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Lia de Itamaracá é um dos símbolos da cultura pernambucana. Mestra cirandeira, Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco e mulher representante da genuína ciranda pernambucana, a artista tem uma vida dedicada a essa arte, levando-a pelos quatro cantos do país e do mundo. Para reverenciá-la, o Itaú Cultural montou a Ocupação Lia de Itamaracá, que chega ao Paço do Frevo, nesta terça (21) homenageando e mostrando parte dessa trajetória. 

Lia já foi apontada como a "diva da música negra" pelo jornal americano The New York Times. Com lugar de destaque na cultura popular pernambucana,  responsável por levar o nome do Estado e as tradições que aprendeu nas areias da praia de Jaguaribe a todo o mundo, ela é Patrimônio Vivo de Pernambuco e, em 2019, recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco.

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Toda essa experiência e vivência estão representadas na Ocupação Lia de Itamaracá, que estreou em São Paulo e agora chega ao Recife, instalada no Paço do Frevo sob coordenação geral de Beto Hees, empresário e produtor da artista, produção de Marcos Paulo, também da equipe de Lia, e curadoria  de Michelle de Assumpção, biógrafa da cantora e atualmente assessora de imprensa da pernambucana.

A Ocupação Lia de Itamaracá - Paço do Frevo será composta por documentos, figurinos, objetos pessoais, fotografias, mobiliários e diversos recursos audiovisuais, como videoclipes e imagens recentes de apresentações da artista pelo mundo. A exposição contará, também, com materiais exclusivos como uma entrevista e um ensaio fotográfico inédito, com autoria de Ytallo Barreto. As canções de Lia, como parte de um cancioneiro popular, também ganham o devido destaque na mostra. Além disso, a temática racial irá se desdobrar na etapa formativa da exposição, através de uma roda de diálogo, com data a ser definida, que debaterá o racismo na cultura popular.

SHOW CIRANDA DO MUNDO E SOM NA RURAL  

Para celebrar a abertura da Ocupação, Lia de Itamaracá se apresenta ao público, nesta terça (21), com o show Ciranda do Mundo. A apresentação mescla o repertório tradicional da artista, composto por  cirandas, cocos e maracatus com boleros e canções mais contemporâneas do disco Ciranda sem Fim (2019). 

A banda de Lia também se renova para o novo formato, ganhando o reforço de bateria e guitarra, que se somam aos tradicionais caixa, percussão, bumbo e trompete. O show acontece no palco do Som na Rural, que estaciona em frente ao Paço do Frevo, na Praça do Arsenal, exclusivamente para a estreia da Ocupação Lia de Itamaracá - Paço do Frevo.

SERVIÇO:

Ocupação Lia de Itamaracá

Abertura: 21 de março, às 18h, com acesso gratuito

Em cartaz até 21 de junho

Paço do Frevo - Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Bairro do Recife, Recife

Horários: Terça a sexta, 10h às 17h | Sábado e domingo, 11h às 18h

Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia) - entrada gratuita às terças-feiras

*Confira aqui a política de gratuidade do museu

Nesta sexta (6), a mestra cirandeira Lia de Itamaracá participou das gravações do Programa do Bial. Na entrevista, a artista pernambucana falou sobre sua trajetória na ciranda, os títulos e Patrimônio Vivo de Pernambuco e Doutor Honoris Causa, e, também, sobre seu próximo trabalho. 

Entrevistada por Pedro Bial, Lia de Itamaracá falou um pouco sobre sua trajetória de mais de 60 anos de carreira. A mestra relembrou as dificuldades que já enfrentou até ser reconhecida como Patrimônio Vivo e Doutor Honoris Causa. Ela atribuiu seu sucesso ao dom recebido pelos seus guias. “Minha vida não foi sempre fácil. Foi cruel, muitas vezes, mas eu insisti. Todo o meu sonho era cantar. Eu achava lindo quem cantava e dançava. Conquistei tudo isso e sei que é o dom de Deus e uma graça de Iemanjá”.

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Também participaram da entrevista o escritor Marcelo Henrique Andrade, autor do livro Lia de Itamaracá, resultado de 30 meses de pesquisa acerca da vida da cirandeira; e o DJ Dolores, que assina o próximo disco da mestra. Ciranda sem Fim chega às plataformas digitais em outubro, mesmo mês em que a entrevista no Conversa com Bial vai ao ar. 

*Com informações da assessoria

 

Joana Belém era uma escrava fugida do cativeiro que sentou morada na Vila dos Pescadores, em Olinda, no fim do século 19. Naquele verdadeiro quilombo urbano, a diversão dos moradores eram as brincadeiras de roda acompanhadas por tamancos de madeira que batiam como se fossem instrumentos, o que hoje conhecemos como coco. Nesse meio nasceu e cresceu - livre - Maria Belém, filha de Joana. Ela tornou-se uma das grandes coquistas do lugar, que anos mais tarde tornou-se a comunidade de Amaro Branco.

Maria Belém não ia para as sambadas sozinha, levava a tiracolo a filha pequena Maria da Glória. Juntas, as duas tocavam e cantavam o ritmo que tornou-se referência daquele povo e lugar. Glória cresceu sambando e recebeu da mãe a missão de dar continuidade às suas tradições. E assim vem fazendo Dona Glorinha do Coco, agora aos 84 anos de idade, desde a partida da matriarca, na década de 1990. Hoje, a coquista de maior idade em atividade em Olinda, após criar 12 filhos, superar maridos ciumentos e a falta de visibilidade e apoio financeiro, se prepara para lançar o segundo disco de sua carreira, Noite Linda

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Dona Glorinha já é tatatravó mas a pisada do coco é o que dá ritmo à sua vida. Prestes a completar 85 anos, ela é capaz de passar madrugadas inteiras nas sambadas e ainda dá conta do serviço de casa. "Só não lavo roupa porque tem a máquina, a roupa já sai e é só botar no varal. Uma máquina dessa é uma mãe", conta. Viúva há mais de 20 anos, ela relembra como precisou lidar com o ciúme dos maridos - ela teve três - na hora de fazer o que mais gostava. "Minha mãe chegava e dizia: 'Glorinha, o coco começou, num vai não?'; ele (marido) dizia: 'já chegou a outra pra chamar ela pra ir sambar'; mãe dizia: 'Você não gosta de samba mas eu gosto e ela gosta e a gente vai". E eu ia, quando eu chegava ele tava com a cara feia".

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--> Tradição e resistência: coco se renova em Olinda

A mãe, grande influência da mestra, deixou para a filha todos os ensinamentos e a missão de dar continuidade ao legado da família. "Eu sempre gostei, ela (a mãe) dizia que eu com três anos já ficava pulando num pé só e batendo palma. Tá na raiz, né"? E seguindo o exemplo da matriarca, Dona Glorinha já garantiu a manutenção da tradição familiar através de uma das netas que já faz coco também. Mais uma mulher dessa linhagem de resistência e pertencimento.

A roda de coco é o que deixa a mestra feliz. Ela diz que não gosta nem de pagode, nem de brega, mas se a convidar para uma sambada ela irá de muito bom grado. "Eu vou pra cantar, tanto faz eu ganhar cachê, quanto ganhar nada". E é aí que a coquista fala sério, quando o assunto é dinheiro. Ela é mais uma griô pernambucana que carece de assistência nesse tocante.

Dona Glorinha reclama da demora no recebimento dos cachês que já são os menores praticados no mercado. "E quando se fala em aumentar o cachê vem os embarreiramentos de comprovações, documentos. E o mérito artístico e cultural dessa mulher que tem essa idade, que tá aqui empoderada fazendo coco dentro da comunidade dela e incentivando outras gerações? Eles não tem olhos pra enxergar esse tipo de inclusão dentro das comunidades", acrescenta Isa Melo, produtora da artista.  

A mestra complementa: "O pequeno artista como eu sou, vive lá embaixo". Mas, apesar das dificuldades, o samba não para e Dona Glorinha não esmorece, nem pensa em desistir. Octogenária, a coquista só lamenta um único detalhe a essa altura da vida: "O que tá me entristecendo agora é que a velhice tá chegando, tá me acompanhando e eu tô com ela, né". 

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Noite Linda

O segundo disco de Dona Glorinha do Coco, Noite Linda, é fruto do Prêmio das Culturas Populares, edição Leandro Gomes, de 2017. O álbum traz nove músicas, a maioria da própria mestra que se vale das pequenas situações do cotidiano para compor, ou como ela mesma diz “tirar o coco”.

A direção musical do álbum é assinada por Viola Luz ao lado de Isa Melo, que também cuidou da produção. A capa é a reprodução de um grafite, feito no muro da sua casa, pela artista Mari Lúcio. O produto final é resultado do esforço de diversas mulheres que estão trabalhando para a manutenção da arte e do legado dessa mestra. 

Para celebrar a chegada de Noite Linda, será realizada uma grande festa na rua dos Pescadores (Amaro Branco), endereço de Glorinha, que receberá alguns convidados para o lançamento como Cila do Coco, Coco do Amaro Branco, Coco do Pneu, Coco das Estrelas, A Cocada, Viola Luz e Forró do mestre Ulisses da Tabajara. A sambada começa às 20h e promete ganhar a madrugada.

Serviço

Lançamento do disco 'Noite Linda' - Dona Glorinha do Coco

Sexta (25) - 20h

Rua dos Pescadores - Amaro Branco (Olinda)

Gratuito (os discos estarão à venda no evento)

 

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Um dos principais ritmos pertencentes à tradição da cultura nordestina, o coco é marcado pela presença de elementos percussivos e une influências indígenas e africanas. Muitas são as variações que marcam essa musicalidade, cada uma com sua particularidade rítmica, como de praia, de roda, desafio e catolé, entre outros.

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Em Olinda, cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, a tradição do coco se mantém viva e é passada de geração para geração. Nomes como Selma do Coco, Mestre Galo Preto, Mestra Ana Lúcia e Zeca do Rolete são sinônimos de resistência e amor pelo ofício deixado como herança.

Em uma época que era muito raro mulheres puxarem uma roda de Coco, Mestra Ana Lúcia, ao lado de sua Mestra Jovelina, ultrapassaram as barreiras e subiram aos palcos.  Ana Lúcia, que recebeu o título de mestre coquista das mãos de Ariano Suassuna, explica que o coco sempre esteve presente na sua vida. “Desde pequena eu ouvia meu pai cantando e perguntava o que era aquela música. Muitas vezes, eu repetia o que ele dizia e perguntava se estava certo”, conta Ana Lúcia, ao LeiaJá.

A Mestra relata que todas as irmãs cantavam coco, mas após o casamento todas deixaram de se apresentar. Mas ela continuou insistindo: “Certo dia, meu marido disse: ‘Você tem que escolher entre o Coco ou eu’. Não tive dúvida, escolhi o Coco e nele estou até hoje”, confessa. Ao Lado das filhas, netos e bisnetos, Ana Lúcia sobe aos palcos e, mesmo com pouco recurso, organiza as apresentações no bairro do Amaro Branco, em Olinda.

Ana Lúcia, em entrevista ao LeiaJá, fala com orgulho sobre o ritmo que a consagrou como mestra e que pretende levar para todos os cantos. Confira:

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Criado em 2001 com a proposta inicial de ser um grupo de cultura popular, o Bongar é referência musical, religiosa e social na Xambá. A tradição do coco veio de forma natural, herança familiar. “Nossas referências são nossos pais. A tradição que está presente já foi herdada por todos nós”, explica Guitinho da Xambá, vocalista do Bongar.

O grupo hoje é referência para as novas gerações de coquistas que surgem na periferia da cidade histórica. “É uma responsabilidade enorme, porque a referência desses jovens é a gente. Agora tem uma galera jovem muito boa e que está transformando o ritmo sem perder a essência. Eles falam do contexto em que vivem, da comunidade a qual pertencem", expõe Memé da Xambá, integrante do grupo.

Eles falam que, por mais que haja a aceitação do ritmo, o movimento é de resistência diante das políticas culturais, que mostram a cultura regional como folclórica e 'item de decoração'. “A gente vê, nas salas dos gestores, elementos da cultura popular como item de decoração. No entanto, penamos para conseguir espaço”, ressalta Guitinho.

Os integrantes do Bongar falam que o ritmo se encaixa em qualquer lugar e que mantê-lo é sinônimo de resistência. “É incrível como o Coco cabe em qualquer beco, em qualquer lugar. Ele vem tendo espaço, mas a gente vem resistindo para manter a essência”, contam. Durante entrevista ao LeiaJá, o Bongar conversou sobre tradição, religiosidade, música, história e resistência, marcas do Coco feito na Xambá. Acompanhe:

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