O potencial novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, participou de reuniões cruciais hoje com os líderes dos principais partidos italianos. Monti trabalha para formar um gabinete que possa receber apoio do Parlamento e ajudar a terceira maior economia da zona do euro a sair da crise.
Apesar da velocidade na qual o candidato a primeiro ministro da Itália está trabalhando, a pressão nos nervos dos investidores não diminuiu. Com isso, o custo para os empréstimos para a Itália atingiu novo recorde hoje. Os bônus com vencimento de 10 anos registraram alta de 0,44%, ou seja, 7% acima do valor registrado na semana passada. Isso elevou os temores de que a Itália esteja seguindo o mesmo caminho de outros países endividados da zona do euro, como a Grécia.
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Monti, de 68 anos, um respeitado economista e ex-Comissário Europeu, está sob pressão para garantir mais rapidamente ao mercado que a Itália vai evitar um calote, o que poderia destruir a coalizão dos 17 países que usam o euro e empurrar a economia global para recessão. Por ser a terceira maior economia da zona do euro, a Itália é considerada grande demais para a Europa resgatar, ao contrário da Grécia, Portugal e Irlanda.
Monti encontrou-se nesta terça-feira com chefes do Partido Democrata, de centro-esquerda, e do Partido da Liberdade, do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi. O apoio dos parlamentares será crucial para o voto de confiança que deve ocorrer provavelmente ainda esta semana, porque sinalizaria boa disposição em relação ao governo de Monti.
O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, escolheu Monti no último domingo para tentar formar um governo de coalizão após a renúncia de Berlusconi, que não resistiu ao nervosismo do mercado nas últimas semanas. As causas foram a estagnação da economia e a elevada dívida pública, que em torno de 1,9 trilhão, equivale a quase 120% do PIB. Muitos dos vencimentos dessa dívida devem ocorrer em breve, com a Itália tendo de rolar mais de 300 bilhões no ano que vem.
A União Europeia afirmou que novas medidas vão ser necessárias para a Itália equilibrar o Orçamento até 2013, como foi como prometido. Perguntado ontem se novas ações "corretivas" são necessárias para lidar com a dívida, Monti disse ser "prematuro" fazer tal afirmação e afirmou que os italianos vão precisar fazer alguns sacrifícios para atravessar a crise, mas "sem lágrimas e sem sangue".
Ainda hoje Monti tem reuniões com líderes sindicais, os principais lobistas da Itália e representantes de grupos jovens - indicação de que ele quer consultar uma ampla base da sociedade antes de revelar seu governo e seu programa.
Analistas notaram que a tarefa de Monti é imensa e requer o suporte do Parlamento a cada passo. "Cada vez que ele apresentar uma nova medida, um novo corte, uma nova reforma, os mesmos partidos vão ter que continuar a apoiá-lo", disse Andrea Mandel-Mantello, presidente do banco de investimentos Advicorp. Políticos podem jogar a responsabilidade de medidas duras em Monti sem medo de perder votos, "mas o mercado vai julgar as coisas à medida que elas acontecem", disse ele.
O líder do Partido Democrata, Pierluigi Bersani, declarou seu apoio na manhã de hoje, após encontrar-se com Monti. "Nós encorajamos o professor Monti a continuar com determinação e velocidade", disse ele.
Italianos comuns também estavam animados porém céticos, dada a enormidade da dívida do país e dúvidas se Monti vai receber o apoio político que necessita no longo prazo. "Os mercados estão notando a indecisão por parte dos partidos em apoiar o governo, e claramente este governo precisa de amplo suporte político", disse Gialuca Piredda, enquanto caminhava por Roma em uma manhã fria. "Esta incerteza não ajuda", completou.
Alguns líderes políticos - incluindo aqueles do partido de Berlusconi - demandam que o sem-partido Mário Monti fique no governo apenas o tempo suficiente para implementar reformas econômicas e depois renuncie, para que eleições possam ser realizadas ainda nesta primavera, um ano antes do previsto.
Mas Monti deixou claro que pretende servir até as próximas eleições em 2013, sob o argumento de que não é nesse momento dizer quando deixará o cargo. "Se uma data anterior a 2013 for marcada, a pressa vai minar a credibilidade das ações do governo", afirmou em uma breve coletiva de imprensa. "Eu não vou aceitar tal condição", disse ele. Bersani declarou ontem que o Partido Democrata não colocou nenhum calendário artificial para o mandato de Monti.