanitária como motivo de suas medidas.

Segundo regras constitucionais, um novo imposto só pode valer a partir do ano seguinte à sua criação. Desse modo, mesmo que um desses projetos seja aprovado durante a crise do coronavírus, ele não poderá ser cobrado a tempo de trazer recursos imediatos. Mesmo assim, os senadores citam a justiça social e os custos futuros da pandemia como fatores que justificam suas iniciativas.

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O imposto sobre grandes fortunas está previsto na Constituição Federal desde sua promulgação, mas necessita de uma lei que o implemente, algo que nunca foi feito.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) é autora do mais recente desses projetos, o PLP 50/2020, apresentado na quinta-feira (26). Além da criação do imposto, ela sugere uma medida que poderia gerar efeitos imediatos: o empréstimo compulsório aplicado às grandes fortunas.

O empréstimo compulsório é uma ferramenta que a Constituição permite em circunstâncias emergenciais, como guerras ou calamidades públicas. A crise provocada pelo novo coronavírus provocou a decretação de estado de calamidade no país até 31 de dezembro, abrindo caminho para essa possibilidade. Ao contrário dos impostos, o empréstimo compulsório não precisa aguardar o ano seguinte para começar a valer. No entanto, os valores arrecadados devem ser devolvidos no futuro.

De acordo com o texto de Eliziane, o empréstimo consistiria em uma alíquota de 4% aplicada sobre a mesma base tributária do imposto que a senadora propõe: patrimônios acima de 12 mil vezes o limite de isenção do imposto de renda. O dinheiro seria retornado a partir de 2021, remunerado pela Taxa Referencial (TR) – mesmo índice usado na atualização dos valores do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

“Sabemos que historicamente no Brasil os mais ricos pagam poucos tributos, e frequentemente se beneficiaram de favores estatais. Tributar grandes fortunas é uma forma de a sociedade receber de volta uma pequena parcela de renúncias fiscais e subsídios dados no passado”, escreve a senadora em sua justificativa para o projeto.

Os empréstimos seriam utilizados enquanto durasse o período de calamidade, e depois disso entraria em vigência o IGF. Ao defender sua proposta, a senadora argumenta que a crise terá efeitos de longo prazo: causará desemprego e fechamento de empresas, e o impacto sobre a atividade econômica influenciará negativamente a arrecadação do Estado mesmo depois do fim da pandemia.

“Não havendo fluxo de renda no presente, o Estado deve buscar recursos acumulados no passado. É apenas natural tributar o patrimônio dos que se enquadram no parâmetro de grandes fortunas”, conclui.

O projeto de Eliziane segue os moldes de um texto que já tramitava no Senado. O PLP 183/2019, do senador Plínio Valério (PSDB-AM), foi apresentado no ano passado, mas ainda não tem parecer de comissão. O projeto — anterior à pandemia — trata apenas do IGF, sem fazer referência a empréstimos compulsórios.

Plínio julga que o tema da tributação de grandes fortunas é um “tabu”, e por isso não foi regulamentado nos mais de 30 anos que se seguiram à promulgação da Constituição. No entanto, ele vê espaço para a aprovação da proposta no Senado, especialmente diante das dificuldades exacerbadas pela pandemia de coronavírus.

"A distribuição de renda no Brasil é muito injusta. [O IGF] amenizaria um pouco essa situação horrorosa", afirma o senador.

Dos quatro projetos em tramitação, o mais antigo é o PLS 315/2015, do senador Paulo Paim (PT-RS), que também não passou pela análise de comissões. A outra iniciativa sobre o tema, do senador Reguffe (Podemos-DF), é o PLP 38/2020, que propõe a vigência imediata do imposto — mas isso não é permitido pela Constituição.

Valores

Segundo Josué Pellegrini, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, o imposto sobre grandes fortunas é socialmente justo, mas tem um potencial arrecadatório baixo e um grande risco de elisão fiscal (utilização de brechas na lei ou interpretações legais que permitam pagar menos tributos ou até não pagá-los).

Ele afirma que a incidência de um imposto gera reações dos contribuintes, que mudam seus hábitos e práticas para escapar da cobrança. Isso é diferente de evasão fiscal, pois o que acontece não é a sonegação do imposto devido, mas sim a reorganização da base tributária. Com o passar do tempo, isso geraria perda de eficácia do imposto.

"Do ponto de vista arrecadatório, não se deve nutrir muitas esperanças. É um imposto difícil de 'capturar'. Ao longo do tempo, começa o 'planejamento' tributário, porque as pessoas físicas têm como esconder patrimônio, transferindo recursos para empresas ou levando-os para o exterior", argumenta Josué.

O potencial de arrecadação do IGF também seria, atualmente, uma incógnita, porque a base de dados pública da Receita Federal, a partir da qual se pode fazer simulações de alíquotas, não estaria atualizada.

Uma proposta divulgada no início da semana por entidades de auditores fiscais projeta uma receita de R$ 40 bilhões anuais com o IGF, sobre uma base de arrecadação que consistiria em patrimônios pessoais acima de R$ 20 milhões, com alíquotas de 1%, 2% e 3%. De acordo com a proposta, esse valor corresponde a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2019.

Os projetos em análise no Senado propõem alíquotas de no máximo 1%. Nos textos de Eliziane Gama e Plínio Valério, a base de arrecadação começaria um pouco acima dos R$ 20 milhões. Já os textos de Paulo Paim e Reguffe iniciam a tributação a partir de pouco mais de R$ 50 milhões

No entanto, o imposto sobre grandes fortunas pode se justificar por aumentar a isonomia do sistema tributário. Nesse aspecto, a crise provocada pelo novo coronavírus pode lhe oferecer uma perspectiva mais favorável do que a existente nos últimos anos, segundo Josué Pellegrini.

" Essa experiência vai ser tão marcante que, possivelmente, a humanidade nunca mais seja a mesma. É possível que a nossa mentalidade convirja para a solidariedade. A estrutura tributária brasileira é falha no ponto de vista isonômico, desde o imposto de renda. É possível que, após o coronavírus, possa haver um impulso para uma reforma muito mais ampla do que a introdução do IGF", opina o diretor da IFI.

*Da Agência Senado

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), Miguel Torres, disse que sindicalistas apresentaram ao vice-presidente Michel Temer uma série de propostas que foram "bem recebidas", apesar do peemedebista não dizer concretamente o que poderia ser adotado. Entre os pontos sugeridos em reunião nesta terça-feira, 26, no Palácio do Jaburu estão a taxação de grandes fortunas e de remessas enviadas ao exterior, além da tributação de bens de alto valor, como helicópteros e lanchas.

De forma conjunta, CNTM, UGT, Força Sindical, CSB e Nova Central propuseram uma série de medidas para a retomada da atividade econômica. Na conversa, participantes relataram que Temer ouviu mais do que falou e foi cuidadoso com as palavras. "(Temer) Sempre coloca no condicional, se o destino assim quiser", disse o presidente da CSB, Antônio Neto. O presidente da Força Sindical, Paulinho da Força (SD-SP), ressaltou que ele só vai falar de propostas concretas se assumir a Presidência. Apesar das sugestões de aumento de impostos, Paulinho disse que o vice-presidente afirmou que não é preciso aumentar imposto neste momento.

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A Polícia Federal abriu inquérito para investigar suspeitas de prática de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e crime contra o sistema financeiro envolvendo três sócios da GPS Planejamento Financeiro, líder no mercado brasileiro de gestão de grandes fortunas.

A gestora é controlada pelo private bank suíço Julius Baer Group, citado na delação premiada do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco. No depoimento, o ex-executivo declarou que contratou o banco suíço para investir dinheiro arrecadado de propina que recebeu para facilitar contratos na estatal.

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O inquérito envolvendo a GPS não tem, contudo, relação com a Operação Lava Jato.

Ele foi aberto em outubro de 2013 e, atualmente, está suspenso liminarmente pela Justiça, que aponta supostos erros de procedimento na instalação das investigações, desde fevereiro deste ano.

Antes da paralisação das investigações, a Polícia Federal trabalhava com a suspeita de que o banco teria comprado a GPS para facilitar a remessa ilegal de dinheiro de brasileiros para a Suíça.

O Julius Baer adquiriu 80% de participação da GPS em duas etapas. Na primeira, em 2010, obteve 30%. Quatro anos depois, no também ano eleitoral de 2014, elevou a participação para 80%.

Conforme o inquérito, os sócios fundadores da GPS José Eduardo Nepomuceno Martins, Roberto Santos Telles Rudge e Marco Antonio Belda de Dios Fernandes "podem estar favorecendo a evasão de divisas dos clientes da GPS" por meio do banco suíço Julius Baer.

Documentos anexados ao inquérito, segundo análise da Polícia Federal, os relaciona a "contas bancárias não declaradas no exterior, no banco HSBC Republic Bank Monaco S.A." E menciona "recursos depositados em paraísos fiscais de Ilhas Jersey, Mônaco e Suíça que seriam provenientes de sonegação fiscal (caixa 2) e estariam sendo enviados pelo grupo empresarial GPS".

Em parecer anexado ao processo, o Núcleo de Correições da Polícia Federal justificou a abertura do caso porque o inquérito "oferece uma farta quantidade de elementos probatórios que, ao menos em tese, aparentam guardar verossimilhança com o conteúdo acusatório, que seja pela riqueza de detalhes, que seja pela possibilidade de sua confirmação."

O Julius Baer é hoje o maior private bank independente da Suíça, com 125 anos de atividade. Sua atuação envolve aplicar dinheiro dos clientes em obras de arte, joias e instituições financeiras. No total, o banco administra fortunas no valor de US$ 372 bilhões e conta com escritórios em Genebra, Hong Kong, Montevidéu, Mônaco, Lugano, Cingapura e Dubai. Além da GPS, no Brasil o banco é dono de 100% da empresa Bawn, de gestão de fortunas, que tem entre seus clientes jogadores de futebol.

Liminar

A suspensão das investigações do banco suíço ocorreram a partir de determinação do desembargador José Lunardelli, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Ele concedeu uma liminar a pedido da defesa sob o argumento de que o inquérito foi instaurado pela Polícia Federal com base em denúncia anônima, sem investigação preliminar. Argumentou, ainda, que as provas apresentadas são "documentos protegidos por sigilos bancários e fiscal que só poderiam ser obtidos mediante furto ou violação de correspondência".

Ao conceder a liminar, o desembargador escreveu. "É dever da autoridade policial realizar investigação prévia dos fatos antes da instauração do inquérito policial. Atitude diversa acarretaria o risco de sujeitar o cidadão à coação desnecessária e injustificável e, ainda, movimentar a máquina policial em vão." A decisão sobre se as investigações serão retomadas caberá ao plenário. O caso chegou ao TRF porque o juiz da 2ª Vara Federal Criminal havia determinado o prosseguimento das investigações.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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