Os legisladores democratas anunciaram nesta terça-feira (10) as acusações de abuso de poder e obstrução contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como parte do processo de impeachment.
De acordo com o Comitê Judiciário da Câmara de Representantes, Trump cometeu abuso de poder por reter ajuda militar para a Ucrânia em troca de o país iniciar uma investigação para prejudicar um adversário político; e de obstrução ao Congresso por contestar as citações durante a investigação.
Se a Câmara votar a favor de seu impeachment, Trump será o terceiro presidente americano a ser submetido a um julgamento político. Com a Casa controlada por seus correligionários republicanos, é improvável que o processo sobreviva no Senado, onde são necessários dois terços dos votos para sua aprovação.
"Quando o presidente trai a confiança e se põe à frente do país, põe a Constituição e a democracia em risco, e põe a segurança nacional em risco", afirmou o presidente do Comitê Judiciário da Câmara, o representante Jerry Nadler, em entrevista coletiva.
Depois de dois meses de investigações, os representantes democratas afirmam que Trump segurou, por interesses eleitorais e pessoais, ajuda militar para a Ucrânia para enfrentar a ameaça dos separatistas pró-russos no leste do território.
Ele também é acusado de oferecer uma visita à Casa Branca ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em troca de Kiev abrir uma investigação contra o ex-vice-presidente Joe Biden, um de seus principais rivais democratas na eleição de 2020.
Trump voltou a chamar o processo de "caça às bruxas" e disse que são "ridículas" as acusações de que pressionou a Ucrânia. A porta-voz da Casa Branca, Stephanie Grisham, denunciou as acusações como "sem fundamentos" e uma tentativa de "minar um presidente em exercício".
Já a presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, disse que a acusação formal é um passo triste mas necessário. "Se permitirmos que um presidente siga por este caminho, estaremos dizendo adeus à República e olá a um presidente rei".
- Evidência 'esmagadora' e 'indiscutível' -
Nadler apresentou as acusações em uma mensagem solene no Capitólio, acompanhado da presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi.
Nas acusações, os democratas também consideraram que Trump cometeu obstrução ao tentar bloquear os esforços do Congresso de investigar as ações do presidente. Os adversários do presidente alegam que se trata de uma violação da Constituição, que concede ao Legislativo um mandato de supervisão do Poder Executivo.
Adam Schiff, o congressista que preside o Comitê de Inteligência da Câmara Baixa, disse que "os contínuos abusos de poder" cometidos pelo presidente "não nos deixam outra opção".
"A evidência sobre a conduta do presidente é esmagadora e indiscutível", acrescentou, alegando que a inação frente ao comportamento de Trump fará deles "cúmplices destes abusos de poder".
Segundo as estimativas do atual calendário legislativo, o processo no Senado tramitaria em janeiro. Continua sendo baixa a possibilidade de a iniciativa prosperar. Para isso, 20 senadores republicanos teriam de votar a favor do impeachment, unindo-se à moção dos democratas.
Antes de Trump, dois presidentes americanos enfrentaram um julgamento político: Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998. O republicano Richard Nixon renunciou antes da votação. Ambos foram absolvidos no Senado.
Agora, resta saber se o processo será curto, como espera a equipe de Trump, e se o presidente usará este julgamento como tribuna política para sua campanha pela reeleição.