Tópicos | Tim Lopes

Por Matheus Maio

Há 20 anos, em 2 de junho de 2002, o jornalista Tim Lopes foi sequestrado, torturado e assassinado por traficantes enquanto fazia uma reportagem sobre o abuso de menores e o tráfico de drogas no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Tim era jornalista da TV Globo e, a partir de sua morte, os protocolos de segurança para jornalistas em campo foram alterados e o jornalista tornou-se um símbolo na luta pela liberdade de imprensa.

##RECOMENDA##

Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido popularmente como Tim Lopes, nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Aos 8 anos, seus pais se mudaram com a família para o Rio de Janeiro, onde foram viver em circunstâncias humildes na favela da Mangueira, em uma casa de 3 cômodos para 11 pessoas.

Nesta quinta-feira (2), os 20 anos do falecimento de Tim Lopes serão lembrados em uma cerimônia no auditório da Associação Brasileira de Imprensa. Além da ABI, outros agentes como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também participam da celebração.

A memória de Tim Lopes se faz mais vívida no momento onde crescem os ataques a jornalistas, assim como à imprensa. De acordo com dados da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), só no ano de 2021 foram registrados 430 ataques a jornalistas, maior número desde o início do levantamento, na década de 90.

A morte de Tim Lopes ampliou a urgência do debate sobre a integridade física dos jornalistas enquanto exercem sua profissão, além do diálogo sobre segurança pública. A luta pela apuração dos fatos relacionados ao crime, assim como a luta punição dos culpados foi coberta e ordenada por jornalistas, fato essencial para culpabilizar os responsáveis pelo assassinato.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello derrubou um decreto de prisão preventiva contra o traficante Elias Pereira da Silva, o 'Elias Maluco', no âmbito de ação que ele responde por associação ao tráfico. De acordo com o despacho, ele deve ser posto em liberdade, caso não haja outro decreto de prisão.

Além desta ação, Elias Maluco foi condenado a 28 anos e meio de prisão em 2005 pelo homicídio do jornalista Tim Lopes. Ele também foi sentenciado por lavagem de dinheiro a 10 anos, 7 meses e 5 dias.

##RECOMENDA##

O decreto de prisão derrubado pelo ministro é de 2017, em uma ação penal que tramita em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.

Segundo Marco Aurélio, Elias Maluco "encontra-se preso, sem culpa formada, desde 7 de julho de 2017, ou seja, há 2 anos e 24 dias. Surge o excesso de prazo". "Privar da liberdade, por tempo desproporcional, pessoa cuja responsabilidade penal não veio a ser declarada em definitivo viola o princípio da não culpabilidade".

"Concluir pela manutenção da medida é autorizar a transmutação do pronunciamento por meio do qual determinada, em execução antecipada da sanção, ignorando-se garantia constitucional", anota.

"Advirtam-no da necessidade de permanecer com a residência indicada ao Juízo, atendendo aos chamamentos judiciais, de informar possível transferência e de adotar a postura que se aguarda do homem médio, integrado à sociedade", conclui.

Na denúncia e pedido de prisão, agora derrubado por Marco Aurélio, o Ministério Público do Rio afirma que o traficante é uma das maiores lideranças do Comando Vermelho.

"Apesar de cumprir pena em penitenciária federal, referido acusado ainda consegue exercer suas funções de liderança no seio da organização criminosa e, como demonstram as anotações apreendidas, fornece drogas para as ‘Bocas de fumo’ do Complexo Salgueiro, em São Gonçalo, e recebe os lucros da atividade espúria do tráfico ilícito de entorpecentes", afirma a Promotoria.

Estabelecido em 1931 pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Dia do Jornalista é comemorado neste domingo (7). A data ficou marcada por homenagear Líbero Badaró, jornalista assassinado em 1830. A morte de Badaró foi um dos fatores preponderantes para desestabilização do regime imperial que governava o Brasil, forçando Dom Pedro I a abrir mão do poder e voltar a Portugal no dia 7 de abril 1831.

Apesar da liberdade de imprensa no Brasil e em boa parte do mundo, os crimes de assassinato contra jornalistas no exercício da profissão são alarmantes. De acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras, a Síria é o país mais perigoso para os jornalistas. Em segundo lugar está o México. Já nos dados do Comitê para a Proteção de Jornalistas, a conta é de 2.037 profissionais mortos e desaparecidos entre 1992 e 2019.

##RECOMENDA##

O LeiaJá relembra alguns casos mais marcantes:

1. Alí Domínguez

Foto: Reprodução

Após denunciar ameaças do governo de Nicolás Maduro, o jornalista venezuelano morreu após ser espancado, em março deste ano. Domínguez, que estava desaparecido há uma semana, foi encontrado morto na capital Caracas. Apesar de apoiar o regime de Hugo Chávez, ele havia rompido relações com o governo Maduro e era considerado um dissidente. De acordo com a ONG Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos (Provea), Domínguez foi encontrado por policiais com traumatismo craniano, fraturas e desprendimento dos dentes, o que poderia indicar que ele teria sido torturado.

2. Viktoria Marinova

Foto: Reprodução

Em outubro de 2018, a jornalista búlgara foi encontrada morta com sinais de estupro e estrangulamento em um parque acoplado ao Rio Danúbio, em Ruse, Bulgária. Durante a última edição do programa que apresentava na TV, Viktoria entrevistou dois jornalistas, o búlgaro Dimitar Stoyanov e o romeno Attila Biro que, naquela semana, denunciaram casos de corrupção envolvendo políticos do país. Como Viktoria também já havia denunciado casos que se referiam a dirigentes búlgaros, a grande suspeita foi de envolvimento dos denunciados na morte da jornalista. As autoridades prenderam Severin Krasimirov, assassino confesso do crime, mas ainda não há esclarecimentos se Krasimirov agiu a mando de alguém.

3 - Jairo Souza

Foto: Reprodução

O jornalista e radialista atuava na Rádio Pérola, em Bragança (PA), e foi morto a tiros quando chegava ao trabalho, em junho de 2018. Souza era conhecido por denunciar casos de corrupção que envolviam o poder executivo municipal, além de veicular casos de homicídio e tráfico de drogas. Amigos próximos do jornalista informaram, na época, ele havia reportado à Polícia ameaças e chegou a usar colete a prova de balas por um período.

4 - Tim Lopes

Foto: Reprodução

O repórter da TV Globo, vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo em 2001 pela reportagem "Feira das Drogas", que mostrava a facilidade que traficantes encontravam para comercializar entorpecentes, foi morto por chefes do tráfico da Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro. Famoso pela reportagem que lhe deu o prêmio, Tim Lopes voltou ao local em junho de 2002 após receber uma denúncia de que em bailes funk, além de consumo e venda de drogas, menores participavam de orgias sexuais. Ao ser reconhecido, Tim Lopes foi levado pelos bandidos a uma espécie de tribunal do crime, onde lhe deram a sentença de morte. O jornalista foi assassinado, teve o corpo esquartejado e queimado.

5 - Jamal Khashoggi

Foto: Reprodução

Apesar de muito próximo dos príncipes sauditas, Khashoggi era um jornalista crítico dos monarcas e do regime adotado no país. Em outubro de 2018, Khashoggi adentrou o consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, e não saiu vivo. Depois de diferentes versões, o governo com sede em Riad acabou reconhecendo que o jornalista havia sido morto pelas mãos de agentes que, segundo o governo, agiram por conta. O principal suspeito de ordenar a morte de Khashoggi é o herdeiro do trono Mohammad bin Salman.

Homenagem a Vladmir Herzog

A Praça Memorial Vladimir Herzog, que fica ao lado da Câmara Municipal de São Paulo, recebeu uma réplica em alumínio do troféu que leva o nome do jornalista assassinado pela ditadura militar em 1975. A obra é do artista plástico Elifas Andreato.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Em homenagem aos profissionais da imprensa que foram mortos no exercício da profissão, oito painéis com a foto do jornalista Tim Lopes foram instalados em Copacabana. No local havia também uma lista com os nomes de 37 repórteres mortos no país desde 2002. O ato, organizado pela ONG (organização não governamental) Rio de Paz, marca os 15 anos do assassinato de Tim, aos 51 anos em 2002, na Vila Cruzeiro. O jornalista foi morto quando fazia reportagem sobre a exploração sexual de adolescentes em bailes funk, promovidos por traficantes da região.

O presidente da ONG, Antônio Carlos Costa, afirmou que a homenagem foi estendida aos jornalistas mortos nos últimos anos para expor a violência contra a imprensa e a violação ao direito de informação. “São dados assustadores que mostram o quanto estes profissionais são necessários. Sem eles não haveria democracia, uma vez que ela depende de cidadãos bem informados. O trabalho do jornalista consiste em desconstruir inverdades que, muitas vezes, são disseminadas pelos detentores do poder econômico, do poder político”, disse Costa.

##RECOMENDA##

De acordo com dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), de 2013 a 2016 ocorreram 300 casos de agressões a jornalistas durante a cobertura de manifestações, por parte das forças de segurança e dos manifestantes. “Do ponto de vista dos movimentos sociais, são os jornalistas que nos pautam, que apresentam a matéria-prima das nossas manifestações. Quando vamos para as ruas protestar, são eles que dão visibilidade ao nosso ato público, aos nossos protestos. A manifestação de hoje é um agradecimento aos jornalistas brasileiros”, declarou o presidente da ONG.

Representantes da chapa Vladimir Herzog, de oposição à atual diretoria da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), vão à Justiça para tentar impugnar a chapa adversária, Prudente de Morais, encabeçada pelo atual presidente e candidato à reeleição pela terceira vez, Maurício Azêdo. Diretor financeiro da chapa oposicionista, Paulo Jerônimo de Sousa, mais conhecido como "Pagê" acusa Azêdo de ter usado um cheque pessoal para quitar débitos de 17 sócios que integram a Prudente de Morais, entre eles Arcanjo Antônio Lopes do Nascimento, mais conhecido como Tim Lopes, jornalista da Rede Globo de Televisão assassinado em 2002 por traficantes do Complexo do Alemão, zona norte do Rio.

O Regulamento Eleitoral da ABI prevê que todos os integrantes das chapas devem estar quites com as mensalidades. O cheque, no valor de 595 reais, é datado de 11 de março. O prazo final para inscrições era o dia 20 do mesmo mês. A relação dos sócios que tiveram os débitos pagos foi manuscrita por Azêdo no verso do cheque.

##RECOMENDA##

"A intenção do Azêdo era, na verdade, quitar os débitos de Miro Lopes, irmão de Tim, que integra a chapa dele. Mas na pressa, acabou escrevendo o nome do falecido Tim. Desta forma, Miro continua inadimplente, e a Prudente de Morais tem de ser impugnada pelo mesmo motivo que a Vladimir Herzog foi impedida de concorrer. É o caso do malandro que se perde na própria malandragem", afirmou "Pagê".

Procurado pela reportagem, Azêdo disse que o Regimento Eleitoral permite a substituição de membros das chapas. Azêdo também prometeu que denunciará "Pagê" e Domingos Meirelles, presidente da Vladimir Herzog, à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) da Polícia Civil do Rio, na quinta-feira (25). "Os senhores Pagê e Domingos Meirelles estão cometendo um crime porque pegaram um cheque meu, de maneira irregular e com a conivência de funcionários da ABI, e puseram na internet com objetivos escusos", disse Azêdo, que preside a entidade desde 2004.

O pleito para presidência da ABI, marcado para sexta-feira (26), está sub judice: a 8.ª Vara Cível do Rio negou na semana passada pedido da Vladimir Herzog para adiar liminarmente a eleição por suspeitas de irregularidades, mas estabeleceu que o resultado só será homologado após a análise do mérito da questão. A ação foi interposta após a "Vladimir Herzog" ter sido impugnada pela comissão eleitoral por ter, entre os membros, sócios inadimplentes com a ABI.

Memória

A briga de chapas na ABI contrasta com um passado de envolvimento em lutas pela democracia no Brasil praticamente desde a fundação, em 1908. Durante a ditadura militar (1964-1985), essa postura transformou a entidade em alvo de grupos anticomunistas. Em 1976, uma bomba, supostamente detonada por agentes da repressão política, explodiu em sua sede. Até a redemocratização, a ABI liderou movimentos como a campanha das Diretas-Já, em 1984, que exigiu eleições diretas para presidente da República. Com a democracia, porém, seu peso político foi diminuindo, enquanto outras entidades, como partidos políticos e centrais sindicais, surgiam e se fortaleciam no campo político. A ABI viveu um de seus derradeiros momentos de destaque em 1992, quando seu então presidente, Barbosa Lima Sobrinho, assinou, com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcelo Lavenère Machado, o pedido de impeachment do presidente Fernando Collor.

Um dos 31 detentos que fugiram domingo (3) do Instituto Penal Vicente Piragibe, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, cumpria pena pelo assassinato do jornalista, Tim Lopes, em 2002.

Claudino dos Santos Coelho, também conhecido como Russão, integrava a quadrilha do traficante Elias Maluco. Outros dois condenados por esse crime já haviam fugido, em ocasiões anteriores. Em 2010, Ângelo Ferreira da Silva se beneficiou da progressão de pena e saiu pela porta da frente do mesmo presídio. Em 2007, Elizeu Ferreira de Souza se aproveitou do mesmo benefício e também fugiu.

##RECOMENDA##

Os detentos que fugiram domingo cavaram um túnel que deu acesso à tubulação do esgoto. Quatro detentos foram recapturados. O secretário estadual de Administração Penitenciária, Cesar Rubens Monteiro de Carvalho, admitiu que houve falha na segurança e que está sendo investigado se algum funcionário do instituto penal colaborou com os detentos.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando