Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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O uso dos escândalos de corrupção é estratégia adequada nesta eleição presidencial?

Adriano Oliveira, | sab, 18/10/2014 - 11:34
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A História das eleições presidenciais brasileiras não apresenta casos de corrupção como variáveis principais que explicam o sucesso ou insucesso dos candidatos a presidente da República. A farta literatura sobre as eleições presidenciais brasileiras evidencia que a ideologia explicou o sucesso eleitoral de Collor em 1989. Ideologia e o plano Real explicaram o sucesso eleitoral de FHC em 1994. Tais teses são defendidas por André Singer em seu brilhante livro “Esquerda e Direita no eleitorado brasileiro”.

A aprovação da gestão do primeiro governo FHC, bem-estar econômico e desejo de continuidade são as variáveis que explicam a reeleição de FHC em 1994 para Yan de Souza Carreirão no livro “A decisão do voto nas eleições presidenciais”. Claudio Luiz Lourenço em tese de Doutorado intitulada “Abrindo a caixa-preta: da indecisão à escolha na eleição presidencial de 2002” mostra que a avaliação negativa da gestão de FHC e as características dos candidatos possibilitaram o sucesso eleitoral do candidato do PT, Lula, na eleição de 2002.

As emoções dos eleitores são as variáveis utilizadas por Jairo Tadeu Pimentel Júnior para explicar as escolhas dos eleitores em 2006. A dissertação “Razão e emoção: o voto na eleição presidencial de 2006” mostra, através da análise de variadas pesquisas eleitorais, que os escândalos de corrupção diminuíram o entusiasmo para o voto em Lula no primeiro turno. Por isto, a eleição findou no segundo turno.  Porém, de acordo com Pimentel, a diminuição do entusiasmo foi um fator. A avaliação positiva da gestão de Lula consolidou o seu sucesso no segundo turno.

O reconhecimento por parte dos eleitores da melhoria de vida, especificamente, o sentimento de mobilidade social, é para Vitor Peixoto e Lúcio Rennó as razões do sucesso eleitoral de Dilma Rousseff na disputa eleitoral de 2010. Esta hipótese é apresentada pelos autores no artigo “Mobilidade social ascendente e voto: as eleições presidenciais de 2010 no Brasil”.

Observem que escândalos de corrupção não aparecem na literatura como forte variável que explica as escolhas dos eleitores nas eleições presidenciais. É claro que, segundo Pimentel Júnior, os escândalos de corrupção ocorridos no decorrer da campanha de 2006 proporcionaram o fim da eleição no segundo turno. Porém, o escândalo de corrupção não foi a causa principal. Diante disto, indago: os escândalos de corrupção interferirão fortemente na escolha do eleitor na eleição presidencial de 2014?

Considero que a Corrupção tem a oportunidade única nesta eleição para ser o ator principal que irá condicionar a escolha dos eleitores. As notícias de corrupção advindas da Petrobrás são abundantes. Porém, se as denúncias de corrupção atingiram, em um primeiro momento o PT, atingiu, no segundo momento, o PSDB. Além de outros partidos.

No momento 1, eleitores podem ter sido influenciados a não votar no PT em virtude das denúncias de corrupção – Hipótese 1No momento 2, eleitores podem ter sido influenciados a não votar no PSDB em virtude das denúncias de corrupção – Hipótese 2Então, a escolha dos eleitores no momento 1 foi anulada em razão dos eventos trazidos pelo momento 2? Esta é a indagação fundamental.

momento 2 pode ter provocado reflexão entre os eleitores que foram afetados pelos eventos do momento 1 – Hipótese 3. E em virtude desta reflexão, as decisões dos eleitores tomadas no momento 1 podem ter sido reconsideradas em virtude dos eventos trazidos à tona no momento 2 – Hipótese 4. Suponho que os momentos 1 e 2 criaram curtos-circuitos nas cabeças dos eleitores – Hipótese 5Com isto, os eleitores não farão escolhas eleitorais com base nos escândalos de corrupção – Hipótese 6. Será?

Destaco que o PT deverá utilizar, certamente, os escândalos de corrupção como sendo eventos comuns a todos os partidos. Com isto, o PSDB perderá o seu principal discurso, qual seja: “Existe corrupção na Petrobrás”. A essência da estratégia do PT é: “Todo político calça 40”.  O PSDB, por sua vez, tentará envolver Dilma nos escândalos. Então, indago: o PSDB conseguirá alcançar o seu objetivo?

Continuo com a tese: vencerá esta eleição presidencial o candidato que tiver mais munição para desconstruir o outro. Entretanto, indago: os escândalos de corrupção na Petrobrás são munições adequadas? Ou indo além:  o uso dos escândalos de corrupção é estratégia adequada?

Por que os nordestinos votam majoritariamente em Dilma?

Adriano Oliveira, | qui, 09/10/2014 - 13:53
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A discussão entre FHC e Lula sobre as escolhas eleitorais dos nordestinos trará consequências negativas para a candidatura de Aécio. O PT sabe transformar erros dos adversários em benefícios. Isto ocorreu durante o primeiro turno. A cada frase de Marina, uma propaganda contra ela era criada pelos estrategistas do PT. Tal atitude não é demérito para o PT. A oposição é que precisa ser sábia. Aliás, quando os intelectuais se pronunciam contra o PT, em especial quanto às escolhas eleitorais dos nordestinos, eles beneficiam a candidatura Dilma no Nordeste. Os intelectuais precisam ser sábios e estratégicos.

O problema relevante que surge diante das intrigas entre FHC e Lula é: por que os nordestinos votam majoritariamente em Dilma? No segundo semestre deste ano, a graduada em Ciência Política da UFPE, Luma Neto, defendeu, sob a minha orientação, a monografia “A economia e a escolha do eleitor: de FHC a Dilma”. Para os que estão ansiosos quanto à uma explicação científica sobre as decisões eleitorais dos nordestinos, recomendo tal trabalho. Com grande volume de dados empíricos, Luma Neto mostra que nos estados do Nordeste durante a era Lula, a taxa de desemprego diminuiu e a renda e o PIB cresceram. Portanto, de imediato, já encontro razões para o voto maciço em Dilma Rousseff.

Porém, Luma Neto mostra que em diversos estados do Brasil que ocorreram variação positiva da renda e do PIB, além da diminuição do desemprego, a candidata Dilma, na disputa presidencial de 2010, não conseguiu obter sucesso eleitoral. Caso semelhante ocorreu com o candidato Lula na disputa presidencial de 2006. Portanto, as variáveis econômicas não são suficientes para explicar o desempenho dos presidentes em diversos estados do Brasil. Porém, ressalto, que Luma Neto, através de regressão logística, mostra que quando a média do PIB per capita é alta e a média da taxa de desemprego é baixa, especificamente no período de 2006 a 2010, o candidato da situação tem maiores chances de vencer. Neste sentido, a explicação econômica do voto importa, mas não conduz a explicações satisfatórias.

Então, o que explica o voto dos nordestinos em Dilma? Continuo a insistir na variável econômica. Neste sentido, o gráfico 1 sugere que a variação positiva da renda, em particular no Piaui, estado em que Dilma conquistou expressivo porcentual de votos no primeiro turno da eleição presidencial de 2014, incentiva os eleitores a votarem na candidata do PT.

Gráfico 1 – Variação da renda dos eleitores – Fonte: Valor Econômico 

A figura 1, por sua vez, apresenta o número de municípios por estados contemplados com benefícios do PAC 2 na era do PT. Ao olhar para a figura, constato que na eleição presidencial de 2010, Dilma venceu na maioria dos municípios que receberam ações do PAC, em particular nos municípios do Nordeste. É importante esclarecer que o PAC contempla os municípios com retroescavadeiras, motoniveladoras e caminhões-caçamba. Ressalto que reportagem do Valor Econômico mostrou que o PAC 2 foi utilizado intensamente no primeiro turno da campanha presidencial de 2014 em municípios com até 50 mil habitantes para evitar o crescimento de Marina Silva – http://www.valor.com.br/eleicoes2014/3680402/dilma-tenta-blindar-grotoes-contra-marina.

Figura 1 – As obras do PAC e as escolhas dos eleitores – Fonte: Valor Econômico 

Mais existem dois dados importantes, os quais não foram detectados por Lula e FHC no debate sobre as escolhas eleitorais dos nordestinos. A última pesquisa do Datafolha realizada às vésperas da eleição do primeiro turno mostra que o Nordeste concentrar o maiou número de municípios com até 50 mil habitantes. E são nestes municípios que a presidenta Dilma tem expressivo porcentual de votos. Mas diante desta constatação, o problema proposto volta à tona: por que os nordestinos votam majoritariamente em Dilma? Outro dado relevante: a última pesquisa do Datafolha realizada antes da eleição do primeiro turno mostra que o Nordeste concentra 61% dos eleitores com renda familiar até R$ 1.448,00. E é neste intervalo de renda, que Dilma conquista alto porcentual de eleitores em razão dos benefícios dos programas sociais, em particular do Bolsa Família – Hipótese.

Por que Dilma mantém boas votações nas principais capitais do Nordeste?

Adriano Oliveira, | qua, 08/10/2014 - 09:44
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As pesquisas de opinião mostravam, antes do início da campanha eleitoral, que os eleitores das capitais estavam inquietos, ou seja, desejavam mudança de governo. Era nas capitais que a aprovação do governo Dilma obtinha as menores taxas de aprovação. As razões para a inquietude dos eleitores das capitais poderiam ser diversas, dentre as quais, a de que nas cidades com maior número de habitantes, o custo de vida e o desconforto urbano são mais intensos. Além disto, apesar dos programas sociais do governo Dilma, como o Bolsa Família, Pronatec e Prouni estarem presentes nas capitais, eles não tinham forte influência na decisão dos eleitores, assim como ocorre em cidades menores, não capitais.

Destaco, ainda, que as manifestações de junho de 2013 ocorreram fortemente nas capitais. Para diversos analistas, as manifestações representaram desejo de mudança do eleitor, e, portanto, desejo de mudança de governo. Em virtude disto, as manifestações representam variáveis causais que possibilitaram o aumento da desaprovação do governo Dilma. Portanto, as pesquisas realizadas antes do inicio da campanha eleitoral mostravam que as capitais eram espaços caracterizados por eleitores de oposição ao governo Dilma.

Após o resultado do primeiro turno, observo que: 1) Dilma venceu nas eleições de 2010 e 2014 nas seguintes capitais do Nordeste: São Luis, Teresina, Fortaleza, Natal, João Pessoa e Salvador. Portanto, nas duas últimas eleições presidenciais, Dilma venceu em seis capitais do Nordeste; 2) Em 2010, Dilma venceu no Recife. Porém, perdeu em 2014; 3) Na capital alagoana, Maceió, Dilma perdeu em 2010 e 2014; 4) Em Aracaju, Dilma perdeu em 2010, mas venceu em 2014.  Portanto, Dilma venceu em 2014 em sete capitais do Nordeste. E perdeu em duas.

Na capital paulista, Dilma perdeu em 2010 e 2014. Lembro que foi em São Paulo que as manifestações de 2013 foram iniciadas. A atual presidenta perdeu em Belo Horizonte em 2010 e 2014. E na capital fluminense, venceu em 2010, mas perdeu em 2014. Em Vitória do Espirito Santo, Dilma perdeu em ambas as eleições. Constato que as capitais do Sudeste são espaços oposicionistas à Dilma. 

Na região Sul, Dilma perdeu, em ambas as eleições, nas capitais do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os candidatos de oposição à Dilma venceram também, em 2010 e 2014, nas capitais: Campo Grande, Goiana, Cuiabá, Rio Branco e Boa Vista. Dilma venceu, em ambas as eleições, em Macapá, Porto Velho e Belém. Em 2010, venceu em Palmas. Mas em 2014 perdeu.

Observo que: Dilma venceu a eleição presidencial de 2014 em onze capitais. Em 2010, ela tinha vencido em treze capitais. Então, perda de duas capitais de uma eleição para a outra. Os candidatos da oposição venceram na eleição de 2014 em catorze capitais. No ano de 2010, a oposição à Dilma venceu em treze capitais. Portanto, desde 2010, candidatos da oposição vencem mais em capitais do que Dilma.

Neste sentido, as manifestações de junho de 2013 não podem ser consideradas como variáveis que possibilitou mais vitórias dos candidatos da oposição nas capitais. A oposição já vencia na maioria das capitais desde 2010. Por outro lado, a hipótese de que os eleitores das capitais estão mais inquietos em virtude da desorganização urbana e do custo de vida aparenta ser verdadeira. Porém, tal tese não serve para a maioria das capitais do Nordeste. Dai surge a seguinte indagação: por que Dilma mantém boas votações nas principais capitais do Nordeste

Figura – Votação dos candidatos nas capitais – Fonte: Valor Econômico   

A força do eduardismo e o favoritismo de Paulo Câmara

Adriano Oliveira, | qui, 02/10/2014 - 15:46
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Erros passados devem ser considerados na avaliação do presente. O PTB errou. O PT também errou. O PTB errou ao se aliar com o PT no 1° turno nesta eleição para o governo. Com isto, enfraqueceu a possibilidade da realização do 2° turno. O PTB errou ao desprezar Lula e Dilma desde o início da campanha. O PTB errou ao ter desprezado a força do eduardismo. Portanto, os erros do PTB possibilitaram que Paulo Câmara adquirisse forte favoritismo para vencer a eleição no próximo domingo.

O PT comete equívocos estratégicos desde 2012 quando optou por retirar João da Costa da disputa para prefeito do Recife. Com isto, permitiu a consolidação do eduardismo na capital pernambucana. O PT errou ao não escolher João Paulo para ser candidato a governador. Com mais esta atitude, o PT fortaleceu o PSB em Recife. Portanto, PTB e PT contribuíram decisivamente para o fortalecimento de Paulo Câmara.

O PSB foi sábio. O ex-governador Eduardo Campos no auge da sua avaliação lançou Geraldo Júlio como candidato a prefeito do Recife em 2012. Geraldo venceu e passou a representar a escolha de Eduardo que “deu certo“. O eduardismo já existia na eleição de 2012. Capacidade de trabalho, carisma, sensibilidade social e bom gestor eram as características do governador Eduardo Campos atribuídas pelos eleitores em pesquisas qualitativas. São estas características que formam o eduardismo. E o eduardismo, como a vitória de Geraldo Julio mostrou, tem força para influenciar a decisão dos eleitores.

Diante da conjuntura propicia, a qual foi construída, em parte, pelos erros do PT e PTB, Paulo Câmara defendeu  o legado de Eduardo Campos. Câmara desprezou a crítica pessoal advinda do PTB e optou por defender a continuidade. Aliás, a continuidade é a essência da eleição deste ano em Pernambuco. E as pesquisas do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) mostram isto com clareza.

Observem que: 1) 67% dos eleitores afirmam que Pernambuco mudou para melhor nos últimos anos; 2) Neste universo, 71,4% asseveram que Eduardo Campos foi o principal responsável pela mudança; 3) 84% acreditam que Pernambuco continuará mudando para melhor; e 4) 50,2% acreditam que Paulo Câmara é o candidato que tem condições de fazer com que Pernambuco continue mudando para melhor – Fonte: IPMN, 02/10/2014 – (Registro TRE:  29-30 SET: PE 00035/2014).

Em todas as pesquisas do IPMN realizadas neste ano verifiquei o desejo de continuidade do eleitor. Em decorrência, constatei, no decorrer da trajetória eleitoral, que o eleitor desejava continuidade em virtude do eduardismo. Portanto, se o eleitor desejava continuidade, ou seja, continuar mudando, era óbvio que Paulo Câmara conquistaria eleitores à medida que fosse reconhecido pelos sufragistas como o candidato que tinha o apoio de Eduardo Campos.

No decorrer da campanha, Eduardo Campos foi vítima da tragédia. Inicialmente, a comoção, como era esperado, em razão do ineditismo da tragédia, possibilitou forte comoção. Em seguida, acomoção eleitoral surgiu. Ou seja: o candidato Paulo Câmara conquistou eleitores rapidamente, já que a morte trágica do governador Eduardo Campos possibilitou que Paulo se tornasse conhecido celeremente. Porém, a comoção eleitoral não substituiu oeduardismo, o qual já existia. Portanto, não foi a comoção eleitoralque possibilitou o crescimento eleitoral de Paulo Câmara. Foi oeduardismo. A comoção eleitoral acelerou o processo de conhecimento de Paulo como candidato de Eduardo Campos e fortaleceu o eduardismo.

O desempenho do candidato numa eleição pode ser prognosticado. Basta que a conjuntura seja adequadamente interpretada. E pesquisas sábias sejam realizadas. Neste sentido, a conjuntura, caracterizada pelo eduardismo, fortalece Paulo Câmara. Portanto, Câmara, o candidato que representa para parte dos eleitores a continuidade e a defesa do legado de Eduardo Campos, deve ser eleito governador no próximo domingo.

Gráfico 1 – Desempenho dos candidatos –  Registro TRE: 28-29 JUL: PE 00010/2014; 25-26 AGO: PE 00018/2014; 8-9 SET: PE 00022/2014; 22-23 SET: PE 00028/2014; 29-30 SET: PE 00035/2014

Desempenho dos candidatos ao Governo de Pernambuco - Registro TRE: 28-29 JUL: PE 00010/2014; 25-26 AGO: PE 00018/2014; 8-9 SET: PE 00022/2014; 22-23 SET: PE 00028/2014; 29-30 SET: PE 00035/2014

Teses e achismo

Adriano Oliveira, | qui, 03/07/2014 - 11:52
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A defesa de uma tese requer interpretação científica do dado advindo da sociedade. O achismo representa a defesa do desejo e da paixão. Então, a defesa da tese é exercício científico. A defesa do querer é ato apaixonado. Políticos e estrategistas sábios são guiados por teses. Políticos e estrategistas guiados pelo desejo são apaixonados pela candidatura ou pelo candidato. A interpretação da conjuntura eleitoral requer a validação ou a falsificação de teses. Com isto, estratégias eleitorais eficazes são construídas.

Três teses sobre as eleições presidenciais foram apresentadas ao universo midiático após as manifestações de junho de 2013. A primeira proposição foi que os levantes de junho representavam intensa inquietação social. Neste caso, eleitores estavam insatisfeitos e sinalizavam, através das manifestações, que não mais desejavam reeleger Dilma. Foi previsto, inclusive, que intensas manifestações ocorreriam durante a Copa do Mundo.

As manifestações de 2013 proporcionaram o surgimento da segunda tese, qual seja: os eleitores brasileiros, majoritariamente, desejavam mudança. Diversas pesquisas de opinião realizadas no primeiro semestre de 2014 mostraram isto. Entretanto, enquanto a mudança era verbalizada pela maioria dos eleitores, Dilma continuava a liderar as pesquisas eleitorais. Deste modo, era necessária interpretação sofisticada e parcimoniosa do desejo de mudança expresso pelos sufragistas.

A terceira tese era que a realização da Copa do Mundo e a desorganização da infraestrutura ofertada aos turistas e brasileiros intensificariam inquietações sociais que seriam expressas por manifestações. Em razão disto, a competividade dos presidenciáveis sofreria alteração. Neste caso, Dilma declinaria, e Aécio e Eduardo conquistariam eleitores.     

Pesquisa realizada pelo instituto Datafolha divulgada em 03 de julho revela que Dilma continua a liderar a corrida presidencial, com 38% de intenções de voto. Aécio tem 20% e Eduardo, 9%. A aprovação da presidente Dilma alcança 35%. 65% afirmaram que as manifestações durante a Copa dão mais vergonha do que orgulho. E 60% estão orgulhosos com a organização da Copa.

Portanto, as três teses apresentadas foram falseadas. Neste caso, isto evidencia que elas foram formuladas por políticos e estrategistas apaixonados. Portanto, os dados advindos das pesquisas de opinião não foram adequadamente interpretados e códigos sociais vindos de pesquisas qualitativas foram desconsiderados. Urge aos presidenciáveis refletirem sobre as suas estratégias futuras. 

Previsões equivocadas

Adriano Oliveira, | qua, 18/06/2014 - 13:04
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As manifestações ocorridas em junho de 2013, a Copa do Mundo e as vaias à presidente Dilma na abertura do torneio mundial de futebol caracterizarão a eleição presidencial deste ano. Em razão de cada evento ocorrido, um prognóstico foi realizado. A capacidade preditiva deve fazer parte da interpretação dos eventos. Mas a previsão deve ser desapaixonada. Não podemos inserir na previsão eleitoral apenas os nossos desejos.  

As jornadas de junho do ano passado foram reconhecidas como eventos que possibilitaram ruptura com um estágio anterior. Os manifestantes foram às ruas em razão de que não mais aguentavam políticos corruptos e desejavam oferta de serviços públicos qualificados. Vários interpretes acreditaram que dali nascia um novo Brasil. Porém, sempre considerei as manifestações como mais um evento num conjunto de eventos que começou a ser formado no impeachment de Fernando Collor.

Em razão da realização da Copa do Mundo no Brasil, surgiu o coro “No Brasil não vai ter Copa”. Tal movimento era observado fortemente nas redes sociais, ambiente ocupado majoritariamente por pessoas das classes A e B. Foram estes segmentos sociais, inclusive, como bem mostraram diversas pesquisas de opinião, que participaram em sua maioria das jornadas de junho de 2013. O “Não vai ter Copa” incentivou os presidenciáveis, inclusive a presidente Dilma, a ficarem distantes do tema Copa. Eles temiam e temem associar a Copa às suas respectivas imagens.

Se as redes sociais espalhavam o “Não vai ter Copa”, pesquisas mostravam que as manifestações de junho perdiam apoio popular em virtude da violência. E revelavam a divisão da população brasileira quanto ao apoio à Copa. Se o apoio popular às manifestações declinava, era palpável acreditar em manifestações durante a Copa semelhantes às ocorridas em junho de 2013? O imprevisível deve ser considerado. Porém, a interpretação adequada era que manifestações focalizadas ocorreriam, mas não similares às jornadas de junho de 2013.

A Copa do Mundo sempre teve o olhar desconfiado da imprensa e de boa parte da opinião pública. Tal olhar era absolutamente normal, visto que boa parte das obras da Copa do Mundo prometidas pelos governos não foram entregues. Além disto, os noticiários mostravam diariamente, antes do inicio da Copa, obras que ainda estavam em fase de conclusão às vésperas dos jogos do mundial de futebol. A Copa começou e a imprensa, como era previsível, concentrou os seus olhares para os jogos e turistas.

No dia da abertura da Copa, a presidente Dilma foi vaiada e xingada. Diversos atores, de modo apressado, reforçaram as criticas à Dilma. Erro estratégico. Os torcedores que vaiaram Dilma são, certamente, das classes A e B. As pesquisas de opinião mostram que Dilma tem reduzida aprovação em São Paulo e nas classes A e B. E neste segmento econômico, a má avaliação da gestão da presidente é observada em vários estados do Brasil. Portanto, as vaias eram previsíveis. Mas isto não significa, e ai está o erro interpretativo, que o “Brasil vaiou a presidente Dilma” e que as vaias devem ser usadas eleitoralmente.

Por enquanto, manifestações semelhantes às de junho de 2013 não ocorreram durante a Copa. O “Não vai ter Copa” diminuiu o seu percentual de citações nas redes socais. E às vésperas do inicio da Copa, o monitoramento das redes sociais indicava o aumento do “Vai ter Copa”. As obras inacabadas não mais fazem parte fortemente da agenda midiática. E as vaias à presidente Dilma mereceram reprovação de boa parte da imprensa e repúdio nas redes socais.    

Aparentes enigmas

Adriano Oliveira, | ter, 10/06/2014 - 10:25
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Eleições possuem enigmas? Sim. Alguns podem ser identificados. Outros custam a sê-lo. A última pesquisa Datafolha mostrou declínio nas intenções de voto dos candidatos Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Diante disto, as conclusões iniciais foram que a presidente Dilma continuava a cair. E o candidato do PSB não mais era um candidato competitivo. Aparentemente, as conclusões são verídicas. Porém, é importante revelar aparentes enigmas.

O perfil da amostra da pesquisa do Datafolha tem as seguintes características:

1.      42% dos entrevistados têm renda até R$ 1.448,00. Neste universo de eleitores, a presidente Dilma obtém 51% de intenções de voto. Portanto, no segmento de eleitores de maior dimensão no eleitorado, a candidata do PT tem ampla vantagem sobre os adversários;

2.      22% dos entrevistados têm renda entre R$ 1. 448,00 a R$ 2.172,00. Neste universo, a presidente Dilma obtém 20% de intenções de voto. O senador Aécio Neves conquista 25% do eleitorado. E o candidato Eduardo Campos, 23%. Dilma declina consideravelmente neste segmento de renda. E não é exagero afirmar que o candidato do PSB está empatado com Aécio Neves.

3.      16% dos pesquisados possui renda entre R$ 2.172,00 até R$ 3.620,00. O candidato do PSDB, neste universo, obtém 21% de intenções de voto. O ex-governador Eduardo Campos, 16%. E a candidata do PT, 14%. Nesta parcela da população, Aécio amplia a sua vantagem sobre os demais competidores. E a presidente Dilma tem desempenho semelhante ao do candidato do PSB;

4.      11% dos entrevistados têm renda entre R$ 3.620,01 até R$ 7.240,00. A presidente Dilma obtém neste espaço de eleitores, 9% de intenções de voto. Aécio conquista 17% e Eduardo 16%. Portanto, observamos o seguinte fenômeno: quanto maior a renda, menor o percentual de eleitores dilmistas. Além disto, a distância entre Eduardo e Aécio só é acentuada no segmento que possui renda entre R$ 2.172,00 até R$ 3.620,00.

A análise do desempenho dos candidatos através da segmentação da amostra, desvenda dois aparentes enigmas: 1) são os eleitores de menor renda que garantem, neste instante, as condições de sucesso eleitoral de Dilma; 2) Eduardo e Aécio continuam a disputar semelhantes universos de eleitores. Em razão desta disputa, surge a indagação: Eduardo tem condições de superar Aécio Neves?

O olhar segmentado das diversas pesquisas eleitorais realizadas este ano mostra que a disputa presidencial será caracterizada por forte clivagem econômica. Diante deste aparente enigma, indago: por que os candidatos da oposição ainda não escolheram como foco dos seus respectivos discursos os eleitores que garantem hoje a reeleição da presidente Dilma?

Indagação fundamental

Adriano Oliveira, | ter, 27/05/2014 - 09:55
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A interpretação dos eventos sociais requer parcimônia e olhar profundo no conteúdo social. Pesquisas quantitativas podem conduzir o estrategista ao erro já que a análise dos números é essencialmente objetiva. A subjetividade é necessária na interpretação dos porcentuais. Por isto, as pesquisas qualitativas são necessárias. O mergulho na realidade social requer interpretação de causa e efeito. E não simplesmente considerar a caracterização dos eventos.  A arte de pensar claramente de Rolf Dobelli e o Fetichismo do conceito de Luis de Gusmão são duas obras que norteiam as minhas interpretações das pesquisas eleitorais.   

O termo mudança continua a guiar as estratégias dos presidenciáveis de oposição. Pesquisas diversas mostram que a maioria dos brasileiros deseja mudança. Este é o dado objetivo. Entretanto, recente pesquisa do Ibope (Maio/2014) mostrou que 71% dos brasileiros estão satisfeitos com a vida que vem levando hoje. Neste caso, se eles estão satisfeitos, por que desejam mudar? Mudança é um termo que sugere movimento. Portanto, proponho que se considere a seguinte hipótese: os eleitores brasileiros desejam que o Brasil continue a mudar.

Se a hipótese apresentada é considerada, o raciocínio que conduz a criação da estratégia eleitoral partirá da seguinte premissa: parte dos eleitores brasileiros reconhece que o Brasil mudou nos anos recentes. E desejam que esta mudança continue. Isto significa, portanto, que a mudança desejada não representa ruptura com a ordem atual, na qual estão presentes conquistas. Mas a manutenção das conquistas, sem o retorno a dado ponto temporal, no qual, para parte do eleitorado, não existiam mudanças e conquistas.   

A pesquisa do Ibope (Maio/2014) revela que 28% dos eleitores consideram “Bom” o governo da presidente Dilma. Neste universo, Dilma obtém 55% de intenções de voto. Aécio Neves, 7%; e Eduardo Campos, 12%. Ressalto que 7% consideram “ótimo” o governo Dilma. Portanto, os dados sugerem que se a avaliação do governo Dilma declinar, Eduardo poderá absorver eleitores dilmistas. Entretanto, existem condições para que a aprovação do governo Dilma decline mais?

A referida pesquisa do Ibope mostra que 20% dos eleitores afirmam que o governo Dilma é “Péssimo”. Aécio obtém neste universo eleitoral, 35% de intenções de voto. Eduardo Campos tem 30%. Conclusão: o principal adversário do PSB é o PSDB. Ou seja: se a reprovação de Dilma aumentar, Aécio e Eduardo tendem a crescer. Mas esta afirmação contradiz com a assertiva do parágrafo anterior? Sim. Não está claro, portanto, quem será fortemente beneficiado caso a avaliação de Dilma decline.

A pesquisa do Ibope (Maio/2014) sugere também que existe “teto” para o crescimento eleitoral da presidente Dilma. No primeiro turno, a presidenta obtém 40% de intenções de voto. No segundo turno, o seu porcentual máximo é de 43%. Mas tal teto me conduz a óbvia constatação: a pesquisa do Ibope mostra que a Avaliação da administração continua a sugerir associação significativa com a intenção de voto. Neste sentido, é possível que a avaliação positiva de Dilma decline mais?  Esta é a indagação fundamental para o PT, PSB e o PSDB. 

Manifestações e “Super quinta”

Adriano Oliveira, | seg, 19/05/2014 - 16:42
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Reli recentemente o livro de Jessé de Souza, a Modernização Seletiva. Esta excelente obra que coloca luz sobre os principais interpretes do Brasil – Gilberto Fyeire, Roberto DaMatta e Sérgio Buarque de Holanda – sugere que o desvendar dos eventos e hábitos sociais requer a estratificação social dos indivíduos.Quais as visões de mundo dos indivíduos dos segmentos socioeconômicos diversos? Para Jessé de Souza as práticas sociais das pessoas podem não ser semelhantes em virtude do estrato social em que estão inseridas.

A premissa de Jessé de Souza guiou a minha análise das manifestações de junho de 2013. Concluí com base em várias pesquisas de opinião que a causa principal das jornadas de junho foi o aumento da passagem de ônibus na cidade de São Paulo. As manifestações foram fortemente estratificadas economicamente. E a reclamação predominante dos manifestantes foi o aumento da passagem de ônibus. Em seguida, as agendas dos manifestantes foram as que sempre existiram: corrupção, violência e qualificação da oferta de saúde pública.

Logo em seguida às manifestações de junho de 2013 considerei que elas poderiam se repetir em junho de 2014 durante a realização da Copa do Mundo. Porém, os atos de violência praticados por diversos manifestantes, em particular o movimento Black Bloc, incentivaram a perda de apoio popular às manifestações. Neste sentido, afirmei e continuo a afirmar que na Copa do Mundo manifestações pontuais e de baixa intensidade ocorrerão.

Os eventos ocorridos na “super quinta”, em 15/05/2014, representaram novas manifestações. Ao contrário das manifestações de junho de 2013, estas da “super quinta” foram coorporativas. Movimentos dos Sem Teto, funcionários públicos, motoristas de ônibus e trabalhadores associados às entidades sindicais foram às ruas. As pautas principais foram moradia e melhoria salarial.  Os manifestantes de junho de 2013 ficaram em casa.

A “super quinta” representou o terceiro estágio das manifestações. Os levantes de junho corresponderam ao primeiro estágio. O Black Bloc ao segundo. Novos atores e pautas surgiram no terceiro estágio das manifestações. Os atores da “super quinta” não foram os mesmos das jornadas de junho de 2013. As pautas também. Elas só se assemelham num ponto: clamam que os governos atendam às suas demandas.    

Observo que parte dos manifestantes da “super quinta”, no caso o Movimentos dos Sem Teto e funcionários públicos, têm as suas demandas atendidas historicamente pelo PT. Portanto, não cometam erros interpretativos. Os manifestantes da “super quinta” fizeram barulho, sugeriram que a sociedade está inquieta, mas, certamente, caminharão com o PT nas eleições deste ano. 

As gerações dos eleitores

Adriano Oliveira, | qua, 07/05/2014 - 13:49
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Escrevo este artigo inspirado no brilhante texto do filosofo Renato Janine publicado recentemente na revista Interesse Nacional (Abril – 2014). Janine aborda as agendas brasileiras, onde a primeira surge com o impeachment de Collor. O Plano Real motivou a origem da segunda agenda. E a inclusão social ocorrida na era Lula a terceira. As manifestações de junho de 2013 representaram para Janine a origem da quarta agenda.

Concordo com o raciocínio de Renato Janine até a terceira agenda. Pois não considero que as manifestações representaram a origem de outra agenda. O Brasil, desde o impeachment de Collor, sofre processo de transformação social. E neste processo, novos eleitores surgiram por razões demográficas e mudanças em suas respectivas visões de mundo.  

O impeachment de Collor representou a origem da primeira geração de eleitores. Esta geração foi caracterizada pelo exercício da liberdade de manifestação após o período militar. A segunda geração de eleitores surge com o advento do plano Real. Os brasileiros conviviam com a incerteza econômica provocada pelo alto índice inflacionário. Com o surgimento do plano Real, os eleitores passaram a ter poder de previsibilidade quanto às capacidades de consumo e investimento.

A era Lula proporcionou a inclusão social de milhões de eleitores. Tal inclusão adveio da ampliação da rede de proteção social, da oferta de crédito, do aumento do nível de instrução, da redução do índice de desempregados, do aumento da renda e do consumo. A inclusão social caracteriza os eleitores da terceira geração.

As gerações de eleitores são caracterizadas pela aquisição de novas visões de mundo. Os eleitores adquiriram novos valores a cada geração, mas não perderam os já conquistados. As visões de mundo adquiridas pelos eleitores foram provocadas por eventos e ações das instituições. As denúncias da imprensa motivaram que os eleitores fossem às ruas em 1992. Surge a cultura do direito à livre manifestação. O plano Real foi uma a ação institucional que propiciou a cultura da estabilidade econômica. E as ações da era Lula geraram a cultura da oportunidade de bem-estar para todos.

Os eleitores da quarta geração estão presentes nesta eleição presidencial. Quem são estes eleitores? São os que desejam manter as conquistas das três gerações e estão descrentes com os partidos políticos e com a classe política. Estão também ansiosos, como diversas pesquisas presidenciais revelam, para que governos mostrem caminhos para a melhoria dos seguintes setores: saúde, educação, infraestrutura e segurança.

O descrédito para com os partidos políticos e a classe política não surgiu após as manifestações de 2013. Assim como as demandas por saúde, educação, infraestrutura e segurança. O descrédito e as demandas apresentadas sempre estiverem presentes no eleitorado brasileiro. Entretanto, ambos não foram atendidos satisfatoriamente pela classe política. Ao contrário das demandas por liberdade, estabilidade econômica e inclusão social.

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