Aconselho aos políticos e analistas de pesquisas que não se concentrem nos percentuais dos candidatos numa pesquisa eleitoral. Políticos e analistas devem ficar atentos aos contextos eleitorais que estão por vir. São eles que podem modificar as escolhas dos eleitores. A interpretação das escolhas dos eleitores depende fortemente do contexto eleitoral.
O contexto eleitoral é formado por dois atores: eleitores e competidores. E mais uma entidade, inicialmente abstrata, pois só se torna real quando passa a existir. Neste caso, falo dos eventos que podem florescer nos contextos eleitorais. Devem-se considerar também no processo de definição da escolha do eleitor, os efeitos das campanhas eleitorais. Elas importam muito, assim como bem sugere os autores Robert S. Erikson e Christopher na excelente obra The Timeline of Presidential Elections: How Campaigns Do (and Do Not) Matter.
Ao analisar os contextos e possíveis contextos eleitorais em Pernambuco, constato que os dados apontados por recentes pesquisas não importam muito quando o indicador considerado é apenas a intenção de voto. Entretanto, quando considero os contextos que podem surgir, os quais foram avaliados e sugeridos por pesquisas, prognósticos e interpretações adequadas surgem quanto à disputa estadual.
Continuo a afirmar que o senador Armando Monteiro continua a ser ator estratégico na disputa estadual de 2014 em razão de que ele pode caminhar, neste instante, com o PT ou com o PSB. Ambos os apoios são importantes e necessários para o possível candidato do PTB. Entretanto, considero um evento que pode vir a ocorrer: o retorno da aliança Eduardo Campos e PT – hipótese remota, por enquanto. Para isto ocorrer, Eduardo precisará desistir da sua candidatura presidencial e com isto exigir do PT, ou melhor, de Dilma e Lula, o apoio ao seu candidato ao Governo do Estado. Caso isto ocorra, a candidatura de Armando Monteiro perderá fôlego.
Fernando Bezerra Coelho (FBC) pode vir a se filiar ao PT ou a outras agremiações. A escolha partidária de FBC pouco importa, pois ele é hoje uma alternativa do PT em Pernambuco, independente da legenda. Assim como Armando, FBC também ocupa posição estratégica na disputa de 2014, pois ele pode vir a ser candidato ao Senado ou ao Governo com o apoio do PT e numa aliança com Armando Monteiro.
Uma aliança entre FBC e Armando Monteiro sustentada por Lula e Dilma, além de um quadro metropolitano advindo do PT para compor a chapa eleitoral, representa ameaça à continuidade do PSB à frente do Governo do Estado. Não desprezem o fato de que esta aliança tem o poder de atrair quadros como Inocêncio Oliveira e Eduardo da Fonte. Portanto, a candidatura presidencial do governador Eduardo Campos lhe trará benefícios no âmbito nacional, mas custos no plano local.
O interessante é que no xadrez eleitoral pernambucano a candidatura de Eduardo Campos à presidente fará com que as lideranças locais do PT continuem sufocadas pelo PSB. Mas se Eduardo não retomar a aliança com o PT, os petistas locais poderão ser ressuscitados com o apoio de Lula e Dilma e estratégias adequadas.
Eleitores e atores políticos estão em constante estado de incerteza quanto às consequências das suas escolhas e decisões. Daniel Kahneman e Amos Tversky em brilhante artigo publicado no ano de 1974 –Julgamento sob incerteza: heurísticas e vieses– mostram que atores buscam atalhos/heurísticas como fonte de informação para amenizar os efeitos da incerteza na tomada de decisão.
Kahneman e Tversky partem do princípio de que informações diversas, como por exemplo, dados estatísticos ou comentários de outros servem para guiar a tomada de decisão dos indivíduos em estágios de incerteza. Ressalto, contudo, que Kahneman e Tversky frisam que as informações precisam estar disponíveis para os indivíduos para que eles possam tomar as suas decisões. Neste caso, a disponibilidade da informação é fator crucial para que os efeitos da incerteza sobre a decisão sejam amenizados.
Em momentos eleitorais, eleitores e atores, diante do contexto da incerteza, procuram atalhos/heurísticas para amenizar os seus efeitos nas decisões. Tenho a hipótese de que a decisão dos eleitores pode vir a ser guiada por variados determinantes do voto, dentre os quais, satisfação com o governo e bem-estar econômico. Por sua vez, a decisão dos atores é guiada pela expectativa da conquista do poder.
Neste instante, os contextos eleitoral e político estão recheados de incertezas quanto ao comportamento futuro do eleitor e de dados atores. No âmbito da disputa nacional, os pré-candidatos à presidente que desejam se contrapor eleitoralmente à Dilma apostam no reduzido crescimento econômico para conquistar sucesso eleitoral. O raciocínio é o seguinte: a diminuição do bem-estar econômico dos eleitores beneficiará os candidatos de oposição. Dilma, porém, aposta na manutenção ou no crescimento do bem-estar – O crescimento econômico no primeiro trimestre do ano foi de 1,05% – Fonte: Banco Central.
Os candidatos oposicionistas e a presidenta Dilma erram ao acreditar que o bem-estar econômico é o único Senhor da eleição. Outros Senhores existem, dentre os quais, a imagem que Dilma construiu entre os eleitores e a possibilidade de existir sentimentos de ressaca eleitoral para com o PT – Hipótese.
No contexto político, a indefinição, neste momento, é quanto às candidaturas à presidência de Marina Silva e de Eduardo Campos. Marina tem a expectativa de que o seu novo partido ganhe vida. Se assim ocorrer, ela será candidata. Porém, ressalto que Marina disputará a eleição com dificuldades para arregimentar recursos financeiros em razão das limitações por ela criada para receber financiamento privado. Por outro lado, não vejo o tempo de TV como algo que impossibilitará a candidatura de Marina, pois na última disputa presidencial ela obteve surpreendente desempenho com escasso tempo na propaganda gratuita.
No caso de Eduardo Campos, o mês de maio se caracteriza por diversas informações que dão conta do recuo da sua candidatura à presidente. Informações possibilitam incerteza no xadrez político. E a incerteza quanto à possível candidatura presidencial de Eduardo está presente na cabeça de variados atores. Certamente, esta incerteza não faz parte da mente dos eleitores devido ao baixo conhecimento que o possível candidato do PSB ainda tem entre eles.
Qual será o custo para Aécio caso Marina e Eduardo não sejam candidatos? O que fará Marina Silva caso não seja candidata? Se Eduardo Campos não for candidato, qual será o seu posicionamento na disputa presidencial? Se Eduardo Campos não vier a ser candidato, a sua imagem sofrerá descrédito entre lideranças e imprensa que apostaram em sua candidatura?
Neste momento, a incerteza faz parte das dinâmicas eleitoral e política. São nos momentos de incerteza que as dificuldades para a tomada de decisão crescem. É diante da incerteza, que pesquisas e análises conjunturais devem ser realizadas para orientar a tomada de decisão dos atores.
Desde 1994, as eleições presidenciais brasileiras são caracterizadas pela polarização entre o PSDB e o PT. Este último tem desempenho superior ao PSDB em virtude de que acumula três vitórias na disputa presidencial. Enquanto o PSDB tem duas vitórias. A polarização entre estes partidos ocorreu em virtude de duas variáveis condicionais fundamentais: 1) O contexto econômico; 2) E a presença de candidatos aptos a atender as demandas advindas dos contextos.
Em 1994, a economia brasileira sofria com a alta inflacionária. Itamar Franco, quando presidente, permitiu que FHC e equipe criassem o Plano Real. Em virtude deste, a inflação começou a cair, o consumo cresceu lentamente e FHC foi eleito presidente da República. Apesar das várias ações meritórias de FHC, como a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal, foi a expectativa positiva dos eleitores quanto ao futuro e a estabilidade monetária que garantiram a sua reeleição.
O sucesso eleitoral de Lula em 2002 adveio da frustração dos eleitores para com o PSDB. E também através do cativo eleitor petista. Lula, apesar do escândalo do mensalão, conseguiu manter parte do eleitorado eufórico com a economia, em particular com o consumo, no decorrer do seu mandato. A ampliação dos benefícios sociais também contribuiu para a reeleição de Lula. Dilma foi beneficiada pelo sucesso econômico do governo Lula. Ela é de fato o pós-Lula. Ressalto, entretanto, que a avaliação dos méritos de Lula por parte dos eleitores não está apenas no âmbito da economia, mas também no seu “jeito de ser”. Lula conquistou a confiança e a admiração de parcela do eleitorado brasileiro – lulismo.
Nas disputas entre PT e PSDB observo regularidades e semelhanças nas variáveis que explicam os respectivos sucessos eleitorais dos competidores. Em todas as eleições disputadas entre PT e PSDB, o contexto econômico e a aptidão do candidato para lidar com as demandas de tal contexto favoreceram a conquista do poder por parte das respectivas agremiações partidárias. Diante desta constatação, tenho como hipótese que um candidato de outro partido, diante de um contexto econômico desfavorável, pode vir a romper com a estabilidade observada nas disputas presidenciais – PT versus PSDB.
Entretanto, existe uma variável política a ser considerada. Em 1994, oito candidatos disputaram a eleição presidencial e a eleição findou no primeiro turno. Em 1998, doze candidatos concorreram e a eleição findou no primeiro turno. No ano de 2002 e 2006, seis e sete candidatos disputaram a eleição. E elas findaram no segundo turno. Em 2010, nove candidatos concorreram à presidência. Dilma Rousseff venceu a eleição no segundo turno.
Observem que o maior número de candidatos não possibilita, por si só, que a disputa presidencial finde no segundo turno. Os dados revelam que não existem associação positiva nem relação causal entre mais candidatos em disputa e término da eleição no segundo turno. Portanto, se os candidatos da oposição e Dilma travam disputa quanto à criação de novos partidos, os tranquilizo. O fim de uma eleição no segundo turno, não depende, necessariamente, do número de candidatos.
A literatura sobre estudos eleitorais aponta o bem-estar econômico da população como variável importante na construção de prognósticos eleitorais. Eleitores satisfeitos com a economia tendem a votar em presidentes que são os propulsores do bem-estar. O bem-estar econômico é também variável que possibilita que presidentes sejam bem avaliados nos âmbitos da gestão e da conduta pessoal.
Não sou adepto radical da premissa de que o bem-estar econômico é variável satisfatória para explicar as escolhas dos eleitores. Existem variáveis que podem vir a explicar, a depender da conjuntura, o desempenho dos candidatos à presidente da República. Entretanto, não restam dúvidas de que os candidatos da oposição à presidência da República apostam as suas chances na disputa eleitoral de 2014 na redução do bem-estar econômico dos eleitores brasileiros. Aposta válida. Porém, não suficiente para tranquilizá-los quanto ao desempenho promissor de cada um.
Apesar do bem-estar econômico não ser para mim fator determinante para explicar sucesso e insucesso de competidores em disputas presidênciais, ele não deve ser desprezado. Diante disto, recomendo que os presidenciáveis fiquem atentos a um indicador fundamental: o Índice Nacional de Confiança do Consumidor (CNI/IBOPE). Este Índice é composto das seguintes variáveis: 1) Expectativa de inflação; 2) Expectativa de desemprego; 3) Expectativa de renda pessoal; 4) Situação financeira; 5) Endividamento; e 6) Compras de bens de maior valor.
Considerando as variáveis que integram o Índice Nacional de Confiança do Consumidor (Abril/2013), observo que: 1) 49% dos entrevistados têm a expectativa de que a inflação irá aumentar. E 24% afirmam que não; 2) 32% consideram que o desemprego irá aumentar. E 34% frisam que não vai mudar nada; 3) 30% têm a expectativa de que a renda irá aumentar. E 53% de que não vai mudar nada; 4) 31% consideram que a situação financeira irá melhorar. E 49% de que ela será mantida; 5) Para 22%, eles tendem a ficar mais endividados. E 46% consideram que manterão as dívidas existentes nos últimos três meses; 6) 56% continuarão comprando mais ou menos os mesmos produtos. E 36% acreditam que irão comprar mais.
Observem que os indicadores do referido Índice sugerem, neste instante, com exceção da variável inflação, acomodação de parte do consumidor brasileiro com a sua situação econômica. Faço esta assertiva em virtude de que o percentual dos que acreditam que nada mudará é sempre superior ao de que algo mudará. Diante desta realidade, indago: 1) Quando parte dos eleitores estão acomodados, eles estão satisfeitos com o desempenho do presidente da República? 2) Quando eles estão acomodados, eles tendem a votar na reeleição do presidente da República? 3) Eleitores acomodados são “presas fáceis” dos candidatos da oposição caso eles consigam convencê-los de que o futuro poderá ser melhor com um deles?
As pesquisas recentes sobre a eleição presidencial sugerem que eleitores acomodados tendem a votar na reeleição da presidenta Dilma. Porém, não desconsidero o fato de que eleitores acomodados, ao serem provocados pelos competidores da oposição, podem sair do estado de letargia e mudarem o seu voto. Ressalto, ainda, que 49% dos eleitores acreditam que a inflação tende a aumentar. Se assim ocorrer, a acomodação apontada pelos outros indicadores poderão se movimentar negativamente e com isto os candidatos da oposição adquirirem condições de conquistar mais eleitores.
Pesquisas de opinião quantitativas realizadas distantes do período eleitoral quando aplicadas com perguntas inteligentes são úteis. Indagações inteligentes são aquelas que decifram a realidade e sugerem possibilidades quanto ao futuro. Isto é: pesquisas inteligentes permitem a construção de cenários eleitorais. Estes, por sua vez, orientam as decisões dos atores.
Quando atores políticos e analistas apenas consideram na interpretação das pesquisas as intenções de voto, desprezam as conjunturas que estão por vir. Por consequência, podem vir a criar assertivas equivocadas quando ao desempenho futuro do candidato. Por exemplo: Quais os indicadores que sugerem o crescimento de qualquer candidato da oposição à presidente Dilma? A pergunta correta que deve ser feita é: Quais os contextos que estão por vir que podem possibilitar o crescimento dos candidatos de oposição à presidente Dilma?
A primeira pergunta despreza indicadores científicos e utiliza “chutes numéricos” para sugerir o futuro. “Chutes numéricos” abandonam indicadores palpáveis, ou melhor, relegam os fatos objetivos contidos na realidade. A segunda pergunta apresentada busca, inicialmente, prognosticar contextos/cenários em que a disputa eleitoral poderá ocorrer. São estes cenários que fornecerão indicadores para a construção dos prognósticos eleitorais. Os contextos/cenários são construídos através de informações diversas do cotidiano e de pesquisas, as quais não se resumem a revelar quem lidera.
Os candidatos da oposição à presidenta Dilma poderão crescer eleitoralmente caso a conjuntura econômica desfavorável venha a surgir. Outra possibilidade para tal crescimento é a ocorrência de escândalos políticos quem envolvam o partido da presidenta ou ela própria. E, claro, não se deve desprezar a possibilidade do crescimento dos candidatos da oposição caso eleitores percebam ineficiência da máquina pública no atendimento das suas demandas e responsabilizem a presidenta ou o PT por tal fato.
Caso os cenários sugeridos não venham a ocorrer, os candidatos da oposição continuarão, por enquanto, a disputar o universo de 41% (Pesquisa Datafolha, 22/03/2013 – Soma de votos de todos os candidatos da oposição mais Brancos/Nulos) de eleitores que optam, diante de dado contexto, por votar em candidatos de oposição à Dilma. E é neste universo que os candidatos Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva disputam, neste momento, espaço. Saliento, contudo, que existe, neste momento, grande incerteza quanto à candidatura de Marina em razão das possíveis mudanças que poderão ocorrer na legislação eleitoral.
Obviamente, conforme raciocínio exposto no artigo, conjunturas desfavoráveis à presidente podem vir a ampliar o universo de eleitores dispostos a escolherem candidatos da oposição na competição eleitoral de 2014. Neste caso, a redução da popularidade de Dilma será vetor causal para o aumento de tal universo.
O papel do estrategista é de prognosticar o futuro. E com isto, criar às estratégias adequadas para o sucesso eleitoral do competidor. Mas o estrategista não é apenas fornecedor de notícias boas. Ele pode revelar ao competidor que suas chances são diminutas para o sucesso eleitoral.
A avaliação da gestão de um governante não deve vir desacompanhada da expectativa dos eleitores quanto ao futuro e da identificação das principais demandas dos eleitores. A aprovação do governante, a expectativa dos eleitores quanto ao desempenho do gestor e a identificação das demandas eleitorais possibilitam que os estrategistas possam agir no presente e vislumbrar cenários futuros.
A construção de cenários não ocorre apenas em períodos eleitorais. A existência do instrumento da reeleição exige que as estratégias de gestão e de comunicação vislumbrem sempre cenários, dentre os quais, as chances de reeleição ou de derrota do gestor. A reeleição permite que o gestor administre a cidade considerando a perspectiva da reeleição. Em razão disto, os marketings eleitoral e político não mais são atemporais, eles são coincidentes.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) revela que 73% dos eleitores têm a expectativa de que o prefeito Geraldo Júlio (PSB) realize uma administração Boa/Excelente. Este dado sugere que 73% dos eleitores confiam e acreditam no prefeito Geraldo Júlio. A pesquisa do IPMN revela também que 57% dos eleitores aprovam a administração do prefeito do PSB e que trânsito, segurança pública e manutenção da cidade são as principais demandas apontadas pelos eleitores de modo espontâneo.
As três variáveis apresentadas – Expectativa, Aprovação da administração e Demandas – revelam que se Geraldo Júlio não atender as demandas apontadas no decorrer do mandato a decepção eleitoral poderá surgir. A decepção eleitoral pode vir a representar o arrependimento eleitoral. Isto é: eleitores se decepcionam com o gestor em virtude de que existia, inicialmente, a expectativa de que ele contemplaria as demandas. Entretanto, diante do não atendimento satisfatório das demandas, eleitores se arrependem da escolha eleitoral realizada.
O raciocínio proposto serve de alerta aos estrategistas de gestão e de comunicação. Pesquisas realizadas pela Contexto Estratégia e IPMN revelam, através de dados empíricos e de premissas da Neurociência e da Antropologia das Emoções, que eleitores se arrependem. Deste modo, estratégias nos âmbitos da comunicação e da gestão devem ser cotidianamente criadas para evitar o arrependimento dos eleitores.
Um ponto importante revelado pela pesquisa do IPMN é que à medida que a renda individual aumenta (a partir de 1 salário mínimo), a aprovação da gestão de Geraldo Júlio também cresce. Então, detecto associação entre duas variáveis: aumento da renda e aumento da aprovação. Este dado, neste instante, não é conclusivo quanto ao desempenho do prefeito do Recife entre os eleitores. Porém, serve de alerta, pois, talvez, estratégias nas áreas de comunicação e de gestão devem ser criadas com o objetivo de dar “Cara de povo” a gestão do PSB.
Na análise política os contextos presentes e vindouros não devem ser desprezados. Eles importam e devem sempre ser considerados em virtude de que eles são dinâmicos. Diante desta premissa fundamental, considero que a tomada de decisão do ator político deve considerar, prioritariamente, dois contextos: o institucional e o eleitoral. O primeiro corresponde às regras institucionais que regem a competição eleitoral. O segundo é o conjunto de eleitores que estão presentes no mercado eleitoral.
Os diversos competidores de 2014 precisam considerar concomitantemente ambos os contextos. Os candidatos em 2014 que não possuem mandato têm até outubro deste ano para se filiar a uma legenda partidária, ou se já for filiado, a trocar de agremiação. Este é o caso, por exemplo, do ministro Fernando Bezerra Coelho (PSB). Neste instante, o ministro é filiado ao PSB e deseja competir nas eleições de 2014. Avalio que o ministro tende a tomar uma decisão até outubro deste ano, caso ele mantenha o desejo de disputar as eleições de 2014 em razão das (1) limitações impostas pela legislação eleitoral, (2) da possível candidatura à presidente de Eduardo Campos e (3) da sua aproximação com a presidente Dilma.
Por enquanto, o contexto eleitoral não pesa tanto na decisão de Fernando Bezerra, pois se ele for candidato a governador ou a senador, ele precisa definir, prioritariamente, por qual agremiação disputará a eleição. Dilma, Aécio e Eduardo, por outro lado, dependem, neste instante, do contexto eleitoral e este interferirá fortemente no vindouro contexto político.
A formação de alianças partidárias por parte de Aécio e Eduardo tornar-se-á processo fácil caso cresçam nas futuras pesquisas eleitorais. O crescimento de ambos requer que ocorra em momento adequado, pois o prazo para a formação de alianças partidárias finda em junho de 2014. Se até este mês ocorrer o crescimento de ambos ou de um ou outro, Dilma tende a observar deserções de partidos da sua ampla coalizão partidária.
Mas se o crescimento de Aécio e Eduardo não ocorrer entre os eleitores, Dilma tende a manter a coalizão partidária. Entretanto, Aécio pode crescer e Eduardo não. Ou processo contrário. Neste caso, o melhor posicionado nas pesquisas em meados do primeiro semestre de 2014 tende a conquistar os partidos que poderão desertar da coalizão dilmista e também vir a conquistar outras agremiações que hoje não fazem parte do governo do PT.
Por vezes, o contexto eleitoral influencia a formação do contexto político. Mas não tão frequentemente, o contexto político influencia o contexto eleitoral. Deste modo, tenho a hipótese de que o contexto político depende fortemente do contexto eleitoral. Diante deste raciocínio, Aécio e Eduardo dependem do desempenho de Dilma entre os eleitores para formar alianças partidárias eficientes e adquirirem mais condições de competitividade.
Como bem mostra variadas obras sobre o comportamento do eleitor, o bem-estar econômico dos eleitores importa para explicar as escolhas eleitorais. Entretanto, não considero o bem-estar econômico como variável determinante que garante a reeleição presidencial. Mesmo diante da satisfação econômica, outras variáveis influenciam as escolhas dos eleitores.
A última pesquisa do Datafolha para a eleição presidencial (22/03/2013) sugere que Dilma Rousseff é favorita para vencer a disputa em 2014. Entretanto, este favoritismo não deve ser encarado como sólido, pois considero, antes de analisar a posição dos candidatos, o nível de conhecimento dos eleitores para com eles. Ninguém vota em quem não conhece.
Mas a pesquisa mostra as razões objetivas que motivam 58% dos eleitores a optarem por Dilma Rousseff. Para 51% dos brasileiros, a situação econômica do Brasil vai melhorar nos próximos meses. 68% dos eleitores consideram que a sua situação econômica irá evoluir. E 49% dos entrevistados avaliam que o poder de compra dos salários crescerá.
Os contextos sociais importam. E neles estão presentes eventos que podem vir a influenciar a decisão dos eleitores. Diante desta premissa básica que deve auxiliar a análise política e a construção de estratégias eleitorais, indago: se a percepção da opinião pública constatada em março de 2013 permanecer até meados de 2014, o que os candidatos Aécio, Eduardo e Marina dirão para os eleitores?
Ameaças existem quanto à possibilidade do contexto econômico de hoje não ser semelhante ao que virá em 2014. A possível alta inflacionária, advinda, em particular, do excesso da demanda e da baixa oferta, pode corroer o poder de consumo dos brasileiros, e com isto, o otimismo econômico dos eleitores não mais prevalecer. Mas não desprezo esse outro contexto: Dilma ser reconhecida pelos eleitores como mulher firme, decidida e corajosa para reduzir os juros, diminuir a conta de luz e findar a miséria.
Para os eleitores reconhecerem dadas caraterísticas em candidatos, estratégias de comunicação precisam ser criadas. Então, tenho a hipótese de que mesmo diante de um contexto econômico adverso, Dilma permanecerá favorita para vencer a disputa eleitoral em 2014.
Mas, faço uma ressalva: a presença de Aécio Neves, Eduardo Campos, Marina Silva e Fernando Gabeira pode vir a levar a eleição para o segundo turno em razão, neste instante, do número de competidores. Certamente, a razão de hoje se juntará a outras razões que podem vir a fazer com que a disputa presidencial de 2014 finde apenas no segundo turno.
Neste instante, o desafio de Aécio, Marina e Eduardo é apenas um: encontrar adequada estratégia discursiva para convencer os eleitores. O resgate da disputa histórica entre PSDB e PT, utilizada insistentemente por Aécio, não é estratégia adequada. A estratégia de “ser diferente” utilizada por Marina talvez tenha chegado ao esgotamento. A possibilidade de o eleitor reconhecer Eduardo como o pós Lula, também não é adequada, pois o pós Lula é Dilma. Então, o que os candidatos da oposição têm a dizer contra a Dilma? Pesquisas junto com criatividade e inovação mostrarão o caminho.
O físico Leonard Mlodinow através de duas obras brilhantes revela o papel do acaso e do inconsciente na dinâmica social e nas escolhas dos indivíduos. Em O andar do bêbado (Editora Zahar), Mlodinow mostra como acasos podem estar presentes na trajetória dos indivíduos. No livro Subliminar (Editora Zahar), Mlodinow mostra que o inconsciente guia, por vezes, as decisões dos indivíduos. Ambas as obras, depois de lidas com atenção, incentivam a reflexão sobre as escolhas dos atores e eleitores e quanto aos acasos eleitorais e políticos na conjuntura.
Ao vislumbrar cenários eleitorais e políticos para 2014, acasos precisam ser considerados. Por exemplo: se o ex-presidente Lula optar por ser candidato à presidente, Eduardo Campos manterá a sua candidatura? Se Aécio Neves disputar o segundo turno contra Dilma, quem Eduardo Campos apoiará, já que ele também disputou a eleição presidencial? Se Eduardo Campos conquistar 10% de intenção de votos em março do próximo ano, Aécio Neves manterá a sua candidatura? Se Serra optar por se filiar a outra legenda e apoiar Eduardo Campos, os eleitores paulistas considerarão o governador de Pernambuco como opção na disputa presidencial?
As indagações apresentadas não estão sendo feitas pelos analistas políticos neste momento. Mas elas precisam ser exibidas, pois os acasos fazem parte da conjuntura política e, por isto, não podem ser desprezados, pois eles devem ser considerados antes da construção das estratégias. Quando os acasos são ignorados pelo estrategista, as decisões tomadas podem vir a ser equivocadas.
O bem-estar econômico continua a ser o determinante do voto mais destacado pelos analistas quando da análise do possível comportamento do eleitor em 2014. Considerar o bem-estar econômico como determinante suficiente para explicar a escolha do eleitor é por demasia atitude equivocada. O bem-estar econômico importa. Mas fatos empíricos, como as recentes disputas presidenciais chilenas, e o argumento em torno da decisão inconsciente construída por Mlodinow, revelam que a economia importará, mas nem tanto em 2014.
Indivíduos fazem escolhas, mas nem sempre eles sabem identificar objetivamente as razões destas escolhas. Cabem as pesquisas qualitativas e quantitativas, além de ferramentas advindas da neurociência, identificar os desejos e os motivos que levam ou podem motivar o eleitor a fazer determinada escolha. Portanto, neste instante, os eleitores que admiram Dilma e aprovam o seu governo não o fazem apenas porque continuam a consumir e porque estão empregados, mas também em virtude de reconhecer na presidenta qualificativos positivos, como coragem e firmeza - hipótese. Neste sentido, as decisões tomadas por Dilma Rousseff provocam determinados eleitores à admirá-la. Em razão da admiração, os eleitores poderão optar pela continuidade em 2014.
Ao desconsiderar os acasos e os atos inconscientes dos eleitores é possível que a miopia venha a orientar as análises eleitorais. Elas, por exemplo, sugerem, neste instante, que o principal adversário de Eduardo Campos é o PT. Engano. Eduardo é sim o principal adversário do PT. Mas o principal adversário de Eduardo é o PSDB, pois para Eduardo estar no segundo turno, Aécio precisa ser superado. Portanto, o raciocínio “consciente” apresentado corriqueiramente está equivocado, pois Eduardo terá que conquistar, inicialmente, as mentes (o inconsciente) dos eleitores que não desejam Dilma ou estão propensos a fazerem nova escolha eleitoral em 2014.
Os acasos e o inconsciente são, por vezes, duas categorias desprezadas da análise política e também do raciocínio dos atores. Em virtude deste desprezo, análises e ações míopes são costumeiramente observadas.
É mais adequado construir prognósticos eleitorais para a eleição presidencial do próximo ano em virtude de que os competidores já estão postos. Obviamente, alguns candidatos podem vir a desistir. Entretanto, neste instante, cinco candidaturas estão colocadas: Dilma Rousseff, Eduardo Campos, Marina Silva, Aécio Neves e Fernando Gabeira. Considerando os resultados das últimas disputas presidenciais, não é ato de adivinhar se considerarmos que a eleição de 2014 terá segundo turno. O número de candidatos me faz considerar esta possibilidade.
Se por um lado, é mais adequado construir prognóstico para as eleições presidenciais, é difícil fazer o mesmo para a eleição de Pernambuco em virtude de que os competidores ainda não estão postos. Neste momento, apenas a candidatura do senador Armando Monteiro (PTB) é a mais previsível. Fala-se em Júlio Lóssio (PMDB), prefeito de Petrolina, mas a sua candidatura tem um empecilho, qual seja: o senador Jarbas Vasconcelos. Por outro lado, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), pode vir a ser o instrumento incentivador e garantidor da candidatura do prefeito de Petrolina.
A dúvida eloquente neste instante, a qual perdurará até 2014 (hipótese) é: quem será o candidato do governador Eduardo Campos? Tadeu Alencar, João Lyra, Paulo Câmara e Antônio Figueira são os nomes especulados – podem surgir outros. Mas não se deve desprezar a possibilidade de Armando Monteiro vir a ser o candidato do governo. Entretanto, para tal fato ocorrer, é necessário que PTB apoie Eduardo Campos na disputa presidencial - hipótese.
Diante da incerteza do lado governista, duas premissas, as quais são hipóteses, precisam ser consideradas na eleição de 2014 para governador de Pernambuco. A primeira premissa é: 1) o fortalecimento do PT em nível nacional, o fortalece em nível local, e isto possibilitará condições adequadas para o partido enfrentar o candidato do governador Eduardo Campos; 2) O enfraquecimento do PT no âmbito nacional consolidará o seu enfraquecimento em Pernambuco, por consequência, o candidato apoiado pelo governador Eduardo Campos é favorito a vencer a disputa eleitoral.
A primeira premissa, obviamente, é a desejada pelo PT. Com isto, o PT terá condições de convidar possíveis competidores como Fernando Bezerra Coelho e Armando Monteiro para uma conversa. Se esta premissa vier a ocorrer, o PTB poderá fazer exigências ao PSB caso este deseje apoiá-lo. A segunda premissa é a desejada pelo governador Eduardo Campos, pois se ela vier a ser real, o PSB ampliará as condições de continuar no poder. E adquirirá meios de impor dadas condições ao PTB para apoiá-lo ao governo – se for o caso.
As duas premissas sugeridas mostram que: 1) Não se deve desprezar a força local do PT. Apesar dela está enfraquecida, ela poderá ressurgir; 2) O PTB continua a ser ator estratégico na disputa de 2014, pois ele poderá agregar variados partidos ao seu projeto; 3) A disputa para o governo do Estado em 2014 não tem, neste instante, favoritos, principalmente se o PT continuar fortalecido na disputa nacional; 4) É possível, diante da força do PT nacional, que Eduardo Campos dispute duas eleiç ões contra o PT. Uma em nível nacional. A outra em nível local. Em ambas, o PSB disputará contra dois petistas: Lula e Dilma.